Antes de iniciar este novo livro, apresentamos numa visão de conjunto, um rápido resumo de nosso sistema filosófico, até hoje desenvolvido na I e II Obra de doze volumes cada uma, que estamos acabando. Esta exposição sintética poderá ser útil como premissa para orientar o leitor a respeito do novo tema, que neste livro iremos desenvolver.

Entremos rapidamente no assunto. Qual é o nosso sistema filosófico? Ele não é uma construção lógica artificial, um castelo de conceitos e teorias abstratas fora da realidade, mas é uma visão positiva, aderente aos fatos, cientificamente controlável, que abrange todos os aspectos da existência, de modo que, dando respostas às perguntas que mais interessam à vida, se pode dizer que resolva o problema do conhecimento, dando-nos, pelo menos nas suas linhas gerais, uma orientação. As perguntas fundamentais, a que a filosofia deveria responder, são por exemplo: por que existimos, por que nascemos, vivemos e morremos, por que sofremos, de onde vimos e para onde vamos? Há um funcionamento orgânico no universo. Quem o dirige? O movimento de tudo o que existe está orientado para uma dada finalidade, mas qual é o princípio que tudo guia para ela, qual o plano de todo esse trabalho? Qual é o seu resultado final? Se estamos seguindo um caminho, a coisa mais importante é a de conhecer esse caminho. Como podemos percorrê-lo sem saber para onde ele vai? E se desesperadamente estamos fugindo da dor e procurando a felicidade, qual é o meio para realizar aquilo que mais almejamos? Um sistema filosófico deste tipo representa a vantagem de nos oferecer uma orientação em todos os campos, a qual, embora não resolvendo todos os pormenores dos problemas, nos permite encarar os assuntos particulares, não construindo hipóteses por tentativas, mas seguindo um caminho pré-ordenado, em que somos dirigidos pela visão de conjunto anteposta à nossa pesquisa. Veremos agora com que método seja possível atingir esta visão.

O filósofo moderno tem de ser não somente um construtor de castelos lógicos, mas também um cientista, um matemático, um biólogo, um historiador, um sociólogo, um moralista, um parapsicólogo etc., porque a sua posição é a de quem, colocando-se acima de todos os ramos do conhecimento humano, tem a tarefa de fazer deles uma síntese que oriente e encaminha para a unidade os resultados de tantas conquistas analíticas em que o conhecimento está hoje fracionado. Então o valor dum sistema filosófico se pode avaliar pelo grau de unificação por ele atingido, pela proporção com a qual aquele sistema conseguiu revelar e demonstrar, além das aparências da superfície, a substancial coordenação que na profundidade funde num só princípio tudo o que existe.

Surge agora, como dizíamos, o problema do método, que nos permita alcançar esses resultados. A filosofia antiga afirmou e a ciência moderna demonstrou que estamos vivendo num mundo de aparências. Os sentidos, que representam o meio para chegar ao conhecimento da realidade, ficam na sua superfície e não sabem atingir a sua verdadeira profundidade. Como poderemos chegar até lá?

O homem possui dois métodos de pesquisa: o dedutivo e o indutivo. Com o primeiro, que é o da inspiração, intuição ou revelação, o homem, com antecipação evolutiva, colocando-se acima das pequenas coisas do contingente, pode atingir os princípios gerais, para descer ao particular que enfrenta e resolve somente como conseqüência do universal. Acontece, porém, que a pesquisa conduzida neste nível não nos coloca diretamente em contato com a realidade dos fatos, a qual representa o único meio de controle da verdade dos princípios gerais.

Com o segundo método, que é o positivo da ciência, o da observação e da experimentação, o homem ficou no terreno objetivo da realidade, procurando chegar ao conhecimento da verdade, levantando hipóteses a partir daquela base segura, até confirmá-las com o apoio dos fatos, em teorias positivamente demonstradas. Segue-se, desse modo, um caminho inverso do precedente. Em lugar de descer do geral para o particular, se sobe do particular para o geral. O pesquisador fica diretamente em contato com a realidade dos fatos, as verdades atingidas são exatamente controladas, mas elas são parciais, fragmentárias, relativas, fechadas no particular, do qual não conseguem afastar-se senão depois de longo e duro trabalho para subir ao universal.

O primeiro método dá resultados vastos, mas não controlados. O segundo dá resultados positivos, mas restritos. Para resolver o caso por nossa conta, usamos outro método, que poderia ser entendido como um conjunto dos dois, utilizando assim as vantagens de ambos, isto é: o dedutivo que trabalha por síntese e o indutivo que trabalha por análise.

Por outras palavras, usamos num primeiro momento o método que foi o das religiões, o da revelação, que mais exatamente chamamos o método da intuição ou inspiração; e num segundo momento usamos o método positivo da ciência, isto é, do controle objetivo por meio da observação e experimentação. Deste modo chegamos primeiramente a uma orientação geral, que nos indica como dirigir a nossa pesquisa; e depois realizamo-la em contato com os fatos, para controlar se .a intuição, que aceitamos apenas como hipótese de trabalho, corresponde à realidade. Colocamos assim o fruto da inspiração no banco do laboratório das experimentações, como faz o físico ou o químico que, observando o funcionamento dos fenômenos, descobre as leis que os regem. Temos usado este método de controle também no campo moral e espiritual, observando o efeito das nossas ações no bem ou no mal, o desenvolvimento dos destinos, o funcionamento da Lei de Deus, até chegar a uma ética biológica racional, não mais empírica, mas positiva, baseada nas leis da vida. Chegamos, assim, a novas conclusões, que nos levaram bem longe.

O problema é agora o de explicar como funciona esse método da intuição ou inspiração. Entramos aqui num terreno de parapsicologia. Nesta exposição breve podemos apenas resumir as conclusões. Julgo que o grau de conhecimento depende do nível de amadurecimento evolutivo atingido pelo ser que o concebe. O homem não cria nada. Todos os problemas já estão resolvidos e tudo está funcionando desde tem os anteriores à a aparição do ser humano. Ele não cria, mas só descobre a verdade; ele vai apenas sempre mais aprofundando a sua pesquisa para ver o que existe por si mesmo, independente dos seus recursos perceptivos. A verdade é obra  eterna de Deus e não do homem. Ela está escrita toda e sempre no absoluto. O homem situado no relativo, por aproximações sucessivas, pouco a pouco vai abrindo os olhos, lendo cada vez um pouco mais, conforme o que consegue, de acordo com o seu amadurecimento, evolutivo, sensibilização e capacidade de ler e compreender.

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Então o problema do conhecimento é antes de tudo problema de evolução do instrumento humano. Não se trata de um verniz cultural pintado por fora e colado no cérebro por leitura de livros, mas trata-se de um amadurecimento profundo preparado; às vezes, pelos choques da vida, pelo sofrimento e conseqüente elaboração íntima do subconsciente. Trata-se de um fenômeno que se realiza para além dos comuns processos da lógica, num plano de vida e dimensão super-racionais. Quando o ser está maduro, ele aparece como revelação, em forma de visão interior, que enxerga até onde o raciocínio não alcança. Expliquei nos meus livros como espontaneamente fui levado a usar esse método. Estudei também o progressivo desenvolvimento da sua técnica, que se vai aperfeiçoando sempre mais. Temos nas mãos os resultados concretos: são mais de 6.000 páginas escritas pelo mesmo processo. Resultados que depois foi possível controlar com a observação e a experimentação, que os confirmaram como verdadeiros. Quando colocados em contato com a vida, eles demonstraram corresponder à realidade dos fatos.

Que nos diz esse sistema filosófico e o conteúdo da visão que ele nos oferece? Podemos, resumidamente, reproduzi-lo em síntese, nesta "Introdução". Quem quiser entrar nos pormenores, encontrará tudo nos meus quatro livros básicos: A Grande Síntese,

Deus e Universo, O Sistema e neste volume.

O plano é estritamente monista, embora contendo o dualismo. O conceito central, que tudo rege em unidade, é Deus. Ele, na Sua essência, está no absoluto e não pode ser definido, isto é, limitado no relativo, onde está a criatura. Veremos como esse relativo nasceu. Estes são os dois pólos opostos da mesma unidade.

Deus simplesmente é. Ele é tudo. Deus significa existir. Ele é a essência da vida. Tudo o que existe é vida, isto é, Deus. E Deus é tudo o que existe, que é vida. Deus é o "ser", acima de todos os atributos e limites. O nada significa o que não existe, a ausência de Deus, ausência que não pode existir. O nada, portanto representando a plenitude da negação, ou da ausência de Deus, isto é, do não ser, como verdadeira realidade não pode existir por si mesmo, mas só como função oposta à positividade, como segundo pólo da mesma unidade. Eis como o dualismo fica fechado dentro do monismo e não destrói, mas confirma e fortalece a unidade do todo.

Este Tudo-Uno-Deus abrange tudo. Nada há fora Dele. Ele é: 1) uma inteligência que tudo dirige, 2) uma vontade que se quer realizar, 3) uma forma gerada como a inteligência a pensou e como a vontade a quis realizar. Eis a Trindade da mesma unidade de Deus, nos Seus três momentos, do mesmo Tudo-Uno-Deus. Eles são: 1) Espírito (concepção), 2) Pai (Verbo ou ação), 3) Filho (o ser criado) .

Que existe uma inteligência, chama-se Deus ou como se quiser chamá-la, dirigindo todos os fenômenos, enclausurando-os dentro de leis exatas, e que os orienta para um dado telefinalismo, conclusivo de todo o transformismo, não há dúvida. Como não há dúvida também que essa inteligência possui uma vontade que de fato realiza em formas definidas o seu pensamento.

Por esse processo Deus gerou a primeira criação. Ele tirou da Sua própria substância as individuações de tudo o que existe. Ele as tirou de Si, porque nada pode existir fora e além de Deus, que é Tudo. Ficaram em Deus, porque nada pode sair do Todo. Disto se segue:

1) Que todas as criaturas são feitas da substância de Deus.

2) Que, pelo fato de não terem saído de Deus, elas existem

em Deus, porque a criação não podia ser exterior, mas somente interior a Deus.

A primeira criação de Deus originou-se, então, do resultado de três momentos: 1) o pensamento, 2) a ação, 3) o instante em que a idéia, por meio da ação, atingiu a sua realização. Aqui temos a obra terminada, na qual a ação gerou a expressão final da idéia originária do primeiro momento.

Tudo assim continuou existindo em Deus, como antes da criação, mas agora de maneira diferente, não mais como um todo homogêneo, indiferenciado, mas como um sistema orgânico de elementos ou criaturas, sistema cujo centro é Deus, regido pelo pensamento Dele, que constitui a regra da existência de todos os seres, que tudo dirige e que chamamos "Lei".

Não há tempo para entrar, agora, na demonstração da verdade destas afirmações, nem para dar provas ou aprofundar o assunto nos pormenores, como foi feito nos três primeiros livros acima mencionados. Falamos de primeira criação? Por quê?

Nas aproximações que conseguimos alcançar em nossa representação humana da idéia de Deus, colocamos o conceito de perfeição. A lógica das coisas impõe conceber um Deus perfeito e, por conseguinte, perfeita a obra Dele. Ora, o nosso universo representa, porventura, uma obra perfeita? Nele existem a desordem, a ignorância, o erro, o mal, a dor, a morte; essas coisas parecem mais com o resultado dum emborcamento de Sua obra. Se temos de admitir que a obra de Deus deve ser um Sistema perfeito, vemos de outro lado que o nosso universo está colocado nos antípodas da perfeição, possuindo qualidades opostas. Se o Sistema de Deus representa a positividade, em nosso universo nos encontramos, pelo contrário, num Anti-Sistema, que representa a negatividade.

Temos, então, dois termos opostos: O Sistema, de sinal positivo, cujo centro é Deus; e O Anti-Sistema, de sinal negativo, cujo centro é Satanás, o Anti-Deus. Ora, como nasceu o Anti-Sistema, que impulso o gerou? No todo não existia senão Deus e Nele todas as criaturas. Tudo isto representava o estado perfeito do Sistema, no fim da primeira criação, obra direta de Deus. Ora, se é absurdo que a perfeição de Deus possa ter gerado o Anti-Sistema que tem as qualidades opostas, porque de Deus, que é perfeito, não pode sair o imperfeito, para justificar pois, o fato positivo, inegável, da presença do Anti-Sistema, não temos outra escolha a não ser atribuí-lo à única outra fonte que existia no Sistema, isto é, à criatura Mas se ela atribui tanto mal a Deus, isto se explica e mesmo prova a sua revolta, porque lançar a culpa aos outros é sempre o desejo e instinto do rebelde, apesar de que, como neste caso, isto represente o maior absurdo possível. Tudo se pode explicar admitindo apenas ter acontecido uma mudança na primeira criação, mudança devida a esse outro impulso que existia no Sistema, o único ao qual, não sendo ele de Deus, é possível atribuir a causa dum outro sistema diferente, isto é, imperfeito. Tudo isto nos aparece verdadeiro, porque está confirmado que a imperfeição que encontramos em nosso universo representa o emborcamento exato da perfeição do Sistema e das suas qualidades positivas, agora levadas para o negativo. Em relação à primeira criação, estamos no seu pólo oposto, o que nos indica que não se trata duma criação nova, realizada com princípios novos, mas só duma cópia emborcada e corrompida da primeira.

Eis então que aparece, racionalmente justificável, a teoria da desobediência das criaturas à Lei de Deus, a teoria da revolta e da queda, que o homem já conhece por intuição, e que a revelação das religiões desde a mais remota antigüidade afirmou, oferecendo-nos assim uma confirmação dessa teoria que só agora é possível apresentar, baseada na lógica dos fatos e racionalmente demonstrada até às suas últimas conseqüências, como fizemos em nossos livros. A teoria não é diretamente controlável em si mesma, porque se refere a um mundo que não é o de nosso relativo, porque ela está além de todas as nossas possibilidades de observação e experimentação. Podemos, porém, controlar essa teoria nos seus efeitos que constituem o nosso universo e a nossa própria vida, cuja forma e regra só deste modo se podem explicar e justificar. E é lógico que assim seja, porque o Anti-Sistema em que vivemos é exatamente a conseqüência dos deslocamentos realizados no Sistema com a revolta. Esta teoria foi assim nos nossos livros submetida a controle racional. Observando tantos fenômenos e fatos, vimos que eles confirmam em cheio essa interpretação da primeira origem de  nosso universo, cuja estrutura físico-dinâmico-psíquica e transformismo evolutivo, como a sua última finalidade, se não fossem relacionados com essas causas primeiras, permaneceriam um mistério inexplicável .

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Deixemos agora o Sistema, isto é, o universo espiritual incorrupto em que ficou Deus no Seu aspecto transcendente, causa e centro de tudo, junto com as criaturas que não desobedeceram, e olhemos para o Anti-Sistema, o das criaturas rebeldes, isto é, o nosso universo material corrupto, em que ficou presente Deus no Seu aspecto imanente, para guiar tudo à salvação, orientando e dirigindo o ser decaído, curando o que se tinha tornado doente, reconstruindo o que foi destruído, endireitando com a evolução o que havia sido emborcado, reorganizando o caos em que tudo tinha caído. Sem essa presença de Deus, a salvação não seria possível. Explica-se assim o conceito de "redenção". Não existe no universo outra força salvadora pela qual o ser pudesse ser remido. Eis que, saindo dos princípios gerais, nos vamos aproximando das suas conseqüências práticas, que podemos controlar em nossa vida, das quais assim encontramos uma explicação.

Devido ao mau uso da liberdade que a criatura possuía, porque feita da substância de Deus, que é livre, ocorre a desobediência à Lei e, por um automático jogo de forças que aqui não é possível explicar, iniciou-se o afastamento dos rebeldes, do qual derivou o fenômeno da involução, que originou o caos, e o começo de nosso universo. Apareceu assim uma nova maneira de existir, no relativo, isto é, a de tomar-se, ou vir-a-ser, ou transformismo, pelo qual nada pode existir senão fechado numa forma, mas sempre mudando duma para outra. A perfeição ficou longe no Sistema, e dela não continuou existindo senão a necessidade de recuperá-la e o caminho da evolução que leva para ela.

Iniciou-se então um fato novo, o do movimento, e isto nos dois sentidos do dualismo que assim havia nascido: a involução e a evolução. Iniciou-se a corrida nas duas direções opostas: para a negatividade do Anti-Sistema, como conseqüência da queda, e para a positividade do Sistema, como conseqüência e continuação do primeiro impulso criador, para tudo recuperar, voltando salvos à  fonte: Deus. Dois movimentos opostos e complementares, que constituem as duas metades do mesmo ciclo de ida e volta, descida e subida, de doença e cura, do afastamento e do retomo, do emborcamento e do endireitamento: o movimento de involução e o de evolução, o segundo possível e explicável somente em função do primeiro.

Eis, então, o quadro geral do fenômeno da queda. Ele, em seu conjunto, compreende um circuito completo de ida e volta, que chamamos: ciclo. Divide-se esse ciclo em dois períodos. O da  descida chama-se: involução. O da subida ou ascensão chama-se evolução.

Cada período divide-se em três fases, que são: espírito, energia, matéria. Apresentam-se nesta ordem sucessiva, no período da descida ou involução, e na ordem inversa no período oposto no evolutivo, que é o nosso.

O período involutivo parte da fase espírito que representa o estado originário, ponto de partida, donde se inicia a descida. Enredado no processo involutivo, o espírito sofre uma transformação por contração de dimensões, pela qual - sendo demolidas as qualidades positivas do Sistema - também ele, o espírito, fica demolido até à fase energia. Continuando na mesma direção o mesmo processo, chega a energia à fase matéria, transformação que é fenômeno já conhecido pela ciência moderna. Temos assim diante dos olhos as três fases do primeiro período, chamado involutivo. espírito, energia, matéria.

No fim desse período, a substância que constitui a parte que se corrompeu, da esfera do Todo-Uno-Deus no Seu terceiro aspecto de Filho, inverteu todas as suas qualidades originarias positivas em qualidades negativas. A causa originária tulha assim produzido todo o seu efeito e o impulso da revolta esgotou-se. Neste ponto de máxima inversão dos valores positivos e de máxima saturação de valores negativos, no Sistema invertido, o processo se detém. A transformação em direção involutiva ou de descida pára. Chegados a esse momento, Deus retoma a Sua lenta ação de atração para Si, como centro de tudo.

Iniciou-se assim aquele longuíssimo processo, no qual vivemos hoje, o da subida, que é o segundo período, inverso e complementar, que se chama: evolução. Enquanto o primeiro período da queda ou involução significara a destruição do universo espiritual e a criação ou construção do nosso universo físico, esse segundo período de subida ou evolução significa a destruição da matéria como tal e a reconstrução do originário universo espiritual. Estamos agora neste segundo período do ciclo, o da evolução. Aqui o caminho é inverso do precedente. Se a descida foi do espírito para a energia, até à matéria, agora a subida vai da matéria para a energia, até ao espírito. A soma dos dois períodos forma o ciclo completo, feito de um movimento que se fecha, dobrando-se sobre si mesmo. No conjunto, tudo volta ao seu lugar, no fim a correção neutraliza o erro, a expiação reabsorve a culpa. No fim, acima de tudo triunfa a perfeição de Deus, que tudo tinha previsto e em que tudo acaba reconstruindo-se.

A estrada que A Grande Síntese nos mostra é a que o ser percorre no segundo período do ciclo, o da evolução. Este livro nos explica o caminho ascensional, partindo da matéria, da sua origem e evolução, através das formas de energia, depois da vida mineral, vegetal, animal, subindo sempre, até ao homem, ao seu espírito, ao seu mundo social e moral, até ao seu futuro em mais altos planos  de existência. Do período involutivo, precedente ao nosso atual, A Grande Síntese aceita como fato consumado, sem indagar-lhe as causas e antecedentes. O seu objetivo é somente o trecho que vai do Anti-Sistema ao Sistema. Nisto aquele livro segue o método da Bíblia, cuja gênese também começa com a criação da matéria, sem explicar como isto pôde acontecer e o que houve antes. Assim o assunto se toma mais compreensível, porque abrange apenas o nosso atual trecho de existência, o que o homem pode melhor compreender.

A visão apareceu completa no livro: Deus e Universo, que abraça o ciclo todo, nos seus dois períodos, o involutivo, de ida, e o evolutivo, de volta. Nesta primeira exposição do esquema geral do fenômeno não foi possível entrar em pormenores para tudo explicar e provar. Assim o livro deixou muitos leitores em dúvida, porque não compreenderam.

Chegou depois o volume: O Sistema. A sua tarefa foi a de fixar as idéias desenvolvidas em vários cursos sobre esse assunto, de responder às objeções que neles foram apresentadas pelos ouvintes, foi a de entrar em maiores pormenores para oferecer novas provas da verdade sobre a teoria, e no fim, tudo controlar, fazendo contato com a realidade de nossa vida, na qual se encontram as últimas conseqüências daquela teoria. Se tivesse havido erro, neste estudo e contínuo controle, deveria tê-lo aparecido. Se não apareceu porque a teoria foi confirmada e não desmentida pelos fatos, que correspondem à  verdade.

Eis, em síntese o quadro geral de nosso sistema filosófico. O primeiro volume: A Grande Síntese fica assim enquadrado na visão dos dois, muito mais vasta. Se aquele livro representa uma síntese científico-filosófica, os outros dois são uma síntese teológica Mas o primeiro não esgotava o assunto, porque um processo evolutivo não se pode admitir sozinho, como movimento isolado. sem o movimento oposto em que ele encontra a sua contrapartida que o equilibra; não se justifica, como efeito sem causa, nem precedente.

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Este sistema filosófico nos ofereceu um ponto de referência, o Sistema, que representa o absoluto. Sem o contínuo transformismo de tudo o que existe no relativo de nosso universo não teria nenhum ponto de apoio, nem ponto final a atingir que justifique e sustente aquele transformismo. Explicam-se, assim, tantos acontecimentos, de outra maneira inexplicáveis; e o valor dum sistema filosófico pode ser avaliado em função dos fatos que ele desvenda. Explica-se, também a origem de nosso relativo, do vir-a-ser da evolução, do imperfeito no seio do perfeito, dos limites do tempo e do espaço, no seio da eternidade e do infinito. Uma evolução assim orientada para um seu telefinalismo adquire um sentido lógico, evolução por intermédio da qual se manifesta a obra salvadora de Deus em favor da criatura decaída. O maior fenômeno de nosso universo resulta, deste modo, dirigido para um objetivo seu, sem o que a evolução seria um caminho sem meta, iniciado sem razão, a percorrer fatalmente, uma condenação a subir, não merecida.

Logo, a presença do mal, da dor, da morte, as qualidades da negatividade próprias de nosso mundo, que não podem ser produto direto da obra de Deus, encontram a sua razão de ser, sem se cair no absurdo de admitir que tudo isto tenha saído das mãos de Deus, o que demonstraria a sua maldade, ou pelo menos falta de sabedoria. Assim a contradição entre opostos, que é princípio no qual se baseia a estrutura e o funcionamento de nosso universo, encontra a sua explicação e justificação dentro da lógica de Deus, a qual fica inatingível e íntegra acima dos absurdos gerados pela revolta. Desta forma a sabedoria domina o erro, a ordem domina a desordem, o bem domina o mal, a vida é senhora da morte, o endireitamento supera o emborcamento, a salvação corrige a revolta, o Sistema é senhor do Anti-Sistema, Deus é superior ao anti-Deus, a Satanás.

Neste sistema filosófico, a grande cisão do dualismo em que o nosso universo aparece inexoravelmente despedaçado, acaba saneada, porque enclausurada dentro de um monismo maior do que ela, que a abrange e fecha dentro de si ~ Está salvo assim o supremo principio da unidade do todo, em que reina Deus, um só Deus, em cujas mãos está todo o poder, não compartilhando com outro anti-Deus, não despedaçado no dualismo, como infelizmente apareceu a vários teólogos e filósofos que ficaram na superfície das aparências e não compreenderam. É verdade que com a revolta nasceu a desordem, mas sem sair da ordem, nasceu o caos, mas sempre controlado por Deus, nasceu o mal, mas só como sombra do bem. O segundo termo do dualismo não é senão uma função menor no termo originário, que permaneceu como eixo fundamental à volta do qual continua a rodar, permaneceu o ponto central, em torno do qual tudo continua a gravitar. A cisão da unidade entre dois opostos não somente lhe é interior, mas é fenômeno temporário que, pela própria estrutura da obra de Deus, automaticamente tende para a sua solução. De fato, logo que surge a doença, aparece o seu tratamento, é o próprio erro da separação e involução que automaticamente leva para a evolução que o corrige, o processo do emborcamento não pode acabar senão no endireitamento.

Na lógica desse sistema filosófico está resolvida a contradição entre monismo e dualismo, dois fatos que existem, que é impossível suprimir e que, embora aparentemente inconciliáveis, é necessário pôr de acordo, porque de outra maneira fracassa o princípio fundamental que é o da unidade do Uno-Tudo-Deus.

Fomos assim observando esse sistema filosófico de todos os lados e tivemos de concluir que ele satisfaz todas as exigências da razão, tudo coordenando num quadro lógico, em que tudo encontra a sua explicação e justificação. Ele, simplesmente demonstrado, convence sem deixar como resíduo pontos obscuros que, por não ter sido equacionado o problema na forma certa, é necessário depois resolver à força com dogmas e mistérios. Esse sistema filosófico nos esclarece o significado de tudo o que nos cerca, até às suas razões mais profundas, satisfazendo o nosso instinto de justiça e desejo de felicidade, reconhecida como nosso direito, para a qual tudo progride. É um Sistema que, ao mesmo tempo que sacia o coração porque nos oferece uma grande esperança, nos dá de Deus um conceito que está longe das maldades de que o carrega o antropomorfismo, um conceito em que Deus fica verdadeiramente bom e grande, apesar de tantos erros e sofrimentos de que aos nossos olhos aparece como estando cheia a obra Dele.

Temos agora diante dos olhos todo o caminho do ser, saindo do Sistema, onde Deus o criou, e viajando até ao Anti-Sistema, de onde Deus o traz à salvação. Através do vir-a-ser involutivo e evolutivo, podemos agora seguir o roteiro que a cada um cabe percorrer até atingir o ponto final de sua trajetória. E quando conhecemos o problema maior nas suas linhas gerais, é possível orientar-nos em cada momento o ponto de nossa caminhada, é possível colocar no lugar que lhe cabe no quadro geral, cada fenômeno e movimento do ser e os fatos particulares de nossa vida. Eles assim, por pequenos que sejam, encontram a sua razão de ser, até à longínqua primeira origem das coisas. Só deste modo se poderá viver inteligentemente, compreendendo o sentido de tudo o que nos cerca e sabendo o que temos de fazer e por quê. É progresso, porque nos aproxima do estado orgânico do Sistema; é vantagem, porque nos reconduz à felicidade plena. Filosofia sadia, que quer ajudar, que admite o utilitarismo honesto do homem de bem, filosofia que vem ao nosso encontro para nos salvar, que nos mostra a ativa presença de Deus entre nós, de um Deus bom, que antes de tudo é nosso amigo e nos quer bem. Filosofia consoladora, que nos fala com a forma mental do Sistema que está no Alto, trazendo luz à forma mental do Anti-Sistema, para levantá-la a ele, até níveis de vida mais adiantados e felizes. Somos infelizes decaídos no caos, nas trevas, no mal, no sofrimento, na morte. Esta filosofia nos mostra que, apesar de tudo e com as aparências que nos deixam acreditar o contrário, nas profundidades do caos há ordem, nas trevas há luz, no mal há o bem; o sofrimento é um meio para se chegar à felicidade, e a morte serve para se ressuscitar numa vida sempre melhor. Assim vemos: além da injustiça domina a justiça, e acima da negatividade destruidora do Anti-Sistema está a positividade reconstrutora do Sistema de Deus. Que coisa diferente e quanto maior se torna a vida - quando a vivemos em profundidade, em contato com Deus, com o mais poderoso centro vital do universo!

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A parte mais interessante deste sistema filosófico é o seu aspecto prático, quando descemos ao terreno das suas conseqüências e aplicações nos casos concretos de nossa vida. Ê pelo fruto que se conhece a árvore, é neste terreno que se pode medir o valor da teoria, quando para controlar. a sua verdade a colocamos em contato direto com os fatos. Se ela nos orienta, explicando-nos o significado das coisas, por sua vez a realidade em que vivemos tem de concordar com a teoria até às últimas conseqüências práticas, tudo fundindo no mesmo sistema filosófico que, assim, embora baseando-se sobre os longínquos princípios abstratos do absoluto, pode ser vivido em todos os seus pormenores em nossa vida miúda de cada dia.

Isto é o que temos procurado fazer nós mesmos e de duas maneiras: 1) por mais de meio século na minha vida observando e controlando se os meus conhecimentos pessoais e os dos outros confirmavam a interpretação filosófica do universo oferecida por esta teoria; 2) racionalmente coordenando e logicamente controlando os frutos destas observações, para construir uma norma de conduta humana ou ética, não mais empírica, como as que estão vigorando, não mais fruto de desabafo de instintos em vez de conhecimento e de uma compreensão do problema, mas uma ética positiva, filha da lógica dos fatos, racionalmente demonstrada até à primeira fonte da qual deriva, apoiada sobre bases cósmicas que a justificam; moral biológica, resultado objetivo das leis da vida e não da vontade do legislador ou dos instintos das massas.

Este trabalho foi realizado em vários livros meus, sobretudo nos últimos quatro que se seguiram ao volume: O Sistema que até agora completa a exposição da teoria filosófica. Eles são: A Grande Batalha, Evolução e Evangelho, A Lei de Deus e o presente: Queda e Salvação.

Tudo isto nos autoriza a acreditar que este sistema filosófico não é fantasia, se os fatos o justificam e, quanto mais o controlamos, tanto mais vemos que ele corresponde à realidade. Por mais que se queira negar e não ver, estão aí para dar testemunho toda a minha vida, os acontecimentos da vida alheia e milhares de páginas escritas .

Fica valorizado o sistema filosófico, porque ele representa as premissas cósmicas racionais duma norma de vida humana, norma justificada porque acertada em função das origens e funcionamento do universo. O trabalho de construir um tal sistema não fica tão somente no terreno abstrato e teórico, não representa apenas a produção filosófica dum castelo de idéias, mas se dirige para a realização dum melhoramento nas duras condições da vida humana, demonstrando que elas são, em grande parte, devidas à nossa ignorância do caminho certo, ao longo do qual nos deveríamos movimentar. Neste caso o trabalho da construção filosófica não tem somente escopo e sentido intelectual, mas se santifica pelo seu objetivo: beneficiar o homem e, ao mesmo tempo, libertá-lo o mais rápido possível dos seus sofrimentos.

O fruto, para nós útil, de tudo isto, é o ter descoberto que existe uma Lei que representa o pensamento de Deus e a presença Dele em nosso mundo, Lei que tudo dirige, sempre funcionando para todos, à qual todos estão sujeitos, conheçam-na ou não, admiram-na ou a neguem; Lei cujo conteúdo é possível descobrir, isto é, os princípios diretores, os impulsos de ação e reação, a técnica de funcionamento, o objetivo final a atingir. Essa Lei é viva, operante entre nós, sempre presente em ação. Ela não é só pensamento, mas também uma poderosa, irrefreável vontade de realizar. Eis o que nos mostrou a visão da teoria geral deste sistema filosófico; eis o que vamos estudando nestes nossos livros, e vamos expondo como resultado de nossa investigação conduzida com o método positivo da ciência, o da observação e da experimentação. Isto quer dizer: ou observando, como dissemos, a minha vida e a dos outros, ou seja colocando o seu conteúdo sobre o banco do laboratório desta nova ética experimental para calcular os efeitos de cada movimento nosso no terreno da dinâmica moral e espiritual.

Nós temos estudado essa Lei, porque o seu conhecimento nos ensina as regras da conduta certa e com isso nos revela o segredo para evitar a reação da Lei que se chama dor. Só quem conhece a Lei pode viver orientado, porque compreendeu o significado da sua vida até às suas primeiras origens e últimas finalidades, em função da gênese, estrutura e supremos objetivos do funcionamento orgânico do Todo. O universo é um sistema inteligentemente dirigido, e é lógico que, quem nele quer viver com o menor dano e a maior vantagem possível, tenha que se comportar com inteligência e consciência, resolvendo os seus problemas até os pequeninos de toda hora, em função da solução dos problemas máximos, dos quais os menores dependem. Só conhecemos a razão e a finalidade de tudo o que somos e fazemos, se tivermos nas mãos a chave de nosso destino e com ela a possibilidade de construí-lo como melhor quisermos. Com os nossos pensamentos e atos, livremente semeando as causas, ficaremos fatalmente amarrados.

A Lei representa uma construção lógica que pode ser estudada como se estuda uma teoria matemática. Com este escopo fizemos neste volume um esquema gráfico, representando, em síntese, uma expressão geométrica dos princípios fundamentais que regem o funcionamento da Lei. É possível, portanto, medir o valor quantitativo e qualitativo dos diferentes impulsos que movimentam o ser e as correspondentes reações da Lei. O ser está livre de movimentar-se à vontade, mas logo depois, destes movimentos se apoderam as forças da Lei que fatalmente os guiam para os seus efeitos. Eles são calculáveis, porque estão regidos por princípios de equilíbrio e justiça bem definidos. A Lei é inteligente, poderosa, sensível, e não há movimento que não se repercuta, não há impulsos c sucessivos deslocamentos que não sejam percebidos pela Lei e contra os quais ela não reaja. Ela quer a ordem do Sistema, e não o caos do Anti-Sistema.

Na substância, a reação da Lei não é senão a continuação de nosso próprio impulso, que se ricocheteia e se volta contra nós devolvendo-nos o que nós lançamos aos outros. Assim, cada força que em sentido negativo projetamos contra o próximo, se transforma numa força inimiga, que se volta contra nós, nos agredindo; e cada força que em sentido positivo projetarmos para o próximo, se transforma numa força amiga, que se volta para nós, nos favorecendo. A conclusão é sempre a mesma: recebemos de volta o que lançamos aos outros. Pode-se então estabelecer este princípio  da Lei, que diz: "Quem faz o bem, como quem faz o mal, acaba fazendo-o a si mesmo".

No campo de forças do Todo são possíveis três situações fundamentais: o impulso positivo do Sistema, o negativo do Anti-Sistema e o do ser, indeciso, que quer dirigir-se ora para um, ora para o outro. A positividade do Sistema está em luta contra a negatividade do Anti-Sistema, filha da revolta, para corrigir a desordem, reconduzindo-a para a ordem. A negatividade do Anti-Sistema está em luta contra o Sistema, para destruí-lo e substituir-se a ele. O ser está existindo dentro desse dualismo de impulsos opostos. Mas dos dois termos, o mais poderoso é o Sistema em que ficou Deus no seu aspecto transcendente, mas ao mesmo tempo presente também no Anti-Sistema, do qual, para salvá-lo, dirige os movimentos no processo evolutivo. Dualismo temporário, fechado dentro da unidade que ficou íntegra, do monismo, dono de tudo.

Então o que tudo domina é a Lei, que expressa a positividade do Sistema, o princípio de ordem, de equilíbrio e justiça. Este é o campo de forças em que o ser está livre de movimentar-se, mas só em função da vontade da Lei que quer realizar os seus princípios, que são os do Sistema que ela representa. Então em cada movimento seu o ser tem de levar em conta a presença dessa Lei que, embora deixando-o livre, está sempre impulsionando-o para a frente, para que ele volte ao Sistema. Mas ele pode, também, dirigir-se no sentido oposto, para o Anti-Sistema, isto é, não conforme à vontade da Lei, mas contra ela. No primeiro caso, pelo fato de que o ser se colocou na corrente das forças da Lei, esta o ajuda; no segundo caso, pelo fato de que ele quis andar contra aquela corrente, a Lei se rebela e reage.

Eis a relação que existe entre os três impulsos fundamentais, que se encontram no campo das forças cio Todo. O que o nosso mundo não quer levar em conta é o fato de que, se ele está livre de dirigir-se para o Anti-Sistema, que é o mal, tem fatalmente de receber o choque da parte da Lei que reage, porque a vontade dela é, pelo contrário, a de ir para o Sistema, que é o bem. Nunca esqueçamos que, acima dessa luta entre positividade e negatividade, há Deus que a dirige e, afinal de contas, tudo tem de desenvolver-se conforme a Sua vontade. Se assim não fosse, a evolução poderia representar apenas uma tentativa duvidosa, para acabar, se ela não alcançasse sucesso, na falência da obra de Deus, que com a evolução não conseguiu salvá-la da sua derrota final, representada pela vitória definitiva do Anti-Sistema. Na lógica do desenvolvimento dos impulsos do campo de forças do Todo, é necessidade absoluta o aniquilamento completo de toda a negatividade e o triunfo completo de toda a positividade, sem resíduo algum. Se qualquer traço do mal sobrevivesse, isto representaria a derrota de Deus, que é o bem. Todos os efeitos da queda têm de ser destruídos definitivamente, realizando-se a reconstrução integral do Sistema.

Este, em síntese, é o terreno dentro do qual se movimenta a nossa conduta ética, num jogo de ações e reações, entre os 1mpulsos do ser e a vontade da Lei, da qual nunca se pode esquecer a presença. O ser age livremente, porque tem de experimentar para aprender e subir; a Lei reage deterministicamente para que o ser suba para o Sistema e nele encontre a sua salvação. O afastamento da Lei é o que se chama: erro; a reação da Lei ao erro é o que se chama: dor. No esquema gráfico o comprimento da linha do erro, na direção da negatividade, nos expressa a medida do mal cometido; o comprimento da linha da dor, que leva o ser na direção da positividade, nos expressa a medida do trabalho do endireitamento necessário para voltar à ordem da Lei. O ser está livre de cometer erros, mas tem depois de aceitar a reação corretora da Lei, à força, cujos equilíbrios não podemos violar, sem devolver tudo à justiça de Deus, pagando á nossa custa.

Pode-se assim chegar a estabelecer o princípio de reação nestes termos: "Cada ação do ser contra a vontade da Lei excita e gera uma reação inversa e proporcional, de mesma natureza ou qualidade e de mesma medida ou quantidade".

Estudando as regras que dirigem o funcionamento da Lei, pode-se chegar a calcular as conseqüências fatais dos nossos ates, podendo deste modo, com uma conduta mais inteligente, eliminar o mais possível as causas primeiras de tantos sofrimentos, que agora vemos como sejam devidos ao rato de nos querermos colocar fora do caminha certo da Lei. Mas o homem não sabe ou não quer saber estas coisas e continua errando e pagando. Não adianta explicar. Então para ensinar a um ser que tem de ficar livre, não resta, na inviolável lógica da Lei, senão o azorrague da dor, que é o raciocínio compreendido por todos.

Deus nos corrige com a dor porque Ele quer a nossa felicidade, e para atingi-la não há outro caminho a não ser o da Sua Lei. E o desejo de felicidade não é o nosso instinto fundamental? Mas procuramo-la fora do caminho certo. Então a Lei, que nos ama e protege, com a sua reação nos avisa e nos endireita, constrangendo-nos com a dor a irmos para onde nos convém. O homem continua rebelando-se, porque busca uma vantagem onde, pelo contrário, está o seu prejuízo. E a Lei com grande paciência volta sempre a corrigi-lo, e não pára de golpeá-lo até que a lição seja toda aprendida.

Assim, o homem vai experimentando e aprendendo. A verdade que possuímos é fenômeno em evolução. Ela é relativa e progressiva, e conquistamo-la por sucessivas aproximações à medida que vamos amadurecendo. Chegaremos assim a compreender cada vez mais o pensamento de Deus que está escrito na Sua Lei, e alcançaremos maior progresso possível, que nos permite dirigir mais inteligentemente a nossa conduta, libertando-nos cada vez mais do sofrimento.

Quisemos nesta introdução, para orientar o leitor, apresentar os conceitos fundamentais que desenvolveremos neste livro, ao mesmo tempo resumindo numa rápida síntese o plano de nosso sistema filosófico, tanto no seu aspecto teórico, como no prático, nos seus princípios gerais, como nas suas conseqüências a respeito de nossa conduta na realidade da vida, plano que vai da primeira criação de Deus até à realização do ciclo involutivo-evolutivo e à salvação final de todos os seres.

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 figura 1 queda e salvação