Encontro-me no mês de setembro de 1963, 32 anos se passaram quando nosso personagem tomou a sua decisão. Hoje, em posição retrospectiva, pode-se observar aquilo que então não se podia ver, porque os fatos oriundos, em vez de se encontrarem no passado, estavam situados no futuro.  Agora, é mais fácil compreender o seu significado, porque é possível verificar as consequências daquela decisão. Mas é necessário, antes de tudo, explicar o que neste caso se entendeu por voto de pobreza.

Ele aqui não quer dizer a miséria na qual falta o indispensável, não se podendo sequer trabalhar; não exprime a clássica fuga do mundo pelos eremitas para viverem na renúncia e no ócio; expressa antes a decisão de viver exclusivamente do fruto do próprio trabalho, em vez de desfrutar o dos outros; significa construir espiritualmente, apoiando-se, em primeiro lugar, sobre a base de honestidade econômica. Trata-se de viver reduzindo ao mínimo as necessidades materiais, elevando ao máximo as espirituais e trabalhando neste terreno, gratuitamente, também para os outros  Cuida-se, em suma, de praticar a máxima pobreza possível para um homem civilizado que tem uma tarefa intelectual a cumprir, sem que essa pobreza o conduza ao embrutecimento ou que isso o impeça de lutar, de modo a permanecer um elemento produtivo na sociedade e não um produto de refugo, capaz somente de aproveitá-la e de a corromper. Empobrecer-se até tornar-se miserável, para viver na ociosidade, transformado em parasita, poderá ter sido um tipo de santidade no passado em outras posições históricas e sociais, mas hoje constitui prática antivital, porque também, espiritualmente, contraproducente. Hoje eliminam-se os sacrifícios que não beneficiam ninguém e abaixam o nível mental de quem os realiza. Em vez de serem julgados como uma forma de elevação moral, eles são olhados com desconfiança, como pretextos para praticar o lazer à custa do próximo, como um mau exemplo, um convite à preguiça — imitação prejudicial.

Não é esta pobreza que o Evangelho aconselha. Ele condena o abuso e não o bom uso dos bens. Ora, o nosso protagonista encontrava-se na situação mais adaptada para poder gozar impunemente deste abuso, na posição que lhe permitia, em plena legalidade civil e religiosa, viver do trabalho dos outros, como um parasita. Ele se rebelou contra as leis e os costumes que lhe permitiam aquilo, e nisto consistiu o seu voto de pobreza. Assim se poderia chamar, com maior exatidão: voto de honestidade. Não queria aceitar um benefício, para ele ilícito, não lhe importando, se, para a moral do mundo, incluindo os pregadores do Evangelho, fosse considerado lícito. Teria podido gozar, além do ócio, também do luxo e do respeito que a riqueza traz consigo, porque confere uma alta posição social, como ainda fruir as bênçãos de Deus, se com aquela riqueza, que não era sua, visto não a ter ganho com o seu trabalho, ele tivesse realizado obras de beneficência. Renunciou a esta felicidade do mundo e a substituiu pelo trabalho pela parcimônia para si e generosidade para os outros, vida simples, sem compensações, intelectualmente ativa para o bem do próximo. A fim de evitar mal-entendidos, eis o que foi o voto: não uma loucura fora da realidade, mas um ato útil, racionável, honesto.

Não é possível acreditar que tal plano de vida fosse de fácil realização, quando despojado de heroísmos altissonantes. A vida é dura para quem pensa primeiro nos próprios deveres, numa sociedade em que geralmente cada um costuma pensar antes de tudo nos próprios direitos. Mas, para quem tem senso moral, esse plano de vida representa um dever para com o verdadeiro pobre, que permanece como tal, sem sequer poder apropriar-se da glória da renúncia; é um ato de justiça social ir ao encontro dele em vez de injuriar a sua pobreza com a opulência, com o egoísmo e, por vezes, até mesmo com o desprezo, incitando-o assim à revolta. Tudo isso é simplesmente um dever para quem tenha sentido de retidão; não é virtude preclara que mereça auréola de santidade. Este voto é uma coisa muito mais simples: confraternizar com os deserdados de forma mais real, que não é esbanjar beneficências do alto da própria posição social, dignando-se a descer, mas ficando longe deles e assim os humilhando com a própria esmola. Este voto significa renunciar às próprias comodidades para se colocar na situação do pobre e viver a sua vida de limitações e preocupações. Nestas condições, deve prover-se de tudo, para si próprio e para a família, somente com o seu trabalho. E, quando este não baste, como sucede aos pobres, humilhando-se, pedir ajuda, o que significa dependência a quem dá, se lhe agrada e da forma como lhe agrada. Para quem nasceu rico e se habituou ao regime de abundância, trata-se de inverter a própria posição, à vida inteira; trata-se de fazer isso num mundo em que o valor e a honra consistem em ser rico e não em ser honesto, em tornar-se poderoso, não importa com que meios, e não em sacrificar-se por um princípio idealista.

Será tudo isso utopia? Certamente que o é em nosso mundo atual. Por outro lado, também é verdade que, por esse fato, ele sofre as consequências. Assim, o caso aqui descrito supera os limites de simples fato individual para assumir um significado muito mais amplo, fazendo parte do problema social dos nossos tempos. Uma coisa é certa: se esta utopia evangélica tivesse sido vivida em grande escala, o Comunismo teria sido inviável, pelo menos nos países cristãos. Isto porque ele teria sido já aplicado da melhor forma, ou seja, construtiva e fraternalmente, e não de maneira destrutiva, com o ódio de classes; teria sido realizado como colaboração pacífica, e não através da opressão por parte do Estado. Se os cristãos tivessem sido verdadeiros cristãos, como o foram nos primeiros séculos, o Comunismo não lhes poderia ter roubado a ideologia da justiça social, que é a sua maior força, e as massas não estariam do seu lado.

Infelizmente, o Cristianismo usou um método diverso. A religião se aliou à classe dos dominadores, apoiando-a e, em compensação, com partilhando com ela os bens materiais. O método era submeter os deserdados, dando-lhes a esperança compensadora no além-túmulo, e o resultado foi que, em lugar de se chegar à fraternidade, confirmou-se a cisão entre interesses opostos e a respectiva luta de classes. Foi um programa de egoísmo que fermentou o ódio na sociedade em vez do amor. Se o Cristianismo não tivesse, para seu interesse, protegido estas divisões sociais, o Comunismo não teria nascido. Estamos nos antípodas do Evangelho. Mas isso não significa que o "Sermão da Montanha" não seja verdadeiro. Ele não foi feito, como sucedeu, para ser utilizado com a finalidade de dominar os ingênuos. Aqui está a culpa, e esta se paga. Trata-se de uma lei a que ninguém pode escapar.

Chegou, no entanto, o dia em que os simples compreenderam o engano, e o belo jogo das esperanças celestiais não deu mais resultado. Então, os pobres se uniram para exigir de fato, subitamente, e com a força, aquela justiça social que os detentores da fortuna não concediam, como deveriam ter feito por amor, em lugar de promessas. Aconteceu ainda: ao mesmo tempo que o Evangelho não se realizava, procurou-se aplicá-lo com o método mais anti-evangélico possível — a violência. Postas de lado as consolações teóricas da religião, começou-se logo a prestar contas na Terra, exigindo-se justiça sem quaisquer protelações para o além-túmulo.

A reação por parte da Igreja confirmou o erro e agravou-lhe as consequências. Em vez de reconhecê-lo e corrigi-lo, insistiu nele, mostrando assim as suas verdadeiras intenções. Em lugar de voltar atrás, regressando ao Evangelho, ela se tornou rígida naquela posição e respondeu com as excomunhões, pondo-se em estado de guerra no mesmo plano do atacante — o dos interesses — em vez de se colocar no seu próprio terreno, que era o dos ideais.

Que isso tenha sido um erro eis o fato de que hoje já se compreende que o Anticomunismo não pode ser feito com o velho método das condenações solenes, e sim em forma de lógica e sinceridade por gente honesta, cumpridora dos princípios proclamados, não se impondo apenas por autoridade com ato de força que não convence, porque não prova coisa alguma. Daí a nova tendência, depois do Concílio, de se orientar, primeiro, para o diálogo. Possivelmente a Igreja teria sido obrigada a isso, porque viu a impossibilidade de sustentar aquelas posições usando os velhos métodos. A tendência para uma nova mudança permanece. Não se vence um mal combatendo-o com outro mal, um erro com outro erro. Se ao abuso não se contrapõe a honestidade, todos se situam do lado do primeiro. Não basta, para ter razão, possuir e usar a força da autoridade. A única reação válida não podia ser outra senão a de se opor à justiça social que o Comunismo defendia e já tinha colocada em prática, não lhe oferecendo assim o flanco aos ataques. A verdadeira resistência faz-se com afirmação de si mesmo, corri valor próprio, e nunca negando os outros para condená-los. Quando existe um ponto débil, é inevitável que sobrevenha um ataque contra ele. Mas o ataque depende do ponto fraco, que o atrai. Então, o remédio e um só: eliminá-lo. E isso se faz localizando-o em si próprio e não procurando o dos outros para agredi-los. O mundo usa este processo, mas disso nasce somente luta e destruição, nada se corrigindo, nem melhorando. Todavia, este é também um método para progredir nos níveis mais baixos, apesar de primitivo, e a vida o utiliza. Assim, o micróbio ataca no ponto de menor resistência, para obrigar o indivíduo a fortalecer-se na luta, aprendendo a vencê-la. Deste modo a natureza obriga os fracos a se fortalecerem, eliminando os que não sabem vencer. Também, no plano da justiça social, com o assalto das camadas prejudicadas, a vida tende a eliminar as injustiças, coagindo neste terreno os imorais a se moralizarem. E os nossos pontos defeituosos, sejam físicos, sejam espirituais, vão sendo corrigidos. Assim, o Comunismo pode ser entendido como um processo de forçada purificação do Cristianismo para levá-lo, novamente, à sua exata posição evangélica.

Ora, o Anticomunismo pode realizar-se melhor, mostrando, sobretudo com fatos, ao mundo a sua própria posição moral e com isso a invulnerabilidade às acusações, como a validade de função social da religião. É somente quando possuímos apenas valores falsos que a vida procura eliminá-los. Mas, quando os temos verdadeiros, ela tende a conservá-los, a fim de utilizá-los para o seu próprio objetivo: a evolução. O ideal e a espiritualidade são valores biológicos, que a vida leva em conta. Se o Cristianismo tivesse realizado o programa evangélico, teria havido um comunismo baseado no amor e não no ódio de classes, um comunismo de paz e não de guerra. Contra ele, ou seja, um comunismo verdadeiramente cristão e aplicado, o atual não teria nada a fazer. Mas terminemos esta digressão, à qual nos conduziu o caso em exame, e continuemos a observar-lhe sob outros aspectos.

Neste caso a medida da renúncia é reduzida à posse do mínimo indispensável para poder realizar o seu próprio trabalho, útil ao indivíduo como à sociedade. A moral da vida é utilitária, num sentido sadio, construtivo. Para ela não é virtude o que se lhe vai contra, agindo em direção negativa, destrutiva. Ela consiste sobretudo em evoluir, e massacrar em seu nome é loucura. Estão, pois, excluídos os excessos antivitais realizados no passado em nome da santidade e que consistiam no tormento físico. Construir-se no espírito é tarefa positiva que não se realiza apenas em se destruir como matéria, o que constitui labor negativo. Mesmo que tudo isso se explique como reação corretiva de abusos de outros tempos atrasados, não tem mais razão de ser numa sociedade mais evoluída. Por inércia continuam ainda hoje a exaltar nos santos virtudes proporcionadas às condições de vida que o mundo então oferecia, adaptadas às funções de equilibrar vícios correspondentes. Neste sentido a renúncia fazia parte do sadio e indispensável utilitarismo da vida, sempre pronta a produzir o bem, e rebelando-se a qualquer qualidade improdutivo e destruidora.

No passado, com a pobreza absoluta, reagia-se contra uma riqueza que então era fruto do roubo e assassinatos. Revoltar-se contra ela significava ir de encontro a esses delitos. O poder e a glória eram concedidos ao cavaleiro vencedor, não com o trabalho, mas com a violência da espada, isto é, não por ter produzido, mas porque roubava e matava, enquanto o trabalho era considerado vergonha, deixado aos servos e olhado com desprezo. Assim acontecia não só com a prática do jejum, como com a da castidade, porque se consideravam como máxima a alegria animalesca da gula e do sexo, realizando-se neste campo todos os excessos. Foi por isso que no passado as virtudes eram desse tipo, exatamente com o objetivo de estabelecer uma compensação. Elas presumiam de modo subentendido a existência de vícios opostos a corrigir para levar o homem ao caminho da justa medida.

Ora, é evidente que tal tipo de virtude se torna inútil e absurdo, porque é biologicamente contraproducente em outros tempos e ambientes, onde, encontrando-se em outras posições evolutivos, o homem devia alcançar objetivos diferentes. Isto acontece, com precisão, atualmente, quando a ferocidade humana se torna mais sutil, nervosa, psíquica, menos material e grosseira, ou seja, manifesta-se como agressão mental e não com os métodos de cruéis açougueiros à base de esquartejamentos, como se usava na Idade Média. Eis, então, que as qualidades corretivas dos abusos do ambiente moderno devem ser de outro tipo, se quiserem cumprir a função corretiva que delas se espera, justificando a sua presença. As virtudes modernas não podem ser repressivas na forma e nos pontos em que elas o foram antigamente. E devem tornar-se positivas e ativas em zonas outrora desconhecidas  A grande virtude da contemplação transformada em ócio e da pobreza convertida em parasitismo social hoje se substituem pelo hábito do trabalho, útil à coletividade; as virtudes da ignorância e da inércia mental são substituídas pelas da cultura e da atividade intelectual; a virtude repressiva de prazeres animalescos é trocada por outra controladora de alegrias de natureza nervosa e cerebral; a virtude da pobreza-miséria que impede de trabalhar é permutada, como no caso aqui examinado, por outra que não destrua tempo e energias, tornando o indivíduo um peso para o próximo. A sociedade moderna, organizada, está disposta cada vez menos a admitir no seu seio vagabundos incomodativos, hoje fora do organismo coletivo, no qual o indivíduo deve enquadrar-se para seu bem e de todos.

Tudo isso nos mostra como a ideia de virtude tem um significado e conteúdo proporcionados aos diversos tempos, às condições de vida que se oferecem e à posição evolutiva que representam. Não se pode compreender o indivíduo senão em função de seu ambiente. O tipo de virtude que ele é chamado a praticar e que justifica e valoriza o seu trabalho depende da forma mental e das condições de vida do seu tempo, do qual é impossível isolar-se. O grande pecado do passado era a injustiça e a violência no plano físico, o do presente é a mentira e a violência no nível econômico e mental. A qualidade compensadora não deve ser uma amputação da animalidade, mas uma inteligente afirmação de honestidade, sinceridade e justiça. No passado, em muitas ordens religiosas, voto de pobreza significava na realidade voto de ociosidade. Hoje, em nosso caso, voto de pobreza quer dizer voto de trabalho, oposto como reação corretiva ao abuso de quem vive na abundância sem trabalhar, servido pelo labor dos outros.

Foi isso que significou para o nosso personagem o voto de pobreza. Esse voto teve o sentido de trabalho e, como nos referimos anteriormente, de honestidade, para cumprir um dever de justiça social, colocando-se no nível dos que nenhuma renúncia podem fazer, porque nada possuem para poder renunciar. Voto de honestidade num mundo de desonestidade, de justiça num mundo de injustiças. Tudo isso feito em obediência a um princípio: renunciando às suas próprias comodidades, resistindo ao método egoísta dominante da própria vantagem. Este o significado do voto. Não se trata, portanto, de virtude heroica, mas simplesmente do cumprimento de um dever. A maioria que se esforça na sua existência de pobre não é santa por esse motivo. O fato de seguir essa outra moral, diversa à do mundo, é espontâneo e irresistível para quem vive em um plano evolutivo superior, onde domina a lei da justiça e do amor, em lugar da lei do egoísmo e da luta que impera nos níveis mais baixos, nomeadamente no humano. Tudo, portanto, se explica logicamente, tudo é natural conforme as leis da vida.

No fundo, trata-se de simples qualidades biológicas baseadas em princípios utilitários, não no sentido comum egoísta de dano ao próximo, mas de um utilitarismo inteligente que traz vantagem sem prejudicar ninguém. E porque trazem vantagens ao mundo, elas são consideradas virtudes isto para o nosso personagem consistia em satisfazer seu interesse pessoal. Viver no ócio e no prazer pode representar um triunfo de momento, e, por esse motivo, os ingênuos que não enxergam longe caem facilmente. Mas essa maneira de viver dá origem a ineptos, cria um hábito difícil de manter e faz desaparecer a arte de saber lutar para sobreviver. É evidente que por este caminho o indivíduo acaba por encontrar-se em condições desastrosas, nas quais deverá pagar duramente as alegrias não ganhas de que desfrutou injustamente. Tais leis são, fatalmente, para todos. Eis a diferença entre o nosso personagem e o mundo: o primeiro conhecia essas leis. Seguia, portanto, o caminho de sua maior vantagem e menor dano, fazendo bom negócio onde os outros faziam péssimo.

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Observemos agora o significado do voto em sentido mais vasto. Em substância o problema aqui tomado em exame é o de toda a nossa Obra: a luta entre espírito e matéria, entre Cristo e o mundo, entre o ideal que antecipa a evolução e a realidade de planos de vida mais atrasados. No caso observado e vivido revela-se o choque entre a moral de dois níveis biológicos diversos: o do evoluído e o do involuído. Logo nestas primeiras páginas, este caso nos foi apresentado em vários dos seus aspectos: como fenômeno parapsicológico, como desenvolvimento de um destino, como moral superior, ou como um ato de adesão a princípios elevados, necessários ao cumprimento da missão. À medida que avançarmos, desenvolveremos estes primeiros pontos já referidos, observando o caso também sob outros aspectos, tais como: experiência místico-religiosa, realização evangélica, problema econômico e ético social, afirmação de personalidade e reação individualista ao coletivismo moderno, experiência de formas superiores de vida contra a atual concepção hedonista da existência baseada no bem-estar material etc. Como se vê, este caso pode ter vários e profundos significados, que procuraremos analisá-los. Isso colocar-nos-á perante muitos problemas de importância individual e social a serem resolvidos.

 A vida pode ser conduzida de dois modos diferentes, segundo o ponto de vista em função do qual se vive. Eles dependem de duas maneiras diversas de concebê-la: a de uma existência que constitui um fim em si mesma, desejando, portanto, alcançar vantagens de realização imediata (os bens e os gozos terrenos), e a de uma vida que é apenas um meio para atingir fins mais altos e longínquos, vantagens para realização no futuro (os bens e os gozos espirituais). No primeiro caso, a sua finalidade é estar bem no presente; no segundo, é o de construir para um futuro melhor. Ora, esta segunda concepção vem em geral proposta de forma ascético-religiosa.  Nós aqui a propomos de modo racional-científico, biológico-evolutivo, como se verifica pela superação da atual fase de existência no plano animal-humano em direção a níveis de vida mais adiantados, o que não constitui transposição de realizações em hipotéticos mundos ultraterrenos, mas fenômeno positivamente comprovado. Se tal superação é o motivo fundamental das religiões, nós aqui, ao contrário, apresentamo-la não como o sonho de um místico, ou a exigência de um moralista  mas como fenômeno racionalmente aceito pela ciência, ou seja, como superação da posição biológica de cada um ao longo da escala da evolução, com todas as suas consequências, e como uma realidade implícita nas leis da vida, que colocam como finalidade da existência o seu transformar-se em sentido evolutivo.

Daí a posição de nosso personagem, que escolheu uma vida de renúncia em lugar de uma existência de fácil prazer; se porventura pode parecer loucura, conforme o primeiro modo de conceber aquela vida, fim em si mesma, dirigida a realizações imediatas; surge, no entanto, constituindo sabedoria previdente, o outro modo de considerá-la, isto é, um meio para alcançar outros fins, dirigida a realizações superiores. No primeiro caso, enxerga-se de perto somente a perda imediata que a renúncia traz. No segundo, vê-se longe, ou seja, a utilidade que a longo prazo aquela renúncia produz e portanto, aceita como vantagem. Isto corresponde à psicologia do trabalhador econômico e previdente que, em vez de gozar a vida esbanjando-a, acumula poupando. Assim se explica o nosso caso. Para quem conhece as leis da vida e a técnica de seu funcionamento, trata-se apenas de um cálculo utilitário, logicamente preparado, dirigido à conquista individual para uma existência melhor. Não significa que o ideal seja colocado fora de sua realidade. Ele apenas abraça uma realidade mais vasta do que aquela oferecida pelo nosso mundo, fechada, na qual se esgota a existência da maioria dos homens. Trata-se de duas visões: uma míope; a outra abarcando longínquos horizontes. O involuído é levado a seguir o primeiro método, ele vive na ignorância, enquanto o segundo presume no indivíduo uma consciência da sua própria posição no seio do funcionamento universal. O primeiro é levado acima de tudo a satisfazer o seu instinto fundamental que o faz procurar de qualquer modo a alegria, por tentativas, sem saber encontrá-la, ficando no fim desiludido e insatisfeito. O segundo, conhecendo as leis da vida, sabe orientar-se com inteligência dentro da sua lógica, e assim, guiando-se conscientemente, dirigindo-se para fins exatos, em seguida os alcança. Este, em vez de gozar, decide evoluir, navegando em direção ao Alto, não se abandonando, inconsciente, na corrente, mas, em plena consciência, segurando com a mão o leme do seu próprio destino. Sob o ponto de vista biológico, a renúncia daquele homem assume valor positivo. Daí a seguinte pergunta: no fim da vida, quando se faz a soma do trabalho realizado, levando em conta o resultado final, quem fica em melhor posição   o indivíduo que gozou no ócio, aprendendo, assim, apenas a ser um inepto, ou quem se submeteu a uma disciplina de trabalho, que o temperou para a luta, fortalecendo-lhe a resistência e enriquecendo-o de qualidades que melhor lhe garantem a sobrevivência? Concebendo as coisas somente em termos utilitaristas, este trabalho de construir com o próprio esforço uma personalidade sempre mais forte e evoluída significa conquistar um poder defensivo na luta, protetor da vida e garantia da vitória. Um bem-estar não compensado por um correspondente trabalho produtivo conduz à putrefação. Vemo-lo na decadência das aristocracias. Entretanto, o mundo considera bobo quem não segue este caminho fácil e não se lança em tais aventuras. Por quê? Isso é fruto de inexperiência, por não se ter ainda atravessado a difícil prova da riqueza, com todos os perigos que ela representa. Mas quem a conhece sabe que ela não existe somente para gozar, mas implica muitos deveres, e traz graves prejuízos golpeando quem, na sua inconsciência, não os cumpre. Então, o caminho melhor para quem não quer uma coisa ou outra é a justa medida, ou seja, nem pobreza que priva do necessário, nem riqueza trazendo consigo a escravidão do supérfluo, mas o bastante para viver e executar em paz o próprio trabalho. Aquilo que cada um tem direito, como será reconhecido na mais adiantada humanidade do futuro.

Esta avidez de excessos em todas as coisas deriva de não se ter feito a experiência desse abuso e de, portanto, não ter ainda aprendido a relacioná-lo com a ideia de sofrimento a que ele conduz. O homem evoluído do futuro, quando se encontra com tudo à sua disposição, porque mais experimentado, não será conduzido a abusar de coisa alguma. Em princípio, aquilo que faz nascer o excessivo desejo é a demasiada privação em que se encontra o primitivo. Depois, é a exagerada satisfação do novo rico que faz surgir a náusea e outros sofrimentos. Chega-se, assim, à sabedoria do experiente que não deseja o incômodo de riquezas supérfluas, que exigem uma contínua luta de defesa contra os ladrões do mundo e o cumprimento de muitos deveres para não sofrer as consequências. Trata-se, no caso em exame, de uma virtude racionalmente calculada, de uma sabedoria que o mundo condena porque não a possui.

Mas ainda existem outras razões que justificam a conduta de nosso personagem. A preocupação do involuído é vencer na luta pela vida com qualquer meio; a do evoluído é comportar-se conforme a justiça. Trata-se de duas morais diferentes, porque pertencem a dois diversos planos de evolução. O segundo biótipo não permite os abusos que o primeiro, na sua ignorância, reputa lícitos. Não os realiza, porque conhece as consequências de cada ato executado contra a justiça.

É por este princípio que o evoluído se recusa a gozar daquilo que não é fruto do seu próprio trabalho e aceita os bens só na medida em que com esse fruto foram produzidos e dados à coletividade. Está, assim, fora dos equilíbrios desta moral receber por herança, ou seja bens não ganhos. Mas, sobretudo a respeito das grandes fortunas, há ainda outra razão: um simples trabalho honesto é insuficiente para produzi-las. Na sua primeira origem, a propriedade é o resultado do esforço necessário para dela se apossar, praticado com qualquer meio. Este pode ser também o roubo. Com isto se chega ao fato tangível da posse. A legitimação vem mais tarde, como um seu aperfeiçoamento. Esta é a fase jurídica do nosso mundo atual. Só numa sociedade mais evoluída se alcança o conceito de uma justiça distributiva. Hoje é ainda legalmente lícito tomar posse de uma riqueza por golpes de sorte, seguindo hábeis atalhos, de modo que ela é mais o resultado de apropriação que de produção, porquanto o que se toma é muito mais do que aquilo que se dá com o próprio trabalho. Quem toma só em proporção do que produz dificilmente se enriquece. O trabalho produz e a esperteza enriquece.

É raro que nas origens de uma grande fortuna possa existir um ato de justiça Um evoluído não   pode, portanto, aceitar, não por motivos de uma ética abstrata, mas porque ele conhece as leis da vida. Sabe, então, que uma força, manchada nas origens pela injustiça, é, por sua natureza, doente e por isso acaba arruinando quem a maneja. É uma questão de interesse próprio. O evoluído considera-se um aproveitador, se aceitar aquilo que não ganhou. É certo que o nosso mundo admite muitos meios para adquirir a riqueza fora do trabalho, e isto de pleno acordo com a moral civil e religiosa. No mundo basta que se justifique. O que importa é saber conquistar uma posição de domínio, legitimando tudo. A lei do atual nível evolutivo humano é a força e a astúcia, não a justiça. Muitas vezes é o poder que estabelece a verdade e o direito. Mas tudo isso se paga, e a dura consequência é um estado de contínuo atrito. Agora podemos compreender a vantagem de ficar fora dessa engrenagem.

Perante tal conduta se poderia objetar que o nosso personagem era um preguiçoso que queria afastar-se da luta do mundo. Mas, na realidade, ele abandonou este tipo de luta, evolutivamente inferior, para enfrentar outra mais adiantada. No fundo, a luta no nível biológico do homem atual representava para ele o lado negativo da vida, o de uma animalidade a superar, feita para ser abandonada ao longo do caminho da evolução. Para ele a parte positiva, onde se queria afirmar, como os outros procuram fazê-lo no mundo estava situada no plano espiritual. Para este mais alto nível tinha deslocado toda a sua atividade e interesse, assim conduzia a sua luta, tão poderosa quanto a da Terra, com resultados mais sólidos e preciosos. As suas conquistas não eram econômicas, mas espirituais. Ele não se isolava deste ambiente para viver no ócio sob o pretexto de espiritualidade, mas nele ficava para cumprir todo o seu dever, conforme princípios diferentes dos do mundo.  A sua posição não era de inércia, porém de trabalho mais intenso e difícil. Ela não tinha nada de passiva e estéril, mas era ativa e vital, porque criava valores superiores. Integrado nesta nova tarefa, ficava absorvido de modo a não poder gastar energias no trabalho material, tão fundamental para os outros e que para ele, perante horizontes tão vastos, perdia a importância.

Eis ainda outra razão para não aceitar riquezas: cuidava de se libertar da servidão que elas exigem, para ele adquirindo sabor quase de prostituição do espírito para fins materiais. Não se tratava de preguiça de quem quer fazer menos, mas da febre de quem quer construir mais. Não foi, portanto, só para colocar-se em sólida posição biológico-evolutiva e de justiça econômica, conforme moral superior, que ele não aceitou a riqueza, mas foi também para alcançar, através de mais intensa e produtiva atividade uma afirmação mais elevada da sua personalidade. Vamos, assim, explicando a sua estranha conduta, vista sob vários aspectos, para compreender a sabedoria que se escondia atrás da sua aparente loucura. Destes primeiros relatos já se pode ter uma ideia da consciência com que ele vivia o fenômeno, dirigindo a sua vida. É certo que se trata de uma posição biológica fora de série, mas isso não quer dizer que ela não esteja assinalada ao longo do caminho da evolução e, não tenha de ser alcançada por todos, portanto, uns primeiros e outros depois. Encontrando-se tudo em marcha, um ponto que hoje está no futuro, amanhã estará no presente e, depois, no passado. Tudo é relativo. Aquilo que hoje é exceção amanhã poderá ser a regra. A posição daquele homem não era de molde a viver no atual nível evolutivo humano, mas a de quem está maduro para desvincular-se desta fase, porque nela não pode mais realizar-se. O seu triunfo está de fato, como vamos ver, na morte. Lá, onde a vida termina para muitos, para ele começa outra maior. Perante as imensas visões de outros mundos, os grandes problemas da Terra reduzem-se à proporção de meras preocupações do formigueiro humano. Mas narramos esta história, com aparência de fantástica, justamente para mostrar como pode haver outras maneiras de viver além das que estão em uso, as quais se crê sejam as únicas e definitivas. Como Galileu descobriu o céu e Colombo novos continentes, e hoje se conquista o espaço, estamos aqui adentrando o super-normal, aventurando-nos nas superiores e inexploradas amplidões do espírito. Se no mundo vemos que a vida luta para resolver os seus problemas terrenos, aqui observamos o seu esforço dirigido num sentido totalmente diverso. Enfrentamos o super-normal em vários dos seus aspectos, com a paixão do explorador, com o conhecimento que dá a experiência, com a mentalidade de controle racional.

Esta história é a de um pobre homem no meio do tempestuoso caos de nosso mundo, tentando a grande aventura da superação evolutiva, já que pelas leis da vida, não há outro modo de libertar-se de tantos males. Ele se posiciona sozinho perante estas leis, como uma emersão solitária do nível ascensional normal. Encontra-se numa atmosfera rarefeita, sem o conforto de alguém que o acompanhe. Aqui vemos o fenômeno da superação conduzido experimentalmente e analisado racionalmente. Em pano de fundo vemos avança a imensa marcha cósmica da evolução. Esse fenômeno é vivido aqui num caso concreto, no momento crítico da transição de um nível biológico a outro superior. Estamos assim observando a técnica desta transformação, reduzida aos termos de uma vida comum. No volume precedente: A Descida dos Ideais, vimos como estes descem na Terra, sobretudo por meio das religiões, para que a humanidade possa realizá-los. No presente escrito observamos como o ideal se realiza de fato no caso particular de um indivíduo isolado. Assim, o contato entre ideal e realidade torna-se vivo, porque toma corpo nas vicissitudes de uma vida, e as reações do mundo não são mais teóricas, mas se concretizam em atos sensíveis. Aqui vemos, de fato, chocarem-se as opostas vontades de viver em duas formas diversas: a inferior, do passado, que deve ser superada, e a superior, do futuro, que quer nascer; observamos como as forças, com as quais se manifestam as leis de dois planos de evolução, fazem a sua guerra dentro da consciência de um indivíduo e no plano dos fatos. Não estamos expondo, como fizemos no volume Queda e Salvação, a teoria da ascensão da vida do AS para o S, mas verificamos como um indivíduo andou de fato um passo à frente, ao longo do caminho daquela ascensão. O fenômeno de abstrato se faz concreto, a teoria torna-se prática, ficando, assim, mais acessível. Mas não esqueçamos que, mesmo sendo reduzido às dimensões de um caso particular, o fenômeno expressa sempre a imensa luta entre S e AS, da qual não é senão um momento; está ligado ao princípio central de nosso universo, que é o processo evolutivo ao qual está confiada a salvação do ser. Esta constatação dá um vastíssimo significado à experiência narrada, porque a enxerta no fenômeno de dimensões cósmicas:  o transformismo evolutivo universal.

Assim podemos compreender a razão da loucura de nosso personagem O seu caso aparece como tal, porque é um reverso do raciocínio na Terra, embora, na realidade, constitua um endireitamento em direção ao S, à sua lógica, invertida pelo mundo para o AS. Justifica-se este caso porque ele representa uma senda evolutiva, que deve superar o passado, de tipo AS, a fim de caminhar rumo ao S. Eis que imenso painel está escondido atrás do fato narrado. Desta forma demonstra-se a loucura de certas pobrezas e o Evangelho que as aconselha.  A nossa concepção de vida muda: quando a olhamos em função de finalidades a alcançar muito mais vastas do que as do bem-estar imediato, quando se concebe a vida atual não como um breve programa que se esgota na Terra, mas como o trecho de um desenvolvimento que se percorre para alcançar formas de existência cada vez melhores. Isto pode parecer um sonho, mesmo que as religiões o afirmem, e ainda que não provem, mas é fato positivo para quem compreendeu a lei da evolução e o movimento do universo do AS para o S. Isto pode parecer utopia para os homens práticos. Mas permanece o fato de que, com os métodos do mundo, até hoje não se conseguiu fazer outra coisa senão um inferno de luta, insegurança e dor, comprovando tratar-se de uma sabedoria pelo avesso, de tipo AS.

Eis o que pode estar por trás destes casos isolados de emersão do plano evolutivo normal. Eles se assemelham a uma ilha erguendo-se do mar, mas que presume, com base que a sustém, a presença de outras terras submersas, constituindo o cimo de uma das suas mais altas montanhas. Para compreender o caso aqui narrado, não devemos esquecer esta sua parte escondida, esta sua estrutura interna que prova a sua conexão com as leis da vida, em função das quais esse caso se desenvolveu. E certo que se trata de posições de antecipação fora dos limites, dentro dos quais deve ficar a maioria que não está pronta para tais deslocações, que considera loucura. O seu amadurecimento biológico e respectiva capacidade intelectiva não lhe permitem resolver problemas maiores do que os da sobrevivência no seu ambiente. De momento este é o trabalho que a espera, o tipo de experiência proporcionada à sua posição evolutiva. A humanidade encontra-se fechada ainda no âmbito da lei do seu plano no nível animal da luta pela vida. Existem, no entanto, indivíduos que, por conta própria, antecipam fases mais avançadas de evolução. São poucos; a vida os produz não como regra, mas como exceção, à guisa de tentáculos lançados para a frente, a fim de cumprirem a função especial de explorar o futuro. Naturalmente as massas os julgam segundo a sua forma mental não podendo compreendê-los. Isto, no entanto não pode impedir que eles surjam, distanciando-se do nível da média. Fatalmente, está acima da sua própria vontade. A maturação evolutiva faz parte das leis da vida. Assim, é natural que tais tipos escapem da órbita dentro da qual se move a maioria, porque aquela maturação os lança fora daquela trajetória, ao longo de outra mais ampla. O fenômeno que estamos observando poderá parecer injustificado para quem está fechado numa esfera mais restrita, mas resulta lógico e justificado para quem dispõe de uma visão mais extensa que contempla outros universos, isto é, não apenas um plano de existência, porém os diversos níveis conforme estão dispostos os seres ao longo da escala evolutiva.

Como impedir a um indivíduo que alcançou mais alto grau de desenvolvimento, encontrando-se em outra posição biológica na qual a vida funciona com outras íeis, não deva conceber tudo diversamente e comportar-se como tal? Dado que a sua personalidade é de outro tipo, é lógico que ele, na Terra, não se encontre no seu ambiente, mas viva completamente deslocado, mesmo que fisicamente tenha o aspecto daqueles que se chamam seus semelhantes. Assim se explica como aparecem os santos e alguns seres de exceção que vivem de maneira tão diferente dos outros. Tudo isso se compreende que seja fatal, porque é consequência da estrutura das leis regendo a nossa vida. Como a criança é feita para vir a ser homem, assim o involuído deve tornar-se evoluído, atravessando ele também o fenômeno aqui observado. Entretanto, permanece inevitável o fato de que uma criança, ficando homem antecipadamente num mundo de seres que continuam infantes, não possa ser compreendida por eles. As coisas são as mesmas, mas a criança as vê de baixo, enquanto o homem as observa do alto. É natural as duas visões com juízos e comportamentos opostos.

Mas por que o evoluído se agita tanto? Quem o obriga a fazer todo o seu trabalho, assim tão isolado e incompreendido. Seria para ele mais cômodo satisfazer-se no nível da animalidade? Por que esta não o satisfaz, enquanto os outros ficam satisfeitos? Atingido certo grau de maturação, nasce uma fome de coisas diferentes, que os outros não concebem, nem desejam. Existe o fato de que o evoluído não é somente negativo relativamente ao mundo, mas positivo com respeito ao ideal, em relação ao qual o inconcebível para os outros constitui para ele a mais viva realidade. A sua posição não é apenas de repulsa perante o baixo, e sim de atração pelo alto. Trata-se, portanto, da mais potente afirmação da vida, feita não tanto de renúncia com que se abandona o pior, quanto de conquista com que se ganha o melhor. Deixar a Terra é dor para o involuído que, neste mundo, encontra a sua satisfação, mas pode conter alegrias para o evoluído na medida em que aquela renúncia possa representar um meio para encontrá-las mais no alto. Para ele o fato de negar a animalidade não é suicídio, mas superação, não é morte mas ressurreição. O evoluído poderá parecer negativo ao involuído, porque nega o mundo deste, porém em si mesmo é extremamente positivo, já que não vai contra a vida, mas caminha em direção à outra mais alta.