Já dissemos que as diversas verdades vistas pelo autor, através do fenômeno da personalidade oscilante, não constituem um produto subjetivo a ele limitado, mas que elas têm uma existência própria subjetiva, dele independente, isto é, correspondem aos vários planos evolutivos da vida, representando, assim, uma universal realidade biológica. O caso pessoal ficou, dessa maneira, dilatado numa significação muito mais vasta que interessa toda a vida. As diversas verdades nos aparecem como expressões de diversas fases evolutivas ou planos de existência. Destes vimos alguns aspectos gerais no capitulo precedente, descrevendo-lhes as características, as condições do nosso mundo atual e a técnica da passagem para fases superiores. Observemo-los, agora, mais de perto, de um ponto de vista mais particularmente biológico, em referência às teorias que hoje vigoram nesse campo. Em substância, nada mais fazemos do que aprofundar sempre em maior escala o grande problema da ascensão humana, aquele que contém as soluções de todos os problemas. Com isto, já se delineia o ritmo ascensional deste volume que, partindo do inferno humano e subumano, nos quer levar, fazendo sentir todo o contraste, ao paraíso super-humano e divino. O estudo psicológico particular onde iniciamos nosso movimento, não serviu senão de motivo inicial para a descrição dessa ascensão universal. É natural que, para poder falar com conhecimento desse fenômeno, o autor deva antes tê-lo experimentado no seu caso particular, que, porém, é de todos, é um momento da universal lei da vida. Vejamos como penetrar o pensamento diretivo, que guia a nossa evolução.
   
A interpretação, que hoje domina nesse campo, nos provêm do materialismo ainda dominante, que Viu as coisas a seu modo. Ponto de vista relativo a um dado plano de evolução, idéia, pois, destinada a ser superada. Idéia, entretanto, hoje aceita na psicologia corrente como verdadeira e definitiva. É bom observar até que ponto esta corresponde ao verdadeiro pensamento diretivo da vida. Comecemos por observar que, enquanto a forma mental dominante continua a mover-se por inércia na direção materialista, proveniente da orientação científica do último século, e isto até suas últimas conseqüências práticas, o mais recente pensamento diretivo da ciência levou tão além, nas profundezas, a visão da matéria com a nova química atômica e física quantística, que aquela concepção materialista fica sendo primitiva e superficial. Ela foi levada, pela ciência mais moderna, segundo as mais recentes orientações, tão perto do espiritualismo, que, no final, aquela concepção quase não pôde mais ser distinguida deste. Mas, disto nos ocuparemos mais adiante. Portanto, o materialismo representa o tipo de conhecimento científico do nosso tempo e nada mais. Mas a direção, ainda que, embaixo, nas massas, continue imperturbável, no alto, no elevado pensamento diretivo, já se inverteu. Assim, por lei biológica, é lançado o impulso que, prolongando-se depois, como sempre, inverterá a rota do pensamento moderno, levando-o para uma nova civilização de tipo oposto. Não se tratará por certo do espiritualismo de hoje, vago e não demonstrado, mas de um espiritualismo que provará e aplicará o que agora é somente fé ou teoria filosófica.

Na biologia, o materialismo de Darwin viu a evolução das formas físicas ou efeito, sem imaginar a presença de uma evolução do espírito ou causa das formas. Acima, falamos dessa tendência à inversão de tudo em nossa fase atual. Assim, justamente, viu-se às avessas: a causa no que é somente o efeito, isto é, na forma. Segundo essa orientação, a evolução se processa através da técnica da luta pela vida e a seleção do mais forte; o mais forte, que em filosofia vemos reaparecer no super-homem de Nietzsche. Tudo isto é verdade, mas somente no plano biológico animal, num mundo inferior ao qual ninguém pode impedir que o homem pertença. Mas, isto não é mais verdadeiro logo que, evolutivamente, se haja subido. Em suma, quando se fala dessa coisa imensa que é a vida, é preciso distinguir e precisar a que biologia nos referimos, porque todo plano evolutivo tem uma sua própria, com leis próprias, que não são as dos outros planos. Ora, a biologia normal humana, se olhada do ponto de vista de uma biologia supernormal, pode aparecer toda como um erro de perspectiva e ao contrário. E aqui podemos aplicar o conceito das verdades relativas. pelas quais as teorias do materialismo servem e valem para a sua biologia e não além. Não se pode compreender o pensamento diretivo da vida, observando-a num só de seus momentos, relativo a uma só fase, tanto mais que aquela evolutivamente superior nos aguarda, é o nosso amanhã e nós justamente percorremos a atual para nos preparar à sucessiva.

Como se comporta a vida no plano animal e humano? Ela escancara as portas para a reprodução e lança fora indivíduos em grande abundância. No plano animal, estes não estão inteiramente juntos na fase orgânica coletiva, não sabem, pois, fraternizar-se em organismos coletivos e colaborar em unidades superiores. Isto está muito alto para eles e representa o futuro. Eles se devem preparar através de infinitos contatos recíprocos, que no princípio são choques sanguinolentos. Apenas nascidos, eles se tornam rivais e inimigos e os motivos psicológicos dados por sua forma mental não faltam: o espaço vital, a exuberância de energia, o instinto de invadir e submeter para se expandirem, na natural insaciabilidade do desejo, a conquista dos bens para viver, da mulher para se reproduzir. Eis subitamente a luta. É a mecânica do sistema. Basta olhar em torno, para ver funcionar automaticamente, em pequena e em grande escala, como num grupinho de rapazes que, de repente, litigam entre si, como povos sempre em guerra; esta, antes que no comando dos governos, está no instinto dos homens sem o que ninguém poderia impô-la.

O primeiro passo é a produção dos seres, o segundo é a luta, o terceiro é a seleção. Resultado final é a evolução; finalidade é a elevação para o bem e a felicidade. É uma sucessão de finalidades, de proposições num raciocínio. Eis porque, como título deste capítulo, ligamos as duas palavras: luta e seleção. A primeira é condição da segunda. Sendo pacifico que a vida trabalha sempre com inteligência e com um fim a atingir, ela oferece logo a esses seres, para o fim evolutivo a que tende porque este leva ao seu bem, um trabalho proporcionado à sua capacidade e sensibilidade; gênero de trabalho que seria inútil, absurdo, destruidor e insuportável em planos de vida superiores. A vida dá, pois, imediatamente, a esses seres do plano animal e humano, uma ocupação digna de si, manobrando-os através de seus instintos, a que eles obedecem, crendo obedecer a si mesmos. A vida nos faz sempre trabalhar para nos fazer subir. A quem está mais alto aquela seleção animal pode parecer um trabalho bestial. Mas, uma atividade mais refinada e complexa, o ser daquele plano não a saberia cumprir e não seria proporcional à sua capacidade. Trata-se verdadeiramente da seleção do mais forte, como é hoje compreendida, uma seleção animal em que é preciso, todavia, usar e desenvolver os sentidos e a inteligência. Naquele plano o trabalho coletivo orgânico e as conquistas espirituais são inconcebíveis. Porém, em nosso mundo, a luta já se está transformando de muscular e física em nervosa, conquanto esta ainda seja feroz. O progresso já é visível. A forma de luta é índice do próprio plano evolutivo. Diz-me como e por que coisa lutas e te direi quem és. A luta, condição de conquista, não se extingue nunca na vida. Mas por ela mudam, com o evoluir, a forma, os fins e as realizações.

Hoje, em nosso mundo, se começa a compreender, como não acontecia no passado, o disparate desse gênero de luta animal, que não sabe atingir os seus fins senão lançando os homens uns contra os outros para se matarem e para destruírem tudo o que é mais útil e custoso, e isto para a seleção. A hodierna impopularidade da guerra demonstra que o homem hoje caminha para superação da fase animal. Um estado de coisas, de fato, não se pode perceber quando se está fundido nele como num todo homogêneo, mas somente quando se começa a emergir, dele se diferenciando. Hoje, na realidade, se começa vagamente a compreender, sem ainda saber atuar, as suas conseqüências lógicas, o disparate desse perene odiar-se uns aos outros, quanto seja antivital esse nunca acabar de punir-se reciprocamente, que é o que faz, verdadeiramente, da vida uma punição. Esta é criada e desrespeitada pelo homem e não por um deus vingativo. O homem está hoje bastante sensibilizado para começar a sentir quanto se há tornado inaceitável esse tipo de luta e seleção animal. Formas mais civis de existência fatalmente o esperam. O mais desenvolve-se do menos. Assim como no começo a propriedade era filha do furto e a primeira forma de organização social foi dada pelo império do senhor sobre o servo; assim como, para se chegar à sociedade, dos estados, se deu início aos imperialismos escravistas, dominadores dos povos; assim como se chegou ao conhecimento, partindo-se do terror do próprio dano, e à ciência (por causa da necessidade utilitária, assim não é para se maravilhar se possa chegar a um novo tipo de seleção, partindo do atual, embora seja este bestial. Não devemos, pois, nos escandalizar se a vida sabe atingir os seus fins evolutivos mesmo através de todas as velhacarias humanas.

Procuremos compreender o verdadeiro significado desse método para nos fazermos evoluir, usado pela vida com a luta e seleção. A que tende verdadeiramente esse triunfo do mais forte? Trata-se aqui, mais que de uma lei de todas as fases biológicas, somente daquela limitada a um dado plano inferior? Quais são os fins da maior biologia universal? Propõe-se ela, verdadeiramente, fazer triunfar esse tipo do mais forte, que pode ser, ainda, o mais prepotente ou injusto, ou é esta uma fase de transição admissível somente em planos inferiores, enquanto a finalidade da vida é de criar um tipo biológico completamente diverso?

A lei da maior biologia universal é que a luta, em todo plano, é um meio de construção da consciência, uma forma de atividade imposta aos seres pelos seus instintos, pelo ambiente e pela Lei que domina tudo isso, para chegar, através da experimentação, ao desenvolvimento de qualidades sempre mais espirituais. É natural que nos planos inferiores o trabalho e as qualidades sejam de caráter inferior. Mas tudo tende a atingir trabalhos e qualidades superiores. Nos animais e no homem inferior, a luta servirá para o refinamento dos sentidos e para o desenvolvimento egoísta da inteligência utilitária. Mas no homem superior ela servirá para o triunfo de uma idéia e se transformará numa colaboração qual instrumento consciente da Lei. É ainda lógico que no plano animal, as experimentações, os contatos e as reações do ambiente devam assumir uma forma brutal e violenta, porque, com modalidades mais refinadas, o ser, não ainda sensibilizado por evolução, nada perceberia. A luta parece brutal e violenta a quem está mais no alto  mas não a quem está naquele nível. Tudo é proporcionado pela divina sabedoria da Lei. Assim o animal e o homem inferior não são ferozes senão para o evoluído. Para si mesmo, ele está equilibrado no seu plano, e não vê senão o fim a atingir e não a ferocidade do meio, que somente de um mais alto ponto de vista se revela ofensivo de outras leis que o inferior ignora. Assim o selvagem não se sente selvagem, nem o verdadeiro delinqüente, delinqüente. No entanto, também este ser deve evoluir. Então são necessárias para ele experiências bem duras, as que, para o evoluído, seriam cataclismos mortais. Assim as grandes dores que dominam na terra são proporcionais à insensibilidade humana, e o prova o fato de que a maioria ama esta vida tão miserável. Quem está mais adiante não a pode aceitar como prazer, mas somente em outro sentido, isto é, como expiação, ou dever, ou missão.

A vida não se propõe, pois,  por nada, como último desígnio, o triunfo dos mais baixos campeões da raça Somente o materialismo e a sua filosofia podem pensar assim. O triunfo do mais forte neste sentido pode ser sobre os primeiros degraus da estrada ascensional, mas a via dos triunfos é longa e vai longe. A luta no alto assume outras formas e outros fins, isto é, a formação de um ser, não mais forte porque dominador e mais violento, porém mais potente porque mais inteligente, sábio, enfim, justo e bom. Ele, então, como veremos, penetrará no funcionamento da Lei, como conhecimento e como atividade, pondo em movimento novas forças e podendo atingir riquezas imensas, antes ignoradas. Ele é potente, bem diferente de um fraco e falido, como o julga o homem inferior que toma sempre a bondade por fraqueza. Sua luta e experimentação assumem um caráter de todo diverso. A forma de luta dos planos inferiores, aquela do tormento da fome, da ofensa e da defesa, lhe é poupada, porque é superada. Então a vida se harmoniza e a própria Lei pensa em defender o homem que a ela adere, poupando-lhe esse duro trabalho, para ele já inútil, e que, no entanto, é fundamental e necessária ocupação para os inferiores. É lógico que o trabalho útil, imposto a tipos biológicos tão diversos, deva ser diferente. É lógico que, quando se há superado o nível de vida visto pelo materialismo, o campeão visto por Nietzsche no seu super-homem torna-se um delinqüente, um selvagem rei de selvagens, um ser anti-social, destruidor da unidade, desagregador e antivital.

O Evangelho, que é construtivo, nos indica, ao contrário, bem outro tipo biológico. A sua inversão de valores não significa mais que a passagem de um plano inferior a um superior nível biológico. Nisto consiste a grande boa nova, isto é, o anúncio que para o mundo hoje chegou a hora da grande transformação evolutiva, que o levará para uma nova civilização, a de um novo tipo humano. O Evangelho enfrentou diretamente a lei do piano animal, contrapondo-lhe uma outra lei, de um plano superior, em que pela evolução a primeira deverá fatalmente inverter-se. Isto, com o Discurso da Montanha, que é a inversão dos valores humanos em outros opostos, em que os vencidos aparecem vencedores e os fracos, fortes. Eis a maior biologia que o materialismo não viu. Assim, da fase onde o arbítrio da absoluta vontade do vencedor, que tudo se pode permitir, porque é vencedor, porque como tal lhe cabe fazer a lei, chega-se lá onde isto, ao contrário, é injustiça condenada pela Lei, única senhora, em cuja harmonia somente é lícito viver. No primeiro caso o ser é deixado às suas forças somente para sofrer os erros que perpetrará e dessa forma chegar a compreender e aprender. Mas, conquistada, com esse trabalho, a consciência, ele percebe que vive em um todo orgânico, bom e sábio, e que a violência não serve mais para nada, não para vencer, mas para perder. Então a vida, localizada na ordem divina, torna-se outra coisa: de inferno a paraíso.

Interroguemos ainda o pensamento diretivo da vida, como ele funciona na realidade biológica. É um fato que a natureza não se opõe à geração dos fracos e doentes. Procura remediar os seus defeitos para salvá-los, reforçando-os como pode, mas não se opõe ao seu nascimento. Deixa assim vir ao mundo uma quantidade de infelizes, doentes da mente e do corpo. Ela os deixa lutar e sofrer. Por que? Se a finalidade principal da vida fosse a seleção do mais forte, nesses casos aquele desígnio seria completamente frustrado e a natureza seria a própria contradição. Entretanto, vemos quanto ela é sábia e benévola protetora. Por que os deixa, então, se debaterem na dor? Se, pois, a vida se comporta assim, dado que nunca age loucamente e não está acostumada a errar, isto significa que o seu objetivo é bem outro, que não é a seleção do mais forte, com o abandono dos outros. A natureza não é partidária e não abandona nunca ninguém. A finalidade é a formação da consciência, enriquecendo-a de todas as possíveis qualidades, através de todas as possíveis experiências. O insucesso do fraco e do doente, dos vencidos da vida, não pode então ser interpretado como uma derrota, mas sim, como uma útil posição de trabalho para a aquisição de preciosas qualidades novas, das quais o vencedor, ao c ntrário, dada a sua diversa posição, está excluído. A finalidade da vida não é, pois, senão em casos particulares, a da formação de um mais forte e prepotente. Nas grandes linhas a vida quer criar um ser sempre mais ativo, mais complexo, mais orgânico, mais sábio e tudo isto, mesmo através da fraqueza, da derrota, da dor. Eles não constituem por isto, uma falência e uma perda da vida, como crê o materialismo, mas uma das tantas vias de experimentação e um meio de conquista. Se não fosse assim, a vida, que é mesmo tão forte, sábia e boa, seria vencida, estulta e cruel no permitir a geração dos fracassados. Ela, ao contrário, não se opõe completamente e são muitos os que deixa nascer. Somos nós, portanto, que não compreendemos a natureza e não é a natureza que não alcança os seus fins. Quanto mais formos capazes de compreender, tanto mais encontraremos no universo um organismo perfeito. Dizer o contrário significa nada haver compreendido.

Todo plano de existência tem as suas leis e não se pode compreender e julgar o plano superior permanecendo no inferior, enquanto, nos planos mais altos, os mais baixos são compreendidos e julgados ferozes e selvagens. Temos assim, uma série de níveis evolutivos, dos quais cada um possui uma sua verdade relativa, que com eles evolui sempre mais para o alto. Planos, pois, e verdades em evolução. Esse é o movimento das formas e do concebível no relativo para ascender, sempre mais se acercando do absoluto. O mais pode compreender e julgar o menos, mas não o contrário. Sobre todos os planos impera a Lei única através dos infinitos aspectos da verdade, relativa a cada determinado grau de desenvolvimento ou fase evolutiva em contínua transformação progressiva. Todos os meios são usados sempre em proporção à natureza do ser. O método da seleção do mais forte não representa senão um caso, um grau, uma lei, uma verdade relativa. Depois a fase é superada e se passa a uma ordem de formações e aquisições diversas, com outros métodos mais evoluídos, de diversa característica, proporcionais a um diverso tipo de vida. Os experimentos são os mais disparatados. A natureza não tem limites de meios e de ambientes, a aquisição de qualidades no desenvolvimento da consciência  no desenvolvimento da consciência deve ser infinitamente múltipla.

Desse modo, o ser se move guiado pela lei ao longo de canais assinalados por uma rede de princípios em todos os níveis; ele encontra sempre, a cada passo, o trabalho que lhe é adaptado. Como poderia orientar-se e guiar-se no universo, ignorante de tudo? Ele nunca está só, nem abandonado. Sem essa imanência de Deus, o ser estaria perdido. Também os golpes adversos têm um significado útil e construtivo, há   sempre a proteção, mesmo no fundo do aparente abandono e a salvação no fundo de qualquer derrota. Em cada ser há a vida que nele se defende a si mesma. Tudo, também o mal e a dor, é nas suas mãos instrumento para a ascensão. A vida é força positiva, sempre construtiva ainda que através da destruição. Ela nos quer educar sempre para nos fazer subir, embora através do fracasso. Tudo é salutar saudável, tudo é sempre perfeito, tendente ao melhor pelo caminho do mínimo meio, com o mínimo esforço e o máximo resultado. O nosso ponto de vista humano é muito limitado para nos permitir compreender e julgar. A vida nos sabe salvar também através da morte. Queríamos impor-lhe os nossos pequenos fins imediatos e ela trabalha para fins longínquos que não vemos, com uma sábia hierarquia de finalidades, das quais, nos míopes, não enxergamos senão as próximas. Mas ela é justa. Cada dor é paga, cada esforço é compensado, cada experiência nos enriquece, cada fadiga é premiada. Se somos alguma coisa hoje, é porque a vida nos impôs primeiro o trabalho de ganhá-la Ela quer e deve formar o ser. E ainda quando açoita, o faz para o nosso bem. Com isto Deus está presente em cada coisa e em nós. A profunda consciência da Sua constante presença em cada coisa, e em nós, será o nosso conforto e a nossa força.

A palavra vida não exprime um conceito genérico e abstrato, mas uma realidade que vive, goza e sofre, através de nós. Toda nossa vibração nos transcende e pertence a alguma coisa maior do que nós, com a qual estamos em continua comunicação e que é um organismo imenso e perfeito, complexo e sábio. A vida, autopunindo-se, corrige-se através de nós e assim nos protege. Suas, também, são as nossas alegrias e as nossas dores. Em nosso plano e ambiente, nós somos a vida, como o é todo ser no seu: um caso particular, do infinito existir. Somos a sua expressão particular, concretizada em uma dada forma, expressão de princípios e forças universais. Que profundas raízes tem, pois, no infinito, cada ser! Somos a expressão exterior de uma fonte inexaurível que está no íntimo e que tudo alimenta e rege. Se, na periferia onde estamos como forma, há caducidade e morte, no íntimo do ser os poderes genéticos de renovação são infinitos e inexauríveis. Evoluindo, ele se avizinha sempre mais da riqueza dessa fonte e dela pode gozar. Assim se explica como a economia supernormal seja muito mais rica que a normal, como vimos. O segredo para enriquecer é, pois, o saber tornar-se vivo, sempre mais em profundidade, sempre mais perto da fonte, Deus. Eis que potente significado vital pode assumir esta palavra para quem está mais avançado no caminho da evolução. É nessas profundezas que, com estes escritos, aqui procuramos despertar a vida É por isto que aqui sempre se insiste sobre o evoluir, sobre a ascensão para Deus, e com tanta paixão dela se fala, pois que, verdadeiramente é este o problema dos problemas e com ele tudo se resolve. Há, entretanto, um caminho para eliminar a dor, conquistar conhecimento e sabedoria, riqueza e potência, é o caminhar para Deus. Se o mundo compreendesse a significação dessas palavras e as soubesse aproveitar! No entanto, ele passa perto de tudo isso sem compreendê-lo, como um selvagem olharia o mais precioso instrumento científico sem conhecer-lhe o valor, e o destruiria, não sabendo que fazer dele. A ignorância é a muralha mais difícil de superar para alcançar-se a felicidade.

Dessa maneira, a vida funciona por impulsos interiores, lançando as suas forças do íntimo do ser. Deus não age do exterior, mas de dentro do ser, através dele que é o instrumento da Sua manifestação. Assim a vida não nos defende externamente, mas do interior, partindo do centro e atingindo a periferia através de nós, não modificando o ambiente, mas munindo-nos com recursos interiores faz-nos adquirir qualidades e defendendo-nos com a outorga de poderes de resistência. A nossa vida devemos conhecê-la, e as nossas forças, conquistá-las. As fontes são inesgotáveis, mas devemos atingi-las com meios que devemos conquistar. Com isto, a Lei nos quer instruir. Ela exige a nossa colaboração, ainda que seja fadiga, mas a Lei nos ajuda, orientando-nos, reagindo contra o nosso erro por meio da dor, indicando-nos a verdadeira estrada; não nos arrasta gratuitamente, mas nos obriga a fortalecer as pernas para não ficarmos preguiçosos, tornando-nos inábeis com a supressão dos obstáculos, que estão ali, justamente, para que aprendamos a superá-los. Eis a razão da dura luta pela vida e porque o vencedor é premiado. Mais no alto do plano animal-humano, diversa será a luta e o tipo de vencedor, mas ele é sempre premiado. Assim o é o conquistador com o domínio terreno, como o é o gênio com o domínio do pensamento e o santo com o amor de Deus.