Observamos no capítulo anterior o fenômeno do fim das guerras com tendência à unificação política mundial. Em outros pontos já afirmamos que a humanidade se encaminha para o estado orgânico. Olhemos agora para o futuro, para compreender o que ele nos prepara neste terreno.

Comprovamos nos fatos que, quanto mais primitivo é o homem, mais é individualista, egocêntrico, separatista, isolado, de modo que vive em um estado caótico; enquanto, se é mais evoluído, mais é coletivista, interdependente com seus semelhantes, unitário, de modo que vive um estado orgânico.

Esta passagem ocorre por evolução. Não há dúvida de que esta marcha é orientada em uma dada direção, que vai da desordem para a ordem, na lógica de seu desenvolvimento. Desordem significa uma posição de elementos rivais, em luta entre si, para afirmar-se cada um em si mesmo contra o outro. Ordem significa uma posição e tipo de relações recíprocas diferentes, baseadas na vida em sociedade, isto é, sobre o princípio da unificação, colaboração, organicidade.

Queremos observar aqui como a vida passa do primeiro estado ao segundo, isto é, como do individualismo até agora vigente, baseado na luta pela seleção do mais forte, adepto do comando, passa-se ao colaboracionismo baseado no método de cooperação pacífica de interesse comum. Esta segunda posição está nos antípodas da primeira. Como, então, é possível, onde domina o regime de caos, transformar luta em colaboração? Como conseguir implantar um método de vida unificado e orgânico?

Não é sem razão que o homem, por instinto, é proselitista, expansionista, imperialista. Veremos agora como a vida utiliza essas qualidades. É certo que elas são contraproducentes em uma sociedade que atingiu o estado orgânico. Nela é fundamental o dever do respeito ao espaço vital, material e espiritual alheio, porque naquele tipo de sociedade tudo está disciplinado na ordem e não são lícitas transgressões de normas e violações de limites. Mas aquelas qualidades, em uma sociedade no estado caótico, servem à vida que, mercê delas, pode realizar sob o domínio do vencedor na luta, os primeiros reagrupamentos que, sem elas que os impõem e mantêm unidos com sua força, não se formariam nem resistiriam.

É com este sistema que a vida começa, gradualmente a impor o novo regime de tipo orgânico no lugar do caótico. Ela utiliza o vencedor na luta que, por isso mesmo, se mostra mais apto para as funções de organizador, exatamente para esta finalidade, que há de amalgamar e unificar sob seu comando os egocentrismos rivais de que é feito o regime de caos. Como se vê, esta é uma fase de passagem, na qual se utiliza o melhor fruto do método mais involuído para passar à posição mais Evoluída. O indivíduo da fase caótica jamais se adaptaria a viver no regime de ordem, a não ser forçado por um chefe e construído segundo seu mesmo velho tipo e que o trata com tal método, o único para ele compreensível. Assim a vida fornece-lhe o que é necessário para induzi-lo a evoluir.

Obrigado assim a viver dessa outra maneira, o indivíduo, egocêntrico e separatista começa a avizinhar-se e a fundir-se com o seu rival e a encaminhar-se para um estado unitário. Mas, dado seu tipo, era-lhe necessária uma educação imposta à força, para que assim ele se habituasse, assimilasse, aprendesse a viver em novo modelo; era necessário uma educação imposta por um amo, vindo de fora, para que, depois, do exterior ela descesse para o interior, para lá ser assimilada através de longa repetição até tornar-se um automatismo ou novo instinto. Esta, de fato, é a técnica que a vida adota para a formação, na personalidade, de novas qualidades.

Há o fato de que o ponto de partida do atual salto à frente é o homem do velho tipo, construído no passado, e também o fato que a vida não dispõe de outro. Esse homem não é o tipo racional, inteligente, planificador do futuro, mas é um ser movido por seus instintos. Dado tudo isso, não resta à vida, para dar aquele salto, senão utilizar, tal qual é, esse que é o único material de que ela dispõe, aplicando os seus métodos para modificá-los. Tratando-se de instruir indivíduos do tipo rebelde, é lógico que esse trabalho não pudesse ser feito senão por férrea imposição. O raciocínio e a persuasão não servem para esse nível.

É assim que as formas de organização que se verificam em nossa sociedade são do tipo de sujeição e não são uma unificação espontânea e convicta na qual cada um, consciente de sua função na coletividade, toma a posição que o espera. É assim que a organização na Terra é do tipo imperialista, de forma hierárquica, em uma escala em que a ordem desce de um que comanda a muitos que obedecem. Segue-se que o individualismo egocêntrico destes, naturalmente rebeldes, é encerrado na ordem imposta pelo chefe, Assim começa a realizar-se o principio orgânico.  Estes são seus primeiros passos.

Estamos aqui explicando por que tudo isso acontece de tal forma e a vida se comporta de tal maneira. Tal estrutura, assumida pelo princípio orgânico em suas primeiras formações, para chegar depois a realizar-se plenamente, encontramo-la em todos os campos, seja político, religioso, bélico, industrial etc. Qualquer que seja o tipo de governo, ou religião, ou exército, ou atividade econômica, termina-se sempre no sistema piramidal, chefes e dependentes, com o poder sempre mais centralizado quanto mais se dirige para o alto.

Tudo isso é perfeitamente coerente com as qualidades do biótipo humano em seu nível evolutivo atual, isto é, seja com o instinto de egocentrismo separatista que o faz rebelde e, portanto, necessitado de uma ordem imposta para sair do caos, seja com o instinto de domínio sobre seu semelhante para submetê-lo. A técnica usada pela vida para alcançar seu objetivo, que é o de passar à organicidade, combina e utiliza essas qualidades.

Eis por que a estrutura das organizações humanas atuais é do tipo comando-obediência. Trata-se de uma razão psicológica, estrutural, ligada à realidade, proporcionada aos fins, segundo o comportamento normal da vida, que sabe tirar o melhor partido dos elementos disponíveis. Assim utiliza-se o individualismo para fazer executar a função de chefe; utiliza-se a seleção do mais forte para escolhê-lo; a prepotência de dominar para subjugar, enquadrando os rebeldes, na ordem; assim utilizam-se as mesmas qualidades do caos para construir o estado orgânico. Esse pode nascer, mas na dependência de um chefe, vencedor por eleição ou por revolução. Mas no fundo, trata-se sempre de um ato de conquista, em que, para satisfazer seu instinto de domínio, o chefe começa a organizar os seus dependentes. E natural que esse novo método de vida nasça do velho, levando consigo as qualidades dele, para depois libertar-se delas  gradativamente. É assim que em nossa sociedade podemos encontrar casos de organicidade que já se distanciam daquela posição original agora descrita, que forma o esqueleto do fenômeno.

Inicialmente, a organicidade existe como um produto da potência dominadora do chefe e estende-se em profundidade e amplitude em proporção a essa potência. Assim de Roma a Carlos Magno, a Napoleão etc., nasceram e desapareceram os grandes impérios da história. Sobre o mesmo princípio baseia-se a solidez do grupo familiar e de outros de dimensões sempre maiores, como instituições, associações, partidos,. religiões, nações etc. . Como se vê existe uma graduação unificadora sempre mais vasta, tendente a desenvolver-se, admitindo um sempre maior número de elementos. Notamos então que o princípio de unificação é um fato positivo que se está realizando. É um fenômeno que funciona, que se vai impondo. E unificação sempre mais vasta implica em uma organicidade sempre mais complexa e completa. Avança-se assim também neste sentido.

Deste modo os elementos dispersos no caos começam a conhecer o novo estado de ordem que os aguarda, habituam-se a viver nele, vêem-lhe as vantagens, assimilam-lhe as qualidades, aprendem a arte de convivência e colaboração, em suma, coletivizam-se. É assim que, pouco a pouco, o indivíduo, de egocêntrico separatista, faz-se orgânico unitário, por ter assimilado as qualidades necessárias para isso. Eis qual é a técnica do fenômeno. Esta é uma das vias pela qual se manifesta a Lei e se realiza a evolução. O que nos espera no futuro é o resultado orgânico unitário.

Resumindo, de tudo o que dissemos neste capítulo e no precedente, resulta: 1) que o homem no futuro terá uma vida inteligentemente planificada, na qual muitas dores poderão ser previstas e evitadas, eliminando-lhes as causas; 2) que o futuro nos reserva a abolição das guerras; 3) que ele nos prepara o estado orgânico-unitário da humanidade.

Eis alguns aspectos da imensa revolução que se realizará no terceiro milênio e que levará a humanidade a viver em um nível evolutivo mais avançado, inteligentemente orientada segundo o funcionamento da Lei de Deus.