Os conceitos expostos acima nos permitem colocar em foco o problema do nosso destino. Vivemo-lo sem compreender-lhe o significado. Cada um tem o seu e a ele fica inexoravelmente ligado. Que força é esta que fatalmente nos constringe, e que deseja de nós? Por que tudo isso acontece?

A nossa personalidade é um organismo de forças bem definidas que são as nossas qualidades e de cujo tipo depende a estrutura de nosso destino. Se estas estão de acordo com a Lei, atrairão outras forças benéficas, se são anti-Lei, atrairão forças maléficas. Segundo sua própria natureza, cada indivíduo forma sua atmosfera, composta de elementos que lhe são afins e de acontecimentos do mesmo tipo. Tudo isso ocorre segundo a justiça, porque a estrutura de nossa personalidade depende de uma livre escolha desejada por nós no passado, cujos efeitos se fixaram em nós e cujas conseqüências trazemos conosco.

Como ocorre esta atração por afinidade? As forças que constituem o organismo da personalidade são ligadas à maneira de circuito fechado, e desse modo oferecem resistência à combinações  com forças de outro tipo, que são repelidas, enquanto atraem e, introduzem no circuito forças do mesmo tipo, que, aceitas, fazem crescer o potencial daquele organismo. A natureza dessas combinações depende do tipo da personalidade, que, segundo a sua natureza, atrai para si o que lhe é semelhante. Assim, os bons, mesmo se na fase de correção ocorre o contrário, automaticamente tenderão a unir-se aos bons, enquanto os maus são repelidos por ele; aos maus, ainda que estejam na primeira fase, isto é, a do próprio triunfo, acontece o contrário, pois tenderão a unir-se com os maus, já que os bons fugirão igualmente deles, por sua vez repelidos. Depois, cada um, superadas as provas e aprendida a lição, acabará por atrair o novo tipo de forças e de indivíduos a que, através de experimentação, se tornou afim. No entanto, dado o tipo de circuito constitutivo de uma personalidade, a escolha das forças que se anexam é fatal, como é fatal o ter que sofrer-lhes as conseqüências.

Na construção de um destino, temos três momentos de conexão e derivação: 1º ) livre-escolha; 2º) conseqüente construção de um certo tipo de personalidade; 3º) decorrência, a partir de uma tal estrutura, de uma fatal sujeição a um tipo de forças e acontecimentos constitutivos do destino atual. Isto se manifesta no terceiro momento, estando ocultas as duas primeiras fases preparatórias, subterrâneas raízes das quais depois se desenvolve a planta. Esta toma formas diversas, de acordo com a semeadura, em direção à Lei ou à anti-Lei. Assim o fenômeno do destino se capta, sobretudo na segunda fase do ciclo da redenção, porque esta é a da correção obrigatória dos erros livremente cometidos na primeira fase. Por essa razão, o destino toma a forma de fato inexorável. Justamente aqui analisar com mais profundidade quais são as causas das razões desta sua inexorabilidade.

Todo o fenômeno tem funcionamento automático. Uma vez feita a escolha dos caminhos a seguir, a órbita deve fatalmente continuar, livremente, o seu impulso. Tudo depende desta primeira colocação. Quando o indivíduo se põe numa dada posição diante da Lei, depois fica encurralado num dado tipo de concatenamento de causas e efeitos, de modo que não pode sair dele, enquanto não haja exaurido todo o percurso. Esse processo passa a ser um componente da sua personalidade; sua própria vida se transforma nesse processo, de modo que dele é impossível escapar. Daí, advém a fatalidade do destino.

Quando um indivíduo enfrenta a sua vida, ele leva consigo as conseqüências de todos estes precedentes, aos quais está ligado. Segue-se que, na série das várias oportunidades que a vida lhe oferece, ele não escolhe livremente ou por acaso, mas se orienta, seguindo preferências diversas, segundo as atrações estabelecidas pelo sua natureza. Disso depende o seu comportamento, o seu tipo de reação, o seu método de pensar e agir, e, por conseguinte, a sua vida. Mas tudo isso depende de sua forma mental, que é a construída por ele no passado. Eis como o indivíduo traz consigo já traçado o caminho que há de seguir. Estes movimentos: escolha, comportamento, tipo de reações, modo de pensar e agir, estavam à espera de desenvolvimento, escondidos no inconsciente do indivíduo, por ele mesmo introduzidos no passado. Dado esse precedente, não é possível que a pessoa seja diferente do que é, ou se torne uma outra e, portanto, que as conseqüências de sua natureza possam ser diversas do que são. Para que isso fosse possível, seria necessário que o indivíduo fosse feito de outro modo. É assim que ele pode seguir uma só via, a do natural desenvolvimento da trajetória do seu destino, tal como esta foi por ele lançada. Uma mudança é possível, mas somente percorrendo toda a órbita, introduzindo, pouco a pouco, com novos aguilhões, os corretivos que a modifiquem, depois de haver passado pelos provações, aprendido a lição e as conseqüências do passado. Uma mudança rápida se poderia fazer, desde que se possuísse o conhecimento. Mas o conhecimento não se pode sobrepor à experiência, porque é conseqüência dela.

Este fenômeno do destino nos mostra uma característica: é conseqüência do que semeamos, golpeia nos pontos precisos e na forma em que semeamos. Constituindo-se na correção das forças anti-Lei, que pusemos em movimento, é lógico que para corrigir-nos, como é sua função, ele o faça de modo específico, isto é, dirigindo-se contra o defeito a ser corrigido, contra o órgão enfermo a ser curado. Assim, cada um é submetido a um dado tipo de provas, duras para ele, porque o golpeiam justamente em seu ponto fraco, de menor resistência, enfermo e dolorido, enquanto que para outros, tal tipo de provas é insignificante, porque estes naquele ponto são fortes, sãos e inatacáveis. Mas o que não foram atingidos, submeter-se-ão, por sua vez, a provas que lhe serão igualmente duras porque serão golpeados em outros pontos também fracos, doentios e dolorosos; provas, entretanto, que não atingirão os demais seres que nestes pontos são fortes, sadios e inatacáveis.

Essas forças, automaticamente, são canalizadas, de modo a ferir o ponto justo, particular, de cada indivíduo. Isto se explica com o fato de que esta canalização já está estabelecida pelo direção em que foi lançado o primeiro impulso, automaticamente continuando, através do conhecido concatenamento: erro, seu registro como mau hábito ou qualidade adquirida, com experiência corretiva, e, finalmente correção de trajetória errada. Ora, o destino não pode funcionar, senão permanecendo dentro desse canal em que foi gerado, do qual não pode sair, até que um novo impulso modifique sua trajetória. É assim que o destino é fatal, estritamente pessoal, específico, isto é, exatamente orientado para os pontos pré-estabelecidos, construídos por nós anteriormente. No caso da segunda fase da redenção, é uma escola com finalidade corretiva daqueles erros determinados que quisemos cometer no passado. Tudo isto é bem definido, sem elasticidade e promiscuidade. A cada um corresponde a responsabilidade pela sua culpa e a fadiga da redenção. Tudo segundo a justiça. Cada um paga os próprios pecados e não os dos outros, que pagam somente os seus. Cada um se redime com as próprias dores e não com as dos outros que, por sua vez, não se podem redimir através das dores alheias. A Lei só pode ser esta: a Lei da mais exata justiça.

Quando se sofre por um duro destino, se é levado a procurar-lhe a causa nos outros, jogando a culpa neles e não em si mesmo e desse modo acreditando que se pode livrar da própria dívida, enquanto na verdade a culpa é agravada, porque se agrava o erro. Vemos um mal cair-nos às costas e, para defendermo-nos, queremos descobrir quem é o inimigo que no-lo atira. Não compreendemos que se trata do assalto de um inimigo, mas do funcionamento da justiça da Lei. É inútil inculparmo-nos uns aos outros. Cada um sofre as conseqüências do que faz. Quem foi atingido, expia, e quem o atinge deverá expiar por tê-lo atingido.

Há filhos que maldizem os próprios pais, porque, trazendo-os ao mundo, os condenaram a um vida de sofrimento. Mas esses pais poderiam responder a cada um de seus filhos: “E tu, por que encarnaste naquele feto? Não fomos nós que te obrigamos a escolhê-lo. Por que não nasceste de um outro casal? Poderia esse fato mudar a tua natureza e o teu destino, que dele depende? Nós te demos um corpo, mas não te obrigamos a escolhê-lo entre tantos outros. A alma é tua e não fomos nós que a fizemos. Se foi Deus que assim te criou e desse modo te tem obrigado a viver, então te volta contra Ele”.

Depois de tais esclarecimentos, tais reclamações não têm mais sentido. Mas, para resolvê-los, é necessário sair do mistério e conhecer este funcionamento. Os desgraçados que passam a fazer exame de consciência e, encontrada a culpa em si mesmos, procurem corrigi-la. Como pode a Lei ser tão injusta a ponto de fazer pagar um filho inocente as culpas dos pais? E da parte destes, como podem, por sua vez, ser responsáveis por um destino que não podem prever? Certamente esses pais podem e devem ajudar com a educação, mas já vimos que os destinos não se anulam, senão depois de tê-los percorridos, vivendo, senão depois de tê-los percorrido, vivendo todas as relativas experiências. Como se vê, estamos fechados numa gaiola de ferro que é a ordem e a justiça da Lei. É lógico que ela não nos venha dar essas explicações e imperturbável continue a funcionar em silêncio. Somos nós que, com a nossa inteligência, devemos chegar a compreender.

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Procuremos agora compreender, ainda mais profundamente, a estrutura do fenômeno de nosso destino. Veremos que, não obstante possa ser entendido como fatalidade cega, esse é, na verdade, um fato que se pode racionalmente prever, calcular, livremente preparar, mesmo se depois ela se apresenta com desenvolvimento automático e fatal. Segundo a justiça, somos responsáveis, não há como contestar.

É necessário, antes de tudo, compreender que só existimos enquanto somos um vir a ser. O transformismo é a forma da nossa existência, não somos uma coisa fixa, mas uma trajetória em movimento. É este movimento que nos sustém, como é o movimento  que mantém os planetas nas suas órbitas. Somos crianças que se tornaram adultos, adultos que envelhecem, velhos que morrem para renascer. Estamos sempre nos tornando alguma coisa diferente e não podemos deter-nos nunca. Aqui o esquema rotativo da órbita planetária nos exprime o fenômeno com evidência. Existimos hoje, de um modo diverso do que fomos ontem, e seremos amanhã, isto é, sempre em um outro ponto de nosso movimento, que é a continuação  do precedente. Eis, pois, que cada um de nós é uma personalidade resultante de um conjunto de qualidades bem definidas, mas em contínua transformação, razão pelo qual, o ser existe em forma de uma trajetória em curso, como entidade que navega através do seu transformismo, individuada pelo típico feixe de forças que a constituem. Daí se conclui que uma personalidade, definida pelas suas qualidades, é como uma massa lançada ao longo da órbita do seu destino, que fatalmente, tende a prosseguir, porque uma massa, pela inércia, tende a manter inalterada a sua direção.

Afirmamos anteriormente: tais forças formam um circuito individual fechado em si mesmo, mas que se encontra em relação com o ambiente em posições diversas, por afinidade ou dessemelhança, por atração ou repulsão. Aperfeiçoemos estes conceitos. Quando a personalidade se desloca através de seu transformismo e percorre assim a trajetória do seu destino, nesse caminho ele atrai para si as forças afins que encontra no ambiente e repele aquelas com que não sintoniza. Dessa atração nasce uma aproximação e, depois, uma combinação. Então um determinado evento se verifica. Arepulsão, ao contrário, afasta, não ocorrendo a relativa combinação e,então, aquele determinado evento não se verifica.

É a natureza das forças constitutivas da personalidade do indivíduo, com suas bem definidas qualidades que estabelece o tipo de atração, de repulsão, e logicamente de combinações, promovendo depois a verificação de dados eventos na vida do próprio indivíduo. Mas estas qualidades são construídas por ele próprio, com seus pensamentos e ações passadas. No fenômeno estão, pois, presentes estes elementos: 1º) A própria natureza, isto é, a estrutura da própria personalidade com as suas particulares atitudes de atração e repulsão; 2º) A trajetória, segundo a qual é lançada, que a expõe a encontrar as várias forças, entre as quais, dada aquela natureza e qualidade, automaticamente ocorrerá a escolha. Ora, estes elementos são pré-existentes ao evento que se diz desejado pelo destino, e são o resultado de uma nossa originária livre escolha, em seguida à qual eles foram por nós mesmos construídos no passado. O fenômeno nos parece cego e fatal, somente porque não vemos a sua primeira formação. Esta, no entanto, é o resultado de movimentos concatenados, iniciados pelo indivíduo que livremente os lançou. Ela é, pois, responsável pelos os eventos da sua vida , que, por ignorância, atribui a um cego destino. Finalmente, tudo é justo, porque a primeira causa é nossa.

Procuremos penetrar a técnica do fenômeno observando seu funcionamento. O destino não é senão o desenvolvimento de uma trajetória lançadas por nós mesmos anteriormente e a cujo percurso estamos inexoravelmente ligados pelo lei de causa e efeito se foi nossa a escolha e nossa a ação que operou como causa, nossas também devem ser as conseqüências. Uma vez que nós lançamos em determinada direção. É impossível não segui-la até o fim. Eis porque o destino se nos apresenta com características de fatalidade.

Estabelecida a origem e o tipo desse movimento, tentemos compreender o que acontece no seu desenvolvimento, ao longo do seu percurso. Este movimento consiste no transformismo canalizado em determinada direção, de uma personalidade exatamente individuada como feixe de forças, num circuito fechado e bem definido nas suas qualidades. Eis que cada caso submetido a exame se distingue, seja como tipo de personalidade, seja como tipo de destino, de todos os outros casos em meio aos quais se move. Estabelecido tal tipo e o percurso da sua trajetória, eis então que se pode prever que campos de forças ele atravessará em seu caminho, e a escolha que fará, dado que, segundo a sua natureza, estará pronto e levado a entrar em combinação com forças afins, porque as atrai e é por elas atraído por semelhança e simpatia. Poder-se-á prever que forças poderão entrar no seu circuito, enxertando-se nele e fundindo-se com ele. Poder-se-á, conhecer que tipo de eventos será repelido e qual será aceito e absorvido, logo depois da escolha que o indivíduo é levado a fazer segundo a sua natureza.

Veremos então que, se o primeiro impulso e a trajetória por ele impulsionada é a do tipo negativo, ela será destinada, por recíproca atração, a atravessar campos de forças negativas e a com elas combinar-se, o que significa entrar numa atmosfera de destruição,  em virtude de que o fazer o mal aos outros em vantagem própria, levará a sofrer o mal em dano próprio. No seu oposto, se o primeiro impulso e a trajetória é do tipo positivo, ela será destinada, por recíproca atração, a atravessar campos de forças positivas e a combinar-se com elas, o que significa entrar numa atmosfera construtiva, fazendo não só o bem aos outros, mas também recebendo-o em benefício próprio.

Concluindo: os resultados do primeiro lançamento livremente escolhido e desejado, como é justo, em cada caso recaem em quem o praticou. Eis que cada um premia ou se pune com as suas próprias mãos, porque o destino é dado pelo tipo de trajetória por ele escolhida e lançada e isto o levará fatalmente às posições que se encontram ao longo de seu percurso. É assim que, dependendo do fato de ser positiva ou negativa, a vida será feita de bem ou de mal, benéfica ou maléfica, auto-construtiva ou auto-destrutiva. Deste último tipo será a vida do indivíduo malfeitor, mesmo que ele se proponha a ser maléfico e destrutivo apenas para os outros. Se estes forem inocentes, não serão atingidos por ele. Ele poderá irradiar forças negativas, mas ele próprio é o que mais está impregnado delas, porque essas forças constituem a sua natureza e, se são prejudiciais para todos, o são, sobretudo para ele, que mais que todos, está saturado. O mal que faz aos outros é muito menor do que o que termina por fazer a si mesmo. E vice-versa, o mesmo ocorre em relação ao bem, pelas trajetórias de tipo positivo que são autoconstrutivas.

Esta é a técnica funcional do fenômeno, automática, mesmo se o homem tem necessidade de representá-la à sua semelhança sob a forma de um chefe que recompensa ou castiga. Ocorre, desse modo, que as trajetórias semelhantes se atraem por afinidade, portanto se aproximam, tendem a fundir-se, de modo que, no bem ou no mal, as forças que o constituem se somam e assim se reforçam reciprocamente. O contrário ocorre com as trajetórias de tipo oposto. Quando uma trajetória de tipo positivo tem que atravessar um campo de forças negativas, não há a atração que leva à aproximação ou à fusão, mas repulsão que leva ao afastamento e à separação. Somente os circuitos afins conseguem enxertar-se uns nos outros. O mesmo acontece quando uma trajetória de tipo negativo atravessa um campo de forças positivas; verifica-se o mesmo estado de repulsa que leva ao afastamento e à separação. Ocorre então, um processo semelhante ao que encontramos em química, no qual os elementos em alguns casos, se combinam com outros, quando existem as necessárias condições de afinidade. Do contrário, formam apenas uma miscelânea, permanecendo estranhos um ao outro, sempre prontos a separar-se. Assim, as forças de uma trajetória podem unir-se e colaborar com as de outra; semelhante à combinação química: quando afins é possível a sintonização; repelindo-se, em caso contrário, mesmo se postas em contato.

O bem atrai o bem e é por ele atraído, com ele tende a juntar-se; e o mal atrai o mal e é por ele atraído, e com ele tende a juntar-se. Sobretudo para o indivíduo, segundo o seu tipo positivo ou negativo, no primeiro caso tudo tende a mover-se em sentido construtivo e, no segundo caso, em sentido destrutivo. No primeiro caso temos um destino benéfico, que automaticamente, beneficia àquele que o construiu; no segundo, um destino maléfico que, automaticamente, pune quem assim o desejou.

Perguntamo-nos agora: É possível ajudar quem se encontra nas tristes condições desse último? Se sua natureza é negativa e maléfica, como podem ser postos, num circuito de forças de tal tipo, impulsos do tipo oposto, a fim de que possam ser assimilados e utilizados? Eis, então, que é a própria negatividade do indivíduo que repele a positividade de tais ajudas. É natural que a trajetória do seu destino resista a cada desvio de seu caminho, que, se é dirigido para o mal, quer continuar a avançar em tal sentido. Mudar para ele significa uma violação da sua personalidade, de modo que ele, como é negativista e deseja permanecer assim, se rebela a cada movimento de salvação que queira conduzir ao campo positivo. Ele procurará, ao contrário, outros negativistas com que possa realizar melhor a sua personalidade e com que, ao invés de salvar-se, terminará por perder-se. Assim ele se defenderá dos bons que quiserem salvá-lo, como se estes representassem um assalto destrutivo com a intenção de sufocar a realização de si mesmo. Ele interpretará, contrariamente os sábios conselhos. Sendo negativista ele tudo confundirá, entendendo o positivo como negativo, um ato de sinceridade como uma mentira, o que lhe é benéfico como coisa maléfica, de modo que acabará por transformar o que lhe é oferecido como vantagem revertendo no seu próprio dano. Eis qual é a técnica da autopunição e a razão da fatalidade do destino, razão pela qual a trajetória, seja do tipo que for, deverá ser percorrida até o fim. De resto, não seria justo, no caso negativo, uma fácil recuperação sem mérito o que certamente não ocorrerá, pois é o próprio mal agindo, tentando subverter e inverter o bem, transformando-o em negativo. Pode acontecer às vezes até uma nobre tentativa de resgate de quem se tornou com as forças do mal e nada mais deseja além de arrastar consigo todos ao inferno da perdição. Podemos mesmo chegar ao ponto em que, uma tentativa de corrigir o negativo com o positivo, o indivíduo responda com a tentativa de transformar o positivo em negativo.

A boa vontade do homem benéfico, no tocante aos fins propostos, pode ficar paralisada diante de inexorabilidade da Lei que exprime a justiça de Deus, motivo pelo o qual o bem não pode passar gratuitamente de quem o quer fazer a quem não o mereceu, mesmo se, por bondade alheia, aquele bem lhe é endereçado. Ocorre então que aquele impulso de bem não prossegue, recai sobre quem o lançou e permanece em seu benefício. E assim o exercício do bem, quanto mais é praticado em benefício alheio, com o próprio sacrifício, tanto mais beneficia aquele que o faz. O mesmo efeito acontece no exercício do mal. Quanto mais é praticado egoisticamente a fim de tudo conseguir para si em prejuízo dos outros, o maior prejudicado será aquele que o pratica. Em suma, pelo justiça da Lei, ocorre que o bem ou o mal não passam a quem o recebe na medida em que este mereceu. Diante dos assaltos do mal, pode-se chegar ao ponto em que estes, encontrando a virtude do bem consigam ser transformados numa escola de purificação e numa prova útil para a sua redenção; ao passo que a quem faz o mal, não é dada a oportunidade de saber transformar, em vantagem própria, tal modificação em bem; assim, tudo o que realiza, danifica com os seus frutos maléficos. Em suma, o que prevalece e fica a cargo do indivíduo com os seus resultados é a positividade ou negatividade do seu tipo de destino.

Segundo a justiça, todas as tentativas de violar a Lei, mesmo que seja sem desejá-lo e até desejando o contrário, provocam a mesma reação; tanto quem faz o bem como quem faz o mal termina por fazê-lo, antes de tudo a si mesmo. Ele poderá transmitir uma parte aos outros, mas a maior parte fica com ele. Assim, quem faz o mal pode até mesmo conseguir fazer o bem à sua vítima, se esta é boa. Isto prova como a Lei de Deus, com a sua soberana disciplina, exerce seu domínio sobre tudo e sobre todos. Em sua ordem, ela quer que, embora os destinos se toquem e se influenciem, as responsabilidades não se misturem, e cada um fique ligado as conseqüências das próprias ações, e não às dos outros. Cada trajetória não pode sair do seu caminho, não pode ser desviada casualmente, mas seguindo apenas as normas estabelecidas pela  sua correção, aos devidos impulsos e cálculos de forças. Podemos assim ver com que exatidão, disciplina e justiça são reguladores o desenvolvimento de um destino.

As trajetórias das nossas vidas se movem com a mesma ordem que as planetárias e estelares, seguido percursos exatos, calculáveis e previsíveis. Como aquelas, as infinitas órbitas dos nossos destinos não se misturam. Se isso ocorresse, que caos se tornaria o universo! E que caos seria a vida, se tudo, no seu movimento incessante, não fosse canalizado em dados percursos, segundo um plano pré-estabelecido! Nesta ordem, cada elemento percorre a sua trajetória, em equilíbrio com as demais, relacionando-se, com relações, interferindo-se, com ações e reações reguladas, tudo coordenado em um imenso organismo, seja no plano dos corpos celestes e do dinamismo que os move, seja no plano biológico e espiritual. É a presença dessa ordem que torna possível calcular com antecedência, tanto o percurso de uma órbita planetária, com a do destino, incluindo-se os acontecimentos que ele contém. Torna-se, então, possível lançar bases racionais da nova ciência positiva da previsão, que se chama “Futurologia”.

Essa ciência é possível, após o conhecimento das várias fases que, no seu desenvolvimento, percorre a órbita de um destino, isto é, aquelas que chamamos as três fases do ciclo de redenção. Se a trajetória segue a direção da Lei, aponta para o S, mas disto não se conclui que a evolução leve o indivíduo sempre mais para o bem. Vindo tal movimento do AS, o caso mais comum  é que o ponto de partida que inicia um ciclo seja o erro. Verifica-se assim aquele fenômeno trifásico, observado no capítulo precedente, que relembrando, é composto de três momentos: 1º ) Ignorância, que leva ao erro; 2º ) experiência feita de dor; 3º ) conhecimento que leva à cura, isto é, à correção da velha trajetória e inicio de outra justa.

Ora, submeti esta teoria a um controle experimental, observando muitos destinos e vi que ela corresponde à realidade. Esta teoria é aplicável a cada caso. Não obstante o tipo de forças contido em cada um deles seja diferente, e, portanto, diverso seja também cada trajetória,  em que o percurso das três fases estão sempre presentes e pode dividir-se em três períodos. Uns se encontram no primeiro, outros no segundo, e os demais no terceiro e eles se distribuem em vidas sucessivas ao longo de todo o ciclo, que não pode ser exaurido muitas vezes numa só vida. Mas, examinando-se a posição do sujeito na sua vida presente e conhecendo o andamento do fenômeno, podemos saber qual foi aquele destino no passado, que preparou o seu presente, e que destino será no futuro, preparado pelo presente. Eis como é possível estabelecer uma futurologia racional.

Demos um exemplo. O sujeito é um motorista que guia um automóvel. Ele é inábil, está, portanto, exposto aos perigos do trânsito. Acidentar-se ou não depende das qualidades dele. E delas depende também o tipo de mal que ele poderá fazer a si mesmo e aos outros. Ele pode errar de vários modos e em cada um está implícito o dano correspondente. Tudo depende exclusivamente dele. A primeira fase é da ignorância e do erro. Se houver acidente, eis a segunda fase, a da experiência e do sofrimento. Aquele motorista acabará no hospital, ficará imóvel num leito durante muito tempo, enfaixado para consertar os ossos quebrados. Deve pagar os prejuízos do seu carro e o dos outros. No entanto, ele pensa: “Se não tivesse cometido aquele erro, agora não estaria sofrendo”. Ele fica bom, se refaz e retoma a direção, mas tem cuidado em não repetir o mesmo erro e assim controla e domina os seus impulsos. Ele agora se encontra na terceira fase, a do conhecimento que o leva à recuperação, isto é, a correção de seu velho modo de dirigir para seguir um novo.

Ora, na vida, encontramos criaturasque são na primeira, uns na Segunda e outros na terceira fase, mas em qualquer uma em que a pessoa se encontre, pode-se deduzir quais são as outras duas fases e, assim, do conhecimento de um só ramo de sua história podemos deduzir outro mais completo, mesmo se essa história se interligue a vidas precedentes ou seguintes. Desse modo, se encontramos uma pessoa que corra loucamente na vida, inconsciente dos perigos, pelo conhecimento das suas finalidades, sabemos contra qual obstáculo ela se chocará. Isso é o que tantos chamam de sucesso e triunfo! Encontramos aquele que já bateu e está no hospital, chorando e meditando; e um outro que aprendeu a lição e, já ajuizado, não cai mais no erro. Assim podemos compreender o significado e o valor de cada posição, porque vemos as posições que se completam dentro do mesmo ciclo, e podemos dizer a cada um que coisa ele fez antes e o que lhe sucederá depois. As forças constitutivas da personalidade estão a caminho e na direção estabelecida por sua natureza e com a velocidade estabelecida pelo sua potência. O trajeto de nossa vida é, pois, num certo sentido, pré-estabelecido, e se pode, portanto, prever no bem ou no mal a que posição esse trajeto conduz e quando alcançará. Eis a futurologia.

Resumindo, estudemos, pois, o fenômeno em quatro momentos, cada um dividido em duas partes, isto é:

 Iº

 Observar a estrutura da personalidade.

IIº

Observar, dado que essas forças estão em movimento de evolução, a direção delas, estabelecida pelo sua natureza, segundo a qual elas querem  realizar-se.

IIIº

Observar qual a potência daquelas forças e, pois, a velocidade de sua realização.

IVº

A conclusão da observação, isto é, a análise da trajetória,

Para conhecer as suas qualidades ou tipo de forças que ela contém.

IIº

Para conhecer quais serão as futuras posições que alcançará no seu percurso o destino examinado, isto é, onde ele levará o indivíduo.

IIIº

Para conhecer quando, em  medida de tempo, cada daquelas futuras posições será alcançada.

IVº

A conclusão de todo o procedimento (conhecidos os meios de correção a serem  usados, isto é, os novos impulsos introduzidos para corrigi-la), é a sua correção até que possa construir-se um  novo destino correto.

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Estes poucos conceitos são apenas um início do estudo de problemas imensos, uma primeira tentativa de orientação para profundas pesquisas introspectivas e de psicanálise, mas já se pode traçar uma teoria positiva do pecado e da redenção, uma explicação racional do destino e da função da dor. Perfila-se a possibilidade de seguir um cálculo das trajetórias  dos vários destinos, primeiro descobrindo-lhe as raízes determinantes situadas no passado e, depois, consequentemente, podendo prever os futuros desenvolvimentos. Uma vida é um trajeto no tempo, ela depende de como foi assentada, isto é, da posição em que foi posta em órbita. Levando em conta a natureza, potência e direção das forças em ação, se pode calcular o percurso e a posição de chegada ao fim de uma vida, mas para isso é necessário um conhecimento profundo da personalidade humana e das suas qualidades instintivas, intelectuais, morais, analisando-se individualmente cada caso.

Possuindo o conhecimento de todos os elementos do fenômeno, talvez se possa confiar o cálculo das trajetórias dos destinos a calculadores eletrônicos com procedimento semelhantes àqueles que se usam na determinação das trajetórias dos mísseis interplanetários. Dessa forma, será possível introduzir, naqueles destinos, para corrigir-lhes o percurso, os impulsos úteis e assim transformá-los em bem, modificando o conteúdo daqueles campos de forças. Assim o eu poderia ser colocado e preparado para assumir uma órbita mais vantajosa, na melhor acepção da palavra. Eis um método de real planificação  da vida, não no sentido restrito, já aludido, de uma única existência terrestre, mas no sentido amplo de vida na eternidade. Quanto dispêndio de energia em tentativas, quantos erros e dores se poderiam evitar! E que rendimento poderia dar a vida se fosse inteligentemente orientada! Como mais rápida e fácil poderia então ser a escalada ao céu, realizada por meio da evolução!

Os métodos de conduta humana, hoje vigentes, são tremendamente ilógicos e contraproducentes. Podemos comparar o trajeto de nossa vida a um trecho que percorremos dentro de um túnel. Nós, e tudo o que existe nele estamos fechados, de modo que os nossos movimentos, livres no seu âmbito, são limitados por suas paredes. O caminho que percorremos dentro do túnel é o da evolução. De fato, quanto mais se vai para trás, mais ele é estreito e escuro, e quanto mais se vai para a frente mais é amplo e luminoso, até que no ponto final do túnel, na saída, se encontra o espaço livre e esplende a luz do sol, a luz do S. Durante o percurso, vemos aquela luz de longe, como um ponto, enquanto estamos mergulhados nas trevas. Avançamos, penosamente na escuridão de nossa ignorância. Agitamo-nos ansiosos de liberdade, mas não sabemos fazê-lo, porque nos falta a luz da inteligência. Assim nos movemos por tentativas, enganando-nos a cada passo e chocando-nos contra as paredes do túnel que lá estão, duras e inflexíveis. Nós mesmos as fabricamos com nossa revolta, fechando-nos nelas em posição anti-Lei no AS. Dentro desse cárcere fizemos o caos, e este permanece para nós, prisioneiros do túnel, o nosso inferno. Desatinados por causa da felicidade perdida, agitamo-nos para a direita ou para a esquerda, mas a cada movimento errado damos um golpe nas paredes do túnel.

O mal que nos fazemos não vem das paredes, que ficam quietas e não nos assaltam, mas vem dos nossos movimentos errados. É evidente que, não obstante o espaço restrito, se nós soubéssemos mover, não iríamos bater e não nos faríamos mal. Isso, pois, depende de nós e não das paredes, depende de nossa conduta errada e não da Lei. Para eliminar a dor bastaria compreender quais são as suas causas, e não provocá-la mais, semeando-a isto é, sabendo comportar-nos sem bater nas paredes, seguindo a disciplina da Lei, o homem que tem feito tantas descobertas, ainda não é capaz de compreender uma coisa tão simples: o funcionamento da Lei. É pois, inevitável que ele continue a sofrer, enquanto não conseguir compreender. Porém a Lei já havia previsto que a decidida vontade do ser era a de estabelecer no AS uma revolta definitiva, de modo a ficar dentro dele, ignorante e sofrendo. Em vez de inserir-se na ordem estabelecida, quereria romper as paredes do túnel, subvertendo a Lei. Mas ele não possui um poder tão grande. Então, em vez de romper as paredes, arrebenta-se a si mesmo. O resultado da sua revolta é a cabeça partida, que quer dizer dor. Ora, justamente nisso está a sabedoria da Lei, porque é aquela dor que ensina a não repetir o choque e com isso saber mover-se. O percurso do túnel, isto é, da evolução, torna-se então uma escola para aprender a mover-se, porque este conhecimento é indispensável para tornar a entrar no S, que é regime livre, mas feito de ordem. De fato, somente a ordem é possível ter, sem prejuízo, uma liberdade completa. Essa não se pode conceder na desordem, porque seria desastrosa pelo fato de que gera subitamente abuso, o que, somente num regime de perfeita disciplina não ocorre. Assim, a liberdade só se poderá conseguir no final do túnel, onde o espaço é livre e luminoso, e dessa liberdade se poderá fluir por ter se aprendido a fazê-lo na indispensável ordem e disciplina, aprendidas na escola da evolução.

O homem é ainda uma criança que não sabe caminhar e, para aprender, deve cair a cada passo, mas cada queda ensina, até  a criança não cai mais. Certamente para um adulto seria absurdo um tal modo de caminhar, isto é, tendo que cair e levantar-se a cada queda. Apenas se evolui um pouco, passa-se a compreender que estranho modo de mover-se é este. Mas para isso é que há a evolução. Quanto mais o homem evolui tanto mais se aproxima da saída do túnel, onde termina o AS e o espera o S. Então, com o avançar, as trevas se tornam menos densas, a luz aumenta, abre-se a inteligência, vê-se tudo mais claro e assim as quedas e os choques, como as dores que deles derivam, podem diminuir até cessar.

Quando se tiver compreendido tudo isso, poder-se-á chegar a uma nova moral científica, que se ocupará do justo lançamento das trajetórias da vida e da correção das erradas, impedindo assim a formação de destinos de dor. Trata-se de uma medicina preventiva no campo moral, baseado nas normas de higiene espiritual, que previnem contra o mal, eliminando os centros de infecção, impedindo-lhes a formação, o que é mais prudente que corrigir e reprimir depois, correndo as reparações, quando o mal já está formado. Assim o problema é assentado sobre lógica, sem apriorismos fideísticos, mas com critérios práticos e utilitários, portanto, compreensíveis para todos, sem rivalidades de partido ou religiões, baseando-se em princípios de alcance universal. Poder-se-á fruir da imensa vantagem de evitar tantas dores, vivendo com seres conscientes e inteligentemente orientados.