Chegamos ao fim desta obra. A teoria básica foi desenvolvida nos volumes: A Grande Síntese, Deus e Universo, O Sistema, A Lei de Deus, Queda e Salvação, Princípios de uma Nova Ética. Os outros volumes completam essa teoria, desenvolvendo problema colaterais. Na última parte da Obra, como já foi anunciado no prefácio deste volume, desceremos ao terreno das conseqüências e aplicações práticas dos princípios antes afirmados e demonstrados nos citados volumes. Assim, a teoria de base encontra aqui uma espécie de controle experimental, posta em contato com a realidade dos fatos. Estes não a desmentiram, e ainda a confirmaram plenamente.

Chegamos ao presente volume resolutivo do problema básico de nossa vida, o do racional enquadramento do indivíduo no funcionamento orgânico do universo em que vive, e seguindo a Lei de Deus, que dirige esse funcionamento e o realiza. Defrontamo-nos, desse modo, com um novo método de vida baseado na sua racional planificação e dirigida para a sua meta final, a redenção. Tal método constitui uma técnica de salvação.

Já escrevemos um volume: A Lei de Deus, mas não basta afirmar que tal Lei existe. É necessário mostrar, nas particularidades, a técnica do seu funcionamento, porque o segredo de nossa salvação consiste em saber funcionar de acordo com tal Lei. Por isso escrevemos o presente volume, além do citado acima.

Este novo estudo nos leva a um mais alto conceito de Deus, mais verdadeiro que o atualmente possuído, um conceito independente das humanas divisões religiosas, conceito universal, porque alcançável através das vias racionais da ciência. Uma concepção antropomórfica da divindade é necessária para as massas subdesenvolvidas que, para poder imaginá-la, precisam reduzi-la a seu nível mental. Para tais seres a capacidade de compreender um conceito é fato básico para a sua aceitação, o que exclui o conceito da Lei, que para eles é uma abstração inconcebível, ainda que corresponda à verdade. Estes preferem crer, aceitando de outros soluções já prontas, porque é  cansativo pensar e resolver por si problemas, que, naturalmente, ainda são incapazes de resolvê-los. Porém, também é certo que alguns indivíduos excepcionais, sabendo pensar, têm necessidade de uma representação mais avançada que mais se aproxime à realidade e exprima mais exatamente o conceito verdadeiro de Deus. É bom expô-la, a fim de que as pessoas comecem a habituar-se a essa nova aproximação e a uma visão mais clara, porque este é o objetivo da evolução que deverá arrastar, com o seu impulso, todos os seres do futuro. Sei bem que essas indagações não são adequadas para conquistar a popularidade de um escritor, mas quando um indivíduo chega a compreender, mesmo se às massas não interessa essa compreensão  e permanecem surdas às suas palavras, ele deve falar, a fim de que possam compreender aqueles que já estão capacitados e muitas vezes ansiosos por tal alimento. Por isso quisemos oferecê-lo, com a convicção de cumprir um dever, em relação àqueles que estão maduros, porque pode ser-lhes de vital importância, embora seja indiferente para os involuídos.

Este novo conceito de Deus não é o clássico do Deus Senhor que comanda arbitrariamente, castiga, e a quem os dependentes obedecem por temor. Trata-se de um conceito de um Deus ordem que é a sua Lei, à qual Ele, primeiro que todos obedece, porque obedece a si mesmo; Lei à qual, seguindo este exemplo, todos obedecem, porque nisto está seu bem. Quando conseguimos compreender que Deus é uma Lei, uma espécie de pensamento diretor e ação que opera dentro de nós e em torno de nós em tudo o que existe, não nos encontramos mais diante de um Deus ausente, isolado na sua glória nos céus, mais diante de alguma coisa de positivo, real, porque O vemos funcionar vivo conosco. Então a sua presença não é só um ato de fé, Deus não existe apenas enquanto se crê na sua existência, mas é um fato perceptível e controlável, é uma inteligência com que se pode raciocinar, questionar e obter respostas. Como isso ocorre já explicamos suficientemente neste livro. Não se trata de crer mas de ver. E como não perceber a presença deste Deus quando Ele é uma Lei, na qual estamos todos mergulhados e só existimos enquanto integrados no seu funcionamento?

Dissemos que esta Lei é o S que permaneceu incorrupto, o Deus imanente, presente para salvá-lo mesmo no AS. Tudo é lógico e claro. Neste conceito de Deus-Lei poderão finalmente fundir-se, completando-se, os dois pólos opostos da mesma unidade, a religião que só vê o espírito e a ciência que só vê a matéria. Já a ciência entrevê a existência de um outro universo feito de antimatéria, que constituiria a outra metade espiritual, complementar do universo material que conhecemos. Poder-se-á assim sair da nebulosidade da fé e consciente, de olhos abertos, se poderá entrar em contato com o pensamento de Deus, ao menos na parte que mais atinge a nossa existência, aquela que interessa ao nosso trabalho de redenção. E o conhecimento da técnica funcional dos fenômenos do espírito nos induzirá a uma conduta mais sábia que, evitando o erro, evita também a dor. Aprenderemos assim racionalmente, cientificamente, a redimir-nos conhecendo a técnica do processo de salvação.

Quando os astronautas vão ao espaço, sabem bem o que acontece se não observarem as Leis. Por isso a ciência as estudas e ninguém pensa em desobedecer a elas. No campo moral, igualmente regido por leis, o homem se propõe violá-las e nisto consiste a sua bravura. Os desastres que se seguem mostram com os fatos como é grande a sua inconsciência. A sabedoria consiste em entrar no jogo da Lei, secundando-a, e não em definir contrastes, oposições, porque neste caso, sendo a Lei mais forte, o indivíduo sempre levará a pior.

Estas conclusões modificam a concepção comum da vida, passamos a vê-la não mais em função do AS, mas em função do S, de forma positiva. A dor não é mais entendida como uma condenação, mas como uma escola, e pode ser usada pelo sábio como instrumento de evolução. A Lei não é uma pessoa que possa ser ofendida e que se vingue, punindo; nem é alguma coisa que se faça funcionar com fingimentos. A Lei é um sistema de forças, que as palavras não têm poder de mover, somente os fatos, as nossas ações. A sabedoria de salvar as aparências com a hipocrisia de nada serve. Trabalha-se sobre o real em que a forma não vale, mas a substância. No campo da moral, cheio de mentiras, tais conceitos representam uma revolução, de modo que fingir é inútil, sendo antes um mal que o indivíduo inflige a si mesmo e cujos efeitos danosos se podem calcular. Cai assim toda a técnica de simulação tão aperfeiçoada pelo homem, e torna-se necessário inaugurar um sistema mais rendoso e menos dramático, o sistema da clareza e da sinceridade. O homem consciente da Lei se sente sempre na presença de Deus, sabe que nada lhe pode esconder. Ele não usa mais tantas escapatórias absurdas com as quais os subdesenvolvidos crêem evadir-se da Lei, e assim evita tantos erros e tantas dores. Ele sabe que cada um, automaticamente, provoca o próprio prêmio ou a própria condenação, na justa medida, segundo o próprio mérito. Tal resultado é infalivelmente atingido por todos, qualquer que seja a sua fé, em todo o tempo e lugar.

A presença da Lei, isto é, do S ou do Deus imanente em nosso universo, que com íntima sabedoria o corrige e leva à salvação, não obstante  a sua imperfeição  de superfície, transforma-o em um universo substancialmente perfeito. Os seus males e dores são de fato reduzidos a um elemento transitório, eliminável por meio da evolução. O transformismo tem tendência corretiva. O real senhor do caos do AS é a ordem do S, que continua a funcionar no íntimo do AS. A presença de Deus é um fato positivo, porque canaliza todos os fenômenos, conduzindo-os aos caminhos estabelecidos para os fins desejados.

A descoberta desta verdade dá à vida um significado profundo, faz dela um instrumento de grandes conquistas, um meio para atingir fins altíssimos, enquanto dá ao indivíduo um absoluto sentido de segurança de quem sente a presença de Deus regendo tudo com justiça. Cai então toda a grande Maya, toda a ilusão que envolve o mundo, compreende-se o jogo e a diversa realidade que está por trás dele. Tornamo-nos sábios e não caímos mais nos seus enganos. Sabe-se que, quando o homem, com os métodos do AS crê vencer, perde, e quando crê que perde, vence. O jogo está todo na imersão do S em AS e no ajustamento do AS em S. Basta assumir a posição do S para colocar cada problema na posição correta. Infeliz é quem goza, afirmando-se nos caminhos de decadência do AS, porque está involuindo. Afortunado, porém, é o ser que se afirma nos caminhos ascensionais do S, porque está evoluindo. A salvação está na evolução. Para cada ato nosso há, por obra da Lei, uma contabilidade de deve e haver, justa e exata, no banco de Deus.

Tudo isso ocorre perfeitamente, sem que haja necessidade da intervenção de qualquer censor ou moralista que a imponha. Estes se exprimem com palavras, às quais se responde geralmente com outras palavras, fingindo obediência. A lei não pode ficar a mercê desse jogo. Ela é um funcionamento real, que ninguém tem o poder de deter, e que responde à substância para a qual as palavras não contam. Eu mesmo, movido do desejo de ver os outros melhorarem, em alguns escritos passado insisti, com finalidade corretiva, na denúncia dos defeitos alheios. Num ambiente de luta, como é o humano, isso poderá ser entendido como acusação malévola, mesmo que a finalidade seja justamente a oposta. Tenta-se salvar e se é tomado por crítico agressivo, sendo a boa vontade, entendida como orgulho, como uma indevida intromissão, uma falta de respeito pela liberdade alheia. Num regime de luta, querer impor uma virtude ao próximo significa impor-lhe uma limitação contra a qual ele se rebela porque aquela limitação, em geral, é benéfica a quem a prega e pesada para quem a pratica.

Perguntei-me então: é possível que a aplicação da Lei de Deus deva depender de quem a prega? Como poderia isto acontecer se de fato se lhe obedece tão pouco? Como a Lei deve funcionar? Deus seria vencido pelo caos do AS? Olhando bem, vi que a Lei não tem necessidade de pregador para funcionar. Ele pode ser útil para advertir, transmitir a idéia, mas não representa a força decisiva, determinante da atuação. O que leva necessariamente à aplicação da Lei não são as palavras, mas os fatos, não as ameaças de pena, mas as penas reais que atingem os transgressores, que representam o único discurso, suficientemente claro para ser compreendido por todos. Entendido o problema, deixei as exortações, convencido de que a Lei sabe ensinar por si, e me pus a demonstrar como automaticamente ela sabe fazer-se respeitar e pôr-se em prática por si mesma. Vi que a Lei já contém o remédio do mal, sabe atingir seus fins, nada havendo a acrescentar, de modo que não me restou senão a posição de espectador, a obrigação de, por sentido de dever, limitar-me a contar, a quem pode ser de utilidade, o que vejo ocorrer.

Assim, ao invés de denunciar as culpas do mundo sobre as quais nada posso, em vez de exigir de quem não quer, admiro a perfeição  da Lei que sabe corrigir com os seus meios bem persuasivos, justos, proporcionais à insensibilidade humana, e assim sabe salvar o mundo, mesmo que este não o deseje. Desse modo, terminou aquele meu sofrimento pelo mal e o erro, que não havia razão de ser, porque são corrigidos pela dor, que anula o seu poder destrutivo. Na convicção de que o mal não tem nenhum poder para vencer, porque, mesmo no inferno do AS Deus é o senhor, encontrei a paz, porque agora sei que cada coisa está no lugar que lhe cabe e que a ordem permanece, faça o homem o que fizer ou diga o que disser. Senhor para cometer erros e servo para pagá-los, isso nada altera na justiça de Deus, antes constitui a sua realização. A minha alma agora repousa na contemplação daquela maravilha que é a perfeição  da Lei de Deus e na sensação da sua ativa imanência salvadora.

Esta visão do triunfo do S sobre o AS, do bem sobre o mal, de Deus sobre tudo; a constatação da impotência do homem para ofender a Deus, como ele no seu orgulho deseja crer, achando-se capaz de alterar alguma coisa da Lei; a sensação da presença de Deus, viva e inviolável, ininterruptamente agindo dentro de nós, constituem a minha maior segurança e garantia de vida, a grande alegria de encontrar, como conclusão, no final de tão longo caminho, tudo isso no vértice da Obra.

S. Vicente (S. Paulo) Brasil

                     Páscoa 1969.

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