Profecias

¹ Esta profecia foi ratificada na “Noite de Natal”, escrita em 1963 e publicada na revista Sabedoria, um ano depois: “ Faz hoje dez anos que escrevi a última e 32 anos da primeira Mensagem, no Natal de 1931, que releio-a comovido. Estava então no começo do longo caminho. Agora estou no final. Ao cumprir o próximo decênio não estarei mais vivo sobre a Terra”. E numa entrevista concedida ao Avancemos, em 29 de junho de 1968, Pietro Ubaldi afirmou: (...) “O livro Cristo será o coroamento da Obra, o vértice da pirâmide e também o ponto final de minha vida e o término de minha missão. (...) toda esta Obra foi prevista e planejada de antemão. Na primeira parte do livro Profecias, intitulada “Gênese da II Obra”, tudo que depois aconteceu e continua acontecendo, já foi explicado. Por isso sei quando vai terminar a Obra e com ela a minha vida”. O Livro Pietro Ubaldi e o Terceiro Milênio (inserido no volume Grandes Mensagens) apresenta uma série de fatos confirmando a mesma profecia, e um deles se encontra no cap. XVII: (...) “Calculo ter acabado tudo dentro do ano 1971.

Depois serei livre para desencarnar, não antes”. Realmente, aconteceu como foi profetizado: Pietro Ubaldi terminou de escrever a última página do livro Cristo - No Natal de 1971, conforme data do seu prefácio, e desencarnou dois meses depois, em 29 de fevereiro de 1972, às 0:30h. Acreditamos que somente os eleitos têm condições de vislumbrar, com tanta antecedência, a época de sua partida para o outro lado da vida. (N. da E.)

 

² Neologismo formado de elementos gregos: “baros” (gr. baros, ous) - pesado denso, e “ontos” (gr. ónóntos) - ser, entidade. Barônticas: provenientes de espíritos de constituição densa (entidades inferiores). Esse problema de correntes barônticas é amplamente explanado no livro As Noúres, do mesmo autor e já republicado por esta Editora. (N. do Tradutor, C. T.)

 

³ Este assunto foi amplamente desenvolvido em O Sistema, do mesmo autor. Nesse livro Pietro Ubaldi mostra que o espírito não pode permanecer, eternamente ligado ao mal. Admitindo essa hipótese, é necessário admitir “que as individualizações das forças do mal, por fim, se quiserem permanecer tais, devem ser desintegradas como personalidade própria; e a divina substância espiritual que a constituía, a abandona para canalizar-se na corrente oposta do bem, como vencedor absoluto”.

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Refere-se ao médium Francisco Cândido Xavier (N.E.)

Examinemos, agora, mais de perto, o texto do Apocalipse. Lendo-o segundo o espírito, mais do que segundo a letra, veremos seu verdadeiro pensamento, que é claro em suas grandes linhas. Esse pensamento é o mesmo que o da primeira Mensagem espiritual, do Natal de 1931, com que se iniciou nossa primeira Obra. Com o Apocalipse, que apenas agora conhecemos, verificamos que ele nos repete o mesmo pensamento central que vimos desenvolvendo, desde aquela Mensagem até agora, pensamento do qual uma grande profecia nos dá a mais clara confirmação.

 

Transcrevemos a Mensagem de Natal, outra vez citada em parte no cap. IV: "O homem será dominado por uma tão alargada sensação de orgulho e força, que se trairá (...).

 

Vejo uma elevação da tensão, lenta mas constante, que preludiará o inevitável estouro do raio. A explosão é a última consequência de todo o movimento(...). Em outras ocasiões, os cataclismos da História podiam ficar circunscritos; mas agora não (...).

 

Mas a destruição é necessária será apenas destruição do que é forma, incrustação, cristalização, de tudo o que deve cair, para que fique apenas o conceito, que resume o valor das coisas. Um grande batismo de dores é necessário, para que a humanidade torne a achar o equilíbrio que livremente violou; grande mal, condição de um bem maior.

 

Depois, a humanidade purificada, mais leve, mais selecionada por ter perdido seus piores elementos, agrupar-se-á em torno dos desconhecidos que hoje sofrem e semeiam em silêncio e recomeçará, renovada, o caminho ascensional. Começará uma nova era, em que dominará o espírito, e não mais a matéria, que estará reduzida a escravidão. Então aprendereis a ver-nos e nos ouvireis; nós desceremos em multidão e vós vereis a verdade”.

 

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Para facilitar sua compreensão, poderemos dividir o Apocalipse em três partes.

 

A 1ª parte contém avisos às sete igrejas da Ásia Menor e abrange os três primeiros capítulos do Apocalipse.

 

A 2ª parte descreve a grande luta entre o bem e o mal, até a chegada do prometido Reino de Deus. Este é o trecho maior do Apocalipse, o que mais se relaciona conosco, porque toca nosso tempo e o futuro próximo. Vai do capítulo IV ao XIX.

 

A 3ª parte refere-se a um futuro remoto, até o juízo final, e vai do capítulo XX ao XXII, que é o fim.

 

Antes de ouvirmos o Apocalipse, orientemo-nos. O caminho da evolução do pensamento religioso humano pode dividir-se em três etapas ou idades:  

 

1.ª idade, de Deus como Senhor. É a idade anterior a Cristo. Temos um Deus forte, terrível, guerreiro, vingativo, ciumento, protetor apenas de seu povo. É o Deus dos exércitos. Deve-se-Lhe obediência servil, só pelo medo que inspira, sem compreensão nem amor, por desapiedada lei de talião. Época violenta e feroz, em que o homem, em seu estado involuído de egocentrismo estreito e de dura insensibilidade, não podia responder senão pelo egoísmo, interesse ou temor de seu prejuízo, seguindo seus instintos de guerra, nem sabia obedecer, só compreendendo a força e o comando absoluto do mais forte. Só por isso Deus é respeitado, só porque é o mais forte e, como tal, tem o poder de punir. Não fora o mais forte, todos se revoltariam contra Ele. Amor e compreensão ainda não nasceram na alma humana. Os povos não podem compreender senão por obediência cega, pela força e pelo terror.

 

2ª. idade, de Deus Pai. E a idade depois de Cristo até hoje. Temos um Deus bom e mais pacífico, mais universal. Deve-se-Lhe obediência filial, por amor e fé. Ele pune, não por vingança, mas por justiça e para ensinar, conhece a bondade, a misericórdia e a providência do pai para com seus filhos. Ele aproximou-se de nós em compreensão e amor, conceitos que antes eram ignorados. Foi isto possível pela maior evolução humana, pelo que pode fazer-se apelo ao sentimento e ao coração, forças antes desconhecidas e latentes, e só hoje chamadas a agir. Pode apelar-se também para a cultura e a inteligência, e surge uma doutrina e uma teologia, uma reorganização filosófica. Época também da codificação, trabalho particularmente de defesa e conservação das verdades reveladas. Mas, também época de mistérios, em que se deve crer sem explicações racionais, época dos dogmas, da disciplina obrigada do pensamento, sem o que, sendo o homem o que é, não manteria a ordem. Ele não sabe ainda guiar-se de per si, por livre compreensão e necessita de uma coação, ainda que apenas moral, para não se perder na anarquia.

 

3.ª idade, de Deus em nós. É a idade do Reino de Deus na Terra, da Nova Civilização do Terceiro Milênio, a civilização do espírito. Deus sai dos templos fechados e revela-se presente em cada alma pura. Temos um Deus amigo, com quem nos unimos em colaboração, porque compreendemos que fazer Sua vontade significa nossa felicidade. Ele tornou-se mais do que vizinho a nós, que nos fundimos Nele, porque em nós, pela evolução, ocorreu um despertar, pelo qual adquirimos a consciência de que Ele está em nós e de que nós estamos nele. Desaparecem não só as imposições da força da 1.ª idade, mas também as morais da 2.ª idade, porque o homem progrediu e tornou-se capaz de guiar-se a si mesmo, por livre compreensão, sem necessidade de constrangimentos, para que a ordem seja mantida. A disciplina é livre, feita apenas de inteligência e amor, porque o homem compreendeu. Caem os mistérios e os dogmas de fé, porque sensibilidade, cultura e inteligência estarão mais desenvolvidos no homem, que poderá intuir a verdade diretamente, por si, sentir a presença de Deus, ou pelo menos entender por meios racionais, as verdades que serão todas claramente demonstradas, porque a época dos véus e das exclusões iniciáticas já terão terminado. Esta será a época da luz do espírito, do conhecimento, da obediência livre, porque convicta. Por evolução, o Reino de Deus nascerá em nós como um despertar. Deus, então, não pune mais, mas cada homem se corrige a si mesmo, pela necessidade de harmonizar-se com a Lei, na qual unicamente reside a felicidade. Época da liberdade consciente, da disciplina espontânea, da convicta adesão à ordem de Deus.

 

Esta ascensão é lógica, como o é o desenvolvimento de uma semente. Assim se passa do terror da primeira idade, à fé da segunda, ao conhecimento da terceira; passa-se de um regime de força, a um de amor, e enfim a um de inteligência e espiritualidade. É um processo de liberação progressiva, que só pode realizar-se quando o permitir a evolução humana. Tudo é função dela. As religiões não podem ser nem mais altas, nem mais livres do que é a natureza humana, que abaixa tudo, até o conhecimento de Deus, ao seu nível. Este último salto para a espiritualização é o grande acontecimento que nos aguarda no fim deste milênio e na alvorada do terceiro, é o grande acontecimento da instauração, na Terra, do Reino de Deus. E isto, justamente, o que nos anuncia o Apocalipse.

 

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Comecemos, então, o exame da segunda parte do Apocalipse. Nos primeiros dois milênios, a obra de Cristo na Terra foi uma fase preparatória do próximo advento do Reino de Deus. Nesta fase devia realizar-se: 1º, a experimentação biológica dos novos princípios do Evangelho, para que a vida, evoluindo, conseguisse aos poucos aprender e, ao menos uma pequena parte, a eles adaptar-se; 2º, a assimilação, para que esses princípios novos começassem, com a repetição e a técnica dos automatismos, a fixar-se um pouco nos instintos; 3º, a conservação do patrimônio espiritual herdado, para que as verdades reveladas pudessem, através das tempestades dos séculos, chegar intactas aos novos tempos. Desta fase preparatória passa-se hoje à realização. Se, para penetração do Evangelho na vida, pouco se fez em 2000 anos, ele continua, entretanto, a amadurecer nas almas, continua sua obra de elaboração interior, para que o mundo ressurja, na aurora do terceiro milênio, tal como Cristo ressurgiu na aurora do terceiro dia.

 

Mas, esta vitória dos seguidores, nos quais se personifica o pensamento de Cristo na Terra, não é pacífica. É, ao contrário, uma luta gigantesca, a qual, no entanto, é apenas o momento terrestre de uma batalha cósmica, em que se agita e treme o universo. É luta de Satanás contra Deus. O Apocalipse narra-nos suas vicissitudes. Eis o esquema geral. Até certo momento, Deus olha e espera, deixando o homem livre para experimentar, a fim de que aprenda. Esta é a livre ação dos homens contra Deus (os primeiros 4 selos). Há depois a ação oposta dos amigos de Deus (5º e 6º selos). E finalmente há a ação direta de Deus que, saturada a medida, intervém diretamente, breve, instantâneo. "Está feito", diz o Apocalipse. O reino de Satanás é destruído, e Deus venceu. Esta é, nas grandes linhas, o plano da 2ª parte do Apocalipse, a de que agora nos ocupamos.

 

Tudo isto é expresso com 4 símbolos maiores: os selos, as trombetas, os prodígios, as taças da ira de Deus. Esses símbolos, cada um em número de sete, exprimem o desenrolar-se da ação da grande batalha. O mesmo ritmo, com que avançam esses símbolos, várias concordâncias em seu conteúdo, e até idênticas palavras às vezes repetidas no mesmo ponto de seu ciclo, autorizam-nos a entender estes quatro símbolos, como expressão diversa, segundo vários mirantes, dos mesmos acontecimentos. Quisemos, por isso, emparelhar selos, prodígios, trombetas e taças, para ler neles os mesmos fatos, mais bem demonstrados em aspectos diferentes.

 

Imaginemos o Apóstolo João, que já pousara a cabeça no peito de Jesus e o vira morrer, imaginemo-lo velho, após uma vida de ação e paixão, orando a Deus de joelhos, diante das florestas da ilha de Patmos, com a cabeleira desgrenhada pelos ventos do mar e a alma presa na tempestade imensa das vicissitudes do mundo. Arrebatado na imensa visão, supera o tempo e o espaço e projeta seu olhar fulgurante no futuro.  Olham-no os céus luminosos do Oriente fantástico, e mais no alto, o olho de Deus, diante ao qual ele treme e se inclina, ora, humilha-se e se incendeia. Ouve então uma voz que lhe diz: "O que vires, escreve-o num livro(...)." E ele viu e narrou: "(...) e vi, e depois disso, vi(...)".

 

Começa assim o Apocalipse. Abrem-se os céus. "Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é,  era e  será, o Onipotente". Eis que aparece a visão do trono de Deus, diante do qual se eleva o cântico: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Onipotente" (...). João vê na direita Daquele que estava sentado sobre o trono, um livro fechado e selado com sete selos. O Divino Cordeiro toma-o da mão direita Daquele que estava sentado sobre o trono e o abre, rompendo um selo após o outro. João olha e conta.

 

Assim, após este prelúdio poderoso, começa a desenrolar-se a história espiritual do mundo. Soam as sete trombetas, aparecem visões terrificantes, monstros espantosos, rasgam-se os céus donde chove destruição, e sete anjos derramam sobre a Terra as sete taças da ira de Deus, aniquilando os exércitos do mal. No entanto, os bons têm paciência, são escolhidos, reúnem-se e, enquanto ruem todas as suntuosas construções de Satanás, cantam por fim sua vitória no Céu. Cristo, chefiando-os, triunfa e Satanás é acorrentado. Verdadeiramente, as portas do inferno não prevalecerão. Desenrola-se a ação ao mesmo tempo na Terra e no Céu, que se fundem num único drama. E é este seu epílogo feliz: após uma luta apocalíptica, um final cósmico em que lampeja o poder vencedor de Deus. Se o livro é terrificante em suas vicissitudes e pode parecer uma cruel e desapiedada mensagem da ira de Deus, na realidade ele narra a história da salvação do mundo, por aquela inteligência que tudo guia, imposta à multidão humana que, desesperadamente, luta para destruir tudo e perder-se, enquanto é absoluta a vontade de Deus que tudo seja reconstruído.

 

Mas, sigamos as vicissitudes mais de perto. Os selos são abertos um a um. E eis que aparecem os quatro famosos cavalos do Apocalipse; primeiro o cavalo branco; depois, no selo seguinte, o vermelho; depois o negro e, enfim, o pálido ou verde-amarelado, quando se rompe o quarto selo. As personagens começam a aparecer na cena, mas ainda não agem, deixando-se apenas identificar por suas notas características. A tempestade ainda não explodiu e tudo está à espera. A estas quatro figuras foram dadas as mais diversas interpretações. Tentemos uma também nós, mas tendo presente que, neste ponto, saímos do terreno sólido da certeza, para entrar no das probabilidades. Ofereceremos, pois, tudo como hipótese, porque assim exige a mentalidade moderna. Entretanto, teremos em conta todas as razões positivas que corroborem essa hipótese.

 

Para conseguir melhor nosso intento, faremos, como dissemos acima, um paralelo entre estes quatro primeiros selos e correspondentes prodígios, isto e, entre o cap. VI (1 a 8) e os cap. XII e XIII inteiros, do Apocalipse. Referiremos, mais particularmente, a mesma primeira personagem, tudo o que se relaciona com o cavalo branco do 1º selo e o dragão do primeiro prodígio (cap. XII). Depois referiremos à segunda personagem, o que se diz do cavalo vermelho do segundo selo e da besta que saiu do mar (cap. XIII: 1 a 10). Enfim, referiremos à terceira personagem, o que se diz do cavalo pálido do quarto selo e da besta que saiu da terra (cap. XIII: 11 a 18). O terceiro selo (cavalo negro) nós explicaremos, mais tarde, porque o deixamos para o fim. Estes dois ciclos parecem-nos paralelos e sua função indicar-nos-á melhor a personagem. No fim deste seu primeiro período, em ambos os casos, entram igualmente em cena os bons, cantando hosanas diante do trono de Deus, e no segundo caso é repetido o número exato, 144.000 dos pré-escolhidos, como no primeiro. Tudo isso dá a impressão de que se trata do mesmo acontecimento, narrado em duas formas diferentes.

 

Sem entrar em pormenores, coincidências e razões, que cada um pode achar e analisar por si, daremos ao cavalo branco o valor de símbolo do imperialismo inglês; ao cavalo vermelho o símbolo da Rússia soviética, ao cavalo negro o da Alemanha de Hitler, e ao cavalo pálido o dos Estados Unidos da América. Esta interpretação tem a vantagem de referir-se ao momento histórico atual, que é o que mais nos interessa. Vejamos agora nos selos os quatro personagens em pé, até a última guerra mundial. Nos prodígios, o ponto de vista seria em relação ao nosso atual presente, em que o cavalo negro ou a Alemanha do Eixo desapareceu, porque caiu e foi aniquilado. Só permanecem de pé os outros três, isto é, Inglaterra, Rússia e Estados Unidos, que achamos nos três prodígios, na forma de dragão, da besta que saiu do mar e da besta que saiu da terra. Estas três potências são hoje as senhoras do mundo e guiam os acontecimentos.

 

Para justificar esta individuação, trabalho que nos levaria a um exame muito detalhado das características particulares dos símbolos que representam essas personagens, basta-nos apenas recordar que o dragão é poderoso e no entanto se arrasta como serpente, que é o símbolo da astúcia enganadora. A besta representa claramente a animalidade involuída, em antítese ao espírito, aquela para a qual apela o materialismo moderno que se baseia apenas no bem-estar do corpo. As duas personagens são apenas duas bestas diversas, isto é, duas formas de materialismo, idênticas na substância, que é a de apegar-se só às coisas da terra, única finalidade da vida. Tudo isso em antítese ao reino do espírito, em que se apreciam outros valores.

 

Para justificar a individuação paralela correspondente ao dragão (cap. XII), isto é, o cavalo branco ou Inglaterra, recordemos as palavras que a respeito desse cavalo, diz o Apocalipse: “(...) e lhe foi dada uma coroa e saiu, como vencedor, para vencer”. Da primeira besta, ou cavalo vermelho, ou Rússia soviética, diz o Apocalipse: "(...) foi-lhe dado poder de tirar a paz da Terra, de tal forma que os homens se matassem uns aos outros, e lhe foi dada uma grande espada". Para o cavalo negro, ou a Alemanha do Eixo, o Apocalipse fala de medida e limitação de víveres, como na última guerra bem se experimentou. Para a segunda besta ou cavalo pálido, os Estados Unidos, fala o Apocalipse de morte e destruição, e estas foram lançadas sobre a Europa a mancheias. Além disso, as cores vermelha para a Rússia, e negra, cor do Eixo, são evidentes. Os Estados Unidos aparecem também no último, no 4º selo, como apareceram na última guerra.

 

Observemos, agora, as qualidades do 2.º prodígio, isto é, da besta que saiu do mar (Ap. XIII, 1 a 10) para ver se concordam com as da mesma personagem, ou seja, a Rússia Soviética, expressa no 2.º selo ou cavalo vermelho. Besta quer dizer materialismo, como vimos, e o mar significa os povos, nações, línguas (Ap. XVII, 15). Depois, o texto diz: "(...) e vi uma de suas cabeças como ferida de morte: mas sua chaga mortal foi curada". Isto poderia significar a salvação de um grande golpe que ameaçou a Rússia, em Stalingrado. E o texto acrescenta: "(...) e lhe deu o dragão seu poder e seu trono e grande poder(...). E toda a Terra ficou arrebatada de admiração pela besta. E adoraram o dragão, porque dera autoridade à besta e adoraram a besta dizendo: Quem é semelhante à besta e quem pode concorrer com ela?(...)”.

 

Com efeito, não foi o recente poderio da Rússia devido ao apoio inglês (dragão), que depois convenceu os Estados Unidos a fazer o mesmo? Seguiu-se a fé fanática das massas pela ideologia comunista e todos adoraram os vencedores: materialismo, Inglaterra, Rússia. O texto prossegue: "(...) E abriu sua boca blasfemando contra Deus, blasfemando Seu nome (...) e lhe foi dada faculdade de fazer guerra aos santos e de vencê-los(...)". O ateísmo russo é conhecido e bem assim sua campanha anti-religiosa. Importante que, depois de ter dito: "(...) e lhe foi dada faculdade de agir por 42 meses(...)" vem a conclusão: "(...) se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém prender alguém, acabará preso; se matar à espada, será fatalmente morto à espada(...)". Eis, pois, como deverá acabar a Rússia: na autodestruição. Este conceito faz parte da Lei e do sistema ilustrado nos volumes anteriores, conceito amplamente explicado alhures. "Quem usa a espada, perecerá pela espada". norma evangélica que é lei de vida, que nenhuma força humana poderá deter. O Apocalipse conclui: "(...) Aqui está o sofrimento e a fé dos Santos". Os bons, pois, tenham coragem, que o mal não pode absolutamente vencer; existe a justiça de Deus e ninguém pode detê-la.

 

Observemos, agora, as qualidades do 3º prodígio, ou seja, da besta que saiu da terra (Ap. XIII, 11 a 18) para ver como concordam com as da mesma personagem, isto é, os Estados Unidos da América, expressas no 4º selo ou cavalo pálido. Vimos que o cavalo negro do 3º selo, ou Alemanha, desapareceu da cena política do mundo. Essa besta é outra forma de materialismo, que sai do poder da terra, riquezas do solo e indústrias. Diz o texto: "(...) e falava como o dragão(...)". Ou seja, a mesma língua inglesa; "(...) e todo o poder da primeira besta, ela o exercitava diante dela(...)", e apresenta já realizados, de fato, os sonhos de bem-estar do comunismo russo. “(...) E fez que a Terra e seus habitantes louvassem a primeira besta, de que fora sanada a chaga mortal(...)”. Foi pelo auxílio dos Estados Unidos que a Rússia se tornou vitoriosa e grande. “(...) E fez prodígios grandiosos, tanto que fez descer fogo do céu sobre a terra(...)". Eis as fortalezas voadoras, as bombas atômicas, as novas descobertas científicas.” (...) E fará que ninguém possa comprar nem vender, se não tiver a marca, (ou seja) o nome da besta e o número de seu nome(...). Isto é, domínio completo do dólar sobre tudo. O capítulo conclui com o famoso número 666. Calculando-se segundo o alfabeto hebraico, esse número diz Nero. Mais tarde, foi dada a essa cifra, segundo os casos, o significado de uma quantidade de personagens históricas. Talvez seja um número simbólico, para dizer que muitas personagens igualmente más, se apresentarão até o fim da História. Mas, tudo isso é trabalho para adivinhos, terreno em que não podemos entrar.

 

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Neste ponto, ocorre, em ambos os ciclos, uma mudança de cena. Até aqui, assistimos a descrição de personagens em suas características e feitos passados. Agora temos um entreato, em que entram em cena as personagens das fileiras opostas, os soldados de Deus. Abre-se o 5º selo. Os bons apelam para que se faça justiça e lhes é respondido que ainda fiquem quietos por breve tempo, até que seja completado o número de seus irmãos sacrificados. Ao abrir-se do 6º selo, inicia-se a preparação espiritual dos soldados de Deus, a qual contrabalança a preparação material de Seus inimigos. Isto é necessário, porque se aproximam as grandes provas, que explodirão ao abrir-se do 7º selo. Temos uma breve pausa, antes de desencadear-se a grande tempestade. Tudo faz pensar que esta pausa seja a hora presente. É um momento de espera em que as forças contrárias se preparam, medem-se, tomam o impulso para lançar-se uma contra a outra. Deus olha e espera, deixa-nos realizar todas as nossas experiências, que pretendem dispensá-lo. Os maus movem-se afoitos à conquista do mundo, e caminham para sua destruição. Os bons oram, tremem, esperam. Deus olha, deixa todos livres, mas se escreve no livro da vida, de que nada mais se apaga, e pelo qual todo o mal se paga e todo bem frutifica. A Lei não tem pressa, pois o tempo não pode detê-la e nada pode escapar à sua sanção. Este exame que estamos fazendo do Apocalipse e de sua orientação interessa-nos, sobretudo, porque parece dizer respeito ao nosso presente, e dá-nos uma chave para conhecer nosso futuro próximo. Estamos num período de espera, em que o homem continua suas loucuras, sem saber que espada de Dâmocles lhe pende sobre a cabeça. Um nervosismo dominante revela-nos que o instinto sente vagamente o aproximar-se da tremenda reação da Lei. Ninguém mais tem fé no amanhã, tão pleno de ameaças é o presente. Com o 7º selo iniciar-se-á, com efeito, a série dos castigos, porque estamos próximos da hora em que Deus, já tendo esperado bastante, terá esgotado os oferecimentos de salvação e terá de intervir para que volte a ordem e a justiça seja feita.

 

Na abertura do 6º selo vemos, portanto, duas manifestações opostas. Os maus desencadearam uma grande guerra. E obra deles, não ainda a de Deus. Paralelamente são escolhidos os bons para formar o contra-exército dos filhos de Deus. A tempestade procurada pelos maus toma o aspecto de um cataclismo natural: "(...) E todos se esconderam nas cavernas e rochas das montanhas. E diziam aos montes e às rochas: caiam sobre nós e escondem-nos(...)". Esta é a última tentativa para salvar-se das incursões aéreas, que desta vez serão atômicas. Doutro lado são retidos por um anjo os ventos, para que estejam tranquilos e nenhum dano causem, enquanto não estejam marcados nas frontes com o selo, os servos de Deus. E o número desses escolhidos será 144.000. (Sendo este número dado por 12 x 12 x 1000 = 144.000, e representando o número sagrado plenário, pode significar grande multidão). Forma-se, pois, uma multidão inumerável, de todas as raças, povos e línguas, diante do trono de Deus, multidão daqueles que vinham da grande tribulação; e Deus estenderá sobre eles Sua tenda.

 

Esta cena acha sua correspondência na de todo o cap. XIV do Apocalipse, que segue o 3º prodígio da besta que saiu da terra, como vimos. Achamos aqui os mesmos 144.000, marcados na fronte. Repete-se a cena do cântico diante do trono. Estes são os pré-escolhidos do exército de Deus. Continua o paralelismo num prolongamento de repouso. O cap. XIV continua com os anúncios feitos por quatro vozes de anjos. São os últimos acontecimentos, antes da catástrofe: "(...) Temei a Deus, porque chegou a hora do Seu juízo(...). Quem adora a besta e sua imagem e traz seu sinal na fronte ou na mão, beberá o vinho da ira de Deus, que está pronto no cálice de Sua ira(...)".

 

Termina aqui o entreato. Continuemos a observar as duas narrações em paralelo. Na primeira delas chegamos finalmente à abertura do 7º selo. Então houve um grande silêncio no céu. E foram dadas sete trombetas a sete anjos. Enquanto eles se preparam para soar as trombetas, eleva-se de um turíbulo de ouro o incenso diante do trono, com as orações dos santos, e sobe a fumaça do incenso com suas orações até Deus. É o momento solene em que começa o desencadear-se da justiça divina. Tocarão agora, sem interrupção, as sete trombetas e a cada toque seguir-se-á um flagelo sem escapatória, numa tempestade pavorosa, até o 7º toque. Então, tudo muda e, como na abertura do sétimo selo explodirá o cataclismo, (as sete trombetas), assim ao 7º toque tudo se acalma e o 7º anjo e outras vozes anunciam: "O reino do mundo passou ao Senhor nosso e ao Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos". Eleva-se uma oração: "Agradecemos-Te, Senhor Deus onipotente, porque assumiste Teu grande poder e começaste a reinar(...), veio Tua ira(...), e o momento de premiar Teus servos(...), e de destruir os destruidores da Terra". (Ap. XI, 15 a 18).

 

Observemos outra narração paralela. Também aqui terminou o entreato e explode a catástrofe. Após as últimas advertências das quatro vozes (Ap. XIV, 6 a 13), há ainda um prolongamento de espera com novos anúncios. E outro Anjo grita ao divino Justiceiro, que aparece sobre uma nuvem: "(...) Apanha tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, porque a colheita da Terra já está seca.” Outro Anjo grita: “(...) Apanha tua foice afiada e colhe os cachos da vinha da Terra, porque suas uvas estão maduras(...)". Então, à semelhança dos 7 anjos com as trombetas, aparecem outros 7 anjos com as sete taças de ouro cheias da ira de Deus. Mas, também aqui, como na outra narração, antes que se passe à ação, se eleva um cântico a Deus (Ap. XV, 1 e seguintes), glorificando-O e adorando-O. Todas as nações se prostrarão diante dele, porque manifestou Seu juízo. É a hora de prestar contas. Os 7 anjos tomam as 7 taças. Enche-se o santuário de Deus da fumaça de Sua glória e de Seu poder; e ninguém poderá aí entrar até que tenham sido derramadas as 7 taças. É o momento solene em que começa o mesmo desencadear-se da justiça divina, como para as 7 trombetas. Derramar-se-ão, sem interrupção sobre a Terra, as 7 taças da ira de Deus, e a cada taça seguir-se-á um flagelo sem escapatória, numa tempestade gigantesca, até à 7ª taça. Tudo foi merecido. As taças são esvaziadas sobre a terra, sobre o mar, depois sobre os rios e as fontes, depois sobre o sol, sobre o trono da besta, no próprio ar. Torna-se tudo de sangue e de fogo, seca, arde, adoece, rui numa queda universal. À sétima taça, aqui também, a ação se detém, como na sétima trombeta e uma grande voz sai do Santuário, do lado do trono dizendo: "Está feito". Tudo é claro, conclusivo, os inimigos de Deus não existem mais, o drama está completo com a vitória de Deus, o reino de Satanás foi destruído, aponta a alvorada do novo Reino de Deus. Este momento, expresso pela palavra; "Está feito", corresponde ao do 7º toque da trombeta que anuncia: "O reino do mundo passou ao Nosso Senhor e a Seu Cristo, e Ele reinará nos séculos dos séculos.

 

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Esta poderia ser uma interpretação do conceito central do Apocalipse, sobrevoando sobre os pormenores, mas apanhando claramente o que há de mais importante, que se referiria de modo impressionante aos nossos tempos. É admissível, também, que numa revelação profética, proveniente por inspiração de dimensões superiores, a sucessão no tempo possa ter sido dada de modo pouco exato, em nosso plano de vida, justamente porque o profeta não pode deixar de perceber tudo como num estado de contemporaneidade. Explica-se, assim, certa mistura de pormenores e a repetição da mesma visão como projetada em dois tempos diferentes que, à primeira vista, poderiam a nós parecer sucessivas. De qualquer modo, apresentamos tudo isto ao leitor moderno positivo, apenas como hipótese, que ele poderá controlar e também não aceitar. Mas esta nos pareceu a maior aproximação hoje possível de uma interpretação, racionalmente conduzida, do Apocalipse aos tempos atuais. Sozinha, talvez não fosse suficiente para explicá-los. Mas, corroboraremos esta afirmação com as previsões de outras profecias e das Pirâmides. E quando virmos tudo concordar, permanecendo logicamente enquadrado no Sistema da Lei, até agora explicado, estas afirmações serão mais aceitáveis, mesmo para o homem positivo moderno.

 

A substância do raciocínio é simples, a qual foi dito e repetido, até agora, em nossos livros. Tudo é dirigido por uma Lei que representa o pensamento de Deus. Assim, além da pequena liberdade humana, existe um determinismo inteligente histórico, que guia os acontecimentos. O homem hoje tomou a posição de Satanás, rebelde à Lei. É natural que o Sistema lhe caia em cima. Explicamo-lo no volume Deus e Universo. Dada sua orientação, o homem hoje se acha na posição de abandonado por Deus que, no entanto, respeita a sua liberdade, não o força, mas se retrai. E diz: "Quereis experimentar a força? Experimentai-a. Mas avisei-vos de que, quem usa a espada, perecerá pela espada. Credes nos exércitos e nas armas? Provai-as. Não quereis o amor evangélico e só concordais numa coisa: na mentira, no egoísmo, no trair-vos todos uns aos outros? Pagareis todos juntos. A punição, realizá-la-eis vós mesmos, porque a trazeis em vós. Matar-vos-eis reciprocamente, porque a isso vos leva vosso próprio sistema. Quereis fazer do poder não uma função de vida e uma missão, mas um meio para esmagar indivíduos e povos? Fazei-o. Experimentai, experimentai. Sois livres. Assim vos massacrareis todos, mas, já que não sabeis aprender de outro modo, e é preciso aprender, ireis à dura escola que escolhestes”. Este raciocínio temo-lo idêntico no Apocalipse, de modo que ele parece escrito de propósito para nosso tempo. E se parece feroz e sem piedade, não exprime todavia senão a exata consequência da livre, mas louca conduta humana, no seio de uma Lei cujas reações são fatais.

 

Estamos agora no termo do período experimental da Lei, momento em que Deus já esperou bastante; as experiências humanas fazem-se cada vez mais, e agora desastrosas demais, para que não seja preciso uma intervenção superior para detê-las. O limite de elasticidade da Lei está quase sendo superado, quebram-se suas colunas protetoras e o Sistema - como já ocorreu no princípio com a revolta de Satanás - desaba sobre os rebeldes que soçobram no caos por eles mesmos gerados na ordem de Deus. Soa então a hora do juízo, fazem-se as contas, para que cada um tenha segundo suas obras e merecimentos. A esperada realização do Evangelho na Terra não deve ser frustrada por mais tempo, a perversidade e a malícia humanas não podem mais ter, por longo espaço, o poder de tornar quase inútil a vinda de Cristo a Terra. A Igreja desempenhou sua missão de conservar sua preciosa bagagem, arrastando-a após si, através da tenebrosa época dos dois milênios. Hoje é mister realizar. No terceiro milênio, tal como Cristo no terceiro dia, é preciso ressurgir. Não basta a exceção dos Santos. O Evangelho deve apossar-se e penetrar na vida do homem, tem que inserir-se nas instituições sociais. Tudo nos diz que estamos na plenitude dos tempos. Já foram feitos bastantes anúncios e avisos. Estamos justamente nas pausas, ou entreatos, que acabamos de ver no Apocalipse, e que precedem o desencadear-se da tempestade? Quando se abrirá o 7º selo e tocarão as trombetas ou, então, se derramarão as 7 taças da ira de Deus? E que pode o homem sozinho, contra a grande Inteligência que dirige a História e a vida? O certo é que, se foi reconhecida, nos planos superiores, a necessidade de uma intervenção direta de forças sobre-humanas, e se foi decidido executá-la, ninguém poderá detê-la. Então, a História disporá de tais forças que poderá realizar o que hoje nos parece inacreditável, isto é, a formação de novas correntes de pensamento e de diferentes tipos biológicos dominantes, a purificação da humanidade, custe o que custar, e a sua instalação no seio de uma nova civilização do espírito, no terceiro milênio. O que está fora de dúvida, é que acima das forças do mundo físico, conhecido pela ciência, há um mundo de outras forças que ela ainda ignora. Também fora de dúvida que o homem é uma pequenina formiga, agarrada a um grão de poeira cósmica, e nada pode contra essas forças. Outrossim, é ainda fora de dúvida que nós não podemos negar a priori a possibilidade de acontecer em nosso tempo tudo o que o Apocalipse anuncia. Como negar, mesmo cientificamente, que não pode haver relação entre forças morais e físicas? E quem  pode dizer que a humanidade não esteja cometendo erros tremendos no terreno espiritual? Como afirmar que os poderes do pensamento não dirijam o mundo? E então, aos céticos, poderemos dizer: "E se tudo o que afirma o Apocalipse fosse verdadeiro?"

 

A visão da grande prostituta (Ap., XVII) é apenas um comentário e uma determinação de toda a visão. Esta mulher é a contraposição daquela vestida de sol, com uma coroa de doze estrelas, contra a qual luta o dragão do primeiro prodígio, acima examinado. Se nela alguns veem a Igreja, ou até mesmo a Virgem Maria, na outra, a Grande Babilônia, mãe das prostitutas, veem a cidade da Roma de Nero, das sete colinas e sete imperadores (de Nero a Domiciano), outros o paganismo corrupto, outros o materialismo de nossos tempos, outros, como diz o Apocalipse, a riquíssima rainha dos mares, isto é, a Inglaterra protestante, vestida de trabalhismo e em conúbio com a besta. Mas, enquanto alguns católicos preferem ver aí o protestantismo, alguns protestantes aí veem a Igreja de Roma, que lhes parece haver traído a missão de Cristo a ela confiada. Para outros, a grande prostituta é a Europa. Olhando seu mapa virado, a partir do Nordeste, seu perfil sobre os mares pode dar a impressão de uma mulher sentada sobre a Rússia, que representaria a besta vermelha, como diz o Apocalipse, sobre a qual está sentada a grande prostituta. O braço direito seria a Itália, e com ele parece segurar um cálice (a Sicília), ao passo que o braço esquerdo seria a Inglaterra, a cabeça a Espanha, e o chapéu, Portugal. E Roma estaria no meio do braço direito. O cap. XVII que fala da prostituta, termina com este esclarecimento: "(...) As águas que viste, onde está sentada a meretriz, são povos e multidões, e nações e línguas (...)". E a Rússia teria justamente a tarefa sinistra de devorar a civilização europeia. Esta interpretação provém, naturalmente, de escritores do lado americano do Atlântico, porque todos gostam de colocar o próximo nos erros e nos castigos, mas jamais a si mesmos.

 

Sem dúvida, em nosso tempo a ciência conseguiu conquistas inauditas. O automóvel, o radio, a televisão, o domínio do ar, a descoberta da energia atômica, e até a previsão de uma possibilidade de explorações interplanetárias, representam uma tal conquista sobre as forças da natureza, que não se pode imaginar mais até onde possa chegar o homem. Há muitos elementos materiais para sustentar modos de vida absolutamente novos, num tipo de civilização de formas hoje incríveis. Os elementos-base para uma transformação radical de conceitos e hábitos, já estão em prática. Os fundamentos científicos e práticos de uma nova civilização já foram lançados com um entusiasmo sem precedentes, na conquista do tempo e do espaço, os dois grandes obstáculos ao livre movimento do homem. Sem dúvida, estas conquistas materiais reagirão, também, sobre o estado psíquico e espiritual da humanidade, ajudando-a a evolver.

 

Mas, infelizmente esse aumento de poderes é uma arma de dois gumes, porque, se não for acompanhado por um desenvolvimento paralelo de consciência, no terreno moral, pode representar um novo poder imenso de destruição colocado nas mãos de um inconsciente que, em sua inexperiência, não se sabe que uso possa disso fazer. Com a descoberta da energia atômica, o homem não se deu conta, ainda, de onde pôs as mãos, ou seja, de haver penetrado tão próximo à substância das coisas, tanto que se apossou da técnica da criação. Assim seus poderes cresceram sem medida, e se ele pode tirar vantagens proporcionais para seu bem, pode também sofrer dano, para seu mal. E é tão grande o novo poder, que lhe pode escapar das mãos inexperientes, sem que lhe seja possível mais controlá-lo, depois. E que dizer, quando se sabe que esse poder não está, hoje, nas mãos dos sábios, mas de governantes que, por sua própria posição, estão enredados nas tristes artes da política? Que dizer, quando se sabe que esse poder está à mercê do egoísmo, do ódio, do interesse, do desencadear das mais baixas paixões? Que garantia de sabedoria podem ter, a esse respeito, governantes que só chegaram ao poder suprimindo os próprios rivais e mantendo-o com o terror? Se essa é a psicologia dos senhores dessas forças, pesa verdadeiramente sobre o mundo uma espada de Dâmocles, suspensa por um cabelo.

 

Se esse cabelo arrebenta, é a guerra. E a guerra de hoje tem as seguintes características: 1.º, ameaça todos, mesmo os civis. É pois, também, guerra de nervos, é perigo e terror para todos; 2.º, morrem todos, indistintamente, mesmo os inermes, numa hecatombe comum; 3.º, é guerra em três dimensões; 4.º, é guerra de todos os povos, porque mesmo os longínquos não-beligerantes se ressentem e saem dela com algum dano ou sofrimento; 5.º, é guerra de extermínio total, de aniquilamento, sem escapatória, em extensões vastíssimas.

Se arrebenta o cabelo da espada, ela cairá na cabeça da humanidade. Essas condições são tão catastroficamente ameaçadoras, que jamais se verificariam na história do mundo. Não serão estes os sinais indicadores da plenitude dos tempos, como dizem as profecias? Mas, elas também dizem outra coisa: "Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para o alto e levantai vossas cabeças, porque vossa redenção está próxima(...). Quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Reino de Deus está próximo". (Luc. XXI, 28 e 31). Esses sinais prenunciadores de acontecimentos espantosos anunciam, então, também outra coisa, ou seja, a plenitude dos tempos, também no sentido de que deve chegar à Terra o Reino de Deus, isto é, se deva realizar o novo modo de viver, o tipo da civilização do terceiro milênio. Estamos, portanto, verdadeiramente na época extraordinária da qual falam as profecias e que culmina numa transformação radical do mundo.

 

Mas, ainda há outro fato indicador, outro sinal dos tempos: é a queda dos mistérios. Estes, aos poucos, são todos explicados e aclarados pela ciência. Então poderemos repetir as palavras de S. Paulo na Epístola aos Hebreus (X: 26, 27 e 31): "Se pecamos, voluntariamente, após ter conhecimento da verdade, não há mais sacrifício pelos pecados, mas uma espantosa expectativa do juízo(...). É coisa espantosa cair nas mãos do Deus vivo". Quando tudo estiver esclarecido e evidente, quem não quiser aceitar as verdades do espírito e obedecer à Lei, não poderá mais achar misericórdia, porque não a merece.

 

Poderão mudar e ser incertos os pormenores das previsões políticas, mas o certo é que o povo, grupo ou instituição, que tiver pecado, terá que pagar. Esta é a lei certa. Cada um poderá deleitar-se em fazer exame de consciência de outrem, antes que de si mesmo. A lei permanece a mesma. E inútil ter poder terreno, se há injustiça no espírito. Esse poder não poderá defender-nos e ruirá diante da Lei que quer justiça. Assim conclui o Apocalipse, no cap. XVIII: "Ai, ai da grande cidade, Babilônia, a cidade forte! Num momento chegou o teu juízo! (...). Num momento, sua magnificência ficou reduzida a um deserto! Alegrai-vos sobre ela, ó céus, e vós santos e apóstolos e profetas, porque Deus vos fez justiça, com Sua condenação!"

 

Paralela a essa ruína do mal, corresponde o triunfo nos céus (Ap., XIX). A ruína na Terra foi completa. A voz de uma multidão imensa se eleva gritando: "(...) Aleluia! O Senhor fez justiça (...). Louvai nosso Deus!(...) porque o Senhor Deus começou a reinar". Chegamos ao epílogo, que é a vitória de Cristo. Satanás é acorrentado. Pode finalmente realizar-se na Terra o anunciado Reino de Deus. Tudo isto é de uma lógica constringente. É possível que o bem fique vencido pelo mal, Deus por Satanás, que a missão de Cristo, na Terra, naufrague assim, sem nenhum resultado? O próprio sistema da Lei tem uma lógica e, se tudo isso acontecesse, todo o sistema ruiria. E isto seria uma ruína muito mais fragorosa e desastrosa do que a queda das potências do mal, como o descreve o Apocalipse. Pois, se estas ruem, permanecem a salvação e a vida na ordem divina. Mas se cai a Lei, isto é, o Sistema de Deus e do bem, só resta a destruição de tudo, pela precipitação definitiva do universo no caos.

 

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O grande drama do Apocalipse está em seu epílogo e fecha-se, em sua terceira parte, com a cena grandiosa da ressurreição dos mortos e do Juízo Universal. Satanás está definitivamente derrotado. Diante do trono de Deus comparecem os mortos. Abre-se o livro da vida, em que tudo está escrito e cada um é julgado segundo suas obras. O mar entrega os seus mortos. A morte e o inferno entregam seus mortos. Depois "(...) a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo; esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo" (Ap. XX, 14 e 15). Há, pois, uma absoluta destruição final, em que são anulados também a morte e o inferno, uma segunda morte, última e definitiva, em que são precipitados todos os que não foram achados escritos no livro da vida. E a vida é Deus. Então, isto quer dizer: aqueles não eram da parte de Deus e do bem. Eles são eliminados do Sistema, anulados mesmo como espíritos. Esta não é a habitual morte do corpo, não é a normal decadência de todas as coisas, para renovar-se e evoluir. Não é a costumeira morte temporária, de que tudo ressurge. Esta é a segunda morte, a definitiva, do espírito³.

 

Chegamos ao limite da Lei, à hora em que o ciclo involução-evolução se fecha com o regresso a Deus, termina a cadeia das reencarnações, está completa a caminhada da reascensão, concedida por Deus ao ser decaído para redimir-se, cessa a possibilidade de erro e a necessidade da expiação. Está na lógica do sistema, que a experiência não possa ser procrastinada até o infinito, que o ser não possa ter à sua disposição a misericordiosa elasticidade da Lei e a paciência de Deus, para sempre. Seria um absurdo inadmissível, na ordem que tudo dirige, que se concedesse à liberdade humana, que ela se sobrepusesse à Lei e se substituísse a ela, ultrapassando os limites das próprias funções, para as quais, apenas, é admitida a liberdade, e assim subvertesse eternamente aquela ordem. Deve chegar a hora em que termina o tempo máximo concedido, para que o caminho da evolução tenha sido percorrido por aqueles que o quiseram percorrer, o tempo em que todos os auxílios foram dados, todas as possibilidades esgotadas, a hora em que se fazem as somas, e ficam de fora aqueles que, mesmo tendo-o podido, absolutamente não quiseram redimir-se. Então, tudo está terminado, pois o processo evolutivo atingiu sua conclusão. Detém-se então o tornar-se fenomênico, isto é, cada fenômeno não se prende mais ao seguinte, mas alcança finalmente sua última e definitiva fase, resolvendo-se na estase, porque se esgotou o processo do tornar-se, e na cadeia... causa-efeito-causa... não há mais anéis. Então, pára o transformismo no tempo, termina toda possibilidade de recuperação e a escola se fecha. Já então, por não terem mais sentido nem objetivo, acabam a morte, a dor, os estados de castigo, o inferno. Esgotados os parênteses da revolta e da desordem, tudo tem que voltar ao estado perfeito da originária felicidade, como Deus quis sua criação. O ciclo da descida e da reascensão está todo percorrido, quem quis redimir-se alcançou sua salvação e, mesmo tendo errado, aprendeu a grande lição do bem e do mal. Quem não quis redimir-se, dado que ninguém pode ser constrangido e que o rebelde não poderia permanecer indefinidamente aí, nem corromper o sistema, este rebelde vem definitivamente expulso, com o aniquilamento de seu eu. Então, é lógico que tudo o que era necessário num universo decaído para tornar a subir a Deus - todos os instrumentos úteis para realizar a obra de reconstrução - não tendo mais objetivo de bem nem razão de existir, sejam eliminados, da mesma forma que a um edifício construído tiram-se os andaimes, que foram necessários para executar os trabalhos.

 

Deus só pode ser vencedor absoluto. Não poderia sê-lo com inimigos, que eternamente clamassem contra Ele a voz de sua maldição, meditando uma revolta. A lógica impõe não só a vitória absoluta de Deus, mas, numa ordem que se tornou perfeita, como deve ser toda obra de Deus, também não se permite absolutamente a dissonância de vozes rebeldes, ainda que afastadas, e a presença de um tumor maligno à espera de arrebentar. Ele se acharia no próprio seio de Deus que é o Todo, do qual nada se pode tirar, porque recairia em Deus, já que nenhuma coisa pode existir fora do Todo que é Deus. E, como poderia ficar em Deus uma zona de anti-Deus? Além disso, no universo, em que só achamos fenômenos que tendem a resolver-se, o fato da sobrevivência eterna de individuações pessoais das forças do mal, seria o único fenômeno que permaneceria incompleto, sem conclusão, nem em sentido positivo, de vitória, nem em sentido negativo, da derrota absoluta e definitiva. E ele está incluído no transformismo universal, ou tornar-se evolutivo, como o estão todos os outros fenômenos. Não há, pois, razão para que ele se comporte diferentemente.

 

Não sabemos explicar-nos essa concepção da sobrevivência do mal em forma de prisão, senão como uma projeção antropomórfica, como um produto da psicologia humana, transportada para um mundo a que ela não pode chegar, isto é, do relativo ao absoluto. Essa concepção pertence à miséria das vitórias humanas, caducas e encadeadas a novas derrotas, colocadas no vir-a-ser, filhas do transformismo, concepção que está fechada dentro desse limite e que não tem mais sentido e não pode subsistir além dele, ou seja, quando o tornar-se e o transformismo cessarem, porque resolvidos. É preciso compreender que, passado esse limite, entra-se no absoluto, no imóvel perfeito, e que aí todos os conceitos do nosso relativo do tornar-se, em busca de uma perfeição, todos os seus pontos de referência em que se baseia, caem. Nesse mundo superior é lógico que não podem subsistir nossas concepções. As vitórias do absoluto não podem ser iguais às do relativo. Os triunfos de Deus devem ser diversos dos nossos, ou seja, absolutos, sem possibilidade de reações e continuações de luta, simplesmente resolutivas e definitivas. E, dado que a vitória de Deus é absoluta, no fim o inimigo não deve mais existir. A única existência dele, mesmo acorrentado, seria uma sobrevivência perturbadora, de desordem e até, por menor que fosse, uma vitória mínima, um testemunho de revolta, ainda que latente; seria uma coexistência de vontade de negação no sistema positivo, uma prova de imperfeição, isto é, de obra incompleta. É necessário que todas as individuações das forças do mal, por fim, se quiserem, assim permanecer, devam desintegrar-se como personalidade própria; porque a divina substância espiritual que a constituía, a abandona para canalizar-se na corrente oposta do bem, como vencedor absoluto. É assim que aquele "eu sou" chega a não existir mais e, na segunda morte, como diz o Apocalipse, que aqui nos confirma, vem anulado até mesmo como espírito. Não há solução mais lógica do que esta, porque racionalmente conclui segundo os princípios do Sistema, solução cabal e definitiva, porque resolve tudo para sempre, mais harmônica, equilibrada e justa, porque os negadores de Deus, que é vida, são negados por Deus, na morte. Não há solução mais grave e resolutiva, no entanto, piedosa, porque é a única que pode ser compatível com a bondade de um Deus que não quer inutilmente ser cruel ou vingar-se, e cujo escopo foi a felicidade do ser e cujo princípio fundamental no criar foi: Amor.

 

Assim conclui também o Apocalipse. A destruição final do mal e das individuações que o personificam, já a tínhamos sustentado nos volumes precedentes. Agora voltamos a esta nova confirmação, depois que o longo caminho ascensional através destas obras nos levou a um conhecimento mais profundo e um amadurecimento mais avançado. Agora vejamos, de forma plena, a absoluta lógica e a imprescindível necessidade deste conceito, pelo qual, se no fim permanecesse no universo a menor partícula ou traço de mal e de dor, que lhe está ligada, a criação ficaria inquinada e sua perfeição estragada, a grande obra de Deus resultaria manchada e falida, numa forma que é inconciliável com o conceito de Divindade, que só pode ser perfeita. Em Deus não há lugar para o incompleto, para o relativo, pois tudo deve ser completo e absoluto, mesmo a vitória sobre o mal. O governo do universo é, e pode ser, totalitário e absoluto, porque está nas mãos de um Ser perfeito. Esses governos, na Terra, são inadmissíveis, porque não existe o homem perfeito, e se procura remediar com uma compensação de erros, multiplicando o número dos dirigentes, para que estes os eliminem, controlando-se entre opostos. Mas, no absoluto, um Deus, senhor e vencedor não incondicionado, seria um absurdo. Por isso, o extermínio do mal deve ser completo até às raízes do ser, no ponto em que se diz: "eu sou", de modo que o mal não possa mais ressurgirse. O tempo das lutas deve ser terminado sem a possibilidade de volta. Nem as cinzas do incêndio destruidor do mal devem permanecer para recordar esse triste passado, porque até esse mínimo resquício inquinaria e tornaria imperfeita a perfeição do Absoluto, ao Qual tudo, no fim, regressa. Sobreviverão só os puros, que assim permaneceram, e os decaídos que se purificaram, já agora todos em igual estado de pureza.

 

Com isto, o Apocalipse dá uma nova confirmação das teorias do volume Deus e Universo. No Apocalipse tornamos a achar todos os motivos do Sistema: a revolta originária, que se perpetua nos maus, o dualismo bem-mal, Deus-Satanás, a destruição final do mal e o triunfo incondicional de Deus. O Apocalipse narra o caminho do ser rebelde, que volta a Deus, e conclui com a vitória final do Sistema sobre o Anti-Sistema. Se a ascese se desenvolve numa grande luta, em que Deus permitiu ao mal que agisse, porque a todos foram oferecidas ocasiões para subir e para o exercício do bem; se o Apocalipse pode parecer para os maus um livro de terror, porque de condenação inexorável, é ele, no entanto, um livro de justiça para todos, e para os bons é uma mensagem de alegria, porque exprime o desenrolar-se do processo evolutivo do mundo, até a reconquista da originária felicidade, até o triunfo absoluto dos bons, no bem, na glória de Deus.

 

""Não desprezeis as profecias: examinai tudo. Retende o que for bom".

 

(S. Paulo, I Epístola aos Tessalonicenses, V: 20-21).

 

Vejamos agora o que nos dizem alguns profetas mais conhecidos, em relação aos nossos tempos. MICHEL NOSTRADAMUS nasceu na Provença (França) em 1503. Dele temos um milhar de profecias, em dez centúrias, que começaram a ser publicadas em 1555. Muitas delas foram logo se realizando, dando fama a seu autor. Embora não use muito a simbologia, como no Apocalipse, o texto muitas vezes permanece obscuro e o sentido velado. Isto porque, não só não é bom que os homens saibam, mas também porque é perigoso dizer-lhes o futuro. Eles querem ter êxito em suas intenções, não toleram oposições de mau augúrio e, acreditando com isso poder deter o destino, perseguem, e até, se podem, suprimem o profeta que lhes anuncia sua derrota.

 

Estas famosas centúrias astrológicas começaram a ser escritas em 1547 e chegam a predizer até o ano 2001. Interessam, pois, também aos nossos tempos. Se bem que o cálculo dos anos seja feito com uma contagem diferente da nossa, o estabelecimento das datas foi possível, em base de cálculos astrológicos, de acordo com o Zodíaco, medindo as posições dos planetas e constelações. Ora, sem entrar no emaranhado dos pormenores, estes últimos 50 anos de nosso milênio são anunciados nessa profecia como dramáticos: guerras, invasões, revoluções internas, e perseguições religiosas. Entrariam em ação vários Anticristos. Virá uma ideologia horrenda e a Igreja de Roma será perseguida. Na Itália dominará um chefe vermelho e um falso papa. O verdadeiro fugirá, talvez o "Pastor et Nauta", de Malaquias. A Europa estará à mercê das guerras e da desordem e assistirá ao fim da Inglaterra. Em 1999 haverá a última invasão asiática. O Anticristo é uma força, é a doutrina ateu-materialista, a idéia anticristã que na História se vai personificando em vários indivíduos, mas com as mesmas finalidades, tal como no Apocalipse. Essa força está contra toda concepção espiritual, que ela quer destruir. Seu método é a desordem, seu objetivo é desorganizar tudo, sua verdadeira meta é o caos. São os princípios de Satanás. As forças do mal estão  claramente individuadas. Chega-se, assim, com vários períodos e episódios, ao fim do século. Com esse dramático final, terminam as profecias de Nostradamus.

 

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Muito mais antigo que Nostradamus é o monge irlandês MALAQUIAS, nascido em 1094. Ficou famoso por ter compilado um "Lignum Vitae", em que se acha um elenco de cento e onze pontífices, desde o papa Celestino II (1143) até o último papa, Pedro II, o Romano. Os papas não são definidos por nome, mas cada um por ter um dístico característico que os individua pelo temperamento, pela posição histórica, pelos feitos mais notáveis. Achamos assim delineados também os mais recentes e os próximos futuros:

 

Pio IX - “Crux de Cruce”. Leão XIII - “Lumen in coelo”. Pio X - “Ignis ardens”. Benedito XV - “Religio depopulata”. Pio XI - “Fides intrepida”. Pio XII - “Pastor Angelicus, o papa atual”.

 

Teremos, depois, os últimos seis da Cristandade:

 

1.Pastor et nauta. - 2. Flos florum. - 3. De medietate lunae. - 4. De labore solis. - 5. De gloria olivae. - 6. Petrus Romanus.

 

“Pastor et nauta” talvez signifique viagens e proveniência de longe (...). “Flos florum” pode significar um reflorescimento de homens bons, tal como uma leva de mártires, ou seja, ao invés de vitória do bem, perseguição. “De medietate lunae” mostra-nos a Igreja dilacerada por um cisma, um antipapa, como já dizia Nostradamus, isto é, tempos muitos difíceis. “De labore solis”, trabalho quer dizer esforço, e sol, verdade; ou seja, trabalho forte para fazer triunfar a verdade, esforço de que também nos fala Nostradamus. “De gloria olivae”, a oliveira é o símbolo da paz. Mas será essa calma que precede o furacão, ou talvez a realização da conversão dos judeus ao Cristianismo, predita por S. Paulo? “Petrus Romanus”, o dístico completo, diz: “na última perseguição à sagrada Igreja romana, reinará Pedro Romano, que apascentará o rebanho entre muitas tribulações; passadas estas, a cidade das sete colinas será destruída e o tremendo juiz julgará o povo”.

 

O último pontífice seria, pois, Pedro II, o único que traz o nome do primeiro. Faltariam seis papas para chegar ao final dos tempos. Pode calcular-se, em média, que cada papa governe, 9 anos. O tempo pode ser suficiente para contê-los, dado que faltam quase 50 anos para 2000. Apenas cerca de meio século nos separariam de Pedro II e do fim do papado. E aqui também, tudo coincide com o Apocalipse. E, estranha coincidência: na basílica de São Paulo, em Roma, onde se encontram os medalhões de todos os papas até hoje, há espaço vazio para apenas mais seis. E isto coincide com a profecia de Malaquias. De tudo isto valeram-se os inimigos do Cristianismo, para prognosticar o fim do papado. Mas, isto não quer dizer fim da Igreja, assim como fim do mundo significa apenas nascimento de um mundo diferente. Pode perfeitamente mudar a forma da organização eclesiástica ou desaparecer totalmente, numa civilização mais espiritualizada. Neste sentido, termina a Visão que está no centro do volume A Nova Civilização do Terceiro Milênio. E então, não podíamos saber destas coincidências. Sem dúvida que a frase: " Haverá um só rebanho e um só pastor", não pode significar um imperialismo religioso sob um chefe terreno, mas apenas uma fusão de almas sob Cristo, supremo Chefe espiritual. É também lógico que numa nova civilização de tipo espiritual, especialmente a religião se espiritualize, e possam realizar-se transformações hoje incríveis e impossíveis, ou seja, mudanças radicais daquelas condições atrasadas, que, no entanto, são hoje indispensáveis, pelo grau ainda involuído da maioria.

 

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Também Ana Catarina Emmerich diz que, 50 ou 60 anos antes do 2.000, Lúcifer seria posto em liberdade durante aquele tempo. Mais ou menos, anunciam as mesmas coisas as revelações de La Salette, publicadas em 1870. Mas, observemos o que diz o Zodíaco. Não é absurda a teoria das correspondências psicocósmicas, seja para os indivíduos, seja para os povos. Não pode excluir-se, a priori, a possibilidade de uma astrologia mundial, que defina o horóscopo, não de indivíduos, mas da humanidade, fixando os acontecimentos históricos em relação aos movimentos e posições estelares e planetárias. Não há dúvida de que há harmonias no universo, as quais reecoam umas nas outras, em ritmos de ondas e retornos, que são o pulsar harmônico do pensamento da Lei. Tudo o que existe faz parte de um grande organismo, em que reina a ordem, e cada parte, como no corpo humano, está em seu lugar com sua função determinada. Ora, o Zodíaco anuncia-nos, para as proximidades de 2000, o fim da época colocada sob o signo do Peixe, e o ingresso no do Aquário. Já vivemos sob a influência de sua aproximação. Cada signo do Zodíaco é geralmente terminado com o caos, do qual surge novo tipo de vida, que parece renovar-se. Quem pode dizer se as subterrâneas maturações biológicas não quererão produzir hoje um ser mais evoluído e que o ser atual seja apenas o último produto de uma era em decadência? Isto é menos absurdo hoje, do que o eram há cem anos o avião, o rádio e a televisão. Quem sabe se nas leis da vida, já tudo isto não esteja escrito, e que no mistério de seus inexauríveis recursos já não esteja germinando em segredo uma nova sensibilização psico-espiritual, pela qual deverão  mudar todas as nossas formas de vida individual e social? A História tem suas curvas, e como excluir a priori que esta não seja uma delas? E se, justamente, o nascimento de um novo tipo biológico, assim, fosse necessário, para que se pudesse realizar na Terra o esperado Reino de Deus, como proibir à vida que isto aconteça? Não é lógico que, num organismo universal, a vida trabalhe harmonicamente, do plano físico ao psíquico, com as forças espirituais das religiões?

 

O fim deste século está dominado por um conflito astrológico entre dois planetas: Saturno, conservador e tradicionalista, e Urano, inovador e revolucionário. Conflito, pois, entre tendências negativas, destruidoras, materialistas, e tendências positivas, construtoras, espirituais. Violência de um lado, bondade do outro. O fim de nosso signo do Peixe é muito atingido por contrastes e muito atribulado, mas o futuro, sob o próximo signo do Aquário, apresenta-se com caracteres benignos, opostos ao precedente. O momento é grave e está saturado de grandes forças em conflito, é perigoso, até mesmo doloroso, mas rico de imensos recursos e possibilidades futuras. Esta hora não é de paz, mas de tempestade, da mesma forma que é também a hora dos grandes homens, dos grandes rasgos e esforços, das grandes criações. "Durch sturm empor" (elevar-se através da tempestade), dizia Beethoven. E, verdadeiramente, a ruína de uma época, o fim de um mundo, para dele fazer outro melhor, o fim de um tempo, para recomeçar um novo tempo. "Este é o século em que se estabelecerá o Reino de Deus na Terra", escreveu BAHÁ-U‘LLÁH, o profeta filho do Irã (1817-1892). Teremos cinquenta anos de lutas e de esforços e em 2000 surgirá a aurora da nova civilização do espírito, para o terceiro milênio.

 

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Ouçamos agora os estudiosos das Pirâmides. A Esfinge maior que se conhece, com 60 metros de altura, surge na planície de El Giza, no Baixo Egito, entre as pirâmides de Quéops e de Quéfren, como que para guardar um grande segredo. São três as PIRÂMIDES: a de Quéops, a de Quéfren e a de Miquerino. A primeira, a maior, pode definir-se como um livro de pedra, em que está escrita a história da humanidade. Parece, com efeito, que aquela pirâmide não foi apenas túmulo de um rei, mas que, por meio dela, os antigos egípcios quiseram revelar aos porvindouros o futuro, transmitindo-nos, numa linguagem de pedra, e com medidas simbólicas correspondentes a futuras datas históricas, uma mensagem que se refere a nós, nos tempos atuais. Interessa-nos, pois, procurar compreender essa mensagem, pela qual os sacerdotes e astrólogos que dirigiram a construção quiseram imprimir na pedra uma expressão geométrica do determinismo histórico da Lei. Os egiptólogos acreditam ter sido construída essa pirâmide de 2500 a 3000 anos antes de Cristo. A última data da mensagem escrita, é o ano 2001. Estão, pois, previstos desde época bem remota, os acontecimentos hodiernos e os precedentes.

 

Os egípcios eram bastante sábios para abarcar com um olhar 5000 anos de história e prever a tanta distância de tempo? Parece que sim. Conheciam eles tantas leis e lados ocultos da vida, que escapam à nossa ciência positiva. E também eram cientistas no sentido moderno. Essa pirâmide está situada, com a máxima aproximação possível, do ponto central da massa global terrestre. Revela a exata distância mínima do Sol à Terra, e o diâmetro polar de nosso planeta. Sua orientação Norte-Sul é exata. É o primeiro meridiano, mais perfeito que o de Paris ou de Greenwich, porque atravessa o máximo de continentes e o mínimo de mares, e separa em duas partes   iguais a terra habitada do globo. A pirâmide exprime o ano sideral, o valor exato de PI: 3,1416, o valor de nosso metro linear, as posições e os ciclos das estrelas etc. Não é, portanto, absurdo que, quem conhecia então tudo isto, pudesse saber também o desenrolar-se dos ciclos históricos. Das pirâmides resulta que seus construtores conheciam também os períodos da civilização egípcia, hebraica e cristã.

 

A pirâmide de Quéops tem 137 metros de altura. Tinha um revestimento calcáreo, claro, que a fazia resplandecer ao sol. Foram necessários 10 anos para construir os alicerces e 20 para levantar a pirâmide. Trabalharam nela 100.000 homens, renovados de três em três meses. Calcula-se que, para construí-la foram empregados mais de dois milhões e meio de metros cúbicos de calcáreo, com o peso total de seis milhões e meio de toneladas. Esta pirâmide não tem ponta. Na Bíblia, há muitas referências à ponta da pirâmide, à pedra angular, como símbolo do Messias. Ele teria vindo, teria lançado sua mensagem moral, mas os homens não o teriam ouvido. Assim, os construtores não puseram ponta na pirâmide de Quéops. As outras têm ponta.

 

A mensagem desta pirâmide fica mais compreensível se comparada com o Livro dos Mortos. Com efeito, este e aquela mensagem foram os maiores documentos que nos transmitiu a antiguidade egípcia. Há neles uma fundamental identidade de conceitos. E agora, penetremos na pirâmide, em sua estrutura interior de câmaras e corredores, para ler a mensagem geométrico-astronômica, dirigida aos povos futuros. Já o conjunto externo nô-lo anuncia na forma do monumento. Há uma lei quaternária que dirige o mundo. Toda a vida a cada fenômeno, pode dizer-se, obedece a um ciclo de quatro fases: nascimento, desenvolvimento, madureza e fim. Tudo o que acontece deve ter o momento da gênese, da subida, da plenitude e por fim do esgotamento e morte. Isto ocorre no desenrolar-se de uma tempestade meteorológica, como de uma civilização, de uma jornada (manhã, meio-dia, entardecer e noite) e como nas quatro estações do ano, nos quatro períodos da vida humana (infância, juventude, madureza e velhice). Também a evolução de nosso planeta foi dividida pelos geólogos em 4 épocas, da primária à quaternária. Esta lei geral está expressa no quadrado de base, sobre o qual se eleva a pirâmide em suas quatro faces. Mas, cada uma delas é um triângulo, ou seja, 3, que é número perfeito. Assim, os quatro tempos da vida material completam-se com os três momentos do espírito (Trindade), e o todo se une no vértice, que exprime Deus, a mente dirigente do universo. E o conjunto 4 e 3 formam 7, número mítico. Também ele parece exprimir o ritmo de outra lei. São sete os dias da semana, as notas musicais, as cores do arco-íris, as virtudes, os pecados, os selos, os anjos com as trombetas, as taças da ira divina no Apocalipse, etc.

 

Também no exterior a pirâmide de Quéops parece cheia de simbolismos. Mas, é em seu interior que o pensamento dos grandes sacerdotes do Egito que idealizaram o monumento, foi mais completo. Na fachada norte da pirâmide, no 16º degrau, há uma entrada que leva a um corredor descendente. Este se divide, depois, em outros corredores, ascendentes, descendentes, horizontais, que terminam em várias câmaras. Não há inscrições. As pedras são tão unidas, sem argamassa que é impossível introduzir entre elas a lâmina de um canivete. Do comprimento, altura, inclinação, degraus, estrutura dos corredores e câmaras, pode calcular-se o significado profético que essas medidas indicam. Correspondem às datas principais da história da humanidade. A altura do corredor significa o desenvolvimento da humanidade; quando é alto, traça um período de progresso, quando é baixo uma fase de descida.

 

O corredor descendente de entrada, após breve trecho, divide-se em um ascendente e outro descendente. De acordo com o Livro dos Mortos, este primeiro trecho representaria um período de preparação da humanidade, desde a época da construção da pirâmide, até ao ponto desta primeira bifurcação, que exprime o êxodo dos hebreus. O corredor descendente, depois, termina numa câmara, até debaixo da terra, e significa a degradação do homem que, recusando-se a cumprir o esforço da evolução, decai cada vez mais na matéria, com o fim que já vimos reservado às forças do mal. A câmara subterrânea com que termina este corredor, está muito abaixo dos alicerces, e está construída de cabeça para baixo: o teto é liso, o pavimento é de pedra vermelha. Segundo o Livro dos Mortos, isto significa a eterna subversão dos valores, pela qual, revoltando-se contra Deus, caminha-se e acaba-se de cabeça para baixo.

 

Sigamos agora o corredor ascendente. Vai desde o êxodo de Israel até uma segunda bifurcação, que exprime o nascimento de Cristo, e representa o início da espiritualidade. Neste ponto, inicia-se, em baixo, o corredor horizontal, que vai até a câmara da rainha. Acima, a breve distância, mais no alto, num ponto algo mais adiante que assinala o ano 33 d.C., morte de Cristo, se abre a grande galeria de 50 metros, alta, quase 9 metros, que leva à câmara do rei. Esta galeria assinala um período de progresso, devido à luz do Cristianismo, como à da ciência. O salto para o alto coincide com a crucificação de Cristo. Este corredor termina com os nossos tempos, e chegaria justamente a agosto de 1914, isto é, à primeira Guerra Mundial. Neste ponto, a mensagem torna-se mais pormenorizada, indicando a plenitude dos tempos em que se realiza. No fim do grande corredor, temos, com efeito, um degrau na abóbada, pelo qual esta se abaixa, e para passar por ele é mister curvar-se. Este é o primeiro abaixamento, depois do qual o corredor se levanta novamente, o que significa uma retomada do progresso. Depois, o corredor se abaixa mais uma vez, e é preciso inclinar-se, ainda, para passar. De acordo com o Livro dos Mortos, este seria o período de caos, da descida ao materialismo, como ocorre em nosso tempo. Após uma retomada, temos então uma segunda queda, que corresponde à segunda passagem baixa. Conforme o Livro dos Mortos, a segunda passagem baixa significa: humilhação final. Este seria um período de Anticristos. Segundo Nostradamus, ocorreria isto ao tempo do sexto, sétimo e oitavo Anticristos, que iria de 1966 a 1996, com o que se fecharia a história do mundo cristão. Santa Hildegarda o coloca entre 1955 e 1980. Ana Catarina Emmerich por volta de 1960. Holzhauser fala de um só, e o dá como nascido em 1950; Solovien em 1954; a Grande Pirâmide, com as medidas deste corredor, anunciaria o nascimento do Anticristo em 1936. Mas, isto pode significar também um princípio, uma ideologia. Chega-se assim à câmara do rei, uma sala vasta, com 10 metros de comprimento, 5 de largura e 5 de altura, sem ornamentos, com um sarcófago aberto, de granito vermelho. Também no Livro dos Mortos o túmulo aberto na câmara do rei está no último capítulo. Aqui termina a mensagem, ou seja, no ano 2001, a última data da pirâmide, fim do velho mundo início de uma nova era.

 

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Mas, há outra voz que também nos chega de longe no tempo. É o profeta DANIEL, que explica a Nabucodonosor, rei da Babilônia, o seu sonho, ou seja, o que deve ocorrer no fim dos tempos. E eis a visão da grande estátua, cuja cabeça é de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre de cobre, as pernas de ferro, os pés, em parte de ferro, em parte de barro. Então, uma pedra feriu a estátua nos pés, que eram de ferro e de barro e os fez em pedaços. Então foi juntamente feito em pedaços o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro e se tornaram como a pragana das eiras de estio, e o vento levou-os, de sorte que não se achou lugar para eles. A pedra que feriu a imagem tornou-se uma grande montanha e encheu a terra toda. (Daniel, II, 26 a 35).

 

O próprio Daniel explica o significado do sonho. O rei de Babilônia, Nabucodonosor, é a cabeça de ouro da estátua. Surgirá depois um reino mais baixo, e menor valor, que é o peito de prata, depois um terceiro, que é o ventre de cobre, a seguir um quarto, duro como ferro, que é representado pelas pernas de ferro. O fato de que a seguir os pés sejam em parte de ferro e em parte de barro, significa que aquele reino será dividido, e numa parte será duro, noutra será fraco. As partes não poderão unir-se entre si, tal como o ferro não pode misturar-se com o barro. Nos dias desse reino, Deus fará surgir outro reino, que jamais será destruído, em toda a eternidade. Ele despedaçará e consumirá todos aqueles reinos, mas ele mesmo durará eternamente. (Dan. II, 36 a 45).

 

Muitos estão de acordo em ver, na cabeça de ouro, o reino da Babilônia; no peito, o da Pérsia, como o reino de prata; no ventre, o da Grécia, como o reino de cobre; nas pernas, Roma, como o de ferro. Há uma descida, para baixo, pelas várias partes do corpo, como descida no valor do material que o compõe. Depois, esse reino será dividido ou seja, o império romano entre Roma e Bizâncio, império que, por mais tentativas que se fizessem (Carlos Magno, Napoleão) jamais se reuniu. Os vários fragmentos não puderam, de fato, tornar a aglomerar-se, assim como o ferro não se pode misturar com o barro. É assim a Europa até hoje, em parte dura, em parte fraca. Nos dias desse reino, quando as coisas se acharem nessas condições, o profeta Daniel continua: Deus fará surgir um reino que jamais, na eternidade, será destruído. Ele despedaçará e consumirá todos aqueles reinos, mas ele mesmo durará eternamente. Não parece esta a mesma visão do Apocalipse, mas vista de mais longe? E qual poderá ser esse novo reino, que consumirá todos os outros e durará eternamente, senão o Reino de Deus, anunciado pelo Evangelho? Só ele, sendo de origem divina e de natureza espiritual, poderá permanecer sem ser destruído e durar eternamente. E essa intervenção direta de Deus, não significará aquela manifestação do pensamento e da vontade da História, de que falamos, como onda que arrasta homens e acontecimentos, para a consecução dos fins preestabelecidos no determinismo da Lei, que agora empunha as rédeas da humanidade?

 

E então, diz o profeta Daniel, uma pedra feriu a estátua nos pés, que eram de ferro e barro, e os despedaçou. Então, foram despedaçados juntamente, o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, e se tornaram como a pragana das eiras de estio, e o vento as carregou e não se achou mais nenhum lugar para eles. A pedra, que feriu a estátua, torna-se um grande monte e ocupa toda a Terra (Dan, II, 34-35). Esse despedaçar de todos os elementos componentes dos vários reinos, não exprime em termos mais genéricos os flagelos destruidores do mundo atual, expressos pelo Apocalipse? Que pode ser a estátua com pés de ferro e barro, senão a humanidade, que pretende amparar-se na matéria, ao invés de fazê-lo no espírito? E que será a pedra que fere esta humanidade, senão a mão de Deus, que fere o homem pelo seu cego materialismo? E tudo desaparecerá como a pragana ao vento. Esta é a queda da Babilônia do Apocalipse, da Grande Babilônia, mãe das fornicações e das abominações da terra. E a pedra que ferirá a estátua se tornará uma grande montanha e encherá toda a Terra. É a vitória de Cristo, o triunfo final de Deus, sobre as forças do mal. Mais pormenorizado, porque mais próximo, o Apocalipse repete o mesmo motivo.

 

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Eis, então, que o profeta Daniel nos traz uma nova confirmação, que evoca e reforça as precedentes. Tudo concorda: o Apocalipse, Nostradamus, Malaquias, a Astrologia, as Pirâmides, o profeta Daniel, e nossas pesquisas racionais, a lógica do sistema em que elas se baseiam. E quem sabe quantas outras concordâncias poderão descobrir-se ainda? Tudo nos diz concordemente, que estamos nos tempos apocalípticos. Quem pode afirmar que forças extra-humanas não queiram hoje intervir na História? Quem o poderia impedir? E que dizer quando tantos argumentos lógicos e históricos e tantas vozes diversas, convergem para este mesmo ponto? Os ciclos históricos se repetem, e no entanto, em seus movimentos eles contêm tantos eventos imprevisíveis para os calculadores de probabilidades imediatas, que de nada poderemos admirar-nos. Da vida e da obra de Cristo os políticos e homens de ação de Seu tempo nem se perceberam.

 

Vivemos em tempo de grande amadurecimento, no bem e no mal, de grandes mutações. Tudo isso explica-nos e indica-nos a possibilidade de uma intervenção direta do pensamento e da vontade da História, na guia dos destinos da humanidade. Quando esta é tão louca que traspassa o limite e arrisca perder-se, Deus acorre para a salvação de todos. A presença de uma lógica e, portanto, de um pensamento diretivo na História, nós o vimos racionalmente, não é uma fantasia. Um sistema completo, desenvolvido nos precedentes nossos volumes, converge para este conceito e reforça esta tese. Deus é tudo e opera também na História. Basta que Deus se retire do mundo, para que este caia nas mãos das forças inferiores, ávidas de decisão, forças satânicas que se manifestam lançando-se umas contra as outras. É a destruição de todos. E agora a humanidade está nesse caminho. Quando a medida das maldades estiver saturada, o homem ficará abandonado. A intervenção de Deus agora, aparece como negativa, porque o homem enceguecido na revolta, realiza ele mesmo, com suas mãos, sobre sua carne, a operação cirúrgica de sua depuração. Suprimido o amor evangélico, único que dá espírito de paz, só resta a guerra de todos contra todos. Mas, após este indispensável período de autodestruição humana, virá a fase reconstrutiva, em que Deus se manifestará de forma positiva, não de abandono às forças inferiores, pela demolição do velho e do estragado, mas de atividade criadora, da nova civilização do espírito.

 

Achamo-nos hoje na fase de contraste entre o velho mundo, bem enraizado nas realidades concretas, materialistas, teimosamente agarrado à Terra e lutando para impor-se e sobreviver, e o novo mundo em formação, espiritual, sustentado pelos impulsos da vida que caminha, pela vontade da História, pelo comando da Lei, pela presença de Deus. Este mundo, que representa o porvir da evolução, está em luta para sobrepor-se ao velho, que representa o passado, e que a vida e a História, a Lei de Deus mesmo repelem, porque tudo deve subir. O atual momento histórico é a expressão viva de uma fase decisiva na luta entre o bem e o mal, em torno da qual gira a história do mundo. É a luta de Deus contra Satanás, como a descreve o Apocalipse. É a luta dos Anticristos e cataclismos, como os descrevem os videntes. É um amontoar-se de civilizações e de eras, como nos revelam as constelações e planetas. É a história da humanidade, como no-la narram as pirâmides e como no-la resume a visão do profeta Daniel. Mudam as imagens e os pormenores dos acontecimentos e das datas, mas permanece um fundo idêntico. Os pormenores não interessam a nós. O que nos interessa é ter achado o grande fio condutor da História e ver que, no conjunto, todas essas visões, diferentes nas formas, concordam assim mesmo, e sobrepõem-se, reforçando-se assim uns aos outros.

 

Antes de ouvir estas vozes, interrogamos a história e a lógica dos fatos, e obtivemos a mesma resposta. Toda essa convergência de elementos históricos, de vozes e de raciocínios, confirma-nos com a segurança que já nos fora dada pela intuição, de que, quaisquer que sejam os pormenores do processo, nesta segunda metade do século XX, alcançamos a plenitude dos tempos. Vivemos num período apocalíptico, em que o mundo passa de uma civilização que desmorona a uma nova que surge. A primeira parte do trabalho foi confiada às nações destruidoras, a segunda às reconstrutoras. Mas, todas obedecem ao mesmo princípio diretor, que quer, finalmente, que se realize um mundo onde se caminhará pelas estradas da justiça e não mais pelas da prepotência! Este é um anseio instintivo, que está no coração do homem, é um sonho milenar da humanidade. E o que é instinto e fala irresistivelmente, partindo do coração, tem uma significação biológica, é uma ânsia vital que terá de realizar-se. Cristo que, na primeira vez, veio em corpo, para amar e semear, voltará em espírito, para julgar e ceifar, para que o rebelde impenitente seja expulso, as forças do mal liquidadas, e os bons, que tanto sofrem, sejam finalmente chamados a uma plenitude de vida. Estes sofrem, entretanto, estão protegidos e amanhã viverão. Os rebeldes creem que vencem e perderão. Os primeiros constroem em silêncio nos valores imperecedouros do espírito. Os segundos constroem às avessas, rumorosamente, nos valores falsos da matéria, e no fundo, eles mesmos se destroem. Mas, todos juntos colaboram, assim, sob a direção de Deus, que quer que se chegue agora, à realização da nova civilização do terceiro milênio, que representa o advento, na Terra, do Reino de Deus.

 

FIM.

Nos capítulos precedentes observamos nosso mundo atual e o caminho da História no sentido analítico, olhando os acontecimentos no pormenor e de perto. Agora dilata-se nossa visão em campos mais vastos. Ou seja, observemos o caminho da História em suas grandes linhas mestras. Contemplaremos quadros mais amplos, em que permanecerão situados e orientados os menores e mais próximos dos capítulos precedentes. Caminharemos, assim, por etapas, partindo das coisas pequenas e vizinhas para as grandes e remotas, a fim de iluminar cada vez mais o argumento, contemplado dessa forma e sempre de diversos pontos de vista. 

 

Os capítulos anteriores terminam apoiando-se no conceito da nova civilização do terceiro milênio. É nesse conceito, a cujas portas nos levaram aqueles capítulos, que se dilata nossa visão. Nossa precedente pesquisa histórica enriquece-se agora de novos elementos, até tornar-se a imensa orquestração cósmica, em que se agitam os destinos do mundo, a ruína e o renascimento da civilização e a luta apocalíptica entre o bem e o mal. E quanto mais virmos as coisas em suas grandes linhas, tanto mais veremos nelas presente e operante aquele pensamento divino, que afirmamos ser o princípio diretivo que preside ao desenvolvimento da História. Assim, acharemos neste capítulo e nos seguintes, sempre novas confirmações dos princípios que dirigiram nossa pesquisa nos anteriores.

 

As observações feitas até aqui levaram-nos a concluir pelo advento de uma nova civilização, a cuja preparação tende toda a obra presente. Procuraremos, cada vez mais, explicar e aprofundar este conceito, que parece utopia. Observá-lo-emos agora, entretanto, não como nos capítulos precedentes, em sua atual preparação histórica, nem como no volume A Nova Civilização do Terceiro Milênio, em seu conteúdo e em seus princípios diretivos, mas no pensamento profético, captado e transmitido a nós pelas grandes antenas humanas que antecipam o futuro. Procuraremos assim, na intuição de outros, a confirmação da nossa, pedindo luzes a todos, para confirmar mais ainda nossa certeza. Interrogaremos, por isso, o Apocalipse e outras profecias, mais antigas como a de Daniel e mais recentes como as de Malaquias e Nostradamus, auscultando também a astrologia e a voz das Pirâmides do Egito, para ver se todos concordam entre si e também conosco, a respeito da proximidade do grande acontecimento da Nova Civilização do Terceiro Milênio.

 

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O primeiro problema que se nos defronta, ao penetrarmos no mundo das profecias, é o da possibilidade lógica da previsão do futuro. Será verdadeiramente possível conhecê-lo antecipadamente e como? Nossa tarefa consiste em explicar tudo, porque temos que admitir que é muito mais sólido o conhecimento dos fenômenos racionalmente demonstrados, e também porque este é o melhor meio para fazer neles um exame analítico. Ora, é logicamente possível prever o futuro. Vejamos as razões. Elas não faltam no sistema até agora seguido nestes volumes.

 

Já explicamos alhures (no volume: Problemas do Futuro, cap. XI, "Livre Arbítrio e Determinismo" e no volume: Deus e Universo), que a liberdade de escolha só pode existir num estado de imperfeição e ignorância, como é o humano, ao passo que nos planos superiores da perfeição e da sabedoria, essa incerteza de oscilações em busca do melhor caminho, não tem mais razão de existir. É isto um absurdo, dado que o melhor é imediatamente alcançado, pois já é conhecido e não há mais necessidade de experiências para evolver. Há dois mundos: o relativo e o absoluto, opostos, o primeiro oscilando na incerteza, em que se não pode prever o amanhã, e o segundo perfeito e, portanto, determinístico, em que tudo é sempre visível e previsível. Há conceitos e atitudes psicológicas que aceitamos como axiomáticos, porque eles são naturais em nós. No entanto, se eles são parte integrante de nosso mundo e de nossa psique, perdem seu valor logo que saiamos dele. Em outros termos, os conceitos do relativo, segundo o qual está plasmada nossa atual mente e natureza, não valem mais no reino do absoluto. Este, por sua vez, pelo fato de que só pode ser perfeito, só pode ser, portanto, determinístico.

 

Estabelecida esta qualidade determinística do absoluto imposta pela lógica, teremos que admitir, como consequência1 necessária de sua perfeição - qualidade de que não pode prescindir - que naquele plano tudo é previsível. Mas, o é também por outro motivo. O absoluto, como vimos no volume Deus e Universo, após a queda do Sistema, decaiu na dimensão tempo, em que o estado imóvel de existir se transforma numa série de momentos sucessivos, tomados na corrida do tornar-se, para que se realize o caminho da evolução. O absoluto não fica cindido pelo tempo que passa, mas simplesmente "é", sem tornar-se, livre da concatenação: ... causa-efeito, efeito-causa... Então, ele é totalmente concomitante, todo presente, todo visível. Nossa divisão entre passado, presente e futuro é apenas uma posição relativa a nós, dada pelo transformismo, condição necessária da evolução, que é a nossa lei.

 

Para melhor compreender como se move o homem num mundo de conceitos filhos do relativo e próprios apenas às suas condições, mas que não valem mais se sairmos delas, observemos também a relatividade do conceito do "nada". Ele só tem valor em relação às nossas posições e se dissipa quando estas são superadas. Até o fato de que, em nosso plano, sua concepção só seja possível como um contraste entre o ser e o não-ser, prova que ele é o resultado de uma cisão da unidade originária, é um efeito da queda. No absoluto, estes conceitos relativos não cabem, e tudo simplesmente "é". Aí tudo é unidade e o conceito "nada" só pode aparecer no dualismo, efeito da queda, pelo que tudo só pode existir na forma do ser ou do não-ser, ou seja, apenas perceptível como contraposição ao seu contrário. A negação, em oposição à afirmação, nasceu com a revolta, pois que em Deus não pode haver negação, no absoluto não há possibilidade do não-ser, do nascer e morrer, do vir-a-existir por criação, o que é um conceito relativo, e que só pode significar transformação de um estado precedente, o qual, por ser diferente em relação ao novo, se chama o nada. Eis aí então, que o nada é outro conceito que só vale para o nosso relativo e que desaparece no absurdo, logo que se supere esta posição. No fim do caminho evolutivo, com o regresso do ser a Deus, vimos no volume Deus e Universo que o não ser será reabsorvido pelo ser, o dualismo na unidade, o nada desaparecerá, assim como o tempo, a concatenação... causa-efeito, efeito-causa..., a sucessão dos acontecimentos, a incerteza da escolha, nosso mundo do relativo. Mas, o universo não partido, no estado integral, uno, em que tudo é coexistente e presente, sem tempo, sem o nada, perfeito e determinístico, já existe acima do nosso, à espera de tornar a unir-se com o nosso, uma vez terminado o caminho evolutivo.

 

Ora, quanto mais o ser se avizinha, pela evolução, desse estado de reintegração no estado originário, mais seu modo de existir se identificará com esse estado, que tem todas as qualidades que vimos. Para o problema proposto interessam primordialmente as da contemporaneidade e do determinismo. Os termos do problema são dois: de um lado, um plano superior do ser, em que essas qualidades são realidade; do outro, um plano inferior, em que elas não são realidade, havendo, entretanto, possibilidade de aproximar-se delas por evolução. A solução do problema da previsão do futuro está justamente nessa possibilidade, pela qual o ser pode aproximar-se, por evolução, das zonas superiores de unidade, concomitância e determinismo, porque em tais zonas o futuro é presente, e sempre acontece só uma coisa: a melhor, e nada mais pode acontecer.

 

Não se diga que os dois mundos são separados e estranhos. As qualidades do sistema perfeito permaneceram no âmago do que é imperfeito, o mundo superior, ainda que se corrompendo, projeta-se no inferior, e esses continuaram comunicando-se. Só por isso é possível que o segundo se possa purificar, até voltar à perfeição de origem. No universo decaído, Deus permaneceu em seu aspecto imanente. Se a evolução é uma realidade, e significa passagem de um plano inferior a um mais alto, isto quer dizer que eles estão conexos. Assim, a estrada para atingir a previsão do futuro está traçada, significando que o fenômeno é possível. Só precisa de um elemento: o homem evoluído, ou seja, aperfeiçoado tanto psíquica como espiritualmente, que saiba pensar não só pelos meios racionais normais, como também pela inspiração e intuição, e possa assim perceber os planos mais altos, acima do normal relativo. E os profetas representam justamente esse tipo biológico de antenas sensibilizadas pela evolução. Os verdadeiros profetas são também gênios e santos. Na profecia, o homem se aproxima das esferas superiores, em que não há tempo e que, por sua perfeição, são naturalmente determinísticas. E onde não existe o tempo, tudo é presente e os acontecimentos não aparecem cindidos na sucessão que os devora, ligados por uma cadeia de causalidades; onde tudo é determinístico, o futuro não pode ser um mistério. É assim que a profecia é possível, porque quanto mais se sobe para o ápice e para a unificação, tanto mais se pensa e se age com perfeição, isto é, deterministicamente.

 

A profecia é, portanto, logicamente possível e é um ato de inspiração. Quanto mais ascendemos, na direção das grandes linhas da História, menos elas obedecem ao capricho humano, porque mais nos avizinhamos dos grandes planos da Lei, e mais esta comanda e se manifesta evidente em sua natureza, que é determinística. Para melhor compreensão, referir-nos-emos a um fenômeno paralelo, conhecido também na física atômica. O movimento de cada uma das moléculas num gás não pode prever-se, porque é livre e irregular. Podem mover-se devagar ou rapidamente em qualquer direção. Mas o choque de bilhões de moléculas de gás, contra determinada superfície, produz um impulso constante que obedece a leis simples e bem definidas. Num universo dirigido por uma lei única e unitária, é lógico que ocorra a mesma coisa com os seres vivos; e assim nô-lo mostram, com efeito, as estatísticas. As ações de cada homem são livres e irregulares e, portanto, não podem ser previstas. Mas, a conduta de grande número deles, por longos períodos de tempo, representa um fenômeno de massa, completamente diferente, e obedece a leis bem definidas e, portanto, pode ser conhecido antecipadamente, desde que conheçamos aquelas leis. Não fora isso verdade, ao menos com certa aproximação, e não poderiam existir e funcionar as companhias de seguros.

 

Outra referência. A liberdade de cada homem pode comparar-se à dos peixes, de mover-se nas águas de um rio. Quando pudermos conhecer o caminho do rio, o que corresponde a leis simples, saberemos também o caminho obrigatório de todos os peixes livres que estão lá dentro. Então, quanto mais nos afastarmos do pormenor e de uma visão analítica das coisas, ou seja, quanto mais concebermos por sínteses, que é o processo da intuição, tanto mais nos aproximaremos do determinismo da Lei, mais fácil e possível é a profecia. Assim,  o inspirado é profeta, melhor poderá perceber as linhas da História, a natureza e os movimentos da grande onda que carreia homens e acontecimentos. A liberdade do indivíduo é uma oscilação menor que permanece, e que ele sente como livre-arbítrio, e o é, mas, na multidão, desaparece para dar lugar a uma lei diferente, maior, universal e de síntese, lei que o indivíduo, imerso na análise e no pormenor, vendo apenas a si mesmo, não percebe, mas que o profeta, com olhos de longo alcance, vê, e dessa forma pode prever os acontecimentos. Ele descuida da oscilação menor, que faz parte apenas da observação microscópica dos indivíduos, e que lhes é indispensável para sua experiência e suas consequências evolutivas. Por isso o profeta se mantém, com observação macroscópica de síntese, nas altas zonas das grandes linhas dos acontecimentos históricos porque, quanto mais descer e se avizinhar do contingente dos pormenores, tanto mais lhe escapará o determinismo da Lei e mais estará sujeito ao arbítrio do indivíduo, numa zona imprevisível. Daí deriva o fato de que a profecia nos aparece como algo que desce de outros planos, o que leva a um deslocamento de mirantes e de valores, que desorienta a psicologia normal, que está ávida, ao contrário, de elementos particulares e positivos, próprios especialmente ao seu mundo. Assim se explica porque também pode acontecer que, na visão permitida pela contemporaneidade dos planos superiores, às vezes se misture, como no Apocalipse a normal sucessão dos acontecimentos, que depois se projetarão na Terra em forma de sucessão no tempo. É por isso que, nas profecias, falta com frequência a precisão do tempo, que é a que mais gostaríamos de saber. Por isso é que mais emergem, ao invés, elementos morais, porque no plano de onde descem as profecias, eles são fundamentais, e as profecias descem para transmiti-los ao nosso plano. Assim, seu objetivo é de converter ao bem, mais do que se satisfazer nossa curiosidade ou de fazer-nos organizar defesas contra reações merecidas, e portanto necessárias.

 

São essas as características da profecia, o problema de sua função é outro, quando a visão desce à Terra e é comunicada aos homens. Sua tarefa aqui é de avisar, para que os maus se encaminhem para o bem e para que os bons aí permaneçam com fé e paciência. O alvo das profecias na Terra é de indicar o cumprimento da Lei e de convidar o homem a segui-la de bom ânimo, se não quiser sofrer tremendos desastres. É natural, pois, que essas profecias se recusem à exploração que o homem quer fazer, ou seja, não querem fornecer informações e revelar o futuro, para que seja utilizado esse conhecimento não para o bem, mas contra o bem, isto é, para fazer a própria vontade e ter bom êxito nos próprios intentos e até na guerra contra Deus. Das profecias, então, não devemos esperar o que não podem nem devem dar-nos, ou seja, informações para dominar os acontecimentos, para escapar ao determinismo da Lei que deve premiar-nos ou punir-nos como merecemos. Por isso, se uma profecia tiver que dizer: "acontecerá isto ou aquilo", procurará logo retrair-se, cobrindo-se de véus, porque, se deve e quer avisar, deve ao mesmo tempo impedir que as forças do mal, porque involuídas são ignorantes, o saibam e disso se aproveitem, para organizar melhor suas batalhas contra o bem, é natural, assim, que muitos fiquem desiludidos das profecias e se desinteressem delas. Mas, as profecias não querem mesmo dizer tudo o que o homem, ao invés, desejaria; elas recusam-se a ser exploradas pelo mal; estão já prevenidas para impedir este mau uso que delas se desejaria fazer. As forças do mal que espiam essas luzes caídas do céu, para descobrir os desígnios divinos só para melhor zombar ou escapar deles, ou contrastá-los, respondem as profecias: "não, nada sabereis". Tudo o que do Céu cai na Terra tem que estar prevenido contra o mau uso que em nosso mundo se consegue fazer de tudo. Quantos olhos espiam, quantos ouvidos tentam escutar estas intuições do futuro. Que vantagem poder conhecê-lo por antecipação, para defender-se melhor! Ouvem-nas os bons, para ter coragem e perseverar, mas escutam-nas também os levianos, por curiosidade, e as escutam sobretudo os maus, para reforçar-se no mal.

 

Ora, vimos que, no Alto, nas grandes linhas, o futuro é determinístico, e portanto não deve ser embaraçado em sua atuação pelo pequeno poder da liberdade humana que tem fim completamente diverso: isto é, experimentar e estabelecer as responsabilidades, porque as ações entram no campo da fatalidade e do destino logo que livremente realizadas. Quem interroga as profecias só para saber o futuro, e então pôr-se a lutar contra a Lei, deveria antes interrogar a si mesmo, para ver qual sua posição diante da Lei, a posição que livremente quis tomar, com suas obras. Quando a profecia desce à Terra, trazendo consigo as notícias de outro mundo, ela vem chocar-se com uma realidade totalmente diversa. Então, o estado determinístico dos planos superiores, situados acima do devenir ou transformismo evolutivo, entra em contato com aquele estado de incerteza da escolha que nós chamamos livre-arbítrio. Neste ponto, o problema filosófico do contraste entre o livre-arbítrio e o determinismo, torna-se vivo, atual, porque é o contato real entre duas forças e posições opostas. E se já resolvemos esse problema, teoricamente e em linhas gerais (veja Problemas do Futuro, cap. XI, "Livre-Arbítrio e Determinismo"), agora o argumento das profecias oferece-nos uma confirmação e aplicação do mesmo.

 

Tudo está enquadrado dentro de limites. O homem, que gostaria de conhecer os acontecimentos para modificá-los, deveria ao invés compreender que seu modo de ser, sua forma particular de vida, baseada na chamada liberdade, não pode alcançar os céus, reino das profecias; deveria compreender que sua liberdade não pode ultrapassar os confins do campo humano de ação, não pode ultrapassar o limite e entrar no campo da Lei, onde reina o determinismo do absoluto. Os dois campos são diferentes: num domina o desenrolar-se obrigatório das grandes linhas, no outro a incerteza da pequena oscilação do livre-arbítrio humano. Um campo não pode entrar no outro, embora nas profecias cheguem a tocar-se; mais até, o mais alto penetra no inferior, e a este é concedido olhar aquele. Cada um dos dois campos tem que obedecer às suas leis. Assim, uma profecia muito exata e evidente, seja em relação ao futuro próximo ou longínquo, viria alterar a liberdade humana, introduzindo nela novos elementos de decisão e perturbando o cálculo das responsabilidades. A profecia não tem o objetivo de tranquilizar-nos para que possamos entregar-nos melhor às nossas comodidades, e para poupar-nos o esforço de vigiar e estar prontos, agindo sempre bem. Assim se explica aquela linguagem sibilina, com que a profecia parece gostar de esconder seu pensamento, justamente aí onde mais se desejaria saber. Dessa forma, se se anuncia como certo um acontecimento, esconde-se o tempo de sua realização, e tudo fica encoberto num simbolismo de difícil interpretação.

 

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Após haver compreendido, nas linhas gerais, o significado e a natureza do ato profético, ocupemo-nos, agora, do Apocalipse. A interpretação do simbolismo com que se exprime esse grande livro, tentou muitas mentes, algumas delas movidas pela curiosidade e pela mentalidade de adivinho. É natural, então, que elas se tenham perdido no emaranhamento dos pormenores, ou tenham chegado às interpretações mais contraditórias, produzindo apenas discordantes círculos viciosos de fantasia. É inútil querer enfrentar esse livro sem antes ter conhecido e resolvido os grandes problemas da vida e da História. Inútil enfrentá-lo com olhos míopes, diretamente, por análises, sem saber antes olhar de longe, bem orientado pela visão panorâmica de síntese. A interpretação do Apocalipse não pode ser jogo de adivinhos, mas só trabalho de intuição e, ao mesmo tempo, raciocínio filosófico profundo.

 

Muitas interpretações foram feitas com objetivo preconcebido, de modo que, ao invés de representar obra de pesquisa, representam uma tentativa de servir-se da autoridade desse livro, para fazê-lo pronunciar, e assim valorizar, a condenação dos próprios inimigos, provando o lado bom da causa do próprio grupo e a segurança de seu triunfo. As demonstrações e conclusões mais opostas são obtidas dessa maneira, com a mesma precisão de cálculos e surpreendente coincidência de fatos. Ora, é certo que o Apocalipse não foi escrito para serviço particular de ninguém, nem para alimentar antagonismos de um grupo contra outros. Ao contrário, poderemos dizer que, dado seu caráter universal, quanto mais impessoal for sua interpretação, tanto mais terá probabilidade de aproximar-se da verdade.

 

Procuraremos, então, fazer aqui uma pesquisa lógica do Apocalipse, observando como seu pensamento concorda com o pensamento da Lei de Deus, dirigente da vida e da História, orientando-nos com os princípios gerais dessa Lei, que foram até aqui expostos em nossos livros. A pesquisa será imparcial, porque não temos teses particulares a defender para o triunfo ou justificação de ninguém. Nosso único interesse é compreender a hora histórica atual e seus futuros desenvolvimentos, para poder delinear a aproximação e a natureza da nova civilização do terceiro milênio. Por isso, pediremos apoio também a outras profecias, para que a concordância das vozes mais diversas, mesmo daquelas escritas sobre os restos das mais antigas civilizações, possa ser uma confirmação positiva de nossas intuições passadas. Pedimos a todas essas fontes uma ajuda, para compreender o presente momento histórico, gigantesco e tremendo, e com isso a sorte do mundo. Procuraremos, então, entender o simbolismo dessas profecias em termos claros de psicologia moderna, mesmo limitando-nos às linhas gerais, se esta é a condição de maior certeza. Basta-nos, aliás, uma visão de conjunto, mas bem consolidada, pois nada mais queremos, e seria imprudente pedi-lo, pois haveria o perigo de tentar ser adivinho e cair no fantástico. Enfim, ajudar-nos-emos com o raciocínio, apoiar-nos-emos na lógica do Sistema e na própria inspiração que nô-lo deu. Procuraremos, com estes meios, coordenados para o assalto ao mistério, chegar à visão mais demonstrada e exata possível, do futuro que nos aguarda a todos. É nosso dever indagá-lo, é necessário conhecê-lo, para preparar-nos melhor para ele, bem longe de qualquer sentimento de vã curiosidade.

 

Outro motivo ainda levou-nos a aproximar-nos do Apocalipse, e o fizemos após terminar a primeira série dos volumes, após haver aí exposto e demonstrado o Sistema, e justamente porque não só o Apocalipse se enquadra perfeitamente nele, mas também porque o confirma plenamente, dando-nos uma nova prova de sua verdade. Achamos no Apocalipse o princípio da liberdade e da responsabilidade. Daí a sanção final, consequência do segundo princípio, após a longa luta, que é a consequência do primeiro. Mostra-nos o Apocalipse que o caos é transitório, e que no âmago dele está a ordem de Deus, em Quem tudo tem que acabar e resolver-se. Mostra-nos como funciona a Lei em sua reação, que é elástica e explode irrefreável, só depois de longa paciência. Mostra-nos a ignorância do mal que tripudia, acreditando-se vencedor, conquanto seja apenas tolerado pela grande bondade de Deus. Mas assim, é dado a todos tempo para assumir livremente as próprias responsabilidades, que são as únicas que podem justificar, depois a inexorabilidade da sanção. Há proporção entre esta dura inexorabilidade e a longa espera, cumulada prodigamente de boas ocasiões e advertências, para voltar ao bom caminho. É dado tempo, assim, ao mal, para desempenhar suas funções destrutivas a serviço do bem, para a vitória deste, para a prova purificadora dos bons.

 

Indica-nos o Apocalipse que na Lei há um princípio de equilíbrio que estabelece um limite ao mal, controla seu desenvolvimento e o detém quando a medida está esgotada. Esta profecia faz-nos assistir a esse lento esgotamento de medidas, enquanto Deus olha sem pressa, pois os artífices do mal não podem escapar à justiça que põe tudo em ordem. Lendo-o, sentimos a cada passo o inútil esforço dos rebeldes e a inexorabilidade do destino, que é a Lei nas mãos de Deus. As águas sobem, sobem afogando tudo, os bons de pouca fé tremem aterrorizados, os maus gritam vitória, e os olhos de Deus estão abertos sobre tudo e veem. Mas quem tem fé, quem sabe, porque tem conhecido as Leis de Deus, não teme a espera. Tudo é jogo de ilusões da nossa dimensão tempo, tudo escapa no irreal, amarrado nesta sua corrida a um presente que jamais se detém. E as forças do mal em vão se agarram às crinas desse cavalo correndo em fuga, porque nenhum edifício estável pode construir-se, sobre as areias movediças do transformismo da evolução, mas só na zona alta do espírito, onde as tempestades do tempo se acalmam, em mais elevadas dimensões. O mal porém é força decaída, repele e renega o espírito, permanecendo desesperadamente preso à matéria e à sua forma. Traz assim, em si mesmo, com sua própria natureza, a sua própria condenação, como ele mesmo a quis.

 

O Apocalipse faz-nos ver o lento amadurecimento imperceptível dos grandes fenômenos cósmicos, descobrindo-lhes as origens até no campo moral e mostrando-nos assim a unidade do todo, em que todos os fenômenos estão coligados nos mesmos princípios. Num perfeito jogo de equilíbrios, acumulam-se em silêncio os impulsos reativos, e sobem, sobem, até a explosão final, que é ao mesmo tempo o resultado de um cálculo de forças e um ato de justiça, fenômeno físico de elementos desencadeados, e fenômeno moral de punição dos culpados, terrificante fim de um mundo e afirmação do reino do espírito, desespero de morte para os maus e vitória de vida para os bons. O mal avança afoito entre os olhares amedrontados dos bons e as forças reativas acumulam-se em seu seio, o corroem, minam-no e o esgotam até fazê-lo ruir. Confortem-se os bons, porque se tudo isso ocorre sem ser visto, e se aos ouvidos físicos só chegam os gritos de vitória dos maus, esta atividade secreta é obra de Deus que, estando no centro, só pode operar no centro das coisas e só no último instante aparece nas manifestações exteriores da forma. O mal está neste outro polo, e não vê o que Deus realiza em silêncio, no íntimo. O mal acredita nos rumores fictícios do plano físico, nos triunfos efêmeros do mundo, e os toma equivocadamente como vitórias. Mas, quem vê essa obra de Deus, que jamais se detém, presente em todos os lugares, sente este intumescer-se de impulsos vingadores, em favor do bem contra o mal e, mesmo que isso possa parecer aquiescência passiva e quase consentimento, fica aterrorizado por essa calma e ausência de reações de que se prevalecem os maus. Tudo isso dá um sentimento de lenta sufocação, prelúdio de morte fatal. E o mal rebelde e cego avança para sua ruína, desprezando em sua complicada astúcia a invencível sabedoria da sincera simplicidade, método retilíneo dos bons que seguem a Deus.

 

Todas essas coisas, já ilustradas longamente nos volumes precedentes e fazendo parte da lógica do Sistema, temos a alegria de achá-las agora inesperadamente no Apocalipse, que antes não conhecíamos. A gigantesca luta entre o bem e o mal só pode ser explicada com a teoria da ruína ou queda dos anjos, como mostramos no volume anterior Deus e Universo. O Apocalipse é a história da volta, representa o caminho da reascensão, dividido em episódios de luta e conquista, até a meta. Esta profecia confirma os conceitos dos precedentes capítulos, a respeito do pensamento e da vontade da História, faz deles, como nós, uma coisa viva, pensante, inteligente; mostra-nos que o verdadeiro senhor dos acontecimentos é Deus, o verdadeiro guia deles é Sua Lei; sobretudo nos conforta nossa precedente interpretação da hora histórica atual, avançando num mar tempestuoso para mais altos destinos. Lampeja no Apocalipse o grande conceito da real chegada à Terra do Reino de Deus, conceito que é o da Nova Civilização do Terceiro Milênio. O Apocalipse confirma o significado profundo da vinda de Cristo à Terra, e reforça as conclusões do Evangelho, em torno do qual gira a presente obra.

 

Pode parecer que o estilo violento de batalha do Apocalipse não se possa conciliar com o estilo pacífico do Evangelho. E no entanto, os dois livros se elevam sobre o mesmo conceito. Só que no Evangelho estamos no terreno dos princípios, altos e celestes, ao passo que no Apocalipse estamos no da luta, na Terra, por sua realização. Aqui desencadeia-se, para os surdos ao apelo do amor, a reação da justiça de Deus. Se os maus quisessem fazer mau uso do amor de Deus, nem por isso a Lei poderia ficar violada para sempre. Achamo-nos diante de duas fases do mesmo pensamento. O Evangelho é a Boa Nova aos homens de boa vontade, para que a Lei se cumpra por compreensão, espontaneamente. No Apocalipse, a Lei "deve" cumprir-se, impondo-se com a força. O Evangelho é a voz do Céu, proferida por um anjo vestido de bondade, que se dá aos homens pelo amor. O Apocalipse é um drama que se desenrola no inferno terrestre, reino de Satanás. O Evangelho anuncia o Reino de Deus. O Apocalipse narra a luta, para implantá-lo na Terra. O Evangelho termina com o sacrifício de Cristo para a salvação dos bons. O Apocalipse termina com a vitória de Cristo, com a condenação dos maus. Assim, Evangelho e Apocalipse concordam, indicando dois caminhos diferentes para alcançar a mesma vitória do bem. O Apocalipse mostra-nos que chegamos à plenitude dos tempos, à hora da realização daquela Boa Nova; diz-nos que o Reino de Deus, anunciado pelo Evangelho, não será sempre uma utopia e está verdadeiramente às portas. Por isso, o Apocalipse é fundamental, também, para nossa obra: porque ele a convalida, em todos os seus princípios e a confirma especialmente em sua conclusão e seus objetivos, que é a Nova Civilização do Terceiro Milênio.

 

Chegamos hoje ao momento em que o determinismo da Lei toma em suas mãos as rédeas da História e impõe suas diretrizes. Estamos, pois, no momento em que se manifesta a vontade de Deus, que quer entrar diretamente em ação. Ainda que Sua existência seja negada pelo mundo, Deus quer igualmente salvá-lo, num momento em que se acumularam tantos erros dos homens, em que tudo ameaça ruir. Estamos, pois, na plenitude dos tempos. Nos anteriores volumes estudamos a estrutura da Lei. Agora vemo-la entrar em ação, porque ela não é teoria abstrata, mas é vida que quer realizar-se entre nós. A elasticidade da Lei tem um limite e suas forças, comprimidas pela desobediência dos homens, e deixadas livres por Deus, Chefe e Dirigente, romperão os diques da divina misericórdia, semeando a destruição nas fileiras do mal rebelde. É a hora do juízo e da justiça. Deus, esquecido e negado, reaparece terrível sobre os horizontes da História e manifesta-se em ação. Sua paciência e Sua misericórdia, embora possam parecer ilimitadas, não podem ser traídas indefinidamente; e ai do homem que confunde essa espera da Lei - que só por compaixão prorroga a reação - com a ausência de um princípio divino, dirigente e senhor do mundo. Ai dele, porque este princípio, após longa espera, em que os homens se acomodam, porque pensam que são eles os vencedores e senhores do mundo, reage para restabelecer o equilíbrio e explode com uma violência tanto maior, quanto mais demoradamente ele tiver sido violado e comprimido.

 

Após haver estudado nos volumes precedentes a estrutura e o funcionamento da Lei, estudamos agora, aqui, seu aspecto histórico, neste nosso tempo, que é a hora de sua realização. Foi dito e repetido que o Evangelho jamais foi aplicado até hoje na Terra, que o anunciado Reino de Deus é ainda sonho remoto e que, se tivéssemos que ater-nos aos fatos, a vinda de Cristo à Terra teria sido quase inútil. Mas será possível que a realização da Boa Nova jamais deva chegar? Com efeito, o mundo hoje, com suas religiões, é substancialmente materialista. A concepção espiritual da vida é hoje utopia, está fora da realidade vivida. Entretanto, ninguém pode acreditar que a vinda de Cristo à Terra possa ter sido frustrada em seus principais objetivos. O fato é que o Evangelho representa essa revolução biológica, que não pode realizar-se toda em 2000 anos. Mas, qual das ideias nascidas no mundo poderemos dizer ter atingido imediatamente sua plena realização? Cada ideia nova é um impulso que se infiltra na corrente espiritual da vida, que já é uma força que resiste por inércia, tendendo a conservar sua trajetória precedente. Após haver sido lançada a nova ideia, é ela espalhada e com isto se funde a outras ideias, depois é alterada, às vezes renegada, mais tarde ressurge transformada, mas assimilada em parte. Sê-lo-á dez por cento, ou vinte, aqui mais, ali menos. É assim bem pouco. Mas esta porcentagem se fixa na raça, a qual, porém, é adaptada ao seu tipo e às suas necessidades. Será talvez uma adaptação, mas, ao menos em parte, a ideia tornou-se realidade.

 

Ao Cristianismo ocorreu o mesmo. Terá realizado uma  porcentagem mínima, mas realizou-a. Mais do que isso, em 2000 anos, a natureza humana não podia assimilá-la. Por isso, certas ideias, como o inferno, certos fatos, como as guerras santas, o poder temporal, as formas materiais do rito, foram mais criações e exigências dos tempos, sendo responsável por isso o grau involuído da maioria humana, do que mesmo criação e responsabilidade dos dirigentes piores que são a média. Isto acontece em todos os campos, e é culpa da natureza humana, muito preguiçosa para evoluir. Assim, por exemplo, o farisaísmo e o jesuitismo são qualidades que todos os homens podem ter. Não inculpemos, portanto, um grupo particular, se ele tem os defeitos da natureza humana. A culpa está em nossa velocidade de assimilação, no passo lento de nossa caminhada ascensional. Nestas condições, o Cristianismo teve que limitar-se à função da conservação dos princípios, a defesa do patrimônio recebido. Explica-se, assim, ainda que se não justifique, sua intransigência e seu dogmatismo. Mas com isso, não queremos dizer que a caminhada se detenha e que o Cristianismo possa ficar cristalizado na imobilidade. Se hoje os superficiais podem ter a impressão da falência de Cristo, nem por isto a partida está perdida e a vida se detém. O Apocalipse nos fala justamente deste amanhã, em que ocorrerá a realização do Reino de Deus na Terra.

 

Se o Evangelho tem fins didáticos e se, pelo caminho do amor, quer ensinar aos homens a viver, propondo o próprio Cristo como exemplo vivo e modelo para alcançar o Reino de Deus, o Apocalipse traça a história da realização desse Reino, fazendo ressaltar, pelo caminho das ameaças, a inflexibilidade final da justiça de Deus, mostrando-nos Cristo também em seu aspecto de poder e triunfo. Só assim o quadro estará completo, quando resultar da fusão de seus dois elementos complementares: Evangelho e Apocalipse. Se o Evangelho nos traça a linha de conduta, deixando-nos livres de aceitá-la ou não, o Apocalipse entra na História e narra as vicissitudes da realização na Terra daquele novo reino, que foi anunciado no Evangelho. Delineia-se assim o desenrolar-se daquela luta cósmica, entre o bem e o mal, em que se concretizam os mais altos destinos da vida, e dessa luta ele nos prevê e garante o desfecho. A linguagem do Apocalipse se transmuda de amorável como a do Evangelho, em trágica e violenta, porque exprime uma força que se ergue como espada flamejante, para derrotar definitivamente o violento assalto das forças do mal. O Apocalipse move-se num terreno de batalha, a maior do universo, aquela empenhada entre Deus e Satanás, e na qual Deus vence. O mal deve ser destruído, mas ele está armadíssimo e resiste com todos os meios. Este é o maior drama do ser, em que tomam parte Céu e Terra, fundidos na mesma tempestade e no mesmo desenvolvimento lógico. Agita-se o mundo das causas primeiras, que movimentam seus exércitos constituídos de poderes imponderáveis, que tomam forma do desencadeamento dos elementos destruidores, manifestação da rebelião de Satanás. A estes contrapõem-se outros exércitos, constituídos de potências espirituais, o braço direito de Deus, com que Ele fulmina os maus, rebeldes à Sua ordem. A evolução não é tranqüila ascensão pacífica, mas luta cruenta em que Satanás se empenha a fundo, para permanecer rebelde e para não ser destruído. Entoa-se assim, entre o Céu e a Terra, uma orquestração de poder cósmico. Debatem-se na Terra exércitos de homens e demônios, guiados por formas monstruosas. Mas, outros exércitos lutam no Céu, feitos de Anjos, e as forças do bem e do mal se medem, e só Deus, o grande general, dirige a batalha. Esta abarca o universo, transcende do plano físico ao plano moral, e deste aos mais altos planos espirituais. Treme todo o edifício do cosmos, sacudido desde os alicerces. O pensamento de Deus, relampejante, guia a ação; Sua vontade emite centelhas de cósmico poder, as quais, exprimindo Sua ação na batalha, cintilam e ferem, ora aqui ora ali, descendo até o espaço e o tempo, em nosso mundo concreto, e fulminando os rebeldes. As falanges celestes movem os elementos num desencadear terrificante. Responde sobre a Terra o desencadear das forças do mal. A humanidade está presa entre dois fogos, sem escapatória, fugitiva, destruída. É a hora do Juízo, a hora em que será feita justiça. Deus esperou até demais. As portas da misericórdia estão fechadas. O mal já se aproveitou muito, e tanto se orgulhou disso, como de uma vitória sua, que ousou subir os degraus do trono de Deus, e de desafiá-Lo face a face. A medida está cheia. Uma bondade ulterior não é compatível com a ordem e o bem. A ordem tem que ser reconstituída, para não acabar no caos. Os bons esmagados, vilipendiados, atormentados, devem ser reerguidos à sua dignidade de filhos de Deus, que lutaram e deram seu sangue para reascender e, portanto, mereceram o auxílio. E Deus lhes estende o braço de Seu poder e os reergue para o Alto. Esta é a hora da justiça. Fecham-se as portas da misericórdia, detém-se o devenir, para e se conclui o caminho da evolução, e então se fixam as posições conquistadas de cada um, no longo caminhar, e são feitas as contas, para cada um, segundo o que lhe cabe de direito, por suas obras. E a hora do juízo.

 

O Apocalipse fala de plenitude dos tempos. Estamos hoje nessa plenitude dos tempos. Deus se exprime no pensamento e na vontade da História, como uma onda que tudo arrasta e que se impõe aos homens e aos acontecimentos, e pende como um destino ameaçador sobre o mundo, porque a medida de suas iniquidades está cheia e esta é a hora de prestar contas. Vivemos em tempos apocalípticos1 em que a Lei deve cumprir-se. Por muitos séculos esperou Cristo a realização de seu Evangelho. O Reino de Deus tem de chegar, custe o que custar. Não é concedido ao homem o poder de tornar vã a vinda de Cristo sobre a Terra. O drama do Apocalipse é nosso, deste nosso tempo. As forças do mal chegaram até diante do trono de Deus e, orgulhosas disso, seguras de vencê- Lo, lançam o último ataque contra Ele mesmo. O olho de Deus, sempre aberto, observa e ainda espera. Mas, a hora de Sua cobrança está próxima, porque chegamos à madureza do tempo e o Deus invencível se prepara para Seu triunfo. Ele é sempre o centro de tudo e, no meio da grande batalha, tem em mão o cetro de comando, para que o bem vença e os bons triunfem.

 

Achamos, hoje, no Apocalipse, uma tremenda ameaça para os maus e uma grande promessa para os bons. Já vimos, no volume Deus e Universo, que a destruição final dos primeiros, se não se converterem ao bem, faz parte integrante do próprio Sistema. Está, portanto, garantida a vitória dos segundos. Ela é a vitória de Deus. O fim do mal significa também o fim da dor, e outro ponto de chegada não pode haver no extremo da caminhada. Relegar Satanás e os maus, num inferno eterno, não é ato digno de Deus, já que não podemos admitir que Sua criação possa ter, nem mesmo apenas em parte, um fim tão desgraçado. A esta sua destruição final o Apocalipse alude, como veremos, (Ap. XX: 14-15), quando nos fala da segunda morte, para todos os que não foram achados escritos no livro da vida (Deus e o Bem).

 

Doutro lado para os bons, o Apocalipse conclui com sua felicidade e triunfo nos céus, numa exultação de aleluias diante do trono de Deus. Esta é a inevitável solução do conflito, inevitável porque está implícita no determinismo, o qual, como vimos, está implícito da perfeição da Lei. Ora, saibam os bons, para seu conforto e esperança que, quando tudo tiver sido feito para salvar os maus, estes, livres por sua própria natureza, se quiserem ainda permanecer rebeldes, serão destruídos. Então os bons triunfarão. Este é o conforto que o Apocalipse traz aos bons. E saibam os maus que se eles persistirem na revolta, espantosas provas os esperarão, até que sejam eliminados. Este é o aviso que o Apocalipse traz para os maus. Isto tem a função de confortar os bons, para que tenham coragem e perseverem, e de avisar aos maus para que invertam a rota. São assim oferecidos a cada um todos os meios, para subir até o bem. O Apocalipse, assim, se pode parecer um livro duro de ameaças, pela férrea realização da Lei, é, ao invés, um livro imparcial de justiça; porque se a prova que ele prediz é uma solução trágica para os maus, para os bons é apenas um deserto de sofrimentos que tem que ser atravessado, para atingir a inefável alegria de reviver em Deus.

 

Confortem-se, pois, os bons, porque, se hoje vivemos nos duros tempos apocalípticos, eles têm consigo este grande livro, hoje, como nunca, atual, que os sustentará nas provas, com a visão das grandes metas que devem ser alcançadas. E constitui uma maravilha da ordem que tudo rege, que o mesmo cataclismo, enviado por Deus à Terra, possa servir para sanar e reorganizar tudo ou seja, como agente de depuração do mundo, dos maus que assim são eliminados do terreno que eles infectavam e ao mesmo tempo, como uma prova para maior purificação dos bons, para que mais cedo e melhor possam eles tornar-se aptos a ascender aos planos mais felizes da vida. A Terra, com o homem de hoje, não pode ser lugar de paraíso, tão involuído é seu ambiente, é tão somente um lugar de prova e sofrimento. Felizes os que o consideram apenas como um purgatório, para purificar-se e subir! Os bons, portanto, nada têm que temer dos tremendos presságios do Apocalipse, porque estes não lhes dizem respeito, mas só os maus. Embora estejam todos misturados, juntos, Deus saberá executar a delicada operação cirúrgica de separar os maus, salvando os bons. Estes, até exultem, porque o Apocalipse lhes recorda que, por mais que na Terra reine o mal e pareça vencer, o bem é rei do universo; que por mais cruenta que seja a luta entre Deus e Satanás, Deus é o mais forte e os bons vencerão com Ele; recorda-lhes que o dia da destruição dos maus será o dia da ressurreição para os bons; que por mais que domine na Terra a injustiça e a desordem, há planos de vida muito mais altos, a que os bons, purificando-se na dor, chegarão, e nos quais reina justiça e ordem. Recorda-lhes que, no fim, cada um receberá segundo seu merecimento e não de acordo com sua prepotência; que o verdadeiro senhor não é o homem, mas Deus; que, por trás da História, está Sua sabedoria, que salva tudo do egoísmo humano. Recorda-lhes que virá a justiça tão invocada, que reparará todos os erros. Virá a verdade tão procurada, que varrerá para sempre todas as mentiras.

 

Se aqui na Terra tudo é imperfeição, no Alto estão os planos perfeitos de Deus e o sistema da Lei, feita de bondade, dirige tudo e nada lhe pode escapar. Em nenhum livro, tanto como no Apocalipse, se sente a bondade férrea de Deus que, no momento oportuno, impõe justiça; sente-se Sua invencível potência, a impor que seja respeitada a ordem; sente-se, como na hora da criação, a gigantesca presença de Deus, que retoma em suas mãos as rédeas do universo, não mais para lhe dar o primeiro impulso, mas para concluir a longa caminhada seguida e julgá-la. A luta cósmica entre o bem e o mal chega ao seu epílogo e se resolve na vitória de Deus sobre todas as forças, que assim são reconduzidas do caos à Sua ordem. Os problemas primeiros e últimos se reúnem na mesma solução. A última palavra do tema cósmico é o trovão do poder de Deus, é o lampejo de Seu pensamento triunfante. Assim a sinfonia se realiza. Sua orquestração é um perfeito processo lógico, em que se desenvolve o funcionamento orgânico do universo, no transformismo evolutivo, até a vitória final do bem, nos planos mais altos, lá onde a vida é triunfo do espírito.