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Da Revista Light - Londres (Inglaterra), 27 de janeiro de 1938.

Em modesta casa, às margens de um desfiladeiro, logo às portas da cidadezinha medieval de Gubbio, vive Pietro Ubaldi, o médium cuja obra inspirada vem suscitando grande interesse, na Itália e no estrangeiro, nestes últimos seis anos — e não só nos círculos psíquicos, mas também entre os cientistas, por causa do livro A Grande Síntese (recentemente publicado num volume, após ter aparecido em série em Ali dei Pensiero). É produção deveras notável, tratando de modo científico de assuntos de que o autor pouco ou nada conhece, em sua vida normal.

O conteúdo desse livro não pode ser resumido em poucas palavras, pois oferece solução plausível a todos os problemas do universo — desde a estrutura do átomo e a composição química da vida, até os métodos de ascensão mística; desde o problema matemático da Relatividade e a gênese do Cosmos, até as mais novas questões religiosas e sociais e os mistérios da psique humana. Muitas de suas partes parece mais se dirigirem aos homens do futuro, do que aos de hoje. Mas as profundas verdades expostas pertencem a todos os tempos. A nota chave do livro é a ascensão espiritual.

O Professor Bozzano, que vem acompanhando a mediunidade de Ubaldi desde seus primórdios, tem a mais elevada opinião do homem e de sua obra. Escreveu ele: "Está redigida em termos rigorosamente científicos, estando de completo acordo com as atuais concepções filosóficas, matemáticas e geométricas sobre o mesmo assunto".

O Dr. Estoppoloni, Professor de Anatomia da Universidade de Camerino, escreveu: "Essa publicação feita por quem pouco ou nada sabe de química, é verdadeiramente espantosa, porque as ideias são realmente científicas, tais como podiam ser formuladas por competente estudioso de química".

O Professor Schaerer, filósofo belga, confirmou: "Considero-o utilíssima demonstração de que as comunicações mediúnicas podem produzir obras de alto valor científico e racional".

Grande foi o esforço para receber as comunicações, tendo Ubaldi a princípio duvidado de seus poderes; mas diversos médiuns dele desconhecidos, espontaneamente recebiam mensagens incitando-o e encorajando-o a continuar a todo custo a obra para a qual havia sido chamado; e ele prosseguiu, a despeito das dificuldades de toda ordem; vivendo com simplicidade franciscana, ganhando seu pão cotidiano como mestre-escola passando longas horas sozinho nas fraldas da montanha, escrevendo à noite e nas férias estivais. Assim foi produzida A Grande Síntese, volume de cem capítulos e quase quatrocentas páginas.  Sempre muito consciente, Ubaldi teve a capacidade de observar minuciosamente e analisar sua própria mediunidade, tendo já publicado outro volume, As Noúres, no qual relata pormenorizadamente como A Grande Síntese foi escrita.

Julga que seu tipo de inspiração muda de acordo com sua própria evolução espiritual. Afirma que as faculdades intuitivas, cujo uso em criações artísticas e poéticas é um fato aceito, também devem ser usadas em estudos científicos, pois só por meio delas podem ser resolvidos os maiores problemas da filosofia científica. O espírito humano deve sintonizar-se com as correntes mais altas (noúres), sendo indispensável a fusão da fé com a ciência.

Para receber e transmitir ao papel as mensagens das esferas mais altas, o médium deve sensibilizar-se até o mais alto grau, viver uma vida de renúncia e purificar-se de toda mancha de materialismo. Ubaldi crê que o sofrimento é o grande elemento purificador, e ele mesmo muito tem sofrido ao perseguir seu ideal.

Quanto à entidade inspiradora, que se assina "Sua Voz", foi dito ao médium: "não pergunte meu nome nem procure identificar-me. Nem você, nem ninguém poderia fazê-lo". Acredita que as mensagens se originam de esferas muito elevadas e são transmitidas não por um só comunicante, mas por um grupo. Sua participação na obra é manter o canal aberto, com a elevação de suas próprias vibrações, de modo que possa encontrar seus comunicantes. Diz ele:    "É ousadia pensar na normalização desses métodos, mas estou convencido de que a cultura, no futuro, consistirá numa sensibilização da psique, a fim de receber ondas de pensamento" (ou seja, os fenômenos inspirativos, experimentados hoje por poucos médiuns altamente desenvolvidos, como ele próprio, será um dia o método normal de obter conhecimento. "A nova filosofia da ciência está ligada tanto ao pensamento religioso, como ao científico — tanto com a Gênese Mosaica, quanto com a Evolução Darwiniana. É uma verdade; — unificação —, a ascensão é progressiva. O mineral se orienta; a planta sente, o animal percebe, o homem raciocina. Podíamos continuar com as hierarquias dos seres mais elevados".

(a)    ISABEL EMERSON

A personalidade de Pietro Ubaldi

Este artigo foi publicado nas revistas: Constancia - Buenos Aires, de  1º de junho a 16 de novembro de 1949 — La Idea — Buenos Aires, outubro e novembro de 1948. Estudos Psíquicos – Lisboa, de março a julho de 1948.

Certo dia de outubro de 1945, num modesto restaurante de Gúbio, encontramos pela primeira vez Pietro Ubaldi. Foi um dia inesquecível, um daqueles que parecem amadurecer o destino de um homem. Acháramos o amigo da alma, a luz procurada por toda a existência.

Com a mente educada na ciência e na filosofia, dotados de temperamento racional e místico ao mesmo tempo, rebeldes a qualquer imposição ideológica, não podíamos aceitar uma fé religiosa dogmática, porque a isto se rebelava nossa consciência. Pedíamos inutilmente à ciência e à filosofia nos dissessem a verdade, mas nosso grito perdia-se em infinitos labirintos e becos sem saída; sangrava a alma em estrada sem objetivo. Aproximava-se o desespero. Tínhamos vago pressentimento de que um dia acharíamos a luz da verdade, mas não sabíamos quando nem donde viria. Sentíamos, no entanto, que só a ciência poderia dar-nos resposta e não nos enganamos. Através da ciência, Pietro Ubaldi guiou nossa mente à verdade, lançou um raio de luz nas trevas e nossos olhos extasiados enxergaram. Entrava em nossa mente aquela luz que tanto buscáramos, descia em nosso coração a paz para a qual dolorosamente estendíamos os braços há longos anos.

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Feita esta premissa, seja-nos permitido dizer algo sobre Pietro Ubaldi. Perdoe-nos ele se nossa palavra não for adequada e perdoe-nos o leitor se nossa linguagem for insuficiente para sua mente e seu coração. Particularmente difícil é o assunto que nos propomos tratar, sobretudo porque rebelde às palavras comuns. De qualquer forma, pode o leitor ficar certo de que tudo o que diremos deriva de profunda convicção pessoal, e que portanto, ainda que não seja aceita, ao menos deve ser respeitada. Neste trabalho, falaremos da personalidade de Pietro Ubaldi, diremos tudo o que sabemos e pensamos dele. Cremos útil para conhecimento objetivo deste homem, que é pouco compreendido. Julgamos poucos terem colocado Ubaldi, até aqui, na posição que lhe cabe. Esperamos fazer-nos compreendidos por quem deseja ver a personalidade de Pietro Ubaldi em sua verdadeira luz. Com essa expectativa e esse propósito, entramos no assunto.

Quem é Pietro Ubaldi? Há quem o defina um santo, outros um médium, alguns um gênio, outros ainda um visionário. Fisicamente é alto, fronte muito desenvolvida, algo encurvado, atitude humilde e austera, expressão doce e triste, olhar vivo e penetrante. Homem que, para seguir o ideal evangélico nas pegadas de Cristo, renunciou a todos os bens econômicos, que a sorte lhe concedera abundantes, e vive de modesta renda proveniente do ensino da língua inglesa no ginásio de Gúbio. Passa os dias no trabalho e na meditação, na renúncia quase completa a todas as alegrias terrenas. Escreve muito. Prova-o sua copiosa produção literária. Temperamento profundamente místico desde tenra idade, dos místicos se diferencia pelo caráter próprio de racionalista sem preconceitos, rigorosamente objetivo. Pode afirmar-se ser sua exaltação mística do mesmo grau de sua potência racional. Nele, misticismo e racionalismo, ao invés de excluírem-se, completam-se e se vivificam mutuamente. Tem poucos amigos, vive vida prevalentemente solitária, mas não chega a ser misantropo. Alma doce e tempestuosa a um tempo, temperamento irrequieto e voltado constantemente para Deus, passa entre os homens sofrendo, dando-se todo a eles, na forma permitida por sua natureza, para realizar o que julga ser sua missão.

Com isto, pouco dele se diz. Notável contribuição para seu conhecimento é-nos dada por sua obra: História de um homem, cujo protagonista é ele mesmo. Mas essa obra é pouco romanceada, para podermos avaliá-lo bem. Não porque aí seja velada a personalidade do autor, ou menos ainda, alterada, mas unicamente porque descreve o fenômeno biológico da criatura sem subir às causas do próprio fenômeno; e sem elas, este não pode explicar-se. As Noúres, A Grande Síntese e a Ascese Mística, todas obras suas, lançam, porém, muita luz sobre as causas e permitem individualizar muitos aspectos da personalidade do autor. Mas o leitor dessas obras ver-se-á logo a braços com nova e embaraçante dificuldade. A concepção científica e filosófica, tal como é delineada por exemplo em A Grande Síntese, que sem dúvida é a obra mais importante, é de tão grande alcance, que torna difícil o enquadramento nela do autor e a interpretação do mesmo.

Tendo como base essas obras, e servindo-nos de nosso conhecimento pessoal com o autor, proporcionado por longa e profunda amizade e simbiose espiritual mútua, esperamos tê-lo bem compreendido, e ele nos confortou respeitando nossas convicções a seu respeito. É óbvio que, para interpretar a personalidade de alguém, mister se torna enquadrá-la dentro de uma concepção ideológica séria e aceitável, a fim de que sua interpretação seja lógica. Tudo isso tem importância fundamental, porque a personalidade estudada adquire valor muito diverso de acordo com o sistema ideal em que seja enquadrada. Já que as concepções humanas da verdade são infelizmente disparatadas e mais ou menos limitadas, as definições que do estudado se podem dar, podem ser várias. A concepção dos ignorantes e presunçosos pode defini-lo um louco; a concepção cristã-católica, um herege condenável; a ciência experimental um indivíduo interessante para estudos de psicanálise; e outras finalmente um gênio, um santo, ou um visionário.

Estudá-lo-emos à luz da concepção geral de A Grande Síntese e dos poucos, mas seguros bruxuleios, que se nos oferece a ciência. Como toda a ciência moderna experimental é acolhida em A Grande Síntese, o julgamento mais amplo e cabal será dado com base na concepção ideológica dessa obra. À luz da ciência diremos apenas o que nos for dado dizer, pois nessa estrada não se pode necessariamente esgotar o assunto. Julgamos razoável caminhar nessas duas estradas, porque estamos persuadidos de que são as mais seguras, por estarem iluminadas pela mais viva luz, e porque abertas para horizontes sem limites. Rapidamente mostraremos as razões, persuadidas de que o leitor só poderá compreendê-las por si quando, para além da letra, tiver penetrado o espírito de A Grande Síntese. Dela não falaremos por ser de natureza que não se pode explicar e muito menos resumir. Diremos apenas que nela achamos uma concepção da verdade que satisfaz plenamente a razão e o coração, concepção que na Terra nem a ciência, nem a filosofia, nem a religião destroem. Nela, cada aspecto do pensamento humano acha seu lugar no plano que lhe compete. O conjunto resulta harmônico, lógico, perfeito, indestrutível. Se fosse possível criar uma linguagem em que cada conceito correspondesse a uma palavra apenas e vice-versa e se se compreendesse que só no absoluto existe uma verdade absoluta, — ao passo que no relativo em que necessariamente vivemos só existem verdades relativas e progressivas —    se com segurança se compreendesse tudo isso, seria fácil perceber que o erro é uma verdade parcial e muito frequentemente um equívoco. Se cada palavra contida em A Grande Síntese fosse interpretada em seu verdadeiro sentido, todos ficariam persuadidos, como nós. Os homens não se entendem, especialmente porque falam linguagens diferentes, ou seja, conceitos muitas vezes diversos são expressos com a mesma palavra. Todos sabemos pronunciar a palavra DEUS; mas o conceito é diversíssimo, conforme saia da boca de um místico ou de um involuído. O que deste conceito dissemos, pode aplicar-se a todos os outros, que constituem os tijolos com que se constroem os edifícios filosóficos, religiosos e mesmo científicos. Infelizmente não é possível realizar universal interpretação de todos os conceitos, dada a impossibilidade de todos os homens realizarem os conceitos em si mesmos, já que alguns só podem ser compreendidos à proporção que o indivíduo for evoluindo. Por exemplo, o conceito de Deus, de um santo, só pode ser compreendido por outro santo. Poderíamos continuar a discorrer, mas talvez não seja necessário.

Voltando à A Grande. Síntese, acrescentaremos que não é difícil experimentar essa concepção, achá-la resistente e totalmente satisfatória, quer através da análise como da síntese, seja pelas infinitas provas de dedução como de indução. Muitos não se persuadirão, mas isso não admira; admiraria o contrário. Nela não faltam lacunas e incertezas, mas de valor não substancial, que não infirmam, pois, as linhas mestras da própria concepção e muito menos as destroem. É uma concepção vital que traz luz à mente e paz ao coração, que nada destrói, mas tudo vivifica, porque é universal. De qualquer forma, no fim deste estudo trataremos da personalidade de Ubaldi à luz da ciência, embora pouco seja possível dizer, porque as conquistas da ciência são muito limitadas.

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Dito isso, procuremos interpretar  a personalidade de Ubaldi à luz da concepção geral de A Grande Síntese. Mas antes é mister distinguir bem a personalidade do escritor e a daquele "Eu" que fala em Grande Síntese. A voz que troveja e repreende em A Grande Síntese não é a voz de Pietro Ubaldi, mas a voz impessoal da Verdade. Desta voz, o escritor foi apenas o receptor e o tradutor fiel e eficaz.  Em outras palavras, Ubaldi escreveu A Grande Síntese por força inspirativa. Nas fases de máxima expansão de consciência, ele viu (intuiu) a verdade em suas linhas mestras, perlustrou horizontes imensamente vastos e traduziu no papel e com linguagem humana, conforme a dialética da razão também humana, a verdade que vira. Traçou o quadro geral após a visão direta do mesmo, assim como o artista reproduz e materializa a própria visão estética e a torna acessível aos outros através de estímulos aptos a impressioná-los pelos sentidos. Assim como a visão estética, se não fosse materializada na obra de arte, desapareceria secretamente na mente do artista e nada dela se escoaria para fora, igualmente a visão da verdade se teria apagado na mente de Ubaldi, nada dela saberíamos, se ele mesmo a não tivesse materializado e exteriorizado de tal maneira que a tornasse acessível à nossa mente. Esforçou-se ele em achar a linguagem humana mais adequada à finalidade, e julgou oportuno empregar a linguagem científica por ser a mais séria e evoluída. Falou nessa linguagem e foi compreendido por muitos.  Teve o mérito de tornar acessível a muitos o que era privilégio de poucos iniciados, revelou o que o ocultismo de todas as épocas e lugares conhecia, mas escondia. Nada de novo disse, porque a verdade é una e indivisível. Compreendeu que a mente humana saiu da menoridade e está em grau de olhar o mistério e estudá-lo. Com efeito a ciência bate à porta dos mistérios e Ubaldi com sua obra apresenta a chave à ciência.

Portanto, a função biológica do escritor é muito importante. Mas, do mesmo modo e pela mesma razão que os grandes artistas são compreendidos por poucos, assim Ubaldi até agora foi insuficientemente e mal compreendido; foi sobretudo mal compreendido. Claros e individualizáveis são os motivos. Sua concepção ou é compreendida em suas linhas essenciais, ou não é absolutamente compreendida. Para compreender suas linhas essenciais é necessário ter o preparo do homem de ciência e ao mesmo tempo as faculdades psíquicas do místico. Sabem todos quão difícil é encontrar em igual medida e de forma acentuada as duas qualidades. O místico desconhece a ciência e o cientista não compreende e não aprecia o misticismo. Pode dizer-se que os dois se repelem. Vive entre eles o mesmo contraste que existe entre materialismo e espiritualismo, de que tanto se fala hoje com convicção ou má fé, ou seja o contraste entre matéria e espírito. Considerando-se bem, esse contraste, que cria entre os homens ódios e lutas por vezes ferozes, deriva apenas da ignorância do próprio homem ou de seus equívocos. Que matéria é essa que se dissolve nos laboratórios da ciência e que espírito é esse inimigo da matéria? Cremos que esse contraste nasce apenas da insuficiência da mente humana. Fala-se com efeito de matéria e de espírito sem que se tenha o justo conceito de matéria e de espírito. É uma luta absurda, porque nem existe a matéria nem o espírito, mas apenas a substância, sobre cuja natureza ninguém sabe dizer a última palavra. Infelizmente, porém, na mente dos homens se agita essa luta absurda que leva à divisão também absurda dos ânimos, de que derivam as lutas visíveis sobretudo em nossos tempos, com o que lucram apenas a desonestidade e a ignorância. É mister destruir esse dualismo absurdo, e só então o cientista poderá levantar seu olhar para o céu do misticismo a crer, e o místico poderá olhar para a ciência com olhos fraternos; ambos abraçados, poderão suscitar com esse abraço de amor a centelha divina que iluminará o mundo e ensinará aos homens seu grande destino.

Só então poderá o pensamento de Ubaldi ser compreendido em sua natureza íntima. Tem muitos admiradores em todas as partes do mundo. Mas quantos o admiram porque o compreenderam verdadeiramente? Ubaldi mesmo reconhece que pouquíssimos o compreenderam de fato. Muitos fizeram dele uma ideia contrastante com a realidade. Imaginam-no um semideus, enquanto é apenas um homem. Estes provavelmente ficariam muito surpreendidos se o conhecessem pessoalmente, não porque ele seja um homem de pouca valia, nada disso, mas porque incorreram no erro de formarem dele um conceito fantástico e irreal. Tem períodos de depressão psíquica, durante os quais sofre de modo inaudito. Toca a beatitude do êxtase místico e o abismo da dor mais atroz, sai dos excelsos cumes da especulação da mente e desce ao abismo da sufocação de consciência. Observamos nele o homem dotado de poder psíquico gigantesco e o homem fraco. Jamais, porém se observa vulgaridade e muito menos imoralidade. Notamos que apresenta dúvidas e incertezas que, no entanto, são resolvidas com absoluta clareza em A Grande Síntese. Mais de uma vez convidamo-lo a esclarecer as próprias dúvidas lendo suas obras, e muitas vezes o confortamos com o conforto que dele recebêramos.

Mas, bem considerado, isso não deveria admirar. Ele, como qualquer de nós, embora em planos diferentes, não é nunca igual a si mesmo. Seu dinamismo biopsíquico é cíclico, e, portanto, sujeito a fases espetaculares de subida e descida. Segue-se daí que o mesmo acontece com suas faculdades conscientes, ou seja, intelectivas e sentimentais. É um homem cuja personalidade está ligada à Terra e ao céu ao mesmo tempo. Sua personalidade biopsíquica oscila, vibra, segundo um movimento cíclico ondulatório, irregular, mas não casual. Em seu eterno dinamismo, sobe e desce de acordo com uma trajetória cujo vértice positivo está no plano místico e o negativo no plano humano. Sobe e desce de um a outro plano passando, naturalmente, através de planos intermédios de que falaremos.

Esse fenômeno não deveria maravilhar ninguém, porque é comum à psique humana. Todos nós temos estados de ânimo diferentes, períodos de sensibilidade e insensibilidade, de otimismo e pessimismo, de expansão e compressão de consciência; não obstante, estamos em ato ou em potência sempre iguais a nós mesmos. Ele difere de nós unicamente por maior acentuação do fenômeno. A potencialidade biopsíquica dele viveu, naturalmente, momentos diversos mesmo no passado, e os viverá no futuro. Em sua presente vida conheceu momentos psíquicos diferentes. Começou com a inconsciência da vida embrional, daí passando à fase de consciência média normal, e aos poucos à mediúnica, à ultrafânica, e enfim à fase mística. No atual período de sua vida, seu dinamismo biopsíquico oscila da fase de consciência normal à de consciência mística. Concluindo, a evolução biopsíquica de Ubaldi é caracterizada por uma trajetória progressiva ondulatória. Trajetória análoga, ainda que em proporção diversa, caracteriza o dinamismo biopsíquico da generalidade dos homens.

Dissemos que Ubaldi, em seu dinamismo biopsíquico oscila entre o plano biopsíquico humano normal e o plano biopsíquico místico, atravessando os planos intermédios. Agora diremos que sensações ele experimenta nos diversos planos de consciência e quais são suas manifestações externas. Comecemos da fase mística. É a fase de máxima expansão da consciência. Dura pouco, porque se durasse muito tempo, o mataria fisicamente. É um estado de suprema beatitude, de suprema consciência e de supremo amor. O organismo físico permanece ausente da consciência dele, mas sofre as consequências do formidável desequilíbrio que se produz em tais momentos entre ele e o organismo psíquico. E como se fora imerso numa chama que o queima sem dor, mas que o consome. Segue-se daí que, atingido o esforço limite, ele rui e em seu desmoronamento arrasta consigo o organismo psíquico, porque o organismo psíquico e o organismo físico representam respectivamente o polo positivo e o polo negativo do organismo humano, os quais devem coexistir em complementaridade harmônica. Na fase mística, o organismo físico sofre e se adapta, em virtude de sua notável elasticidade, à extrema tensão psíquica. Mas, atingidos seus limites extremos de elasticidade, reage violentamente e rui, arrastando consigo o organismo psíquico. Portanto, os momentos místicos são breves, mas de intensidade máxima. Esses momentos são possíveis apenas em condições de quietude, de recolhimento e isolamento. Deles, ele sai fisicamente esgotado e se precipita nos planos mais baixos de consciência. Não pudemos observar pessoalmente o escritor em seus momentos místicos e, portanto, não estamos em condições de dizer mais do que isso.

Na fase de ultrafania, Ubaldi apresenta excepcional sensibilidade e potência de gênio. Tem a visão direta e consciente da verdade, participa intimamente da vida do universo e sua consciência dilata-se em horizontes sem limites. Desses momentos inspirativos saiu, de jato, A Grande Síntese. Nos momentos de inspiração ou de ultrafania, e sobretudo nos místicos, a natureza humana de Ubaldi acha-se superada. De humano, sobrevivem apenas as funções reduzidas do organismo físico, que, obviamente, não pode subtrair-se de todo às leis que o governam. O organismo físico acompanha dolorosamente o organismo psíquico, e, em certos momentos de esforço máximo, parece esfacelar-se. Isto não ocorre nem pode ocorrer, pela razão que, atingidos os limites extremos de resistência, ele reage automaticamente e cede, arrastando consigo o organismo psíquico, analogamente ao que ocorre na fase mística.

   Nestas fases realiza-se a maior e mais elevada produção literária ubaldiana. Nestas fases o organismo físico sofre esforços e conturbações verdadeiramente apocalípticos, e em certos momentos tudo parece desmoronar e incinerar-se. Isso não ocorre pela automática auto-regulação de que falamos. A sua produção literária nasce prevalentemente nesses momentos e representa um parto muito doloroso. As páginas de seus livros são pedaços de carne, são escritos com seu sangue, são momentos de vida vivida em grandeza e dor excepcionais. Nem sempre ele escreve nesses momentos particulares, porque às vezes suas condições psíquicas não lhe permitem escrever. Frequentemente confia à pena a lembrança fiel de uma visão precedente. Indispensável acrescentar que, no âmbito dessa fase, sua consciência não se mantém estática, mas está sujeita a flutuações mais ou menos intensas, pelo que ele vê em lampejos e não continuamente. Atravessa momentos de máxima exaltação e momentos de repouso. Nem poderia ser diversamente, por que a economia biológica o impõe. Naturalmente ele também não pode subtrair-se de todo à influência do ambiente, que age sobre ele, embora em medida e com efeitos mais limitados do que normalmente. Basta então um momento ocasional, ainda que mínimo, para suscitar ou para acelerar nele um determinado estado de consciência, porque, às vezes, basta uma leve força externa para completar maturações íntimas adiantadas.

Da fase de ultrafania, por processo natural de compressão de consciência, Ubaldi desce à fase "de mediunidade", onde adquire as faculdades próprias do médium. Não tivemos ocasião de observar pessoalmente nele essa fase e por isso não estamos em condições de ilustrar convenientemente suas manifestações específicas mediúnicas. Não obstante, cremos poder afirmar que pertencem à ordem dos fenômenos mediúnicos normais, a respeito dos quais está à disposição do leitor uma literatura copiosa e com os quais se ocupa seriamente uma nova ciência, a metapsíquica. Resta-nos apenas salientar que as faculdades mediúnicas são contidas e disciplinadas pelo equilíbrio e pela superioridade moral do próprio Ubaldi e que, de qualquer forma, elas são um estado biopsíquico de breve duração e estranha, como veremos, à característica biológica predominante de Ubaldi. Não nos delongaremos neste argumento, mesmo que pareça a muitos leitores ser o mais sugestivo, primeiro porque nada temos que acrescentar de novo ao que já se conhece dos fenômenos de mediunidade, e porque, como dissemos, não tivemos a possibilidade de fazer observações pessoais e particularizadas neste assunto. A personalidade gigantesca psíquica e o equilíbrio superior intelectual e moral de Ubaldi não o consentem; doutra parte, exibir essas faculdades seria atrair a vulgar e patológica curiosidade do público. Tudo isso pode adaptar-se a um médium de salão, não convém certamente à figura gigantesca de Ubaldi.

Do estado de mediunidade, por ulterior compressão de consciência, consequente de diminuição de potencial biopsíquico, ele desce ao estado próprio à generalidade dos homens. Nesse estado, personifica sucessivamente os tipos biopsíquicos humanos que, em progressão regressiva unem o plano biológico mediúnico ao biológico médio normal humano. Adquire, por isso, primeiro, as características e manifestações do homem de gênio, ou seja, notável poder racional puramente humano, vivacidade de inteligência, a que se seguem características menos pronunciadas, isto é, menor potência racional e intelectiva. E assim, gradativamente descendo chega a adquirir as capacidades intelectivas do homem médio normal. Não nos consta tenha ele jamais descido abaixo desta última.

Importa acrescentar que tudo o que dissemos se refere unicamente ao potencial biopsíquico ou de consciência. No que diz respeito ao estado afetivo e sentimental, ou seja, a seu estado de felicidade ou de dor, a coisa se passa diferentemente. Com efeito, ao dizermos que, no plano humano Ubaldi apresenta faculdades racionais e intelectivas puramente humanas, não significando que experimente estado de ânimo próprio da generalidade dos homens normais. Grave erro seria supô-lo, erro que impossibilitaria uma avaliação realística do mesmo. Quem compreende perfeitamente o fenômeno biológico que ele vive, chegaria por si às mesmas conclusões. O estado de felicidade e infelicidade, de alegria e dor, próprio a cada ser humano, tem causa em sua relatividade. É universalmente sabido que a dor deriva de necessidade insatisfeita, bem como a necessidade só surge da experiência. Quando uma experiência agradável falta em nosso ânimo, nasce a necessidade de repetição da mesma. Essa necessidade insatisfeita é, por sua vez, causa de sofrimento. Por exemplo, quem experimentou o prazer de vida cômoda e abastada, sofre quando perde a comodidade e a abastança. Muito menos sofre quem não fez essas experiências, ou mesmo nada sofre. Igualmente, quem experimentou as alegrias do afeto humano, sofre quando este lhe falta. Menos ou nada sofre quem nunca os experimentou. Citamos dois exemplos, mas poderíamos continuar indefinidamente.

Dito isto, que dizer de quem experimentou a felicidade suprema, isto é, o êxtase místico? Evidentemente nenhuma outra experiência pode proporcionar felicidade tão grande e daí se deduz que, quem experimentou essa suprema felicidade, está condenado a não achar felicidade em mais coisa alguma. Quem viu, por um instante sequer, o Paraíso, jamais poderá esquecê-lo e procurará sempre revê-lo. Compreende-se, portanto, que Ubaldi jamais poderá saborear as alegrias desta Terra. Só é feliz quando vive no plano místico. No plano ultrafânico é parcialmente infeliz; aumenta sua infelicidade no plano mediúnico e se torna máxima no plano humano normal. E como os momentos místicos, únicos capazes de fazê-lo feliz, são de duração breve, segue-se que ele vive prevalentemente na dor. Ele paga a visão fugaz do paraíso, com longas e persistentes fases de profunda dor que mantém em ebulição todo o seu ser. Esta sua dor imensa é, por sua vez, causa de sua progressiva catarse espiritual, catarse que o leva cada vez mais para ulterior superação de si mesmo. Está, pois, destinado à dor, cortou as pontes atrás de si, e não mais pode tornar a viver nesta Terra nem obedecer às leis biológicas que a governam. Está suspenso entre o céu e a Terra.  O paraíso apresenta-se-lhe só por instantes fugazes, a Terra lhe é inóspita. Drama tremendo e grandioso ao mesmo tempo. Ele vive sua suprema ventura biológica.

Chegado à profundidade da fase humana, após período mais ou menos longo de dor, a onda biológica de Ubaldi se inverte e retoma seu ciclo ascendente. Ele regressa aos primeiros planos donde descera, reproduzindo o fenômeno biológico idêntico e inverso ao descrito. Qual a íntima razão biológica de tudo isso? Não a conhecemos. Indubitavelmente isto se relaciona com as leis que governam a evolução nos planos biológicos supranormais, e difícil é percebê-las com clareza. Julgamos que as fases de depressão de seu dinamismo biológico sejam um êxtase, após a expansão, uma contração necessária para a consolidação de seu organismo físico e psíquico, em novo equilíbrio de forças, através das íntimas reações biológicas, ligadas às funções de trocas, portanto, fenômeno comparável ao cansaço que se segue a um estado de intenso trabalho, que impõe ao organismo o estado de repouso e que, ao mesmo tempo, determina o refazimento dos órgãos que trabalharam. Tratar-se-ia então de um trabalho involuntário, que se desenrola na intimidade do organismo físico-psíquico para consolidar um equilíbrio biológico mais elevado. O organismo psíquico se consolidaria numa fase biológica mais adiantada e, o organismo físico se harmonizaria com este, desmaterializando-se e fixando-se em estado evoluído mais avançado. Parece que o fenômeno semelhante nos seja dado observar nas funções físicas e psíquicas da biologia do homem normal. Nem doutro modo poderia ser, pois a lei que governa a vida dos homens é una, universal e necessária.

É mister observar ainda que, superado o vértice negativo da onda biológica, Ubaldi sobe mais forte e mais seguro, conquista mais luminoso estado de consciência e volta novamente à visão da verdade. Retoma o dinamismo biológico que lhe é próprio, atingindo com menor esforço possibilidades superiores às que antes alcançara. Indispensável agora precisar o que entendemos por visão da verdade. O vidente não vê a verdade com os sentidos humanos normais, mas com a percepção extrasensorial, ou seja, a vê dentro de si, sintonizando o próprio EU psíquico com a própria verdade, mediante um sexto sentido que a evolução nele criou. Considerando o organismo humano um aparelho receptor, pode dizer-se que o organismo de Ubaldi é um aparelho mais aperfeiçoado, mais sensível, isto é, apto a perceber sensações que, por sua natureza, um aparelho normal não pode perceber. O aperfeiçoamento dos sentidos humanos está em relação com as necessidades biológicas correspondentes ao plano evolutivo e ao ambiente próprio de cada plano. Sabe-se que o ambiente e a função criam o órgão: é lei universal e, portanto, vale também para o ser que estudamos. Resulta que, exercitando ele uma atividade biológica precipuamente psíquica, própria dos planos biológicos supranormais, e tendo-se subtraído à influência do ambiente propriamente humano, participando de um ambiente super-humano, conquistou diversas características e possibilidades biológicas diversas das nossas. As suas características biológicas harmonizam-se, portanto, com as leis da natureza e nelas têm sua justificação e explicação. Então, durante a fase de expansão da consciência quando os centros psíquicos estão em função, ele tem percepções extrasensoriais da verdade, nela se funde em simbiose mútua, que se vai tornando aos poucos de facultativa em obrigatória. Vive em harmonia com a lei universal, isto é, com o pensamento de Deus, supera a própria natureza humana e realiza uma natureza super-humana. Vive uma realidade que não pode ser compreendida por homens normais, nem expressa pela linguagem comum. Análogo a isto é o que ocorre aos cegos de nascença, que não podem compreender a natureza das diversas cores, por mais que lhes sejam descritas.

O fenômeno biológico vivido pelo nosso estudado é indubitavelmente muito interessante e revela-nos até que ponto pode avançar o poder psíquico. A Grande Síntese foi escrita de jato, sem que o autor possuísse adequada preparação científica. Pode parecer um prodígio, mas é apenas um fenômeno natural, ainda que raro; é a realização de uma possibilidade humana normal. Não há prodígios na natureza, mas existe uma lei biológica de que apenas conhecemos pequena parte. Ilimitadas são as possibilidades da ascensão humana, a força que as gera é aquela centelha divina que arde em cada um de nós, os motores são a dor e o amor. É necessária a força corrosiva da dor para quebrar o invólucro que nos mantém prisioneiros, assim como o fogo do amor para fundir a enorme couraça que nos separa da verdade. Rasgam-se os véus do mistério só pelo mágico toque do amor, e vão seria agir diversamente. Característica peculiar dos produtos mais elevados da evolução humana é, com efeito, a nota dominante do amor, de um amor sobre-humano e ilimitado. Essa é a característica fundamental de nosso estudado. Amor e dor são a inesgotável fonte de sua grandeza

Dito isso, compreende-se que seu poder intelectivo e vital está caracterizado por notáveis variações e que as experiências que o interessam são de natureza diversa e contrastam entre si vivamente. É fácil imaginar que desse contraste se origina um complexo de ações e reações psíquicas e físicas que o mantêm em estado de perene dinamismo, motivo de evolução e razão de alegrias sobre-humanas e de sobre-humanos sofrimentos. Compreende-se ainda quanto sofre ele no plano humano, quando sua consciência experimenta participações medonhas. Não admira que em tal estado de consciência, ele duvide, que se considere estranho à verdade vista e descrita; não admira que seja atormentado por incertezas, incorra em erros e despreze a si mesmo. Tudo isso pode parecer desequilíbrio patológico. Na realidade, é desequilíbrio, mas criativo, porque sua personalidade o compreende, o enquadra e o domina, e dele se serve para a própria subida. Demonstra-o sua autocrítica, serena e sincera.

Percebe-se ainda que, dada a particular excepcionalidade do drama, bem dificilmente pode Ubaldi receber válido auxílio dos homens. Estes não o compreendem nem o podem, porque a compreensão só é possível entre os semelhantes, e ele é muito diferente de todos. Ubaldi vive uma vida que os outros desconhecem e deve amadurecer sozinho sua grande aventura. Entrou só nesse atalho árduo, cujo objetivo é uma vida maior. Cortou as pontes atrás de si e não pode voltar. Seu único conforto são entidades superiores, e a elas estende ele dolorosamente os braços. A visão de Cristo sustenta-o no esforço sobre-humano. Poucos homens o compreendem, ainda que muitos o exaltem, e só os primeiros podem trazer-lhe um pouco de refrigério à sua grande paixão. Os segundos, com sua exaltação inconsiderada, muito frequentemente lhe fazem mal.

Ilustrado o fenômeno cíclico da vida de Ubaldi, aparecem lógicas e justificadas todas as manifestações de sua personalidade. Erros, dúvidas, incertezas, gênio, mediunidade, ultrafania, vertiginosas ascensões místicas, santidade, tudo isso constitui o conteúdo do caso biológico de Ubaldi, assim como sentimentos, possibilidades intelectuais e volitivas diversas, constituem a personalidade de cada um de nós. Se observarmos objetivamente e de perto a vida até dos grandes homens que a humanidade venera e coloca nos altares, mesmo neles achamos também grandes e pequenas coisas. Segue-se que, por causa das múltiplas e contrastantes manifestações de sua personalidade, nosso estudado pode parecer, conforme o aspecto em que seja considerado, um santo, um gênio, um médium, um homem normal ou um doente mental.  Pode, pois, inspirar admiração, amor, ou compaixão. Essas definições estarão certas se as olharmos em seu conjunto. Então, quando quisermos fazer um juízo sintético e realístico de Ubaldi, precisamos considerar suas múltiplas e contrastantes manifestações, sem considerar o tempo de cada uma delas. Só assim teremos uma visão objetiva e sintética dele. Fora disso nos perderíamos num labirinto do qual seria muito difícil sair. Julgá-lo-emos, pois, em função de todos os seus atributos, ou melhor, segundo a soma algébrica, se assim podemos dizê-lo, de seus valores positivos e negativos. Não é fácil esse cômputo, inútil dizê-lo, sobretudo porque é extremamente difícil estimar o valor biológico de cada qualidade, tratando-se de avaliações muito incertas e totalmente subjetivas. Não obstante, tentaremos uma apreciação desse gênero; ainda que não seja exata, será pelo menos suficiente para orientar o julgamento num plano que se afaste o menos possível da realidade. Esclareçamos que nossa apreciação se refere à sua personalidade tal qual se apresenta no momento, sem nenhuma relação com o passado.

Dissemos que a personalidade de Ubaldi oscila entre o plano normal e o plano místico. Acerca deste, fazem prova as visões e estados de êxtase. Convenhamos que não existe um plano místico, do qual se possa tratar em sentido bem definido e ao qual nos possamos referir, pois, como ensinam as doutrinas esotéricas, existem muitos planos místicos, sendo eles mesmos planos biológicos. Não estamos em grau de estabelecer até que plano místico tenha Ubaldi subido, e portanto, prudentemente, queremos supor que seu potencial biopsíquico possa erguer-se até o primeiro plano místico. Aceita essa suposição, segue-se que sua personalidade pode considerar-se oscilante entre o plano normal humano e o primeiro plano místico. A distância entre esses dois planos, mesmo se não podemos apreciá-la com segurança, é sem dúvida notável. Sabemos além disso, que ele permanece no plano ultrafânico durante metade de seu tempo, ou seja, em um ano, permanece seis meses em estado ultrafânico. Na outra metade de seu tempo está em condições normais, mediúnicas e místicas. Não podemos precisar quanto tempo permanece em cada uma dessas três fases. De qualquer forma, é certo que as experiências místicas são de duração breve e de intensidade excepcional. Com esses poucos elementos, é sem dúvida impossível deduzir conclusões precisas. Aliás esta atividade biológica particular de Ubaldi não se presta a medidas e análises mais minuciosas, pois embora possíveis, de pouco serviriam a nosso objetivo, desde que os momentos biológicos têm valor próprio intrínseco, que não pode ser apreciado pela medida do tempo. Poucos minutos de suprema tensão mística têm um significado biológico que transcende qualquer apreciação humana e não podem ser avaliados em confronto com os momentos de atividade biológica normal.

   Tudo considerado, cremos poder concluir que a atividade biológica do "sujet" transcende a atividade biológica do homem normal. Além disso, julgamos não ser arriscado afirmar que a evolução biológica da personalidade estudada superou de modo notável o plano biológico próprio do homem normal, e que, portanto, nós achamos diante de um caso interessante de homem supranormal. Não estamos em condições de dizer com precisão até que ponto supera ele o plano normal, mesmo porque não conhecemos a unidade relativa de medida, e não sabemos — como talvez nem ele mesmo o saiba — a que grau de amadurecimento esteja ele chegando. Para não incorrer em erros prováveis de avaliação, limitamo-nos, pois, a definir Pietro Ubaldi como um tipo biológico super-humano.

Pietro Ubaldi é um super-homem. Definir Pietro Ubaldi um super-homem talvez pareça arriscado. Talvez alguns se escandalizem. Não é razoável, porém que isso aconteça, como o não seria se disséssemos que o homem civilizado é um super-homem comparado ao troglodita, ou que Fulano é mais evoluído que Sicrano. O super-homem não é um ser privilegiado que surgiu prodigiosamente neste mundo, dotado de qualidades e merecimentos excepcionais por concessão do Alto. É um homem, apenas um homem, que em sua evolução precedeu os seus semelhantes, porque, mais que eles, soube lutar e sofrer, ou, se os preferirem, pelas mesmas razões que nos fizeram seres mais evoluídos que os selvagens. Ele pagou e paga duramente o preço de sua superioridade. No altar da Divindade sacrificou sua personalidade humana, para realizar a super-humana. Tem o que deu, nada mais, porque a Lei é justa. Qualquer um de nós pode chegar onde ele chegou e superá-lo, no curso de evolução individual. Todos podemos transformar-nos gradualmente em santos e anjos, todos podemos realizar nossa natureza divina. Todos a realizaremos, e então terá descido à Terra o Reino de Deus.

Tudo o que até agora dissemos de P. Ubaldi só tem valor, naturalmente, enquanto não sejam falsas suas manifestações externas. Se mentindo houvera, tudo quanto dele dissemos automaticamente cairia, e quem julgamos um super-homem seria, ao invés, o mais miserável dos homens. É possível que P. Ubaldi nos tenha mentido? Decididamente o recusamos. Tudo dele se poderá pensar, menos que tenha mentido toda a sua vida. Para atingir um ideal de vida evangélica, voluntária e conscientemente abraçou uma vida que seria rejeitada por qualquer homem normal nesta Terra. Aceitou uma vida de dor e sacrifício, consumiu sua vida em nome de um ideal. Que aspiração puramente humana teria podido impeli-lo até este ponto? Cremos que, qualquer coisa que dele se pense, não se pode pôr em dúvida que ele seja um homem inteligente. Ora, como poderia um homem inteligente abraçar uma vida de dor, só pelo gosto de mentir? Poderia ter escrito tudo o que escreveu, se verdadeiramente não o tivesse sentido? A dor arranca do rosto qualquer máscara; quem sofre não sabe mentir. De qualquer modo, não seria racional levar a desconfiança até este ponto, mesmo porque não há provas que autorizem uma suspeita, e ainda porque não basta negar uma verdade para destruí-la.

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Passemos, agora, a examinar sua personalidade à luz da razão normal e da ciência. Este é um método de pesquisa particularmente seguro, mas de possibilidades muito limitadas. Admitindo que a ciência aceita a evolução biológica de todos os seres vivos, é mister, para avaliar o valor biológico de P. Ubaldi, estabelecer se ele pode ser considerado um tipo biológico destinado a ser esmagado pela evolução, ou para triunfar sobre ela. Tem isto importância fundamental. Aliás, nisto reside todo o problema. Não é fácil apresentar uma resposta aceitável, por muitas e óbvias razões, mas sobretudo porque atualmente é difícil, senão impossível, conhecer as características biológicas do homem que será criado pela evolução. De fato, não se pode saber a priori como será o homem do futuro, como há séculos atrás não teria sido possível imaginar as características do homem do século vinte. Tão pouco conhecido é o homem, tão obscuras as leis e causas da evolução, que qualquer previsão teria sempre sabor pessoal e seria, portanto, muito incerta. Nos organismos humanos há caracteres recônditos e forças potenciais de que nenhuma pesquisa poderia hoje fazer o levantamento e a interpretação. Possui a ciência formidável método de pesquisas, conquistou posições soberbas, mas — mister é reconhecê-lo — ainda é criança, tem as possibilidades de um infante, a quem pertence o futuro, mas que ainda está relativamente inexperiente e às vezes, mesmo, teimosa. Defeitos da juventude que o tempo liquidará, mas defeitos notáveis, especialmente quando se lhe pede a explicação de problemas da natureza do que estamos estudando.

Dito isso, conclui-se que existem raças e indivíduos que estão destinados a ser eliminados pela seleção da evolução, porque são fracos, e outras raças e outros indivíduos que, ao contrário, estão destinados a sobreviver, porque são dotados de superiores possibilidades biológicas. Desde que as novas raças dominantes lentamente surgem das raças pré-existentes, e do seio destas saem triunfantes por fenômeno natural da seleção, é claro que em cada raça existem indivíduos de possibilidade biológica superior e outros de potencialidade biológica inferior, ou seja, que existem exemplares destinados a propagar-se, no futuro, e outros destinados a desaparecer. A potencialidade biológica dos indivíduos que constituem qualquer raça é, pois, muito diversa, e os próprios indivíduos, a esse respeito, são distribuídos na raça de acordo com uma gama de valores biológicos progressiva ou regressiva, como se queira chamá-la. Estudando estatisticamente o fenômeno pode observar-se, além disso, que em cada raça existe um grupo muito numeroso de indivíduos dotados de características biológicas médias e dois outros pequenos grupos com caracteres opostos, porque de qualidade superior ou inferior aos do grupo biológico médio. Os indivíduos pertencentes ao primeiro grupo são os chamados normais, os componentes dos outros dois grupos, anormais.

O que ficou dito vale para as características morfológicas e as funcionais. Cremos, pois, razoável estender a apreciação também pelo que diz respeito à potencialidade biológica dos indivíduos. Mesmo sendo dificilmente apreciável e cognoscível a potencialidade biológica dos exemplares de uma raça, acreditamos que, analogamente ao que se observa nos caracteres morfológicos e funcionais, possa afirmar-se que em cada raça, existe um grupo muito numeroso de indivíduos de potencialidade biológica normal e dois pequenos grupos de potencialidade biológica anormal, de valor oposto. Tudo isso teria de verificar-se necessariamente, dada a relação de estreita interdependência que parece existir entre os caracteres morfológicos e funcionais e os caracteres biológicos mais profundos, que individuam cada personalidade. Sabemos todos que os indivíduos não sujeitos às doenças e os em perene estado patológico são em pequeníssimo número, ao passo que a grande maioria é constituída de pessoas que adoecem irregularmente. Sabemos mais, que os indivíduos fortíssimos e os fraquíssimos são exígua minoria, enquanto a grande maioria se compõe de indivíduos medianamente robustos. Poucos são os gênios, os santos, os imbecis, e os delinquentes, numerosíssimos os medianamente bons e medianamente inteligentes. Análogo fenômeno estatístico deve ser necessariamente encontrado também em relação com a potencialidade biológica, na qual se exercita o trabalho seletivo que realiza a evolução. A expressão gráfica do fenômeno é uma curva em forma de sino, também chamada curva de Gauss.

Daí se deduz que em cada raça existem três grupos de indivíduos, dos quais, um pequeno, constituído por indivíduos dotados de baixo potencial biológico, destinados a ser esmagados pela evolução e a extinguir-se; um segundo grande grupo, constituído por indivíduos dotados de potencialidade biológica média, destinados à conservação da raça; e enfim um terceiro pequeno grupo, dotado de potencialidade biológica superior, e destinado a criar lentamente uma raça superior, isto é, o produto da evolução. Verificado isso, deduz-se que os pioneiros da evolução pertencem à anormalidade, ou seja, são anormais. Visto que existe uma anormalidade positiva e uma negativa, resta-nos examinar quais são as manifestações biológicas que caracterizam as duas anormalidades opostas. Uma descrição de caráter geral seria quase impossível e não adiantaria nem à clareza, nem à exatidão. Pois, seria mister descer à particularidade de cada raça e de cada indivíduo, e aí fazer as próprias observações e apreciações. No estado atual de conhecimento da matéria, cremos não seja possível agir doutra forma.

Feita esta necessária digressão de caráter geral, retomemos o estudo de nosso "sujet". Não há dúvida de que as manifestações biológicas deste, e de modo particular as psíquicas, pertencem à mais nítida anormalidade. Achamo-nos, então, diante de uma criatura que representa o produto ou o refugo da evolução. A qual das categorias pertence ele? Não é possível dar uma resposta aceitável se antes não o analisarmos em todas as suas peculiares manifestações biológicas. É o que agora tentamos fazer, por meio de um exame atento de suas características físicas e psíquicas.

O funcionamento do organismo físico de P. Ubaldi não se diferencia de forma acentuada da dos homens normais. No entanto, existe uma diferenciação, mas de caráter positivo: ele é particularmente resistente aos agentes patógenos e aos esforços físicos. Tem sessenta anos completos e goza de ótimas condições de saúde. Prova-o o fato de que normalmente jamais se utiliza de médico. Seu aspecto exterior não denota nenhum depauperamento, mas ao contrário tem características relativamente juvenis. E isto, não obstante o regime dietético extremamente parco e o maior descuido com que trata seu organismo. É fora de dúvida que qualquer organismo humano normal sofreria inevitável depauperamento orgânico, se fosse explorado tanto e tão sumariamente alimentado e tão mal guardado. Surpreende em verdade, como, nessas condições, possa seu organismo manter ótimo seu funcionamento. Normalmente, alimenta-se apenas uma vez por dia. Sua alimentação é muito frugal, e podemos testemunhá-lo porque durante vários meses sentamos com ele à mesma mesa. Trata-se de uma refeição rigorosamente racional, segundo as leis dietéticas e a preço fixo. Às vezes toma, à noite, uma xícara de leite ou pouco mais, às vezes nada. A quantidade de calorias que fornece a seu organismo é, indubitavelmente, uma fração exígua do mínimo necessário para o homem normal. Isto não o impede de ser dinâmico mesmo fisicamente, e de suportar esforços materiais, como o de ir visitar sua família, pedalando setenta quilômetros de bicicleta, de Gúbio a Santo Sepulcro.

Desenvolve concomitantemente três profissões, cada uma das quais poderia bastar para um homem: 1º) o ensino; 2º) a produção literária e o cuidado da impressão de seus trabalhos no mundo, com uma correspondência epistolar em seis línguas diferentes, em média com cinquenta cartas por semana; 3º) o trabalho doméstico para si mesmo, pois vive só, sem empregados. Desprovido de todo auxílio, de toda assistência, tem que fazer tudo por si mesmo. Quando tem febre ou qualquer indisposição, suporta seu mal sem ir à cama, em plena atividade. Muito raramente, e só em casos graves, resigna-se a ir para o leito. Suporta indiferentemente calor ou frio. No inverno, jamais aquece sua casa, apesar do excepcional rigor da localidade em que habita, particularmente fria e sujeita a neves. Vive em pobreza voluntária, abolindo até as mais elementares comodidades, não só para atingir seu ideal de vida evangélica, como pela satisfação de vencer todas as dificuldades. Seu caráter é indubitavelmente forte, e seu organismo também. É evidente, pois, que possui qualidades intrínsecas que o diferenciam da normalidade no sentido positivo.

Sobretudo, porém, surpreende como seu sistema nervoso possa manter sem quebrar, o ingente trabalho a que está sempre submetido. Bastará recordar que só conhece o repouso das horas de sono, muito pouco aliás, pois durante todo o tempo restante fica submetido a incessante tensão que enfraqueceria qualquer sistema nervoso normal. Trabalha durante várias horas, à noite, que para ele são as melhores, porque todos dormem e estão em silêncio. Só de vez em quando lhe aparecem pequenos períodos de cansaço dos quais prontamente sai sem chegar a ter verdadeiro esgotamento nervoso. Esses momentos de depressão verificam-se após períodos de trabalho intelectual excessivamente intenso; às vezes os precedem, como se a vida se preparasse por si mesma, ao esforço que depois terá de fazer. Tudo considerado, pode verificar-se que nele prevalece o trabalho intelectual e espiritual, sustentado por um sistema nervoso particularmente poderoso, resistente e hipersensível. Lembremo-nos, a mais, que, durante os períodos de atividade mística, seu sistema nervoso é obrigado a suportar fortes comoções, em virtude dos grandes deslocamentos em seu potencial, em consequência do que, ao sair deles, se encontra parcialmente perturbado e alterado, tal como sucede a qualquer sistema nervoso normal submetido à ação de poderosas comoções emotivas. Após longas e intensas experiências místicas, o sistema nervoso apresenta anomalias e alterações particulares as quais, entretanto, desaparecem em pouco tempo.

Falou-se de neurose. Seja. Mas que é neurose, e sobretudo a neurose de nosso estudado? Julgamos que qualquer neurológico capaz e honesto, em semelhante caso, seria, ao menos, prudente antes de exprimir um diagnóstico conclusivo e uma apreciação do mérito. Cremos que seja mister muita cautela ao sentenciar a respeito desta matéria, porque podemos incorrer no erro de considerar patológico o que seja natural manifestação biológica supranormal. Do que dissemos, conclui-se que o organismo físico de P. Ubaldi pode ser considerado, por motivos óbvios, mais do que normal e dotado de qualidades intrínsecas que o diferenciam de modo positivo do homem normal.

Feito este breve exame das qualidades físicas, passemos a observar suas qualidades psíquicas. Diga-se de início que as capacidades intelectuais do mesmo podem considerar-se sem sombra de dúvida superiores às que são próprias do homem normal médio. A esse respeito, racionalmente não se pode duvidar. Por exemplo, a concepção geral de A Grande Síntese, qualquer que seja o juízo que dela se faça, é sem dúvida o produto de uma mente incomum. Já que universalmente é conhecido e aceito que o poder do gênio é um fator de importância primordial e ao mesmo tempo índice do valor intrínseco do homem, segue-se daí que, mesmo sob este aspecto, ele apresenta uma nítida superioridade em comparação com o homem normal.

Reconheçamos que não basta alguém saber escrever um livro ou livros diversos e geniais, para que se possa considerar superior aos outros. O valor de um homem não é constituído só por isso, aliás de pouco valeria se esse homem não soubesse viver as ideias que professa e se elas não fossem capazes de influenciar outros homens. Vive Ubaldi suas ideias e são elas compreendidas e vividas por outros homens? Sem dúvida. Toda sua vida é a exteriorização prática das mesmas, o plebiscito de concórdia e amor que a ele chega de homens de todas as partes do mundo, demonstra que essas ideias já tiveram sua grande função biológica. Denota isso que elas não são apenas literatura ou força potencial de possibilidades problemáticas, mas já são uma força real em ato. Sem dúvida elas caíram em quem estava preparado, por sua natureza psicológica, para percebê-las; mas isso não impede que uma ação específica possa igualmente a elas atribuir-se, ainda que como função complementar. É suficiente um lampejo nas trevas, para indicar-nos o caminho, e isso tem grande importância, mesmo se o resto do caminho tiver que ser percorrido com nosso esforço. As qualidades morais de Ubaldi são certamente muito diferentes das do homem normal de hoje e de ontem. A vida que exterioriza a substância nos atos, é a vida segundo a moral evangélica, a prática cotidiana e inteligente das bem-aventuranças anunciadas por Cristo na Montanha. Pode mesmo dizer-se que a concepção ideológica e moral de Ubaldi é a concepção profunda e substancial do Cristianismo, do Cristianismo bebido em suas fontes mais puras, livre das mortais dentadas dos dogmas, das tradições e dos formalismos que, através da letra, matam o espírito. Essa concepção não contrasta aliás, antes, harmonizam-no, em suas linhas essenciais com as profundas concepções esotéricas de todas as religiões da Terra. Caminha na esteira moral deixada pelos santos e iniciados de todas as crenças do mundo. Com esta afirmação, permanece bem afastado de nós a intenção de enquadrá-lo em qualquer grande organismo religioso, a fim de valorizar-lhe a personalidade a preço baixo. Pensamos em fazer apreciações críticas dessa forma de moral, para pesquisar se ela é a moral dos homens superiores, ou a dos homens fracos, que vivem à margem da coletividade como refugo patológico. Observemos de perto esses homens, chamados santos, estudemo-los no ambiente biológico humano, tal como a nós se apresenta neste ambiente em que vivemos.

O "modus vivendi", o hábito moral, as aspirações e as ideias desses homens excepcionais, são totalmente opostos aos dos homens normais. Ao egoísmo, à violência, ao ódio, à busca dos prazeres materiais eles contrapõem o altruísmo, a mansidão, o amor, a busca das alegrias espirituais. É uma verdadeira e própria inversão de valores, é a revolução moral, cujo conteúdo está substancialmente traçado nas bem-aventuranças anunciadas por Cristo. Eles voluntariamente renunciam aos prazeres que outros com ingentes sacrifícios buscam, e, acima desta renúncia, procuram e encontram alegrias espirituais conhecidas só por eles. São homens dotados de grande força de caráter, de máxima sensibilidade, bondade e poder de intuição. E já que esses homens têm necessidades, desejos, aspirações e finalidades opostas aos da generalidade dos homens, segue-se daí que entre as duas partes não há razões para luta e hostilidades. O santo apresenta-se à sociedade como ser inócuo; pode despertar incompreensão ou desprezo, mas materialmente não é combatido. Esta é uma forma de incolumidade que representa privilégio de grande valor. Como seria possível combater um homem que passa entre nós amando e beneficiando, que nos ama quando o odiamos, que faz o bem mesmo quando lhe fazemos mal, que tudo dá sem nada pedir para ele? Poderemos considerá-lo um louco, mas não teremos motivos para combatê-lo, e muito menos para liquidá-lo.

Só em circunstâncias particulares pode ocorrer que eles sejam combatidos ou até liquidados. Isso aconteceu no passado e poderá ocorrer no futuro. Diz-nos a história que alguns desses homens extraordinários sofreram o martírio e as razões são evidentes. Santos particularmente dinâmicos, com imenso amor aos oprimidos, encontraram-se com os opressores e pagaram com a vida. Outros suscitaram sentimentos novos na massa, de equidade e justiça, contrastando com privilégios de organizações sociais particulares, as quais reagiram suprimindo ou perseguindo o adversário. Sucedeu ainda que esses homens colidiram contra os privilégios ou a corrupção de comunidades eclesiásticas, e foram por estas direta ou indiretamente suprimidos, perseguidos, ou de qualquer forma impedidos de agir. Mas que ocorreu, quando eles subiram ao patíbulo ou foram perseguidos? Nesse momento, eles conquistaram a coroa do martírio que, com sua ressonância sentimental nas massas, assinalou a condenação dos opressores. Portanto, ou não são perseguidos, e gozam do privilégio da imunidade, ou são combatidos e então conquistam os louros do martírio, fator psicológico de poder inimaginável. Temos que considerar, de fato, que os princípios morais encarnados nesses homens são, consciente ou inconscientemente sentidos pela consciência das massas, que intuem neles a presença de um "quid" imponderável que as sugestiona poderosamente. A história ensina que quando um santo sobe ao palco do martírio, assinala esse dia seu triunfo e a derrota dos carrascos.

Tais seres, portanto, não podem ser golpeados eficaz e impunemente. Isso representa para eles uma vantagem digna de nota. Os homens normais não a têm. A moral praticada por estes os leva ao ódio, à luta, à supressão e à neutralização recíproca estéril. Poderão objetar que as massas sentem o fascínio desses homens porque são ignorantes ou supersticiosas; mas isso é falso e não subsiste diante da realidade evidente, de que o progresso da civilização humana conduz a um aperfeiçoamento moral que faz apreciar cada vez mais o amor, a bondade, o altruísmo, características predominantes nos santos em proporções excepcionais e heroicas.

Mas há mais ainda! Só entre esses homens achamos os taumaturgos, ou seja, os homens que conquistaram o poder de fazer os chamados milagres. Convenhamos que esses poderes pertencem à biologia natural, mas precisamos convir que também eles são o índice de um poder biológico extraordinariamente superior, que a generalidade dos homens ainda não possui. Notemos, ainda, que só esses homens têm, por vezes, possibilidades proféticas e outras manifestações de clarividência. São manifestações que maravilham profundamente, e que, por sua vez, são o índice de possibilidades intelectivas verdadeiramente superiores. Esses poderes ultrafânicos não podem ser apreendidos através da cultura, e isto também demonstra que eles pertencem à ordem das características biológicas intrínsecas, próprias apenas desses homens extraordinários. E a pessoa que estudamos é dotada de poderes ultrafânicos. A produção de A Grande Síntese, escrita de jato, sem adequada preparação científica, as previsões da guerra recente, contidas nessa mesma obra, e na Ascese Mística, são prova disso. A avultada anormalidade que encontramos em Ubaldi pertence, por suas características específicas, à natureza própria dos homens de que vimos falando. Julgamos, pois, que possa considerar-se uma anormalidade de caráter positivo, ou seja, uma anormalidade que se tornará normalidade, quando a evolução humana tiver caminhado mais uni pouco.

Concluindo: considerando-se que Ubaldi apresenta qualidades físicas mais do que normais, poder intelectual superior ao normal, qualidades psíquicas e morais de natureza tal que o subtraem quase completamente das influências negativas do ambiente, e o fazem dominar sobre elas, considerando-se que ele não pode ser eficazmente golpeado, mas ao contrário pode exercitar sobre os homens uma profunda função biológica, que interessa a parte mais importante da natureza humana, ou seja, a psique, pode-se racionalmente concluir que nos achamos diante de um caso de anormalidade positiva, isto é, de verdadeira e própria superioridade biológica.

Ocorre agora perguntar-nos, se uma sociedade de homens desse gênero seria compatível com o progresso e a civilização. É óbvio que se o não fora, estaria errado tudo quanto acima afirmamos. Preciso é notar antes de tudo que homens desta espécie não podem ser considerados parasitas da sociedade, pois que trabalham, e com seu trabalho ganham o próprio sustento. São homens que trabalham com inteligência e abnegação, que dão de si mesmo, contentes por ter apenas o quanto lhes basta para viver modestamente. Não são, portanto, contemplativos estéreis, mas ótimos trabalhadores, voltados para o progresso. Estamos também persuadidos de que uma sociedade constituída por homens que trabalham com muita vontade e inteligência, em que cada um ama seu próximo como a si mesmo; em que cada um dá tudo aos outros, só pretendendo o estritamente necessário; onde se ama e ajuda a quem sofre; onde não se mata nem se rouba; onde existe liberdade e fraternidade; onde o pensamento é livre; onde a dor é recebida como instrumento de libertação e de evolução; onde se sofre com o sorriso nos lábios; onde se desconhece a violência e se ignora o arbítrio, estamos persuadidos de que só essa seja a sociedade perfeita; a sociedade que todos os homens bons e inteligentes da Terra queriam realizar para si e para seus filhos. Estamos persuadidos de que uma sociedade assim constituída, seja aquele paraíso perdido, para o qual se voltam todas as ânsias da humanidade atormentada desta Terra. Considerado tudo isso, parece-nos razoável concluir que o tipo biológico representado por P. Ubaldi seja um tipo que a evolução não pode destruir, mas terá de conservar.

Doutra parte, não será difícil observar que a humanidade, mesmo através de seus erros e torpezas, tende a envolver para este tipo biológico. Pode observar-se, com efeito, que no coração das massas humanas surge consciente ou inconscientemente uma necessidade cada vez mais sentida de bondade, de beleza, de verdade. Sob as agitações da superfície, as grandes leis biológicas exercitam um trabalho subterrâneo preparatório e de maturação e cada vez mais exteriorizam a necessidade de bondade, de amor, de altruísmo. Hoje mais do que nunca podemos constatá-lo, se, sobrepujando as aparências, penetrarmos na realidade mais profunda que agita o coração das massas. Os políticos, os demagogos, os agitadores, só acham eco duradouro entre as multidões, quando fazem brilhar uma miragem de amor, de bondade, de liberdade, de altruísmo, de fraternidade. Os homens bons, altruístas, sábios, gozam de respeito e da veneração universal. O homem hipócrita veste-se com esses atributos para ocultar suas misérias morais e tornar-se agradável a seus semelhantes. As multidões anônimas e silenciosas trazem essa necessidade no coração. E, elas compreendem a quase totalidade dos homens. Comovei-as com a palavra que vem do coração e da alma, falai-lhes de amor e fraternidade, agi de modo a sobrepujar sua instintiva desconfiança, fruto de seculares enganos, e as vereis chorar comovidas.

E no entanto, estes são os tempos em que triunfam os assassinos, os prepotentes, os ladrões, os hipócritas, os astutos, os desonestos de todas as formas e cores, em que se troca por dinheiro tudo o que é sagrado, em que parece nada mais ser respeitado. Mas este, como dissemos, é um fenômeno visível de superfície: a realidade profunda é diferente. Do atual espasmo surgirá a reação e a última palavra será dita pela alma coletiva. Os maus serão destruídos por seus próprios delitos. O ódio, a maldade, geram ódio e maldade, que se destroem mutuamente; a bondade e o amor são por sua vez a gênese de mais elevado amor e de mais generosa e iluminada bondade. Pode-se dizer perfeitamente que o mal tem uma função biológica negativa e destruidora, e que o bem tem uma função biológica positiva e criadora. É por isso que estamos persuadidos de que o trabalho da evolução conservará as qualidades biológicas do santo e destruirá as opostas. Concluamos, portanto, que nosso estudado pode considerar-se um pioneiro da evolução.

*   *   *

Estamos no fim deste estudo e só falta dizer o que pensa Ubaldi dele mesmo. Substancialmente, ele tem consciência de representar o que até agora dissemos dele. Ele se aprecia ou deprecia, de acordo com o termo de sua comparação: o homem ou Deus. Diante do homem normal ele se considera superior, diante de Deus uma coisa bem miserável. Não deve surpreender-nos, pois, que ele fale aos homens com a linguagem do mestre e ao mesmo tempo se humilhe e aniquile diante de Deus. Tudo isso é profundo conhecimento e autocrítica serena e objetiva.

Que função biológica julga ele ter? Ajudar aos homens em sua evolução para uma vida superior. Ele vive para cumprir esse seu extraordinário dever que as leis da vida, que o pensamento de Deus lhe teriam confiado. Consome-se nessa função, que, com sua linguagem mística chama de missão. Crê firmemente nesta sua missão e nela empenha todas as suas forças. Dá testemunho de tudo quanto diz, com o exemplo de sua vida, fala pela imprensa, e raramente de viva voz aos amigos e discípulos. Ao conversar, jamais assume o tom de pregador. Sua linguagem é dialética. Discute com muita seriedade e paixão; gosta mais de ouvir do que de falar. Sua dialética é serena e persuasiva, seu pensamento é límpido, sem preconceitos e profundo; capta o pensamento do interlocutor com perspicácia e intuição surpreendentes. Dir-se-ia que sabe compreender até o pensamento que não foi expresso. Gosta de ouvir o opositor, jamais se detém em posições preconcebidas, é verdadeiramente um livre-pensador. Às vezes, mostra-se feliz por haver achado algo que aprendeu e toma notas. Interessa-se com grande paixão pelas questões científicas, que ele interpreta e enquadra com máxima precisão na vasta visão da verdade que nele está presente por visão intuitiva. Confia à imprensa toda sua personalidade, seus pensamentos, suas visões, seus dramas. Com a copiosa literatura dá sua alma à humanidade e a projeta no futuro. Seus escritos estão, já agora, lançados em todas as partes do mundo, traduzidos nas línguas mais difundidas, são acolhidos e compreendidos por homens de todas as raças. Um plebiscito de amor e de gratidão levantou-se para ele. Muitos foram os beneficiados: quem escreve isto, está entre eles. Arrastado por esta sua tarefa de bem, que se tornou a finalidade de sua vida, movido por este ideal de bem e de amor, dá-se todo com ardor. Sua pessoa humana se consome queimada nessa chama de amor, e só sobrevive a alma, que encontramos palpitante em todos os seus escritos. Ele se dá a si mesmo por um ideal grande, sua alma pertence à humanidade e a Deus. E caminha dolorosamente entre os homens, amando e beneficiando, criatura celestial mais do que humana, com o olhar dirigido às estrelas.

                 Verona — Itália, Páscoa de 1947.

                  (a) PAOLO SOSTER

É meu primeiro impulso. Sinto-me devedor a DEUS, antes de tudo, do inestimável prêmio de ser contemporâneo de Pietro Ubaldi e, mais ainda, de haver sido o primeiro brasileiro, talvez, a conhecê-lo pessoalmente em Gubbio, onde fui para lhe apertar a mão e lhe ouvir a palavra.

Alguns Espíritas compreenderão de pronto o motivo desta ufania mística:

Para os homens amadurecidos de nossa geração, Pietro Ubaldi não é só um homem que toda a gente pode conhecer. É também o gênio que teve a missão de sintetizar a Filosofia Religiosa do porvir, cujos primeiros fundamentos foram lançados de 1857 a 1869 em Paris por outro gênio missionário, Allan Kardec. O gênio só alguns Espíritas podem conhecer, pois isso não depende de vontade de amadurecimento. Não basta, de fato, ser chamado à crença espírita para conhecer o nosso missionário, mas ser escolhido. Sei de muitos que teimam em ignorar o valor da obra de Pietro Ubaldi e o refutam. Esses naturalmente, ignorando o assunto, não compreenderão o motivo de minha ufania. Nem lerão estas linhas, aguardando o seu ensejo. É para estes que escrevo, dizendo-lhes quem é o autor e a obra ainda marginada.

O AUTOR

Principiou a ser conhecido de nome nos meios literários ítalo-brasileiros em 1944, quando editou A Expansão colonial e Comercial da Itália para o Brasil, desenvolvimento da tese de Doutor em Direito que ele defendeu com distinção em 1940 na Universidade de Roma.

No mundo filosófico apareceu em 1928 com L‘Evoluzione Spirituale, ensaio publicado em série na revista romana Ultra. Conquanto os Espíritas experimentados já pudessem aí perceber o "médium" e a sua "crença espiritica" — pois o articulista afirmava ser "tangido a escrever em virtude dum impulso interior misterioso e indefinível", e sentir ao escrever que "as ideias lhe acudiam como a revelação duma recôndita entidade" existente dentro "dele", como revelação dum arcano íntimo", conservando na memória subconsciente ou anterior à vida atual — a explicação do seu fenômeno e da sua crença podia encontrar-se, conforme o próprio autor do ensaio, dentro da Filosofia clássica, da Psicologia comum ou, se mais, do Misticismo religioso. Sua vocação missionária de médium revelador só se tornou positiva três anos depois. Antes e primeiramente ele teve de fazer duas renúncias. Renunciou aos bens da fortuna, que passavam de uma centena de milhões de liras bem consolidados, abrindo mão de seus direitos de co-herdeiro entregando seu quinhão de herança à família, a fim de ficar, ele só, franciscanamente pobre, e cristãmente livre para seguir a Jesus. Renuncia ao múnus de advogado que seu título de Doutor em Direito lhe assegurava em qualquer foro italiano, a fim de melhor servir ao Mestre sem outros clientes. E assim pobre, sozinho, sem profissão privilegiada, confiado em sua intuição, partiu certa manhã como um apóstolo, levando apenas a túnica e a sandália. Partiu no mesmo dia em que deliberou a dúplice renúncia. Subiu para o seu misterioso Destino em que só ele na Terra acreditava. E o mundo o julgou a seu modo, segundo a aparência. E como simples peregrino penitente ganhou ao entardecer a estrada de Colle Umberto, destinada a entrar para a História do Espiritismo com o mesmo signo de luz da Estrada de Damasco na História do Cristianismo.

Pela madrugada, exausto de forças físicas, sentou-se numa pedra do caminho. E orou. Estava só dentro da noite estrelada e do silêncio ambiental, e sem rumo. Abrindo depois os olhos úmidos para contemplar o Céu imensamente distante, viu descerem duas Estrelas que, ao pousar no chão, tomaram a forma humana, transcendente e luminosa. As duas Entidades celestes marcharam em direção a ele. Não tardou a reconhecê-las, graças a memória espiritual. Foi a sua primeira visão na série missionária. Convidado, marchou entre elas, tendo à direita Jesus e à esquerda Francisco de Assis. E, caminhando, ouviu bem nítida e inconfundível a Voz do Cristo, que daí por diante, em seus escritos, passou a designar "Voz Dele" ou "Sua Voz". Ficou desde então garantido quanto ao alimento do espírito. Para ganhar o pão diário do corpo "em trabalho material", obteve em concurso a cátedra de inglês em ensino secundário. E foi designado para o Liceu de Módica, no sul da Sicília. Ali sozinho, completamente desconhecido por dentro e sem se dar interiormente a conhecer a ninguém, era para todos uma figura apagada, um simples mestre-escola ginasial. Um modesto "Chico Xavier" italiano.

E ali esperou ordens do Mestre para iniciar a missão esboçada na estrada de Colle Umberto. Nas horas vagas, afastava-se do centro para um horto distante, onde se quedava, pensando em Jesus e nos grandes problemas teológicos ainda a resolver. Um dia, quando ali orava a Ave Maria, o Mestre lhe apareceu e lhe falou. Conversaram. Selaram uma aliança. Trabalhariam em solidariedade, um no Céu, outro na Terra, visando ao preparo da Humanidade "espiritualizada" e destinada a ingressar no Terceiro Milênio Cristão. Na noite de Natal de 1931, Ubaldi recolheu-se a seu quartinho de pensão familiar; no qual havia apenas uma cama, uma cadeira e uma pequena mesa. O frio era forte e a cela não tinha lareira. Pensou em deitar-se para desprender-se. Mas veio-lhe o impulso irresistível para escrever. Sentou-se à mesinha e orou. E suas ideias se foram dissipando como trevas espancadas suavemente por uma luz que se aproxima. De repente ouviu aquela Voz inconfundível, a "Voz Dele".

"No silêncio da Noite Sacrossanta,

Escuta-me! Relaxa tudo o mais

O saber, as lembranças, a ti próprio.

Esquece tudo! Entrega-te Vazio,

Sem nada, inerte, à voz que é minha

No mais completo silêncio do tempo e do espaço

E assim vazio, escuta a minha voz

Ela te fala: - Surge! E diz : sou eu".

Foi assim que principiou o seu mandato. "Surge". E ele surgiu de fato nessa obra. Esta primeira e outras "Mensagens Espirituais" lançaram Pietro Ubaldi à missão reveladora. E isso se deu — como estava previsto na história oculta e ainda inédita do Espiritismo Kardequiano — ao fim da terceira geração espírita. Publicada em março de 1932 na revista "Alfa" de Roma, essa encantadora comunicação, cujas primeiras linhas traduzimos acima, assegurou desde logo a Pietro Ubaldi lugar de destaque na vanguarda do movimento espírita mundial. Analisada especialmente pelos dois mais abalizados e doutos espiritualistas da Itália — Bozzano e Trespioli — foi considerado pelo conteúdo e pela forma de pura origem espirítica, e de elevada procedência espiritual, acima da fonte comum. Daí por diante a fama do médium foi de "crescendo em crescendo". A segunda Mensagem, na Páscoa de 1932, e sobretudo a terceira, no dia do "Perdão" da Porciúncula" (2 de Agosto de 1932) ressoaram de maneira inusitada. Jornais e revistas profanos e folhas espíritas e espiritualistas de vários pontos da Europa transcreveram essas comunicações superiores, atribuindo-as sem a menor reserva à inspiração de Jesus. A própria Igreja Católica, por seus mais altos dignitários italianos, as aprovou. No Brasil — onde se dará a eclosão da Reforma — tiveram ampla e profunda repercussão. Essas três Mensagens, depois de transcritas no Correio da Manhã, em A Pátria, noutros diários estaduais e em quase todas as folhas espíritas do País, apareceram em livro em 1934, editado pela Federação Espírita Brasileira e espalhado gratuitamente. Na Itália, a exemplo do Brasil, também se enfeixaram num folheto em 1935. Mas, a par das Mensagens que falavam ao coração, começou Pietro Ubaldi, em Janeiro de 1932 (início da quarta geração espiritual) a receber e a publicar em série, na revista milanesa Ali del Pensiero (Asas do Pensamento), a obra monumental e inigualável intitulada A Grande Síntese, com a qual ingressou brilhantemente no rol dos grandes filósofos da atualidade e dilatou as bases científicas do Espiritismo. A primeira edição italiana, em 1937, esgotou-se rapidamente e constitui hoje preciosidade de colecionadores. Vieram em seguida outros livros, outras mensagens, outros escritos, tudo visando à exegese e à complementação dos diversos tratados existentes em gênero ou em germe em A Grande Síntese. E agora foi impresso no Brasil, em primeira mão, a obra marginada, Deus e Universo, décimo livro da série, que acabo de ler em original por finíssima gentileza e alta deferência do autor.

O que veio a lume com o título Deus e Universo, é uma grande síntese teológica", cuidando das causas primeiras e finais. A meu ver, constituirá o "elo central" que ligará A Grande Síntese ao livro prometido, ainda não escrito, e intitulado Cristo. Esses três livros monumentais - A Grande Síntese, Deus e Universo e Cristo —serão, penso eu, os vértices do Triângulo Religioso da III Revelação, que será simultaneamente científica, teológica e cristã.

De tal livro... Minha estultícia não me leva ao ponto de sequer tentá-la.

A Crítica

Deus e Universo é obra acima de minha capacidade de compreensão. Cada homem tem seu limite de entendimento. E o meu limite é demasiado estreito para apreender em espírito e verdade as lições profundas desse trabalho transcendental. Li-o com emoção crescente. Li-o mais com o coração que com os olhos. Reli-o mesmo em parte, continuarei a lê-lo na tradução. Mas (ai de mim) como o transeunte pobre que pára extasiado diante duma vitrina de joalheiro, não sabendo sequer avaliar o preço das preciosidades, namora-as por fascinação; cobiça-as por ambição; pode até pensar em furtá-las. E afasta-se pesaroso, com a" mente cheia de fantasias, ciente de que não tem a moeda necessária para a aquisição. Sinto porém que todas as lições são da mais pura qualidade

E sei por intuição e pela história oculta que vieram uma a uma diretamente do Céu, trazidas ao Mundo pela própria "Voz Dele", destinadas a enfeitar um dia o Templo Espiritual que o Cristo erguerá no Terceiro Milênio. Templo onde "Sua Voz" será "ouvida por muitos e não como hoje, apenas escutada por Pietro Ubaldi. E ao ouvi-la, muitos crentes ficarão em dúvida se escutarão a voz do "Eu sou" — ego central do Universo, ou o "Sou Eu" — ego do Cristo. Pois um e outro serão talvez a mesma pessoa para a humanidade espiritualista e Remida do Porvir.

(a)    CANUTO DE ABREU

A VERDADEIRA E INTEGRAL REALIDADE DE

PIETRO UBALDI POSTA EM EVIDÉNCIA

COM O MÉTODO PARAPSICOLÓGICO

- PSICODIAGNÓSTICO "BLASI"

Dr. GAETANO BLASI, Medico cirurgião e parapsicólogo Ex-sócio fundador da S. I. M. (Sociedade Italiana de Metapsíquica) e Diretor do Centro Experimental de Roma. Sócio correspondente da Associação Médica Metapsíquica Argentina. "Laurea d‘onore", em medicina cirúrgica, Universidade de Roma, 1915. Professor do Curso Internacional de Parapsicologia da Fundação Científica Romana Humiastowska. Professor do Curso bienal de Parapsicologia da Universidade Popular Romana.

PREÂMBULO

DADOS SOBRE O METODO COMPARADO "BLASI" DE

PSICODIAGNOSE PARANORMAL

O problema gnoseológico e psicológico do descobrimento objetivo da personalidade humana integral (consciente, social e o eu subconsciente profundo) não se resolve com os métodos da psicologia normal (testes e similares), nem com os psicoanalíticos, já que ambos se limitam aos extratos superficiais do eu, ou são condicionados pela boa vontade do sujeito e pela interpretação subjetiva dos dados por parte deste ou daquele investigador.

Para obviar tais inconvenientes idealizamos e experimentamos em muitos casos e durante vários anos um novo método parapsicológico, que nos permite o estudo objetivo da personalidade humana que não requer o concurso direto do sujeito, a elaboração subjetiva dos dados e, portanto, não sujeito à insegurança aleatória dos mesmos. Os dados que nos proporciona o nosso método são positivos, objetivos e controláveis. O problema gnoseológico assinalado permanece dentro daquele conhecimento intuitivo paranormal ou metapsíquico mais geral que postula a existência potencial na psique humana subconsciente de novas funções de E. S. P. (percepção extrasensorial) pela qual todo o Real (psicológico e físico) pode ser conhecido intuitivamente. O nosso método dá ótimos resultados, seja nos casos normais de personalidades ordinárias, seja naqueles muito mais difíceis, paranormais, de personalidades complexas ou múltiplas histéricas-sensitivas-médiuns.

O método pode definir-se: "Psicodiagnose paranormal" do tipo metodológico-qualitativo-comparativo-múltiplo do E. S. P. em contraposição ao quantitativo Rhüne. Este se vale precisamente daquelas funções do E. S. P. (intuitiva - metagnômica - telepática - criptestésica - pragmática - psicométrica) que hoje muitos indivíduos sensitivos ou médiuns apresentam do modo mais ou menos destacado e especializado, utilizáveis, facilmente, por um perito parapsicólogo quando tenham sido dirigidas e oportunamente fundadas ou especializadas na descrição da personalidade, seja diretamente, isto é, colocando o sujeito na sua presença, seja indiretamente, através de um objeto "testemunho" que haja pertencido à pessoa; método psicométrico ou de "Leitura" dos objetos (criptestesia pragmática). E isto realiza-se de vários modos: com objetos pessoais, com fotografias e com textos manuscritos. Vários indivíduos, incluindo quiromantes, ou radioestesistas e grafólogos, são verdadeiros sensitivos capazes de descrever as personalidades alheias integralmente, ainda que  as modalidades técnicas com os quais se explicam as suas faculdades divinatórias sejam diversíssimas. Citemos o caso do grande e bem conhecido grafólogo Padre A.    M. Moretti do qual nos servimos com resultados brilhantes em muitos casos.

É naturalmente necessário proceder com muita cautela e experiência para evitar fáceis erros, fugas sensoriais, paramnésia, truques etc., bem conhecidos de quem experimenta no terreno parapsicológico. Consultando mais indivíduos sensitivos, observo uma determinada pessoa. No registrar as diversas respostas com o magnetofone ou estenograficamente obtém-se um quadro poliédrico dessa pessoa no seu ambiente habitual e nos seus aspectos mais diversos (cada indivíduo revela de preferência um aspecto ou vários lados da personalidade consciente e subconsciente). Portanto, comparando os vários dados obtidos e confrontando-os entre si e com a realidade, podemos estabelecer um juízo positivo do valor objetivo deles e possuir um quadro completo da personalidade sob exames, integral do lado consciente e subconsciente e total nas qualidades da mediunidade eventual das qualidades que ela possui.

A ninguém pode escapar a importância que assume tal método, seja do ponto de vista científico ou teórico como do pragmático, empírico. Informamos acerca de algumas das experiências realizadas por nós diretas do centro experimental de Roma, da S. I. M. (Sociedade Italiana de Metapsíquica), com a assistência e colaboração de distintas e qualificadas personalidades: Profs. Pende, Ponzo, Mendicini, Cantelli, do Ateneo Romano; Leleza da Universidade Polaca; Canavesio da Universidade da Argentina; P. Alighiero Tendi S. J., Vice-presidente da Universidade Gregoriana.

A PERSONALIDADE INTEGRAL DO PROFESSOR

PIETRO UBALDI

Nota: Peço licença ao ilustre amigo por me ver obrigado a referir o seu caso detalhadamente, porque comprova fora de toda a possibilidade de dúvida a eficácia do meu método, dado a prova testemunhal que nos proporciona.

A experiência Iniciou-se há vários anos, isto é, 1948, em forma inopinada. Não conhecia pessoalmente a Ubaldi. Ignorava tudo acerca dele ou da sua vida privada. Por meio de pessoas conhecidas em comum, entrei em relações epistolares com ele, oportunidade em que me solicitou que lhe desse, a título de prova, os resultados de um exame metagnômico de seus escritos e de uma fotografia sua da juventude (Os dados que forneço são essenciais. Por razões de brevidade omito os de menor importância. a) Minha resposta grafológica a um escrito autógrafo de Ubaldi quando ainda não o conhecia pessoalmente.

Profundidade de intelecto que penetra minuciosamente nos problemas, quase cinzelando o pensamento que se destaca pela pulcritude e comunicabilidade, com equilíbrio, equanimidade e objetividade nos juízos sobre os demais. Tendência à especulação com poder inventivo e construção lógica; muita memória, não apenas conceptual, mas também verbal, o que o torna apto aos estudos de idiomas (ignorava que ensinava o inglês, sabia apenas que era um literato).

Muita sensibilidade e delicadeza de sentimento, com tendência à sensualidade, corrigida e sublimada com a tenacidade de uma vontade superior. Pode haver mudanças e ceder até a um certo ponto a sugestões alheias mais fortes. Preponderância dos fatores psíquicos do inconsciente, com introversão de tipo místico".

Com relação à fotografia da juventude a minha resposta foi a seguinte:

"Personalidade dupla, olhar penetrante. Forte vitalidade, através das oposições! Mas, quanta tristeza! Nota dolorosa. Fronte alta, espaçosa, que fala por si mesma; há nela uma luz; contraste com a firme acentuação labio-mental, índice de forte vontade e energia vital também em sentido físico" -

b)  Resposta da sensitiva (curandeira), M. Lombardi, tendo presente Ubaldi, mas sendo-lhe absolutamente desconhecido. Encontrava-se por casualidade de passagem e tinha vindo pela primeira vez a minha casa.

"É uma pessoa que lutou e sofreu muito por injustiças padecidas; aos 9 anos salvou-se por milagre de morrer afogado em água não corrente; um lago ou mar; tiraram-no pelas pernas; vejo sua mãe que lhe queria muitíssimo. Em 1941 grande susto e luta por acusações injustas. Em 1942 fora de sua casa teve uma desgraça que o fez sofrer muito. Todos os anos trazem vicissitudes e desgraças que sobreleva; sofrimentos com um pouco de luz. Também agora está em luta espiritual; não sabe o que fazer; muitos projetos para realizar. Por agora silencia, depois virá a luz.  Há uma entidade do além que o ajuda.

É são e viverá muito tempo. Conduziu-se sempre bem; mas foi mal recompensado. Encontra-se no caminho justo, mas terá que lutar muito. Encontra-se entre a bigorna e o martelo, que golpeia sobre a bigorna abrasadora. Tem uma força de espírito excepcional, como uma luz que desce do alto e o guia. Luz dentro da cabeça que sairá como uma auréola; mas não de santo. Esforça-se por despojar-se da materialidade e elevar-se espiritualmente sempre mais. Vejo-o subir por uma escada que chega ao céu, conduzido por um anjo. No alto espera-o Jesus com os braços abertos que lhe diz: “Vem, cumpriste bem a tua Missão”. Como os eleitos, traz a Imagem de Cristo no peito. A força espiritual o sustém, mas teve que adaptar-se a penitências.

c)  Resposta Psicométrica do Sensitivo C. Menozzi, sobre um manuscrito de Ubaldi:

"A letra é corrente e isto me diz pouco. Escrita de noite numa grande mesa, com lâmpada portátil que dá pouca luz, pelo que distingo pouco o ambiente, uma grande sala com móveis cor de mogno. Enquanto escreve respira fatigosamente. Chamam-no, levanta-se e sai. Escreve com facilidade, pessoa culta. Enquanto escreve tem um gesto habitual, característico: volta a cabeça de lado, para o lado direito e para cima, como para ver algo que não distingue e que chama a sua atenção. (Imagem de Cristo que crê o acompanha como seu guia). Vejo a figura de um morto, de cuja morte se entristeceu pouco por crer que passou a melhor vida. Vejo um lago, não sei a que se refere. A sua mãe está aqui, não é alta, tem ainda muito cabelo, muito ligada ao filho".

d)  Segundo Resposta de Menozzi, sobre um escrito de Ubaldi, mas desta vez compilado em estado inspirativo:

"Grande transformação na personalidade do escritor, o que o faz parecer outra pessoa. É uma mudança que não foi devida à diferença do tempo, mas ao modo de encarar a vida. A do primeiro escrito é mais dura, menos elevada do que esta, que trata dentro dos limites do possível, de fazer o bem. A primeira apresenta-o como mais nervoso, devido às preocupações, fastídios e quebra-cabeças que o fazem descontente. De caráter fechado não ri mais; sempre desgostoso, encontra-se deslocado; perdeu a fé em si mesmo, está à espera de um acontecimento, de uma mudança".

Agora encontra-se no seu estado de ânimo atual. Tornou-se muito mais sensível do que antes, até ao paradoxismo, quase mórbido, e sofre tremendamente; mas não é um neuropático: todo espiritualidade, cada vez mais complexa. Só por momentos é assim tão sensível. Então tem duas personalidades: a verdadeira, íntima, é como uma personalidade de sonho da qual é muito zeloso e que não quer de maneira alguma dar a conhecer. Uma pessoa que já não é jovem mas de características juvenis. Creio que esta seja a sua verdadeira personalidade: requintadamente boa, altruísta, generosa, espírito apaixonado realmente, enquanto a outra personalidade, a social, a que ele mostra, é fria, e ele sofre porque não pode conduzir-se e viver conforme a sua personalidade verdadeira, mais bela, que — fato estranho — tem megalomania, mas apenas com finalidade benéfica: queria ser grande somente para fazer muito bem à humanidade. Tem muito discernimento.  Agora parece ter-se tornado mais inteligente e refinado espiritualmente".

O presente ensaio foi publicado pela Revista Le Vie Dello Spírito, (ano IV Nº 1, 2, 3, 1947, Roma), com o título : "O conhecimento metapsíquico e o método comparado de psicodiagnose da personalidade", onde se referem mais detalhadamente às particularidades relacionadas com a luta espiritual de Ubaldi e com as autoridades eclesiásticas, individualizadas com exatidão pela Senhora Lombardi.

ANÁLISE COMPARADA DAS VÁRIAS RESPOSTAS

PARAPSICOLÓGICAS

As várias respostas parapsicológicos — as minhas, as de Lombardi e de Menozzi — concordam nos dados em muitos pontos, o que, mesmo prescindindo das declarações do próprio Ubaldi de que resultam verdadeiras quase em 100%, comprova que elas não são somente o resultado de uma indução consciente do plano racional, mas também um conhecimento paranormal, intuitivo, diapsiquico e se se quiser, telepático, metagnômico, por parte dos sujeitos sensitivos, pelos quais o "livro da Vida", a constelação pessoal, a personalidade integral de Ubaldi são revelados na sua realidade vivida, independentemente das limitações cronotópicas espaço-temporais do conhecimento normal racional. A afirmação de que não se pode rebater, não é válida, muito embora as condições em que se desenvolveram as experiências com os diversos sensitivos (ignorantes, por completo, de qualquer dado sobre a personalidade de Ubaldi e independentes uns aos outros) não se possa contestar, porque tem sua validez paranormal indiscutível. Outra é a questão da fonte da qual os sujeitos extraíram as suas informações paranormais, que entra no caso geral ontológico do conhecimento metapsíquico. Perguntamos: trata-se de uma fonte transcendente da entidade sobre-humana ou de uma visão "in speculum Dei", segundo a explicação espírita ou teológica (de místicos-profetas)? Ou vem no plano natural do "Psiquismo coletivo"? Ou como é nossa tendência, da comunicação interpsíquica humana, conforme a qual a "Mônada Leibniziana" não é mais incomunicável, mas tem no plano do inconsciente as suas boas janelas do subconsciente? Os fatos tornam mais atendível a explicação da "comunhão dos vivos" destacada no campo religioso pelo conceito do "Corpo místico de Jesus". Esta vai integrada com a doutrina do subconsciente e com a da "Imago"1 psicanalítica de Jung, completada por mim com a "memória cósmica", gonzos, da ordem cósmica e do mecanismo do universo.

É um dado positivo e comprovado experimentalmente que todo acontecimento, em cada fato físico ou psíquico, em determinado ambiente, através de um ato ou um gesto, num estado de consciência, pensamento ou imagem, não se anula, pelo contrário, deixa uma marca perene no tempo, suscetível de ser captada ou reevocada, vivida ou vista e percebida paranormalmente pelo sujeito humano sensível.

Nos estados hipnóticos, no sono normal, no transe e nos êxtases místicos, o psiquismo humano subconsciente entra por uma parte em relação ao psiquismo subconsciente dos outros indivíduos da coletividade humana e, por outra, em certos casos de indivíduos particularmente dotados, que chamamos sensitivos ou médiuns, com o plano transcendente no campo psíquico interindividual e memória cósmica. Daí toda a realidade fenomênica, presente, passada e em que alguns casos futura (para esta há outra explicação exposta por nós noutro lugar), está impressa e que o sensitivo é capaz de revelar, assim como para a memória mecânica ou cibernética ocorre com a fita magnética dos magnetofone ou na máquina eletrônica. As vibrações etéreas luminosas, radiantes, viajam no espaço interestelar milhões de anos-luz, praticamente um tempo infinito, e são suscetíveis de serem reveladas por um detector adequado; chapas fotográficas, radiotelescópios etc., com os quais nós, os terrestres, alcançamos a imagem viva e real de uma estrela longínqua dos confins do universo quando esta talvez não exista mais. Assim pode ocorrer com o sensitivo que se colocou, com o seu psiquismo inconsciente, em relação ao plano psíquico cósmico, com as vibrações registradas nele pela personalidade vivente (longínqua ou morta) — psicofísicas — e deixadas em tal plano da memória cósmica; é como se estivera ainda viva e por conseguinte susceptível de uma quase contingente ressurreição integrada pelos elementos psicológicos do sensitivo que a captou, personalizando-a.

O mistério do conhecimento paranormal com o meio chamado impropriamente "psicométrico" ou da leitura do objeto "testemunha" (criptestesia pragmática), que de algum modo registra ou facilita a comunicação paranormal com as citadas vibrações da realidade psicofísica fenomênica passada, não pode interpretar-se senão mediante esse mecanismo das marcas ou vibrações mnemônicas cósmicas que implicam um "campo psíquico" transcendente, uma influência direta do psiquismo sobre a matéria, assimilada por Panghestecher e outros, a uma impregnação psíquica da matéria.

A nossa interpretação natural do fenômeno metagnômico, compartilhada pela grande maioria dos parapsicólogos, encontra confirmação no caso de Ubaldi, quando Menozzi na sua resposta afirma: (....) "Não vejo a cor da gola da pelica que veste a mãe de Ubaldi, porque a sua mente não está nela". E assim são todos os numerosos dados positivos, reais, concordantes nas várias respostas. O aspecto físico juvenil (como aparece na fotografia de há mais de 20 anos) observado em visão pelos sensitivos no momento da experiência, se exprime por uma "leitura" quase mecânica, como se perante a visão de cada um deles, visão interior ou "espelho" anímico subconsciente, se exibisse um filme eletrônico registrador da individualidade psicológica de Ubaldi, da qual, no entanto, eles não percebiam senão fragmentos de ângulos visuais diversos a cada um, conforme as suas  equações pessoais", especializações e afinidades psicológicas.

Daí que a Senhora Lombardi, sujeito de tendências místicas, haja posto bem em relevo o lado místico da personalidade de Ubaldi, a sua luta interna de ascetismo espiritual e de luta externa num período particularmente crítico nas suas relações com o ambiente hostil, principalmente religioso oficial, e não destacou, como o fez Menozzi, as características psicológicas da dupla personalidade de Ubaldi. A descrição exata das particularidades do ambiente — gabinete de estudo, gesto, aspecto físico de Ubaldi e da mãe — feita por Menozzi é devida a sua particular sensibilidade perceptiva e à instrução que lhe dei de permanecer o mais possível no terreno dos detalhes positivos controláveis. A senhora Lombardi precisou que quando Ubaldi tinha 9 anos ocorreu o perigo de afogar-se num lago, sendo salvo pela mãe, enquanto que Menozzi viu apenas a imagem mental de um lago e da mãe, sem compreender a relação e o acontecido. Tudo isto não será talvez uma prova evidente de que em ambos os casos se tratou de uma visão paranormal de uma mesma imagem virtual vista parcialmente com "lentes" diferentes por dois sensitivos?

Particularmente instrutivo e importante do lado teórico é a concordância através da visão da senhora Lombardi, da escada mística (escada de Jacob) com Jesus no Alto, que espera por Ubaldi que sobe e leva a "Imago" Crística no peito, com a particularidade percebida em visão — exatamente por Menozzi — do gesto habitual de Ubaldi de olhar de lado para contemplar uma "Imago" que o acompanha sempre. Ubaldi precisou que tem a sensação de uma "presença mística" que o acompanha e que ele atribui a Cristo, motivo por que tem esse gesto habitual, feito por ele, e tido zelosamente escondido e por conseguinte ignorado de todos. Também a visão da Senhora Lombardi, simbólica, do martelo que golpeia sobre a bigorna candente, está certamente em relação, como o referiu o próprio Ubaldi, com uma mensagem da famosa médium Valbonesi, que no distante ano de 1935 lhe falou do martelo que golpeia a bigorna para consolidar a estrutura de sua alma. A concordância de palavras e significado são portanto características para excluir a coincidência fortuita entre as duas mensagens, e surge da visão atual de uma realidade mnemônica passada, registrada no subconsciente de Ubaldi. O mesmo pode dizer-se sobre o dado particular e significativo acerca da "Luz" mística que ilumina a mente de Ubaldi, estabelecido por mim e pela senhora Lombardi, que pode vincular-se, como depois me afirmou Ubaldi, a uma mensagem mediúnica recebida em 1932 — "A Luz do Espírito Santo te ilumina — A sua Luz espalhará os seus raios na tua mente".

Confirmando a nossa teoria "Psicométrica", está o fato de que Menozzi individualizou exatamente a influência diversa que tem o objeto testemunha, em nosso caso o dos escritos de Ubaldi, sobre as qualidades das informações paranormais que proporciona. O primeiro escrito, corrente, sem alma, diz pouco à sua intuição; ao passo que o segundo, carregado de espiritualidade, revela-lhe plenamente a dupla personalidade de Ubaldi.

Julgamos então, que nosso estudo deve fazer meditar os catões. Será justo, ou pelo menos oportuno, que uma personalidade "delicadamente boa, espiritualmente elevada, que traz em si a imagem de Cristo — coisa que se não poderia afirmar, com tanta segurança, de muitos religiosos — deva ser rejeitadas da comunhão dos fiéis? Isto somente porque obedecendo ao seu impulso interior que vem de tão expressiva "Imago", expande sua alma em obras que ele mesmo não atribui a seu merecimento pessoal. "O Espírito do Senhor sopra quando quer e onde quer", e este é o caso de Ubaldi. Ubaldi também, em sua opinião e na dos sujeitos, tem missão a cumprir no curso de sua vida, missão apostólica que lhe foi confiada pelo Alto. Os céticos podem considerá-la como auto-sugestão, mas a personalidade fundamental de Ubaldi como nos foi provado pela pesquisa metapsíquica, é de nível ético-religioso tão superior, que nos deixa perfeitamente tranquilos quanto às consequências de seu apostolado, mesmo se ontologicamente não transcendente. O mesmo não se pode dizer quanto ao que se refere indubitavelmente à mediunidade profissional, quando estamos diante de "sujeitos" que escondem personalidade muito equivoca e perigosa, coisa que ocorre com grande maioria dos médiuns de efeitos físicos e mesmo com alguns "ultrafanos" (. . . . .).

CONCLUSÕES

Concluímos nosso trabalho julgando haver demonstrado que o método de psicodiagnose comparada metapsíquica, proposto por nós, dá resultados satisfatórios e de alto valor técnico psicológico, susceptíveis de aplicação prática em todo campo que requeira o exame da personalidade humana, através do exame de sensitivo e de médium, e de qualquer outra personalidade que também interesse do ponto de vista teológico, jurídico e social, e não apenas científico.

No caso específico de Ubaldi, já que não se pode considerar definitiva a condenação no Index de dois livros seus, pois a autoridade eclesiástica não possui os dados suficientes para fazer um julgamento de toda a sua personalidade, como nós a possuímos; convidamos os que têm autoridade na matéria a exprimir seu julgamento sobre nosso trabalho e a respeito das conclusões que dele tiramos.

Baseados na pesquisa científica metapsíquica que referimos, concluímos que Ubaldi possui duas personalidades, das quais a mais importante, a verdadeira, tem alta espiritualidade e moralidade comparável à dos maiores místicos e ascetas. Concluímos que não é um médium no sentido comum, antes, suas manifestações exteriores e sua constituição psíquica mais profunda diferem totalmente, mesmo no inconsciente, daquela que costumamos encontrar nos médiuns.

Não há automatismos nem privação de vontade, para submeter-se a influências psíquicas extrínsecas perniciosas, com substituição de personalidade: a personalidade mediúnica e de transe.

Mesmo no estado inspirativo-criador, ele permanece sempre consciente em relação com o ambiente que o cerca, e se sua personalidade aparece transformada, não é nova personalidade que se impõe de fora, mas a sua própria, que ordinariamente está encoberta pela personalidade fictícia e social. Não se exclui uma influência transcendente que se exerça às vezes nele, mas, de qualquer modo, dados os frutos que lhe advêm, não pode ser de natureza perniciosa e "vitanda". Admitida essa influência, pode ser considerado um verdadeiro asceta-místico, ou então um místico natural.

(a)    Gaetano Biasi

Trechos de Mensagens mediúnicas recebidas pela médium Gisela Smiles (Via Aureliana, 63 - Roma), e transmitidas a Pietro Ubaldi, em Gúbio. Tradução do inglês.

"Pedro,

A luz do Espírito Santo te ilumina. Assim diz o Espírito.

Pedro, o Espírito de Cristo vive em ti e tu te tornaste completo porque ele afastará o mal do teu centro e de tua família. O Espírito daquele que multiplicou os pães e peixes está contigo, dentro de ti e tudo em redor de ti, aumentando em ti a substância e provendo de todas as tuas necessidades. Estás agora unificado com Deus, com o bem existente em toda a criação, e sua vontade para ti é prosperidade e bom êxito. Pedro, tu és rico porque teu Pai celestial é rico. Não és governado por nenhuma lei de temor, doença, limitação ou falência. O princípio do bem te governa, a ti e a tua vida, providenciando tuas necessidades. Lembra-te de que, para os que o amam, todas as coisas cooperam para o bem. Sê fiel, pois, à promessa que fizeste: seguir suas inspirações; e então, e somente, a vida será tão clara como o meio-dia; mesmo se houver escuridão, ela será mais clara que a manhã. Não tenhas ansiedade por coisa alguma.

Porque és Pedro, a rocha de novo escolhida sobre a qual Cristo construirá Seus novos fundamentos e Sua nova Ressurreição, e nada prevalecerá contra ela. Sua luz derramará seus raios em tua mente e está iminente em sinal exterior que te será dado: verás com os olhos internos. Ele revelará a ti, teus verdadeiros recursos espirituais e te alegrarás imensamente em sua generosa bondade. Sê, pois, fiel a Ele, e não temas nada.

Eu, o Espírito Inocência, em nome de †, ao nosso amado Pedro".

Mensagem recebida em Roma, em julho de 1932.

(....) "Sê forte, e não duvides. Foste guiado nas grandes estradas da luz e da justiça. Teu objetivo é olhar para a frente, a resplendente meta que sem dúvida atingirás (. ...). Lembra-te da certeza de que "Sua Voz" te deu. Vive contente, para que não se perca, nem te venha a faltar, ainda que seja a menor partícula da sabedoria que te envolve de todos os lados. Não temas, mas deixa resplandecer toda a riqueza da coragem dos Santos em teu rosto, como um sol flamejante. Sê poderoso com a grande energia das forças que são enviadas para tua renovação, pelo supremo Amor (....). Se foste escolhido, por que temes? E por que caminhas tremendo? Acaso te abandonará ou deixará de proteger-te o Centro da Luz Maior? (....). Tudo o que te foi dito, "É, e jamais será pisado e ridicularizado pelas almas que conhecem a realidade da vida eterna. Deixa os outros, que ainda estão vivos na Terra e não nasceram pelo espírito, rirem e zombarem de ti, em sua ignorância. A noite deles já passou e está próxima a aurora do nascimento espiritual; então compreenderão e verão a luz que agora rejeitam, porque não são capazes de discerni-la, e ainda não é chegado o seu tempo. Fica tranquilo e sente a eterna presença daquele que é nossa vida e nosso sol, a vida e o sol de tudo o que é criado. Em nome do mesmo, eu te abençoo, Pedro e através de ti ele abençoa o mundo, com o poder de seu amor espiritual.

Eu, o Espírito Inocência, em nome de †, ao nosso amado Pedro".

Mensagem recebida em Roma, em 26 de dezembro de 1932

*   *   *

Trecho de Mensagem mediúnica recebida pela Senhora Marjorie I. Rowe (35, Lindore Road, London, S.W. II - Inglaterra), da entidade Imperator, em 12 de junho de 1932, para Pietro Ubaldi e transmitida a ele de Londres, sem ser solicitada, e sendo ele desconhecido da médium. Tradução do Inglês.

(....) "Há uma grande luta em redor de ti (.....). Deves liquidar dúvidas nas mentes de muitas almas que necessitam de chuva espiritual, no árido deserto de suas vidas (.....).  O Cristo aparecerá em toda a Sua Majestade aos que prepararam suas vestes nupciais (.....) Amigo, o "maelstrom" (o vórtice) das condições mundiais faz parte do assunto sobre que escreverás. Assim fui mandado para dizer-te. E já registraste muitos pensamentos a esse respeito. Desejo dar-te ulterior mensagem de amor, e aproveito este ensejo para entrar em contato contigo (....). Minhas palavras são de vida e são a essência da Graça Divina. Sou a voz que fala das belezas do universo, do Reino de Deus na face da Terra, ainda que os homens a considerem uma arena de lutas. Bendito sejas, meu filho que ouves minhas palavras. Cristo abençoe a ti e a mim.

*   *   *

Trechos de Mensagens mediúnicas recebidas pela médium Bice Valbonesi, de Milão, para Pietro Ubaldi, transmitidas pela entidade "O Mestre".

"Ouves (.....). Obra conscientemente, como homem que sabe muito; usa a sabedoria. A fonte inspirativa que possuís te diz tranquilidade. Eis que a voz diz: os mortos estão ressuscitados. E tu que ouves a ordem, vai e dize aos povos que Cristo ressuscitou (.....), Serás o apóstolo simples, o que faz a caridade em nome de Cristo (....). Eis teu trabalho; procura os necessitados e feridos pelo peso da vida e dá a eles o pão. Assim diz aquele que manda a "Sua Voz" ao mundo".

Mensagem recebida em 19 de outubro de 1932.

"A prova de fogo supera-a e mantém-na. As centelhas do Eterno descem agora; apanha-as como se apresentam. Leão! Leão! não fiques pasmado! Es tomado como instrumento não inconsciente mas consciente da missão. Confia, porém, Naquele que opera.

Abraço-te.

Mensagem recebida em 7 de abril de 1935.

"O porvir espiritual é o eterno presente que pulsa. Quando os braços Eternos envolvem, só uma coisa deve fazer-se: abandonar-se. Tu, filho do Pai, colocado no enredo do tempo, sofres necessariamente as contorções da vida humana. E o martelo "tempo" que bate, quebra as energias e quase as quer destruir. Mas sabes que outro martelo poderoso bate continuamente para consolidar a estrutura de tua alma. Não perguntes: o que farei? Já te disse: abandonas-te em Cristo. Receberás outras ordens. Repetir-se-á a ti o "vai, Francisco, (.....). Restaura minha casa" (....). Portanto, restaurarás o que o Eterno disser. Teu refúgio é inabalável, um nicho luminoso espera-te: é a fulguração de Cristo Jesus, o Ressuscitado, Aquele que está com o Pai, Aquele que está no Pai e é Pai de Amor. Podes gritar, pois: tenho uma casa que é um palácio, pois o Eterno aí colocou seu ouro. Esse ouro chama-se a Verdade!"

Mensagem recebida em 13 de outubro de 1935.

   

*   *   *

"E agora digo a ti (Pietro Ubaldi): Amigo, da aspereza saíste renovado, da fadiga saíste para entrar na obra eterna. O mundo — por necessidade humana — te reterá durante o tempo em que deve ser dada tua contribuição de homem. Tomou-te o Eterno, batizou-te com Seu fogo e a chama está acesa: chama de filho trabalhador. Por vezes arderás consumindo-te dentro do próprio calor desse fogo; gritará tua carne pelas queimaduras, enquanto o espírito cantará os louvores do Eterno. Revestirás o pensamento que chega a ti, com a palavra que o Eterno colocar em tua mente, e daí passarás aos homens, que são muito duros de ouvir. E assim, viandante amado, continuarás o teu caminho.

(....) Não ficarás isolado: os poucos, os amados do Pai, virão a ti sempre. Acharás almas compreensivas. Arderás, mas não consumirás a parte intrínseca. Quando o mundo tiver entrado na fase de maior dor, mais do que nunca hás de gritar a todos: "néscios, não ouvistes! O aviso foi dado a tempo, lamentar agora não adianta". Haverá um átimo de possibilidade de recomeço, e tu o dirás, enviando tua palavra para cá e para lá, nos pontos designados pelo Eterno. Envolve-me em Meu Amor de Amigo; usa de Mim, Eu te estou próximo".

Pergunta de P. Ubaldi - "És tu a "Sua Voz"?

Resposta — “Eu Sou Aquele que Sou, amigo, e tu o sentes. Sentir-me-ás, assim, um pouco mais materialmente, porque desço entre os homens que estão em luta. Não podes parar, tu o sabes e o vês: a hora é intensa. Rever-nos-emos, Rever-me-ás mas não assim: ver-me-ás como luz e, quando me vires, tua alma ficará queimada. Mas isto não é dor — é glória. Permanece na humildade, na simplicidade, e deixa que o mundo espiritual em convulsão, grite. Tu permanecerás firme, lembra-te...”

Pergunta de P. Ubaldi - "Quem sou eu?"

Resposta — "Quem és? Donde vens? Qual é tua passagem mais intensa? Eu disse uma vez: Leão, mas és alguma coisa mais dentro de ti mesmo. É preciso retroceder no chamado tempo, e então te recordarás de ter-me visto, de ter-me ouvido, de ter-me amado".

Pergunta de P. Ubaldi — Como e quando Te vi?

Resposta - "Neste momento não podes orientar-te; tornarás a pensar nisso e te acharás de novo. Por que perturbar-te? Se as pegadas são claras, então? Muitas coisas ignora o teu eu quando está fechado em ti mesmo. O que não sabes e não assimilaste, desfolharás, assimilarás e então te acharás".

Pergunta de P. Ubaldi: — "Também caí mais em baixo?"

Resposta — "Por isso te disse: ressuscitaste. Pagaste e estás pagando. Deves servir ao Eterno e então, servindo ao Eterno, te tornarás instrumento de eleição. Todas as vezes que titubeares e estiveres para precipitar-te, Eu virei ao teu encontro" (.....).

Pergunta de P. Ubaldi — "Por que fui escolhido?"

Resposta — "Francisco dizia: "Por que eu? por que eu? por que eu?". Repete-o também tu, com a mesma dedicação, e então verás que o Eterno, para maior confusão dos homens, escolhe seus instrumentos entre eles. Dá graças ao Eterno

Pergunta de P. Ubaldi — "Mas eu não me sinto digno".

Resposta: — "Por que queres repeti-lo ainda? Sabes que o Eterno vai e procura a ovelha transviada: os justos já estão salvos. E o pecador que o Eterno procura, é o doente que precisa de médico, é para ti que vem o Seu amor.

Pergunta de P. Ubaldi — "Que acontecerá comigo"?

Resposta: — "Não temas. Não podes vê-lo, ainda que te esforçasses. Não ergas um muro diante de ti, mas quando estiveres para cair e tiveres medo de bater, então o muro cairá. Vês que não tem limites o campo que deves arar; então trabalha" (....).

Mensagem recebida em 5 de março de 1937.

(......) "E Pedro que fará? Há ainda algumas perplexidades a superar. Vencer! Vencer! Arrancar os tentáculos que refreiam os passos, para que quando vier o dia de prova para Pedro, ele não venha a Repetir: Senhor, não Te conheço! O selo está posto. Ai de quem o romper antes que chegue o anjo!..

(Voltando-se para Pietro Ubaldi): "Não indagar muito sobre ti mesmo; humilha-te. Renascerás por virtude substancial. Disse aos maus: sois usados como instrumentos, quando o espasmo da humanidade tiver chegado à convulsão. Assim te digo: o nome não tem importância, é a ação que cinzelará sobre ti a figura E a ação que fará de ti o servo do Senhor. Reedificar de acordo com a ordem, erguer as colunas minadas na base. O cristianismo está a descoberto, entre o céu estrelado e a Terra ameaçada. Então, soldado de Cristo, não terás espada; terás fogo e o vomitarás segundo a Vontade Eterna. Enquanto aguardas, purifica-te; deixa falar os que estão a teu lado, mas não vêem nem ouvem! Aguarda! Repito-te: a rede está pronta; lançá-la-ás onde te for indicado; não por alucinação, mas pela realidade (.....). Não é hora de repouso; trabalha para o Eterno, e a mercê descerá do céu. Por isso estás vinculado àquele que são também os meus escolhidos. Não poderás voltar atrás, não poderás escapar. Pára e ouve-me! A Voz continuará".

Mensagem recebida em 25 de abril de 1937.

   

*   *   *

Julgamentos a respeito de Pietro Ubaldi, tirados do horóscopo que lhe foi enviado, em abril de 1935, sem ser pedido, pelo Senhor Mário Guzzoni Segato — Via Saluzzo 23, Turim — que não o conhecia, nem sabia nada sobre ele.

"Pietro Ubaldi, nascido a 18 de agosto de 1886, às 20h 30 mm, em Foligno, L. 42º 57’. Tipo zodiacal: Aries com influência de Leão. Tipo Planetário: Marte-Lua. Planetas dominantes: Saturno, Urano e Júpiter. Aura: vermelha brilhante.

(.....) O princípio vital da força solar que passa pelo Leão, torna-o de bom coração e generoso. Profundas emoções e constantes procura de harmonia (. . . .). Caráter interiormente generoso, sincero, ardente, perseverante, e muito inclinado a aperfeiçoar-se. Há um grande amor pela justiça (.....) . Educado, não combativo, mas persistente, será quase irremovível nas próprias opiniões. Tende ao ocultismo, inclina-se para o lado místico da vida, tem os meios para descobrir o encanto do destino dos homens. O sol testemunha esplêndidas qualidades mediúnicas; mas estas se resolvem através de terríveis sofrimentos, com dores e penas verdadeiramente tantálicas. O nativo pode adjudicar-se uma colossal máquina psíquica, que entra em ação através da dor. Dor física, que pode dizer-se aparente, se bem que tremenda, mas na realidade será um bem. Tendência ao isolamento e à solidão que trará grandes frutos espirituais. Sente alegria quando pode dar felicidade a outros. Trabalha muito para desenvolver uma missão alta. Há muita coisa que está latente, e espera uma oportunidade para revelar-se, porque o nativo tem mais merecimentos e qualidades do que ele mesmo saiba. É um pioneiro em qualquer coisa por que se interesse. É afirmativo, independente, ativo. Terá fama durante à vida. Dentro de três anos, fatores físicos e psíquicos se harmonizarão e Deus falará nele.

(....) Seus companheiros são Jesus e João. Ele estará unido ao acordar da humanidade. Deve unificar-se com Deus através da dor. É um espírito doente que, numa vida precedente desobedeceu ao Eterno, perturbando as leis de amor, de harmonia e de compaixão, e que deve sofrer para recuperar o equilíbrio perdido ou harmonia, o que deve servir para que volte à luz que se tinha escurecido".

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O mesmo Senhor Mário Guzzoni Segato colocou em mãos da Senhora Pia Reggidori uma carta de Ubaldi e teve a seguinte resposta mediúnica (em transe), ditada ao senhor Segato e dirigida a Pietro Ubaldi, por uma entidade não identificada:

"Quem és tu? Vejo-te no deserto, com as mãos voltadas para o Sol, cheio de aspiração a Deus, com uma sede insaciável de amor Divino, longe da vida e das coisas. Vestes um hábito branco e estás desfigurado, e tens imensa sede de amor. Amas o Cristo e o invocas. És profeta da Palestina. Esta sede da tua vida te persegue, aguardas, é um tormento. Mas o Deus que invocas tanto, está em ti e te dirá várias vezes: "estou aqui" (......). A matéria te pesa, porque a renegaste, mas ao invés, Deus quer luz através dela (....). Muitos homens voltarão a ti e tu voltarás como profeta (.. ..). Cristo e João são teus amigos".

*   *   *

Trechos da mensagem mediúnica (ultrafânica), ditada e taquigrafada em presença de Pietro Ubaldi, recebida pela Senhora M. Guidi (Via Labicana, 134, Roma), em 14 de julho de 1946, de uma entidade não identificada:

"Irmão, que chegaste de longe, eis que te digo, em verdade, que estas palavras não são novas para ti que vibras sem cessar. Acreditas, às vezes que seja teu cérebro que as recolha; elas, porém, são Luz, a Minha Luz mesma que desce sobre ti e que, através da palavra e da pena, tu transmites. Muito fizeste, mas estás apenas no início de tua tarefa; muitas verdades foram por ti compreendidas, muitas daquelas verdades que transcreveste são justas e se os homens te ouvissem totalmente, então teríamos o início de uma nova era de fé, que prepararia a nova alma luminosa, que será verdadeiramente transmitida aos homens de amanhã (.....). Não temas, porque os homens não poderão fazer-te mais mal do que já te fizeram (.....).E digo-te: Pedro, tu também és pedra milenária da nova fé que arrastará os homens de amanhã. Escreve; receberás ainda mais profundamente, com harmonia infinita. Lembra-te de que os acontecimentos urgem e tu o predisseste; tu o sentes (.....). Deter essa onda de ódio que envolve a humanidade, é a tarefa de teus escritos; não pares, mas ainda hoje, lança tuas mensagens (.....).  Em verdade, não pares (.... ..). Continua. Continua. Preciso de ti (.....).  Olha que, dentro em pouco, outra tentativa será feita, a fim de parar tua pena. Não pares, não temas. Estou perto de ti e te darei tal força que teu ser físico melhorará. Estás ainda cansado e esgotado".

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Mensagem transmitida, sem ser solicitada, a Pietro Ubaldi, pelo Professor Salvato Carmicelli (Rua Prof. Gabizo 295, Rio de Janeiro), recebida em 28 de setembro de 1946, de uma entidade não identificada.

(.....) “Diga a Pietro Ubaldi que sua missão é de transmitir ao mundo os prolegômenos da Nova Era. A Grande Síntese é obra ditada pelo alto. É realmente a voz do todo que fala. Ele é um instrumento, e como tal, tudo deve fazer pela divulgação de todas as outras obras. Elas constituem os novos livros da Nova Era. Vários são os canais (. . . .). Trata-se de erigir o edifício de um mundo novo Pense, Pietro Ubaldi, que a Obra foi toda ditada pelo alto e deve ser divulgada em todo o mundo e em todas as línguas”.

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Trechos de mensagem mediúnica recebida pelo médium Betti, sob a direção do Senhor Sante Crosara, em Livorno, em 23 de dezembro de 1945, de uma entidade não identificada.

(......) "A coletividade espiritual do sujeito (P. Ubaldi) é constituída por uma esfera muito elevada, onde os chamados santos vivem em harmonia. Desta constituição entélica, partiu a personalidade de Ubaldi(....), que já conseguiu e desempenhou o próprio programa (....). Aquele "quid" que constitui a manifestação terrena : de Ubaldi é apenas uma missão espiritual, que tomou forma e personalidade num indivíduo, que, no entanto, parece um ser comum e normal, mas que já desempenhou determinada missão, pela qual, os gérmens disseminados em sua esfera terão prolificação estupenda e tangível, para glória do Eterno (.....). Quando tiver desencarnado, voltará a retomar seu posto e desta vez numa esfera verdadeiramente superior e digna (....). Em pouco tempo abandonará vosso ambiente, mas somente depois que tiver desempenhado, aqui, completamente sua tarefa (.....). O sofrimento é o esporão e o principal incentivo de seu fervor operante (.....). Assim a Mente Criadora prodigaliza, através de Ubaldi, a graça do conhecimento supranormal (.....). As sensações que ele percebe são inerentes ao seu grau de consciência, que não é mais infantil, mas adulta, e mesmo diria velha ou seja, carregada de experiência e de maiores percepções e considerações. Ora, tratando-se de uma consciência velha, é mister que suporte essas vibrações de perturbação e de desânimo porque ela está às portas da Luz, no limiar de nova existência imensamente superior; está diante de uma porta fechada, além da qual sabemos existir uma escada luminosa que leva à extrema felicidade, isto é, à Luz Suprema do conhecimento e da verdade. Essas sensações devem ser aceitas com serenidade e até com alegria, porque é prenúncio de uma promessa certa e próxima de bem supremo. Há uma certeza maravilhosa, ofuscadora. Aceita-se o fenômeno com serenidade e com a certeza de que constitui uma promessa segura de uma passagem sublime. Já desempenhou sua tarefa dignamente, e quando estiver diante do dia do desencarne, sua obra e sua missão estarão definitivamente realizadas"

MENSAGEM DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Pedro,

O Calvário do Mestre não se constituía tão somente de secura e aspereza...

Do monte pedregoso e triste jorravam fontes de água viva que dessedentaram a alma dos séculos.

E as flores que desabrochavam no entendimento do ladrão e na angústia das mulheres de Jerusalém atravessaram o tempo, transformando-se em frutos abençoados de alegria no celeiro das nações.

Colhe as rosas do caminho no espinheiro dos testemunhos... Entesoura as moedas invisíveis do amor no templo do coração!...

Retempera o ânimo varonil, em contato com o rocio divino da gratidão e da bondade!...

Entretanto, não te detenhas. Caminha!...

E necessário ascender.

Indispensável o roteiro da elevação, com o sacrifico pessoal por norma de todos os instantes.

Lembra-te, Ele era sozinho! Sozinho anunciou e sozinho sofreu.

Mas erguido, em plena solidão, no madeiro doloroso por devotamento à humanidade, converteu-se em Eterna Ressurreição.

Não temos outra diretriz senão a de sempre.

Descer auxiliando para subir com a exaltação do Senhor.

Dar tudo para receber com abundância.

Nada pedir para nosso Eu exclusivista, a fim de que possamos encontrar o glorioso NÓS da vida imortal.

Ser a concórdia para a separação.

Ser luz para as sombras, fraternidade para a destruição, ternura para o ódio, humildade para o orgulho, bênção para a maldição.

Ama sempre

E pela graça do amor que o Mestre persiste conosco, os mendigos dos milênios, derramando a claridade sublime do perdão celeste onde criamos o inferno do mal e do sofrimento.

Quando o silêncio se fizer mais pesado ao redor de teus passos, aguça os ouvidos e escuta!

A voz Dele ressoará de novo na acústica de tua alma e as grandes palavras, que os séculos não apagaram, voltarão mais nítidas ao círculo de tua esperança, para que as tuas feridas se convertam em rosas e para que o teu cansaço es transubstancie em triunfo.

O rebanho aflito e atormentado clama por refúgio e segurança.

Que será da antiga Jerusalém humana sem o bordão providencial do pastor que espreita os movimentos de céu para a defesa do aprisco?

É necessário que o lume da cruz se reacenda, que o clarão da verdade fulgure novamente, que os rumos da libertação decisiva sejam traçados.

A inteligência sem amor é o gênio infernal que arrasta os povos de agora às correntes escuras e terrificantes do abismo.

O cérebro sublimado não encontra socorro no coração embrutecido.

A cultura transviada da época em que jornadeamos, relegada à aflição, ameaça todos os serviços da Boa Nova, em seus mais íntimos fundamentos.

Pavorosas ruínas fumegarão, por certo, sobre os palácios faustosos da humana grandeza, carente de humanidade, e o vento frio da desilusão soprará, de rijo, sobre os castelos mortos da dominação que, desvairada, se exibe, sem cogitar dos interesses imperecíveis e supremos do espírito.

É imprescindível a ascensão.

A luz verdadeira procede do mais alto e só aquele que s instala no plano superior, ainda mesmo coberto de chagas e roído de vermes, pode, com razão, aclarar a senda redentora que as gerações enganadas esqueceram.

Refaze as energias exauridas e volta ao lar de nossa comunhão e de nossos pensamentos.

O trabalhador fiel persevera na luta santificante até o fim..

O farol no oceano irado é sempre uma estrela em solidão.

Ilumina a estrada, buscando a lâmpada do Mestre que jamais nos faltou.

Avança... Avancemos...

Cristo em nós, conosco, por nós e em nosso favor é o Cristianismo que precisamos reviver à frente das tempestades, de cujas trevas nascerá o esplendor do Terceiro Milênio.

Certamente, o apostolado é tudo. A tarefa transcende o quadro de nossa compreensão.

Não exijamos esclarecimentos.

Procuremos servir.

Cabe-nos apenas obedecer até que a glória Dele se entronize para sempre na alma flagelada do mundo.

Segue, pois, o amargurado caminho da paixão pelo bem divino, confiando-te ao suor incessante pela vitória final.

O    Evangelho é o nosso Código Eterno.

Jesus é o nosso Mestre Imperecível.

Agora é ainda a noite que se rasga em trovões e sombras, amedrontando, vergastando, torturando, destruindo...

Todavia, Cristo reina e amanhã contemplaremos o celeste despertar.

(a)    FRANCISCO

Esta Mensagem foi psicografada por Francisco Cândido Xavier, dirigida a Pietro Ubaldi em 17 de agosto de 1951, na residência de Dr. Rômulo Joviano, em Pedro Leopoldo, MO, na presença de doze pessoas, ao mesmo tempo em que, sentado à mesma mesa, Pietro Ubaldi recebia a mensagem de SUA VOZ. (Nota de C. T.)

MENSAGEM DE SUA VOZ

Pedro,

Estás sentindo aqui, nesta noite, minha presença. Aquele que está diante de ti1 e que, ao mesmo tempo que tu, está escrevendo sente neste instante o meu pensamento e o que ele escreve to confirmará. Ele sente contigo a minha presença.

Pedro, não temas. Estás cansado, eu o sei, como também sei quanto te esforças por sentir-me neste ambiente tão novo para ti e distante de onde estás habituado a ouvir-me. Estás exausto, pelo muito falar e viajar. Estou contigo, porém, junto a ti e "Eu" sou a grande força que sempre te tem sustentado. Agora me estás sentindo com a mesma potência com que já me sentiste no momento da 1ª Mensagem de Natal de 1931. E isso porque, agora, a uma distância de vinte anos, se repete o início do mesmo ciclo num plano mais elevado.

Já me ouviste na noite de 4 de agosto, quando pela primeira vez falaste em S. Paulo e se iniciou a tua vida pública de apostolado. Estavas cansado e não tinhas certeza. Mas, hoje, és por mim impulsionado e já não podes deter-te. Já te disse, antes de tua partida, que aonde não pudessem chegar teu conhecimento e tuas forças, chegaria eu e encontrarias tudo preparado. E viste que tudo quanto te havia predito realmente aconteceu.

Tremes, eu o sei, diante de um plano cuja vastidão te surpreende. Quarenta anos de humilhações e de dores foram necessários ao teu preparo para esta missão e deixaram em tua natureza humana uma sensação de desânimo e uma convicção profunda de tua nulidade. Hoje, porém, é chegada a hora e eu te digo: Ergue-te! Há vinte anos eu te disse: "No silêncio da noite sagrada, ergue-te e fala". E agora te digo, no silêncio da noite tranquila de Pedro Leopoldo: "Ergue-te e trabalha". Eis que se inicia uma nova fase da tua missão na Terra e, precisamente, no Brasil. É verdadeiro tudo quanto te foi dito, eu to confirmo e assim sucederá.

O Brasil é verdadeiramente a terra escolhida para berço desta nova e grande ideia que redimirá o mundo. Agora tua missão é acompanhá-la com tua presença e desenvolvê-la com ação, de forma concreta. Todos os recursos te serão proporcionados.

Ama com confiança estes novos amigos que eu te mando. Tudo já está determinado e não pode interromper-se. As forças do mal vos espreitam e desejariam aniquilar-vos. Sabes, porém, que as do bem são mais poderosas e têm de vencer. Confia-te, pois, a quem te guia e não temas. Confirmo tudo o que tens escrito, não o duvides.

Dentro de poucas horas se completarão 65 anos de teu nascimento. O tempo assimila com o seu ritmo o desenvolvimento dos destinos.

Pede-te a Lei, agora, esta outra fase de trabalho, diferente e nova para ti, tão distante da precedente que te surpreende. Aceita-a, como antes, no espírito de obediência, aceitaste a outra. Não tem sido tua vida uma contínua aceitação? Não tem sido completa tua adesão à vontade de Deus? Não recordas nosso grande colóquio de Módica, na Sicília, há vinte anos? Tua própria razão não pode deixar de reconhecer a lógica fatal de tudo isso. Segue pois, confiante, o caminho assinalado. Não te admires se tudo em torno de ti se contraverte, se a dor se transforma em alegria, se te arranco do silêncio de Gubbio para lançar-te no mundo.

Não representa isso a realização daquilo para que nasceste e por que tens vivido e sofrido?

Eu sei: a glória, os louvores do mundo, a notoriedade te repugnam. Compreendo que isso te é uma nova dor Aceita-a, pois sabes que também isso é necessário a fim de que se cumpra tua missão. E isso bastará para transformar esta tua nova dor em alegria.

Teu corpo cansado desejaria repousar. Quão grande o caminho já percorrido e quão grande a distância ainda a percorrer! A vida porém, é uma caminhada contínua. Tens sobre os ombros não só tua vida, se não também a de muitos outros que amas e de cuja salvação quiseste assumir a responsabilidade. Aceita, pois, tudo por amor de mim. Aceita-o, ainda que os três votos de renúncia e de dor agora se transformem, tomando posições opostas, isto é, não mais se renúncia, porém, de afirmação.

Pedro, confio-te esta nova terra, o Brasil, a terra que deves cultivar. Trabalho imenso, mas terás imensos auxílios.

Estou contigo e as forças do mal não prevalecerão.

Agora, uma palavra também para os teus amigos, uma palavra de gratidão e agradecimento, uma palavra de bênção, por sua cooperação, com que eles, ajudando-te, tornam possível a realização de tua missão. Falo neste momento ao coração de cada um deles, sem que lho digas por escrito.

Una-vos a todos minha bênção, no mesmo amor, para vossa salvação e salvação do mundo.

(Tradução de Rubens Romanelli  e Clóvis Tavares)

Esta Mensagem foi recebida por Pietro Ubaldi a ele mesmo dirigida, em 17 de agosto de 1951, na residência de Dr. Rômulo Joviano, em Pedro Leopoldo, no, na presença de doze pessoas, ao mesmo tempo em que sentado à mesma mesa o médium Francisco Cândido Xavier psicografava a mensagem de São Francisco de Assis. (Nota de C.T.)