Para melhor compreender as teorias que vamos desenvolvendo e o significado da figura que as expressa, procuremos agora encontrar uma confirmação delas nos fatos de nossa vida, o que nos permitirá averiguar se elas correspondem à verdade. Continuemos assim executando o controle do fenômeno da subida YX, ou do AS ao S, e isto no trecho humano, que temos sob os olhos, para ver o que esse fenômeno representa para nós e a correspondência entre teoria e prática. Será assim possível explicar-nos a razão de alguns fatos que vemos acontecer em nosso mundo, sobretudo a respeito do caso mais imediato, o de nossa conduta.

Já falamos que a ética é fenômeno estático, mas relativo, em evolução. Cada plano de vida tem a sua ética particular, proporcionada ao grau de conhecimento, naquele plano, atingido pelo ser. Então há urna ética progressiva, cujas formas sucessivas, que a ética universal da Lei, a única completa, abrange. A ética, no plano do homem, significa o grau por ele atingido no conhecimento da Lei, em proporção ao desenvolvimento da sua inteligência, e por conseguinte o grau de perfeição e a natureza das normas que dirigem o ser humano no momento atual. Expliquemo-nos com um exemplo.

Se supusermos o ser humano situado no ponto A3 da escala YX da evolução, e que a forma dos seus vários biótipos possa oscilar abrangendo uma amplitude que vai ao nível limítrofe inferior A2 ao superior A4, isto é, da besta ao super-homem, teremos as três posições ou degraus evolutivos A2, A3, A4, e em cada um destes três pontos um grau diferente de menor ignorância e maior inteligência, de proporcionada compreensão e relativo tipo de ética. Para atingir uma maior clareza, simplificamos, apertando o nosso campo de observação, focalizando-a sob um aspecto básico da ética, isto é, o conceito da justiça. Veremos assim que, como nos três pontos A2, A3, A4, se encontram três diferentes tipos de ética, e a eles correspondem três diferentes maneiras de conceber a justiça, isto é: 1) no nível evolutivo da fera,  2) no nível animal-humano, 3) no nível super-humano.

1)  No plano biológico da fera tudo pertence, em pleno direito, ao mais forte que sabe vencer. O fraco vencido não tem direito algum, nem ao menos a vida. Esta é a ética que vigora neste plano, proporcionada a capacidade de entender do ser que nele vive. É a lei da luta pela vida para a seleção do mais forte, lei pela qual a justiça consiste no seu triunfo absoluto e na destruição do mais fraco. Esta é a lei da fera, a sua justiça, porque este é o método com que ela realiza a sua evolução. Outro método a fera não poderia entender, nem melhor saberia fazer. Neste nível, onde o objetivo da vida é o de selecionar o mais forte, este é o conceito certo de justiça. Também o homem, quando usa o método da guerra, retrocede ao nível biológico da fera. Por isso, quando com a guerra vence, ele julga ser seu pleno direito, conforme o conceito de justiça desse plano, matar, destruir, escravizar, praticando métodos que na sua vida social normal ele próprio julga crime. É lógico, porém, que, quando o homem desce a esse nível da fera, fique sujeito à lei respectiva, que ao mesmo tempo autoriza qualquer outro ser mais forte a fazer contra ele, em plena justiça, o que ele fez contra os outros quando foi vencedor. Disto resulta uma peleja contínua, como a vemos em nosso mundo de luta e insegurança geral, o que representa a punição automática que, para todos os que o seguem, este método consagra.

2) No plano biológico animal-humano aparecem as leis civis, penais, religiosas, morais, que estabelecem o lícito e o ilícito. A vida não está mais no poder do arbítrio do indivíduo, mas está sujeita a uma norma que pretende regular o uso indisciplinado da força. No seio da sociedade desponta uma ordem superior para refrear o individualismo e regular o caos da liberdade ilimitada. À força se substitui a lei que estabelece quais são os direitos e os deveres de cada um. Uma regra coletiva disciplina o arbítrio. O homem fica preso à força  dentro desta regra, força representada pela sanção punitiva que lhe inflige dano material, econômico, espiritual etc., e assim se deixa obedecer. Mas nem por isso acaba a luta, o que seria parar o esforço evolutivo e com isso a ascensão do ser. A força ficou, mas nas mãos dos dirigentes, e antes de tudo para defender os seus interesses: ficou, mas teve de se cobrir com a roupagem da lei, do direito, da justiça. Assim a luta tomou outra forma e a vida se dirigiu para outro tipo de seleção, mais refinada: não mais a do mais forte, mas a do mais inteligente. Eis que desponta o primeiro grau de inteligência, o mais baixo, que já se encontra nos animais, o da astúcia. Aparecem a mentira, o fingimento, o engano, como arma de luta pela vida e meio de seleção, para a conquista de qualidades não mais físicas, mas mentais. Para sobreviver, o ser está constrangido a pensar, o que leva a vida a realizar conquistas novas num nível mais alto de evolução. Mas estamos ainda no inicio e desses meios detestáveis o nosso mundo está cheio. Agora, porém, podemos compreender por que razão e qual é a sua função.

Qual é então a conduta do homem deste plano, preso no torno da Lei, sem que por isso ele possa deixar de lutar para vencer o seu inimigo? Então ele não luta fisicamente, mas o faz numa nova forma, com um advogado, um juiz de direito, um tribunal etc. A arma que usa desta vez é a lei e, no uso desta arma, ele não desenvolve mais as suas qualidades físicas, mas as suas qualidades mentais. Eis a diferença. Trata-se de unia violência diferente, mais requintada e sutil, de uma outra estratégia de guerra e método para  vencer, mas sempre por meio de uma arma e da luta. Quem sabe praticar esse método conforme as normas estabelecidas pela lei e dar prova de ser tão inteligente de saber vencer com ele, pode, em plena justiça humana, impor o seu direito contra O vencido, e a lei o garante, mesmo que essa vitória tenha sido fruto de engano, na condição em que o vencedor tenha sabido ficar formalmente, dentro das normas estabelecidas pela lei.

O resultado desse método é que hoje um homem hábil pode cometer roubos e crimes desde que saiba ficar dentro dos limites da lei, sem cair na sua condenação. Esta é a forma em que às vezes o homem vai hoje desenvolvendo a sua inteligência. E na psicologia das massas há até uma secreta admiração, até inveja, para esse tipo de vencedor que corresponde a instintos ainda vigentes. A sociedade o condena se ele é perigoso para ela, mas admira a sua habilidade se é vencedor, nele respeitando a astúcia, que para o involuído é prova de inteligência, enquanto para o evoluído é prova de ignorância. Se, porém, tal indivíduo der prova de não possui esta habilidade, é condenado e punido, porque neste caso é culpado. Mas, culpado de quê? Culpado de não ter sabido vencer usando o método humano da astúcia, porque este é o que a maioria aceita e exige, para que substitua o outro mais atrasado da violência física. O método atual é diferente, mas a forma mental ficou o mesma do nível precedente. Ai de quem se mostra fraco! Eis o conceito de justiça nesse plano.

Existem as leis e as suas normas, dentro das quais tem de ficar preso um ser com instintos às vezes ainda selvagens, que aguçando o engenho, vai procurando todas as escapatórias para se evadir da ordem, para vencer e dominar. Existem as leis, mas quem as movimenta é o interessado que obedece ao impulso interior dos seus instintos. Ao interessado pertence a tarefa de excitar a ação da justiça, que, se não provocada, fica quieta e não defende quem não sabe defender-se. Ela não vai contra a lei da luta e da evolução que exige que o indivíduo saiba vencer, se não quer sofrer o dano da derrota. Então muito depende da inteligência do queixoso, dos recursos que ele possui para que lhe seja possível escolher o advogado melhor, depende das provas que a habilidade deste saberá encontrar e da defesa que com elas saberá construir, para que o juiz se convença de uma dada maneira, favorável e não  de outra desfavorável. há todos os elementos de um duelo entre armados, só disfarçado em outra forma, mas igual na substância, e dirigido pela mesma psicologia do lutador. Quem perdeu é condenado porque perdeu, quem venceu tem razão porque venceu. Então a culpa maior, como em todos os duelos, é de se haver deixado vencer.

São as regras do duelo que estabelecem onde está a justiça. Se um indivíduo não soube, se culpado, escapar a acusação de culpa. e, se inocente, demonstrar a sua inocência, então é de justiça que ele seja punido. Tal conceito autoriza como legítimo o desabafo dos instintos de agressividade que ainda sobrevivem, filhos da desordem do passado em que cada indivíduo era natural inimigo do outro. A função da lei seria a de regular tal desafogo. Ele fica, porém, praticamente lícito quando se realiza dentro dos limites daquela lei. isto é, na forma que se chama de justiça. Então basta encontrar o homem fraco, simplório, sem recursos nem inteligência para se defender, para que todos possam aproveitá-lo à vontade, ficando nos limites da justiça. Esta é a fase  bíblica do homem antes de aparecer o Evangelho: "Quem foi visto culpado contra a lei, seja apedrejado".

3)    No plano biológico super-humano vigora um conceito de justiça completamente diferente. Aqui foi superado e desaparece completamente o principio animal da luta pela seleção do mais forte, mesmo que realizado por meio da lei usada como arma, como uma espada na mão de um guerreiro, espada inerte, cujo poder depende da força do lutador. Neste plano superior o mais forte é o mais justo, a justiça é justiça, e não o resultado de uma luta, apesar de legitimada pela lei, que estabelece as regras do jogo. mas que permanece sempre num plano  inferior.  Se no nível humano o que tem peso não é tanto o ser inocente, quanto o saber demonstrar ser inocente, como num duelo, mais que a justiça, o que tem peso é a habilidade do duelista, pelo contrário no plano super-humano a balança da justiça é balança, isto é, corresponde ao mérito, e não se pode colocar num prato a espada para que substitua o peso do mérito. O princípio da força, o desafogo de instintos do luta, neste nível não existem mais. Não basta obedecer às normas estabelecidas pela lei, para que a força se torne justiça, direito quo autoriza, e o uso do poder do mais forte se torne legítimo.

Neste plano super-humano a lei do mundo tem um valor muito relativo e a ela se substitui outra lei muito mais valiosa e perfeita: a Lei de Deus, que raciocina, calcula e atua de maneira completamente diferente. Com isto não queremos dizer que o método humano hoje vigente não esteja certo. O princípio é que "tudo está certo, quando está colocado no seu devido lugar". Assim tal método humano atual está certo, mas só se o colocarmos no nível biológico que lhe pertence, reconhecendo que o seu devido lugar é na 2ª e não na 3ª das três posições que estamos aqui observando, isto é, não no plano da verdadeira justiça que é o 3º, mas no 2º que é o da força disciplinada em forma de direito e legitimada pela Lei. Não há dúvida que tal método representa uma necessidade em nosso mundo atual. Mas, por quê? Porque ele pertence àquele nível evolutivo. E de fato, logo que subirmos a um plano mais adiantado, aquele método se torna absurdo, injusto e inaceitável.

No plano biológico super-humano vigora outro princípio que exige outra forma mental, e que não é possível realizar com a forma mental do comum biótipo humano atual. Quando um homem é condenado pela lei humana, com isso não adquirimos o pleno direito de persegui-lo, contra ele desafogando os nossos instintos do agressividade em nome da lei e da justiça. Pelo contrário, neste nível superior ele é julgado um ignorante que, por não saber o que faz, fere-se a si próprio com suas mãos, e que como tal precisa ser ajudado a compreender que, pelo mal que faz, se está arruinando. Preocupamo-nos muito com a  sanção punitiva, porque contamos só com as nossas forças para a sua atuação, e não com a Lei de Deus, e o próprio culpado acredita que baste escapar às leis humanas para estar quite e livre. Mas num plano superior o conceito de sanção é completamente diverso, porque depende de outros elementos. Quem conhece a Lei, sabe, como  explicamos bastante, que a reação punitiva é automática, sabe funcionar por si mesma, sem a intervenção de ninguém, porque está contida no próprio erro e em quem o praticou; a pena não chega de fora, mas está dentro do culpado que a movimentou e que contra ela não possui defesa nem possibilidade de saída. É lógico que, para o homem míope que ainda não entendeu tudo isto, seja necessário o código penal, armado de sanções imediatas, concretas,  que fazem dono sensível ao culpado. Mas este é método primitivo e falaz, por que o juiz pode errar, a lei ser enganada, o condenado fugir e evadir-se das sanções. Num plano superior esse método de justiça assim tão imperfeita não é mais aceitável.

Naquele plano não há mais lugar para este tipo de punição que tem sabor de vingança, apesar de coberta com a roupagem da justiça legítima. Vigora, pelo contrário, o princípio do perdão, que ainda não pode ser praticado no atual nível humano, porque, dominando neste plano o método da luta e os instintos respectivos, logo que não encontrar mais resistência de força armada no lado oposto, o criminoso aproveitaria esse fato e não teria freio, porque ele enxerga só a punição próxima e tangível, e, na sua ignorância não vê a outra, muito mais justa e temível, justa porque saiu das mãos de Deus, temível porque a ela ninguém pode escapar. Quem não sabe disto, acredita que perdoar signifique deixar o inimigo vencer, o que no plano da luta é perda e culpa. Mas quem conhece a Lei sabe que perdoar significa entregar o ofensor nas mãos de um juiz muito mais exato e poderoso, à justiça do qual não há que fugir.

Nessa justiça, a punição não é desafogo de instintos de agressividade, o que excita a reação do lado oposto no duelista que recebe o choque que ele por sua vez procura devolver, nunca cessando o atrito, como acontece em nosso mundo na luta entre os criminosos e a lei. No conceito de justiça desse nível superior é admitido só o direito, justificado pela necessidade imediata, de afastar o culpado que ainda não foi educado. Direito de isolá-lo, se necessário, porque a sociedade deve se defender do indivíduo que por inconsciência se torna perigoso. Mas nunca o direito de fazer o mal. A verdadeira justiça não pertence ao homem, mas a Deus, que é o único a possuir o conhecimento necessário para poder praticá-la. Neste plano vigora a lei do Evangelho que diz: "não julgueis" o que tira ao homem o direito de condenar e de punir. Não há lei que possa autorizar a fazer o mal contra ninguém, mesmo contra quem, porque não soube defender-se dos seus erros ou não foi educado para não cometê-los, foi julgado culpado. No nível biológico atual se trata de luta, apesar de ser conduzida com as armas civilizadas da legalidade, luta que não é justiça; trata-se de um combate em que culpado é quem não sabe vencer com tais armas. Quem pune em nome de tal justiça, julgando ser seu direito, se for observado conforme os princípios desse outro plano superior, seria condenado, porque nunca se pode fazer o mal, e quem o faz tem de pagar por isto, apesar de ser autorizado por todas as leis civis, penais e religiosas. E de fato o nosso mundo continua sempre pagando. O erro está no fato de que leis, juizes e tribunais estão situados no mesmo nível biológico do condenado, que é assim porque representa uma minoria  desorganizada contra uma maioria organizada e mais poderosa. Trata-se de um conflito entre dois duelistas, no qual a vitória pertence ao mais forte, enquanto a verdadeira  justiça  não pode descer, senão de um plano superior da  parte de seres que a ele pertencem, e que  podem julgar porque não estão dentro, mas fora e acima do conflito.

   Este é o conceito de justiça no nível super-humano, onde não se realiza a seleção do mais forte, nem do mais hábil e astuto, mas do mais honesto e bom. Então esse conceito, visto com a forma mental do atual plano biológico humano, porque pertence a outro mais evoluído, é julgado utopia, sonho irrealizável porque situado fora da realidade da vida. Ele permanece assim, como fizeram com o Evangelho, no terreno da pregação teórica. Ninguém pode, porém, impedir que quem não sabe evoluir tenha de suportar as conseqüências da sua posição, estabelecidas pela lei do seu plano atrasado. O método do código penal e do inferno nada resolve e, pela sua impotência, tudo ficou no nível da luta. Esta gera inimigos, não soluciona o contraste. O método do Evangelho resolveria, mas com o seu cérebro atual o homem não sabe compreendê-lo e realizá-lo. Assim o mundo ficará fechado na sua ignorância e nos seus sofrimentos, até que com o seu esforço consiga quebrar esse circulo vicioso, em que hoje se encontra preso.

Cabe ao homem o trabalho de desenvolver a sua inteligência acima da sua fase elementar de astúcia, para compreender como é pueril acreditar que, possuindo recursos, habilidades e enganos, seja possível impor-se à Lei de Deus, e com tal método escapar às suas sanções. Enquanto o homem permanecer nessa sua ignorância, terá de arcar também com os seus sofrimentos. Ele não terá paz até que se coloque em obediência na ordem, não por uma virtude imposta à força com a ameaça do dano, mas pelo espontâneo convencimento de quem entendeu que essa é a posição mais vantajosa e a única solução. Só neste nível, onde, ao egoísmo, separatismo e agressividade, se substituem o amor, a colaboração e o perdão, não são mais necessárias as leis coativas humanas, filhas do método da luta. Se, a precedente era a fase bíblica do homem primitivo, esta é a futura fase do Evangelho, que o super-homem praticará: "Quem está sem pecado atire a primeira pedra".

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O    objetivo das nossas explicações e demonstrações é o de oferecer os meios para compreender esse mundo novo que terá de surgir no futuro. Este trabalho é interessante também porque nos oferece a possibilidade de ver, olhando a substância que está atrás das aparências, como de fato funciona o nosso mundo e as ações pelas quais ele funciona desse modo. É lógico que haja verdades bem escondidas, quando elas representam uma arma na luta, que por isso ninguém quer que o inimigo conheça. Do ponto de vista da moral pregada em teoria, há coisas que parecem horríveis, mas que se justificam quando chegamos a compreender a sua função na economia geral da vida e sua evolução. Tudo que existe, por feio ou mau que seja, é útil, porque se existe, não é senão pelo fato de que, num sentido ou noutro, cumpre uma função. No fundo da desordem aparece uma ordem maravilhosa. Além da imperfeição do particular esta a universal perfeição da Lei de Deus. É  lógico que, nos baixos níveis da evolução, perto do AS, tenha de dominar o mal. Mas tudo é destinado a subir, e vai-se limpando sempre mais, esclarecendo, melhorando, aperfeiçoando, até se tornar belo e bom ao atingir o S. Então, essa sucessão de éticas relativas em evolução tem a sua razão de ser, representa  a ascensão do mal para o bem, e se justifica como transformação necessária para chegar à salvação.

Observemos agora o mecanismo dessa transformação de um tipo de ética em outro. Aparecerá assim a realidade que está atrás das teorias, e poderemos ver o que elas na prática de nossa vida significam, quais são as verdades concretas, para nós mais tangíveis, que se escondem atrás da expressão gráfica de nossa figura. Veremos assim que a cada nível de vida corresponde uma sua ética relativa, que vai evolvendo para a do plano superior.  Veremos que cada uma dessas éticas tem a sua lógica, que é assim em face do seu nível ou posição ao longo da escala evolutiva, lógica que não é mais aceitável, e se torna erro e absurdo em função do outro trabalho evolutivo a realizar-se num nível de existência superior. Isto se verifica não somente, como vimos, a respeito da idéia de justiça mas também para todos os conceitos que constituem a ética, e sujeitos ao processo evolutivo. Então, se neste caminho tomarmos em exame os pontos A2, A3,  A4, será possível a respeito do homem, que supomos oscilar entre estas três posições, estabelecer três éticas relativas em evolução, às quais ele pode pertencer: ética A2, ética A3, ética A4.

Cada uma delas contém os germes que se desenvolverão na seguinte superior. Nessa transformação íntima, e por lentos e sucessivos deslocamentos e contínua eliminação de erros e defeitos, se desenvolve o processo evolutivo, cujas fases de amadurecimento são  expressas por essas diferentes éticas, até que seja atingida a perfeição no S. Eis então como é no nível A2, onde reina a desordem, o caos, a regra justa relativamente àquela posição: "a vida do outro é a minha morte, e por isso, para eu viver, tenho que destruí-lo". Tal é o método da luta, agressão, guerra, da ética A2. No nível A4, onde a evolução atingiu um estado de ordem, a regra justa relativamente àquela posição, é:  a vida do outro é a minha vida, a morte do outro a minha morte, e para eu viver, tenho de protegê-lo". Tal é o método evangélico da colaboração, amor, paz, da ética A4  O princípio fundamental da Lei é que ninguém pode, e por isso não quer. renunciar à vida. Evolui, porém, o método do defender essa necessidade de viver, para atingir os supremos objetivos da evolução, voltando ao S. É  por isso que o método é diferente conforme o nível em que o ser se encontra, e a respectiva ética que estabelece qual tem de ser esse método. Em nossos livros estamos explicando o valor e as vantagens da ética A4, para que o homem compreenda o absurdo e o dano de praticar a ética A3, e faça o esforço de subir até àquela ética superior.

A ética A2 é a ética da fera, que não pode entender mais do que a lei da força. A ética A3 é a ética do ser animal-humano, que inicia o desenvolvimento da inteligência na sua forma mais baixa: a astúcia. A ética A4 é a ética do super-homem do futuro que desenvolveu a sua inteligência até compreender a vantagem de viver na ordem com honestidade. O 1º degrau é o da besta, do selvagem, do involuído delinqüente  O 2º  degrau é o da maioria do homem atual.  O 3º degrau é o do biótipo hoje excepcional cm nosso mundo, o super-homem. Assim temos três níveis com três éticas relativas: a da força, a da astúcia, a da honestidade. Elas estão ligadas como momentos sucessivos do desenvolvimento do mesmo processo, da expansão do mesmo impulso, que vai da luta à colaboração, da agressão ao amor, da guerra à paz. A evolução vai assim reordenando a desordem do AS, na ordem do S.

Em relação ao objetivo fundamental que é a defesa da vida, isto representa um rendimento sempre maior, atingido com um esforço sempre menor. Este fato prova o que dissemos no fim do Cap. XI, isto é, que a evolução se torna cada vez mais fácil, tanto mais o ser com o seu esforço progride.

A ética inferior contém os germes da superior., na qual eles desabrocham e se fixam, e assim por diante, desenvolvendo o plano todo da evolução, até que sejam atingidos os seus objetivos. É o método da semente, na qual tudo está contido em estado potencial, o que depois se tornará realidade. Também as feras no nível A2 conhecem os primeiros elementos da astúcia, como a presença em nosso mundo de leis civis, penais e religiosas revela os primeiros elementos do princípio de ordem e honestidade. E assim que o Evangelho hoje se encontra na terra somente como  “boa nova”, como germe ou elemento preparatório, como esperança e programa a realizar no futuro, só como fase inicial do seu desenvolvimento. Explica-se assim porque, depois de dois mil anos, o Evangelho é apenas um ideal pregado, e ainda não praticado em nossa vida.

Observemos a evolução da ética nestes seus três pontos sucessivos. Cada um deles é superior ao precedente. A astúcia da ética A3 é qualidade mais sutil e refinada do que a força da ética À2. A honestidade da ética A4 é mais adiantada e inteligente do que a astúcia. A cada um desses passos para o alto diminui o esforço da luta e do sofrimento, e mais se abre a compreensão da mente que representa o poder maior. Com a evolução o ser vai cada vez mais entendendo que é vantagem viver na ordem, que representa o estado perfeito, onde acabarão luta e sofrimento. Tudo isto o ser vai aprendendo por sofrer as conseqüências dolorosas da desordem, até se aperceber que esta é a causa, e assim eliminá-la. O ser sobe a níveis superiores, quando tiver aprendido que o método do nível inferior lhe produz sofrimento, e que não convém mais segui-lo, mas, pelo contrário, fazer o esforço necessário para atingir, um plano de existência mais adiantado. O ser não pode sair da necessidade de cumprir esse esforço, porque ele é automaticamente repelido pela dor do AS e atraído pela felicidade do S. Assim a evolução se torna irresistível, quase fatal, como é necessário, porque. se não for atingido o objetivo supremo da Lei, que é o de levar o ser para a salvação, a vitória seria da revolta e não de Deus, cuja obra (S) fracassaria no AS pela vontade do rebelde que, conseguindo substituir o S pelo AS, seria mais poderoso do que Deus.

Muitos se queixam em nosso mundo de que a vida é dura, e o anseio de sair do sofrimento é grande. Isto acorda a mente do homem para evadir-se dessa situação indo ele estudar outros métodos. O da força é áspero e perigoso, e levando a conseqüências dolorosas. Então se procura usar o método da astúcia. Mas também este é difícil, podo levar a erros, derrotas e sofrimentos. Então, em busca desesperada de uma solução, o homem elabora as leis, estudando outro caminho, o da organização, da regulamentação dos direitos e deveres, da colaboração, para chegar á convivência pacífica, estado que atrai, porque  representa  um bem-estar maior, luta e sofrimento menor. Nessa procura se desenvolve a inteligência, que assim chega a compreender a vantagem de saber viver com honestidade na ordem. Paralelamente este trabalho destrói a ignorância, à qual são devidos os erros e sofrimentos.

Se o ser não fosse constrangido pela dor a procurar numa lei superior um sistema de vida  melhor, ficaria para sempre estagnado no seu nível inferior, pelo fato de que, quem nele está situado, até que se desenvolva, não pode compreender a lei mais vantajosa do plano superior, e assim a repele, como fez o homem até hoje com o Evangelho. Então é providencial que ele sofra todas as conseqüências da atual incompreensão das vantagens de praticar esse novo método de vida, porque só o sofrimento nos poderá abrir os olhos para ver, o que significa, para o bem-estar individual ou social, a ordem estabelecida pela lei moral do Evangelho.  Quando um evoluído do plano A4 aparece na Terra abrindo os braços ao homem do plano A3, como Cristo fez, o involuído o agride, praticando esse seu método, acreditando, na sua ignorância, com isso vencer. Mas de fato ele agride-se a si próprio. Quem teve e tem de suportar as conseqüências dolorosas de não ter compreendido o praticado o Evangelho, é o mundo, que terá de continuar a sofrer até acabar por entender a Mensagem de Cristo. Cada ser está apegado à lei do seu nível, que é a que modela a sua forma mental. Com esta cada um julga, e nada há mais difícil a vencer que a ignorância de quem se julga sabedor.

É lógico, quem se emborcou com a revolta, tem de ficar nessa cegueira; somente podendo sair dela e voltando ao conhecimento, conquistando-o de novo à sua custa, com o seu sofrimento e esforço. Enquanto o homem não sofrer bastante, não entenderá e não quererá praticar outro método senão o da força e da astúcia e outra defesa, senão a dos seus pobres braços e cérebro, ficando assim abandonado a si próprio, porque na sua ignorância negando a Lei, ele não sabe movimentar as alavancas do merecimento e da justiça, para ele, obedece a polícia organizada e bem mais poderosa, que Deus.  Assim, pelo sofrimento, tudo se vai desenvolvendo em plena lógica.

Tal é a posição de nosso mundo atual. A cegueira foi o merecido fruto da revolta. Por isso, até que o homem tenha pago com o seu sofrimento o resgate, não poderá entender o Evangelho e ele mesmo repelirá a solução dos seus males e o remédio para as suas dores. Até esse momento, em que ele terá merecido pelo seu esforço  subir ao nível A4, o homem julgará o Evangelho uma utopia irrealizável que, como tal, não pode ser tomada a sério. Continuará assim errando e com isso ofendendo a Lei e, por lógica conseqüência, pagando, até compreender.

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A tarefa de desenvolver a compreensão é uma das mais importantes do processo evolutivo. O homem pode fazer o bem ou o mal, mas não pode parar no seu caminho evolutivo.  Por isso o mundo não tem paz e, qualquer coisa que faça, tudo se resolve em aprender uma lição.  Se ele agride, em substância,  é para aprender, pela reação dolorosa que se segue, a estrutura da Lei, que com a dor corrige o erro. Que se possa vencer de verdade é coisa que só os simplórios podem acreditar. O que fica de todas as vitórias humanas é só o que foi aprendido na luta com o nosso esforço. Só isto tem valor, porque representa um meio para evoluir. Em si mesmas as vitórias são miragens, cuja tarefa é a de atrair, para que o esforço seja feito. Mas, movido pelos seus instintos insaciáveis. ninguém pode parar. E, cometendo erros, não pode deixar de provocar a reação da Lei a cada passo, o que representa uma escola contínua o automática, na qual o mestre, que é a Lei. age por dentro do aluno, que por isso não pode fugir e tem de escutar e aprender. A vida é uma escola para aprender lições. Cada indivíduo ou povo conhece as que a sua história lhe ensinou. E um conhecimento duramente conquistado, o patrimônio adquirido com lutas sangrentas, que deixaram vivo só quem venceu, patrimônio que representa o capital que cada um possui e que pode utilizar como instrumento para cada vez mais se adiantar na sua evolução.

Já dissemos que tudo está certo, se colocado no seu devido lugar, tudo o que existe é útil, num sentido ou noutro cumpre uma função. Ora, quando o biótipo comum, seguindo a forma mental do seu plano. agride o homem evangélico, que excepcionalmente dos planos superiores desce à Terra, com isso usa a sua linguagem de biótipo A3 e inicia a sua conversa com aquele homem que tão estranho lhe parece. Agride-o e, se pode, o mata, seguindo a lei da seleção que vigora no seu nível. Esta é a sua vitória, em que ele, com a sua forma mental, coloca todo o seu valor. Agiu nele o ser inferior, executando num primeiro momento a parte que lhe pertence. Mas nessa forma inferior, que é a única linguagem que ele conhece, sem querer estabeleceu um contato com o ser superior sacrificado por ele, contato que vai acordando os primeiros sintomas do pressentimento da existência de um plano do vida mais alto. Eis então que, num segundo momento o biótipo A3 coloca o mártir, que ele em nome de uma lei inferior agrediu e matou, nos monumentos e nos altares e, em nome de uma lei superior que começa a aparecer, o elogia e venera. Desponta uma vaga intuição do mundo que está acima do nosso, mundo por palavras respeitado, adorado e pregado, mas não realizado e vivido; não obstante, este é o primeiro passo para a compreensão e depois para a sua realização. E a vítima? Ela, do seu lado, cumpriu a sua função, não somente para o progresso dos inferiores que a sacrificaram, ensinando-lhes com o seu exemplo uma lei diferente da sua lei feroz, mas com o sou sacrifício a vítima confirmou a sua natureza de ser superior e a sua posição no seu plano, fortaleceu-se e preparou-se a subir ainda mais. Eis então que, neste contraste entre o princípio da agressão e o do sacrifício, tudo foi útil para realizar uma função de desenvolvimento. É que, atrás de cada fenômeno, há a sabedoria da Lei que tudo dirige com lógica e bondade, de modo que nada pode acontecer que não seja inteligentemente orientado para o bem.

Pelo mesmo princípio se justifica a presença de muitas coisas feias, que vemos em nosso mundo. Antes de tudo elas são transitórias e destinadas a serem corrigidas;  e, no entanto, elas cumprem a função de ensinar ao ser, porque permitem que ele possa experimentar e, assim, aprender, embora seja por meio da dor. O próprio método da astúcia e do engano, que por palavras o mundo condena, cumpre a tarefa de permitir que seja superado o método inferior da força, ao qual ele se substitui, começando assim a levantar o ser do plano da luta física ao plano superior da inteligência e da bondade. Podem assim surgir as leis, com a tarefa de educar o homem no sistema da honestidade, o que significa entrar no plano biológico A4. Não se pode subir senão por degraus sucessivos, não se pode escalar o degrau seguinte senão depois do ter galgado o precedente, do qual o novo deriva por continuação do processo evolutivo. O aperfeiçoamento não pode ser descontínuo nem de improviso, sem as passagens intermediárias. Assim não seria possível destruir o método da força, sem possuir um método afim para o substituir, que neste caso é o da astúcia e do engano. No caminho da evolução não é possível saltar do plano A2 ao plano A4, sem ter que atravessar o plano A3.

Então, também quando por astúcia entendemos a arte do intrujar o próximo, temos que admitir que a vida cumpre uma função útil. Não estamos defendendo a baixeza do homem, mas a sabedoria da Lei. Sem estas atividades bem desprezíveis, como poderia o homem começar a afastar-se da lei da força e do estado da fera, ao qual elo primeiro pertenceu? Temos, então, de reconhecer, apesar de situada num nível bem atrasado, a função biológica da mentira. Além disso, ninguém podo renunciar essa arma, porque é necessária para defender-se num regime do luta. Logo,  não foi possível tirar de uma só vez  das mãos do indivíduo a arma da força, a única que ele possuía, sem lhe deixar outra arma para se defender. Tudo o que se pode exigir é que ela seja mais refinada e inteligente, o que significa evolução.

Foi assim que o ser pôde passar do nível da fera, que conhece apenas a forca ao do homem, que para viver é constrangido não  mais a desenvolver os seus músculos, dentes e garras, mas a mente e o sistema nervoso, porque a inteligência se tornou a qualidade mais útil para vencer. O fato de que, para triunfar na luta pela vida o sobreviver, o ser não tem mais que matar e devorar o próximo, mas pode alcançar aquela vitória, sabendo se movimentar com astúcia no labirinto complexo da organização moderna, esse fato prova que a inteligência pode substituir a força, dirigindo a para um caminho novo, até agora inexplorado, o que nos mais adiantados, com o desenvolvimento da consciência, poderá orientar o ser na direção da espiritualidade. O mundo está se encaminhando para o estado  orgânico, nível A4, que garante a vida o representa a defesa do super-homem, renunciando ao método da força o da astúcia.

Eis o nosso passado, presente e futuro, e para onde caminha a evolução. As leis civis, penais o religiosas que nós possuímos representam um meio para educar o indivíduo do plano humano A3, apoiando-se no método da força do plano A2, a se tornar cidadão do plano A4, aprendendo a viver na ordem. A força  não desapareceu por isso, porém é chamada a sustentar a ordem, conformo regras estabelecidas. Há, no entanto, os períodos do guerra, nos quais o indivíduo do plano A3 volta a funcionar no sou estado anterior, de fera, do plano mais baixo A2, o da forca. E nos períodos que seguem, as guerras continuam a vir à superfície no plano À3, o da vida social civilizada, os retornos daquele nível inferior que a guerra acordou e que constitui o fundo animal da natureza humana. Pelo contrário, os períodos de paz, em que reina a ordem das leis, são aqueles em que se executam passos para a frente na obra da construção da ordem do nível A4. Infelizmente porém o caminho é lento e cheio de contrastes, porque o homem ainda não está maduro para viver na ordem e, continuando com o método da luta, é levado a tudo transformar em meio de ataque o defesa. Mas apesar do tudo, neste plano A3, com a lei existe o germe da ordem. o embrião que se desenvolverá até à sua plenitude no plano A4, em que a lei funcionará sem mais forca nem astúcia, mas por livre adesão de homem convencido e consciente. Este será o maior progresso. Existem ainda muitos que acreditam no método da violência e a sua maior glória é, com ele, ser vencedores. E assim podem vencer. Mas desta maneira o seu reino se torna um inferno, no qual o ser civilizado não aceita mais viver. Mas quem pode convencer um escorpião ou uma cobra, que a sua função é horrível? Para eles aquela é a sua vida, toda a vida, porque é a única duo eles conhecem. A verdade é relativa o em evolução. O ser está imerso nessa relatividade e não pode compreender senão o que está debaixo, que representa o caminho percorrido por ele, a sua experiência vivida. Cada ser não pode entender mais do que aquilo que ganhou subindo com o sou esforço. A verdade absoluta, imóvel, que abrange todas as verdades relativas atravessadas no caminho, a visão completa não poderá ser atingida senão ao chegar ao S, no ponto final da viagem.

Eis como tudo está funcionando, o vimos do que maneira o por que razão. Falamos da mentira, porque o fingimento representa a forma, diríamos subterrânea, que a luta pela vida tomou em nosso mundo atual. A força hoje, pelo menos na forma e entre particulares, é condenada, teoricamente substituída pelo direito. No terreno internacional este ainda não existe, senão na fase embrionária do tentativa, enquanto as brigas se resolverem com as armas e as guerras. A astúcia é método na prática normalmente aceito. As nações pregando paz e sustentando o direito, aprontam guerras. Às leis os astutos e poderosos  sabem escapar.  E nas religiões, quem acredita de verdade? Atrás do tão bonitas aparências que estão na vitrina para a gente em boa fé acreditar, a realidade escondida é outra, pois enquanto houver os simples ignorantes, haverá também quem os explore. Como no nível da força a lei de evolução impunha a seleção do mais forte com a destruição do mais fraco, assim hoje no nível da astúcia a mesma lei impõe a seleção do mais inteligente com a eliminação do mais simplório. Ninguém pode parar no caminho da evolução, mesmo agora que se subiu para um nível mais alto. Como um dia foi necessário ser forte para sobreviver, agora é necessário ser inteligente. Claro que se trata ainda de inteligência caótica, mal dirigida, e que pelos erros que ela implica, o mundo tem de pagar, como do fato a cada passo está pagando. Assistimos assim ao desmoronamento contínuo do tantas construções suas, porque tudo o que é edificado pela inteligência sem o cimento da bondade, mais cedo ou mais tardo está destinado ao fracasso.

Assim, com a luta recíproca do um contra o outro, todos juntos cumprem o mesmo trabalho de se impulsionar para a frente. Quem ficou enganado sofre, o que constitui o mais enérgico convite para pensar, aguçando a sua inteligência para não cair mais no engano. Na luta se afiam as armas, o que estimula o desenvolvimento. Cada um ao mesmo tempo é mestre e aluno do vizinho, cada um ensina e aprendo, todos carregando as suas experiências e lições recebidas, com elas construindo o seu patrimônio de conhecimento. Mas acontece também que, continuando assim neste duelo, os dois lutadores do método da astúcia, acabem entendendo que convém mais para todos pôr termo a este duro e perigoso estado do guerra e insegurança, no qual sempre há quem perde e sofre. Começa assim a despontar a compreensão da vantagem de diminui enganos e enganadores, tormento universal, e de impor o método da sinceridade e honestidade. Cada um se lembra do mal recebido pela traição do mentiroso, e o instinto da autoconservação leva todos a procurar e cercar tal tipo maléfico, para o isolar e eliminar. Ele venceu, mas acumulou ódio e terror ao seu derredor. Também os escorpiões e as cobras venenosas possuem uma arma terrível para vencer. Mas quem não odeia e procura destruir esses bichos maléficos? O homem acabará destruindo-os, enquanto cria, como seus companheiros, os bichos mansos, que se deixam domesticar.

Isto prova que a vida se pode ser defendida também com as armas da mansidão. Os enganadores podem prosperar numa sociedade primitiva, que se encontra apenas no início do desenvolvimento da inteligência. Mas quanto mais aquela sociedade evolui do nível A3 ao A4, tanto menos nela haverá lugar para tal biótipo involuído que usa a inteligência só para sua vantagem e dano do próximo. Não é o que a civilização e o progresso estão sempre procurando fazer? Tudo isto é automático e fatal, porque contido nos princípios da Lei. O leitor não se admire se para tais transformações estamos procurando apoio nos recursos da Lei, e não nos da boa vontade e inteligência do homem. Chegar a possuir tais qualidades será o resultado da luta e não o meio para a dirigir e resolver. Se a direção do processo evolutivo tivesse ficado nas mãos do homem, tudo teria fracassado há muito tempo. A sua conduta é um efeito, e não uma causa. Esta, do que o restante depende, não pode estar senão no único lugar onde há conhecimento, honestidade, justiça, poder etc., isto é, em Deus. Quem quer um apoio firme, não  sujeito a lutas, enganos e mudanças, não o pode encontrar algures.

Assim se vai verificando em nosso mundo este dúplice jogo: tudo liso e lindo na superfície, mas uma tremenda realidade do luta feroz no fundo. O homem nasce inexperiente, acreditando nas aparências, morre astucioso conhecedor de todas as sagacidade aprendidas à sua custa, sabido de todos os artifícios da vida, mas toma cuidado para que não seja conhecida aquela arma secreta Na prática o honesto é julgado um simplório que não sabe fazer os seus negócios. Como no nível da força a honra maior é a de ser vencedor com a força, assim no nível da astúcia o maior valor do homem está em saber enganar o próximo para tirar dele a maior vantagem. Como cada bicho conhece a sua defesa, assim cada plano possui a sua sabedoria e o seu conceito relativo de respeitabilidade. Este é o verdadeiro jogo da vida, e é interesse do quem o pratica escondê-lo, para que mais gente possível caia na rede. Por isso são os que mais procuram aproveitar da ingenuidade alheia, os que têm mais interesse em ganhar a sua confiança, mostrando-se honestos, religiosos, cheios de virtude. Serão eles os que mais sustentarão os ideais que exigem fé e sacrifício, para tirar vantagem do rebanho dos que neles acreditam. Foi sempre a tarefa do vencedor a de ensinar a verdade que mais lhe convêm, escondendo e apagando as outras.

Vemos assim, de acordo com a posição de quem comanda, mudar o conceito de honra e dever dominando verdades diferentes. Nem faltam teorias bonitas para justificar tudo isto em nome das coisas mais altas: a justiça, a religião, o próprio Deus. Assim. pensar no bem dos  povos é trabalho  que  pertence a estes, que têm de realizá-lo com o seu esforço, apesar de que, em teoria pertença aos governantes. A verdade real, que ninguém ensina  por que é interessante ficar escondida, cada um tem de descobrir por si mesmo com a sua mente, deste modo desenvolvendo a inteligência. É natural que num regime de luta, cada um procure disfarçar as suas armas e estratégia. Cabe à parte oposta chegar a descobri-las. Eis por que a mentira não deixa de existir no mundo, porque ela faz parte integrante do sistema de luta no nível humano. Cada um tem de estudar e aprender o jogo, descobrir o engano, para não cair nas ciladas. Mas enquanto houver ovelhas, haverá também lobos, enquanto houver vítimas, haverá carrascos, enquanto houver quem acredita em boa fé, haverá quem procure enganar.

Quem em nosso mundo se apresenta como é, com toda a sinceridade? Se o fizesse estaria perdido, porque quem não é levado a aproveitar os pontos fracos do próximo, quando consegue descobri-los? Tudo isto no nível A3 é natural, corresponde aos instintos, fruto das duras experiências passadas, verdade axiomática com que a maioria concorda espontaneamente. Assim é a ética desse plano, porque do tal método a vida precisa para alcançar o seu objetivo, que é o desenvolvimento  da inteligência. E de fato os astutos para chegar a dominar já a desenvolveram, e agora, o esmagamento que eles praticam vai desenvolvendo a inteligência  dos ingênuos. Os que sabem fazem o trabalho do ensinar aos que ainda não  sabem, os mais inteligentes automaticamente se encarregam de desenvolver a inteligência dos ignorantes.

Assim as classes sociais ou povos inferiores aprendem e sobem, imitam e amadurecem, até que um dia se revoltam e chegam a ocupar o lugar dos dominadores. Como a história da revolução francesa, da russa, do império colonial romano, do inglês Afinal de contas, na sabedoria da vida, os dominadores trabalham a serviço dos dominados. Enquanto mandam, na verdade, ensinam aos seus subordinados como dominar. Há complementariedade ente os dois grupos. Se a vida permite a maldade do engano, isto se verifica porque é útil para acordar a mente do ingênuo. Quanto mais os enganadores praticam o seu jogo, tanto mais rapidamente e melhor os enganados o aprendem em seu proveito. Deverá assim, por este caminho, chegar-se ao ponto em que tal jogo não será mais possível, pelo fato do que os simplórios desaparecerão, porque vencidos e eliminados não existirão mais, e se tornarão astutos. Tanto no nível A3 da astúcia, como no A2 da força, a vida cumpre o seu trabalho de seleção e de limpeza, libertando-se dos ineptos. O caso triste é quando na Terra desce um biótipo do nível A4, e tende a ficar sujeito a uma luta continua que atrapalha o seu trabalho, tão  mais útil e alto, luta estúpida para ele, que não precisa dela para desenvolver uma inteligência que já possui. Pode assim acontecer que um gênio especulativo seja constrangido a usar a sua inteligência para defender-se dos ladrões que lhe furtam tudo, em vez de a usar para as suas descobertas.

Uma das conclusões práticas que deriva do tais observações é que a solução do problema da justiça social, dos desníveis econômicos, da independência das classes ou povos submetidos, depende do fato de que eles aprendam a lição com o exemplo dos seres dominadores. Para subir, têm do fazer o esforço que os dominadores fizeram para conquistar a sua posição do domínio. Para vencer o gozar do fruto da vitória, é necessário trabalhar, valer, merecer. Neste nível também há lugar apenas para os vencedores. Para os vencidos o azorrague da dor, para que eles se tornem vencedores. Tal é a justiça deste plano, pela qual se legitima a presença dos astutos para ensinar aos ingênuos, e a presença destes para serem educados. É natural: como nas doenças os micróbios acorrem ao ponto fraco do organismo doente, convidados pela sua debilidade; também os astutos acorrem onde há os simples, que com a sua ignorância os convidam, para que estes possam cumprir a função pertencente aos mais adiantados, estimulando a evolução  dos mais atrasados.

Pelo mesmo princípio o super-homem do nível A4  procura levantar os homens do plano A3, ensinando aos astutos a superar o sou método, para substitui-lo pelo da honestidade. E a estes, que procuram escapatórias para se evadir, há o azorrague da dor. Sempre há evolução, seja com o engano dos astutos acordando a mente dos ingênuos, seja o evoluído iluminando os astutos, deixando-lhes entender quanto seja contraproducente o seu método de intrujar a todos.

Se mostramos as chagas do nosso mundo, não  é para agredir ou destruir, mas para subir; se indicamos o erro, não é para condenar, mas para não cometê-lo mais. Que grande utilidade representaria substituir às dolorosas conseqüências da atual comédia humana, filha da inconsciência, pela vantagem de praticar, com inteligência, outro método de vida, o de quem conhece e segue a Lei de Deus!

Assim tudo vai evoluindo e tudo concorre para promover a evolução. Todos os seres, em todos os níveis, estão presos na engrenagem do processo evolutivo. Eis qual é, a respeito do nosso nível, a realidade contida no esquema gráfico de nossa figura. O nosso século está fazendo esforços evolutivos em todas as direções. A evolução vai do método da luta ao do amor, do esmagamento à colaboração, do sistema do direito do mais forte ao da defesa dos bons e honestos. A tendência universal, igual nas duas partes opostas do mundo, é a de proteger e instruir os meninos, dar abrigo aos velhos e desamparados, emancipar a mulher, sustentar os pobres. reconhecer o direito do todos à vida. Assim, ás vezes sem saber, nem querer, pelo universal impulso do evolução, todos são levados, mesmo os que o negam, a realizar o Evangelho, que representa a lei social do porvir. Descendo da visão geral do fenômeno evolutivo, chegamos cada vez mais perto dos pormenores, observando as condições de nosso mundo atual o as razões que as explicam e justificam.