(Examinado segundo a ciência do aparelho divino)

Da revista Ali dei Pensiero — Milão dezembro de 1937.

A voz corrente é unânime e não podia deixar de sê-lo: as obras de Ubaldi são estupendas. E queremos acrescentar uma pedra à coroa de louvores oferecida pelo mundo a Ubaldi, dizendo que o valor real do fenômeno consiste no próprio Ubaldi, que soube elevar toda a sua vibração interna à realeza daquelas captações.

O fenômeno Ubaldi é — pelo que nos consta — uma das maiores conquistas, no fato de percepção hiperfísica, porque Ubaldi, mesmo não conhecendo a "ciência do além", conseguiu todavia libertar-se das encruzilhadas da passividade mediúnica e manter-se bastante desperto no oceano das noúres.

Estabelecendo um paralelo, embora banal, Ubaldi pode ser comparado a uma criança prodígio, que faz arte mesmo sem saber o que seja arte: Ubaldi conseguiu magnífica conquista no campo da ciência, mesmo sem conhecer a ciência do além.

A palavra "bastante", usada acima, não pareça irreverência contra esse estudioso, que despertou toda a nossa admiração. Com a palavra "bastante”  queremos, em nosso ponto de vista sublinhar as seguintes observações: no oceano das noúres, Ubaldi se abandona, ao passo que nós ousamos afirmar que, no oceano das noúres, é indispensável saber escolher o próprio roteiro. Ele se entrega, confiante, às correntes que sente serem benéficas, enquanto acrescentamos a advertência de que é mister, ao invés, saber avaliá-las bem, pesá-las, escolhê-las, antes de seguir essas correntes. Ele atingindo o inefável, sem dar-se conta de "como" o atinge, nele mergulha, dele "recebe" conceitos, ao passo que nos permitimos dizer que é necessário, às vezes, saber manter-se  no inefável, saber mergulhar  “à vontade” no ambiente pre-escolhido, saber discernir entre domínio e domínio de conceitos. Eis a diferença: não "receber", mas ir buscar. É isso: é necessário justamente saber ir ao inefável, com o propósito definido de colher aí ora esta flor, ora aquela, e de colher voluntariamente os arcanos que ele encerra para as idades vindouras.

Dissemos "é preciso", não só porque Ubaldi, no oceano das noúres, é um indefeso, mas também para ajudar o encaminhamento das faculdades de percepção do hiperfísico para o conhecimento da natureza, dos objetivos, do poder do próprio hiperfísico, e colocar muitos estudiosos em grau de não só perceber as noúres, mas também saber defender-se do acaso, ou valer-se delas, ou subjugá-las se não forem dignas.

Estamos verdadeiramente satisfeitos, de que nossos conhecimentos a respeito do aparelho divino possam oferecer aos estudiosos, quer a explicação do magnífico fenômeno Ubaldi, quer os conhecimentos necessários para superar a mediunidade passiva e chegar à conquista do hiperfísico em plena consciência.

A purificação que Ubaldi compreendeu ser indispensável, e que fortemente impõe a si mesmo, é sem dúvida fundamental para alcançar a percepção de escalas vibratórias mais sutis; mas como o organismo humano é bem mais importante em suas partes hiperfísicas do que nas físicas, já foi formulada completamente uma doutrina de treinamentos, para colocar o estudioso na possibilidade de fazer vibrar suas partes hiperfísicas em escalas cada vez mais puras, mais transubstanciadas, de modo que possam vibrar por afinidade, por harmonização, limpidamente, em sintonia com aquelas que o inefável cósmico emana continuamente.

A ciência da percepção do hiperfísico já está formulada, já lançou suas bases, e sobre elas ergueu uma primeira e esquemática formulação de leis.

Um dos campos que os estudiosos de biosofia se esforçam por iluminar, já foi plenamente aprofundado pelo que escrevemos e que estamos sempre prontos a esclarecer, com os conhecimentos relativos ao "aparelho divino". Damos, pois, à nova "ciência do além" a licença de exprimir-se

O homem está unido ao cosmos todo, mediante um filtro, um verdadeiro "transformador" hiperfísico, que tem a função de captar primeiro, e depois transformar, as forças cósmicas em forças de alcance humano.

Esse transformador — o "aparelho divino" — está colocado ao alto da cabeça de todo homem, e é o produto de turbilhão de forças hiperfísicas individuais e de outras naturezas.

Como o descobrimos, isto dissemos alhures; mas, para evitar mal-entendido àqueles estudiosos que confundem o "aparelho divino" com os "Chacras" aos quais ele está ligado, aqui acrescentamos que a glândula pineal do cérebro — que muitas vezes é indicada como o órgão receptor das noúres, — é a contraparte física do Chacra que está colocado no alto da cabeça, e não a contraparte física do aparelho divino; o órgão receptor das noúres é pois o aparelho divino, e não a glândula pineal; esta tem uma função auxiliar, útil quando as forças já estão no corpo físico, mas não tem a função especial de "receber", pois esse trabalho é apenas hiperfísico, no aparelho divino, que é também hiperfísico.

O aparelho divino não tem — repetimo-lo — contraparte física: ele é um verdadeiro e próprio órgão todo hiperfísico, é um vórtice turbilhonante de matérias hiperfísicas, dúplice em sua função: como uma de suas partes transmite ao hiperfísico as emanações humanas, com a outra transmite ao organismo humano as emanações do hiperfísico. O turbilhonar destas forças, com efeito, produz dois vórtices, cuja energia cinética lhe agrega as matérias, produzindo a impressão de duas formas cônicas, com vértices opostos, compenetrados e coexistentes, fundidos, irradiantes.

Cada homem tem, no alto da cabeça, um Chacra (classificado em nossas obras com "N. I") e cada homem tem, ligado a ele, uma antena turbilhonante cônica, que se lança ao hiperfísico.

Em Ubaldi, esse "cone" deve ser, por certo, resplandecente e rutilante, dotado de maravilhosa potência de expansão. Mas nem todas as pessoas o tem assim: apenas os fatores evolutivos dão esse caráter ao aparelho divino. Quanto mais adiantada é a evolução humana, tanto mais permite ao cone aberto para o alto, o do aparelho divino, que funcione em todas as sucessivas dimensões, ainda ignoradas pela massa.

As forças que partem do Chacra, colocado ao alto da cabeça de Ubaldi, lançadas, sem que ele o saiba, ao incógnito hiperfísico, produzem o "cone" aberto em direção ao alto, do seu divino aparelho, o seu "cone" pessoal. Sem dúvida, esse cone lança, para o desconhecimento, belíssimas e elevadas vibrações, de natureza nobre e de exímia finura. Mesmo não conhecendo os meios científicos para produzir conscientemente o fenômeno, Ubaldi sabe colocar esta parte de seu aparelho divino, ainda desconhecido a ele, em sintonia com escalas vibratórias que não têm atributos pessoais, porque não provêm de instrumentos pessoais; estas escalas vibratórias lhe chegam de um vórtice de forças hiperfísicas, quase sempre de natureza cósmica ou de natureza super-humana (mesmo que ele não as perceba como provenientes de Seres super-humanos).

No elemento superior do aparelho divino (o que se abre para baixo) de todos os homens, giram vorticosamente correntes hiperfísicas de natureza gloriosa; mas, como o outro elemento, o que se abre para o alto, não está, nem sabe colocar-se em sintonia com elas, o ser humano não as percebe. Em Ubaldi, ao invés, com a luz da "ciência do além", vemos um ser humano cujo elemento inferior do aparelho divino — o que se abre para o alto — está dotado da possibilidade de colocar-se em sintonia com as vibrações do elemento superior, que continuamente irradia emanações cósmicas.

As grandes inspirações chegam todas por esse caminho e assim sempre chegaram e sempre chegarão, mas os homens não conheceram, antes da "Dispensação , o órgão hiperfísico receptor e sua respectiva técnica; o apogeu que todas as escolas esotéricas atingiram foi a ciência dos Chacras, ao passo que a ciência do aparelho divino representa a sabedoria sucessiva, a "dose" seguinte do arcano revelado, oferecido pelas forças evolutivas ao mundo, a fim de que este penetre as ciências de amanhã: as ciências do hiperfísico.

Só conhecendo esta prodigiosa ciência do aparelho divino podemos responder à pergunta insolúvel sobre o que sejam as noúres que Ubaldi percebe. As noúres são as forças vorticosas que lhe provêm do elemento superior de seu aparelho divino, e lhe podem chegar porque ele, com o trabalho de purificação que se impôs, coloca, sem o saber, o próprio aparelho divino naqueles "planos", onde a vibração é impessoal, gloriosa, inefável. E aqui podemos dizer mais: a percepção de uma corrente hiperfísica pode ocorrer, quer seguindo-lhe a corrente, penetrando em seu centro, quer separando uma seção. Ambos os modos são possíveis com o uso consciente do aparelho divino, e no entanto, entre os dois, é preferível o primeiro, porque permite alcançar a fonte mergulhados na própria corrente. Isto dá ao experimentador uma colheita mais completa de conhecimentos, e asseveramos que, quando Ubaldi se acha naquela zona de conceitos, da qual descreve a poderosa vastidão, ele aí chegou — mesmo não conhecendo sua técnica — por meio da primeira destas possibilidades; quando ao contrário, seu coração mergulha, perdendo-se a si mesmo, nas sublimes bondades do Reino ilimitado de Deus, ele — mesmo não conhecendo sua técnica — valeu-se da segunda de suas possibilidades.

Exorbita do âmbito de um artigo dizer como seja possível atingir a conquista e o conhecimento das correntes hiperfísicas, e aliás isto seria apenas repetir o que dizem nossas obras; o importante é apenas apontar hoje aos estudiosos o caso de Ubaldi, como caso-tipo para ser tomado como modelo de uma libertação natural do jugo da mediunidade, por maturidade evolutiva conquistada, e prender a atenção dos estudiosos de biosofia, na ciência do aparelho divino, mediante a qual, além da libertação consciente da mediunidade, podem ser feitas tantas conquistas maravilhosas no campo do hiperfísico.

(a)    EMMA TEDESCHI e MÁRIO BRANDI