Pensamentos

Nos vinte e dois volumes que precedem o presente, procuramos compreender o nosso mundo, orientando-nos, pelo menos em linhas gerais, com referência ao problema do conhecimento Ao mesmo tempo quisemos comunicar aos outros os resultados deste trabalho. No presente livro procuramos utilizar estes resultados em vantagem alheia, explicando como aplicá-los na vida prática. Para que o consumidor de um remédio possa encontrá-lo pronto para o uso na farmácia, é necessário que o técnico ao produzi-lo, o tenha primeiro estudado longamente em seu laboratório.  Agora aqui estamos na fase final daquele trabalho, aquela em que o produto é oferecido ao publico para que este se sirva dele.

Tal produto não teria sido solicitado no passado, quando pouco se pensava, porque a vida se havia estabilizado em posição estática ou de movimentos extremamente lentos, mas ele é solicitado hoje quando a humanidade se pôs a pensar, presa de uma febre de renovação. Eis que temos motivos para crer que a nossa oferta corresponde a uma demanda que é fruto do momento histórico  É por isto que fazemos tal oferta, para preencher um vazio e satisfazer uma necessidade.

Não pretendemos ser infalíveis e oferecer um produto definitivo que valha para sempre. Mas cremos que ele hoje sirva mais do que os produtos usados no passado, que eram adaptados à época, mas não ao momento atual, que é de grandes mudanças. Sabemos que a verdade é relativa em evolução. Há uma verdade absoluta e definitiva, mas ela é o ponto de chegada de quem está a caminho, e que, como tal, ao longo desse caminho, não pode haver senão verdades relativas à sua posição e ao nível evolutivo atingido, uma após outra, progressivamente.

Sempre para respeitar o fato positivo desse relativismo, propomos as nossas conclusões como hipóteses de trabalho, cuja validade o leitor possa depois controlar experimentalmente ele mesmo, aplicando-as à sua vida. Desejamos que ele se convença por si e não que creia em nós segundo o velho sistema do princípio de autoridade. Não assumimos nenhuma posição de mestre que, colocando-se na cátedra, despeja sapiência. Não buscamos seguidores. Quem nos lê deverá fazer o esforço de compreender, sem pretender que outros o façam em seu lugar, fornecendo-lhe os resultados a fim de que ele os adquira sem fadiga. O leitor indolente, que aceita por fé, assim fazendo-se arrastar sem fazer ele mesmo, o esforço de compreender a vida, esse permanecerá estacionário e não atingirá a finalidade que é a de amadurecer e evoluir.

Isso não impede que aqui exponhamos as nossas conclusões em forma definitiva, porque o caminho para chegar até lá com uma demonstração detalhada já foi percorrido em nossos outros volumes e aqui não podemos  repeti-lo.  Não nos encontramos mais na fase precedente e preparatória, de indagação, mas na de exposição e aplicação dos resultados obtidos.

Ao assumirmos agora a nossa posição, queremos em primeiro lugar pôr-nos de acordo com as leis da vida. Por quê? Podemos fazê-lo porque as observamos e então vimos que é uma grande vantagem pôr-se em sua corrente, concordando e colaborando com elas, em vez de egoisticamente opor-se, com o resultado de ser atrapalhados e postos de lado. Colocar-se na corrente da Lei confere uma grande força; procuramos, portanto, que também o leitor a conquiste por si, colocando-se também ele dentro da corrente.

Este fato oferece-nos um primeiro ensinamento:  para ter sucesso na vida é necessário fazer ou produzir qualquer coisa que verdadeiramente seja um bom produto, útil para os outros. Se isso agrada à vida, esta, que é uma força inteligente e utilitária, protegê-lo-á e o impulsionará para frente. Mas se aquele produto for feito somente em benefício de quem o faz, e com fins egoístas que desfrute dos outros, a vida rebelar-se-á e buscará destruir tudo, negando qualquer sucesso.

Eis que aparece um princípio da Lei que diz: "A afirmação de qualquer produto ou instituição, o favor que eles encontram e a duração de seu sucesso são proporcionais ao grau de positividade, isto é, utilidade para o bem de todos, que eles possuem. E ao contrário. A sua caducidade, o descrédito que os elimina e a rapidez de sua liquidação, são proporcionais ao grau de negatividade que, em prejuízo de todos, eles possuem".

Eis que já aparece um novo estilo de vida, o enquadramento em um regime de retidão. Mas isso, não por princípios abstratos, assim pouco sentidos e aplicados na realidade da vida, mas por um cálculo utilitário, uma vantagem concreta, que todos compreendem, estão no instinto, portanto, todos aplicam, porque concorda com aquilo que a luta pela sobrevivência exige. É certo que em tal caso as motivações são diversas. Então não se é honesto por amor a Deus ou para ir para o paraíso, coisas que freqüentemente nos deixam indiferentes, mas por razões mais concretas e com resultados controláveis. No novo estilo de vida não se fala de sacrifícios com recompensas nebulosas e longínquas, mas de uma vantagem imediata, calculável, previsível, e, portanto, bem mais convincente, porque aderente à realidade. Assim obtém-se a vantagem que à dúvida se substitui a convicção, ao fingimento a ação.

É moral esse novo método de vida? É certo que, mesmo se diversas são as motivações pelas quais se fazem as mesmas coisas, as normas de conduta são sempre as da retidão. Chega-se ao mesmo resultado prático, mas passando-se por outras vias: no passado, pelas das sugestões ou imposições por parte de uma autoridade; agora, pela demonstração racional e convincente, por adesão livre de quem compreendeu e reconhece que é vantajoso ser honesto. Muito embora tudo isso tenha um mesmo objetivo, mas no segundo caso faz-se as coisas mais a sério, porque se conhece a estrutura do fenômeno, trabalha-se, portanto, não por  obediência, mas livres e esclarecidos, com consciência e responsabilidade.

Eis que a nossa moral na forma coincide com aquela tradicional, mas apoia-se em bases mais sólidas, as de uma técnica da qual se pode estudar o funcionamento. Ela é, portanto, o modelo de moral adaptada ao novo tipo de forma mental que o homem novo de nossos tempos está formando, analítica e crítica, em vez de instintiva, emotiva e fideística. É por isto que cremos que o atual seja o momento histórico adaptado para propor tal tipo de moral, da qual se pode tirar vantagem segundo os novos tempos.

Aqui oferecemos esta interpretação da vida, não como uma conclusão obrigatória, emanada "ex-cathedra", mas como um método para ver com os próprios olhos e assim estudar a realidade dos fatos. Quem fala são eles, não alguém que deseja impor a sua doutrina. Ele apenas diz: "Observai, é a realidade que fala. Eu só vos ponho a par da minha experiência que adquiri no laboratório da vida, observando e pensando para compreender, experimentando para controlar. Quem deve pensar, compreender, amadurecer, sois vós. Estamos aqui para ajudar-vos nisto".

Já terminou o tempo em que se pensava por procuração, por delegação de autoridade, e disso se encarregava e estabelecia em que coisa se devia crer. Admitimos tão somente que o leitor, compreendido o problema, possa, continuando a indagação com o mesmo método, desenvolver por sua conta esta pesquisa, levando-a a conclusões mais avançadas. Solicitamos este auxílio a todos os estudiosos inteligentes. Por isto acima dissemos que a verdade é relativa e progressiva. Aquilo que para quem aqui escreve é uma conclusão, para outros pode ser um início. Por isto buscamos pensar este livro junto com o leitor.

Eis que nos encontramos diante de uma revolução de substância, consistente na renovação de valores sobre os quais se baseia a vida; e de pontos de referência, em função dos quais se executa a nossa conduta. Hoje o valor ainda consiste em riquezas, poderes, honras etc., enquanto ele está nas qualidades morais. Crê-se na força, em vez da justiça, na astúcia para enganar, em vez da retidão etc.. Eis que assim, a cada passo, desembocamos numa estrada errada, que nos leva a bater contra o muro. O alvo está sempre em um ponto diverso daquele que visamos. Mas apontemos certo e o atingiremos corretamente. Veremos então que tudo está no lugar que lhe pertence, para executar sua função, e que a vida não é uma ilusão, mas um meio para construir a nossa felicidade e grandeza. Não se trata das revoluções usuais, que se reduzem à substituição de pessoas e de classes sociais nas velhas posições de favor, para depois comportar-se do mesmo modo. Trata-se, ao contrário, de uma revolução que a maturidade mental torna possível, baseada na compreensão do imenso rendimento utilitário do saber viver dentro da ordem com retidão, em vez de viver no caos, assaltando-se uns aos outros.

Cremos neste novo tipo de revolução, não porque nos sintamos capazes de iniciar uma mudança de tal grandeza, o que é absurdo, mas porque vemos que os tempos estão amadurecendo e que com o novo milênio nos encaminhamos por essa estrada. O conceito de retidão como valor moral já existia no mundo velho, mas não podia agir porque era baseado somente em abstrações ideais e afirmações morais gratuitas que não convenciam a ninguém. A força que impulsionaria a mudança é devida à possibilidade hoje existente de compreender o rendimento positivo e imediato deste novo estilo de vida, e, portanto, a vantagem de realizá-lo com seriedade.

Uma das bases daquele novo estilo é a eliminação do absolutismo e de sua imobilidade em questão de verdade, para substitui-los pelo conceito de verdade relativa, em movimento de transformação evolutiva. De fato, cada período histórico possui sua verdade, aquela da qual ele tem necessidade para executar seu trabalho de construção da vida. Então, sendo este diverso de um período para outro, porque o trato evolutivo a percorrer é diferente, eis que a verdade dominante em função dele deve também ser diversa. Isso significa que uma verdade é verdadeira na fase de desenvolvimento em  que ela deve funcionar,  porque  naquele momento corresponde a uma determinada necessidade da vida; mas significa também que ela não é mais verdadeira em um outro momento, no qual é verdadeira uma outra verdade, porque então é esta, e não mais aquela, que deve funcionar, porque correspondente a outras diversas necessidades da vida.

Para a vida, a verdade não é uma abstração, mas uma realidade funcionante. Assim os velhos conservam as suas idéias, que a seu tempo foram úteis, e os jovens buscam outras novas. Gostaríamos de permanecer imóveis, mas a vida caminha porque é vida e, se não caminhasse, seria morte. Eis então que a verdade dos velhos não é um erro, como agradaria aos jovens que fosse, para combatê-lo e destrui-lo. Trata-se, ao contrário, de uma verdade que cumpriu sua missão e que, por tê-la cumprido, merece todo o respeito. Merece-o porque ela foi útil ao homem a seu tempo, e porque graças a seu trabalho os jovens podem hoje encontrar-se mais avançados. O progresso é uma escada que se sobe por degraus, e não se pode passar no sucessivo se não se escalou o precedente.

Disso resulta que o passado está superado, mas como integração que o leva avante, não como destruição que o elimina. Atentemos, pois, para saber, nos acontecimentos renovadores, conservar os velhos valores ainda utilizáveis pela vida. Eis os perigos de uma contestação global, indiscriminada, que pode levar a perdas gravíssimas.

Mas observemos ainda um outro aspecto do novo estilo de vida. O conceito de relatividade do verdadeiro não elimina apenas o antagonismo entre o velho e o novo, mas também aquele entre as verdades individuais. Ora, toda supressão de formas de luta é progresso que facilita a solução do problema da convivência pacífica.

Segundo a sua forma mental, no passado cada indivíduo acreditava que seu modo de ver era a verdade. Então, ele assim pensava perante os outros: "Se eu tenho a verdade, e esta é uma só e eu a possuo, tu estás em erro, e, por isso, estou autorizado a corrigir-te". Quando a verdade era de grupo, então, sendo forte, adquiria o direito de impor-se aos estranhos, e tornava-se um terreno a ser invadido. O resultado era a luta pela conquista de seguidores. Eis o proselitismo. Quem aderia estava certo, quem não aderia estava errado e, portanto, era combatido. E uma verdade tanto mais valia e podia impor-se como tal, quanto mais forte ela fosse, porque maior era o número de seus seguidores. Quando passavam à minoria, a sua verdade tornava-se erro e como tal era condenada. Isso até o ponto que então se invertiam as partes e eram perseguidos aqueles que antes eram os árbitros do juízo.

Com tal método acontece que os inovadores, considerados rebeldes, porque faziam parte do grupo minoritário, contrário à ordem estabelecida pela maioria, eram depois julgados heróis e mestres quando o seu grupo conseguia impor-se, porque tornado maioria. Eis que o conceito de culpa e correspondente punição, de legalidade ou ilegalidade, é relativo aos princípios vigentes e muda com a mudança da verdade dominante.

Eis a importância vital do proselitismo, pelo fato de que o número dá força para a sobrevivência, seja de uma religião ou de uma ideologia política etc. O proselitismo, porém, é um sistema de invasão de outras áreas; sejam elas: espiritual, conceptual, moral etc., similar àquele que, pelo mesmo motivo, é praticado na invasão de território alheio escravizando os seus habitantes. O novo estilo de vida e modo de conceber as relações sociais considerará o proselitismo como uma falta de respeito para com o próximo, como um atentado contra a liberdade de consciência.

E todavia o proselitismo pode ser um meio para difundir a idéia, um sistema de irradiação mental necessário à evolução. Então, onde começa o dever de respeitar a consciência alheia e termina o de instruir o ignorante?

Se a vida usou o método do proselitismo, é porque ele cumpre uma função. Para cada nível de evolução há um sistema proporcional de difusão das idéias. O do proselitismo é adaptado ao estado infantil da humanidade, presume o ignorante que se torna discípulo, crendo no mestre e repetindo suas palavras. Por isto tal método foi justo e necessário no passado. Mas o proselitismo torna-se invasão da casa alheia, em uma fase de desenvolvimento mental mais avançado, no qual o indivíduo construiu a sua verdade, a cujo respeito tem direito. No primeiro caso, trata-se de um vazio a preencher; no segundo, de um patrimônio alheio no qual não se deve pôr a mão. Só quando há uma consciência, isto é, uma casa espiritual alheia, pode-se falar de invasão. Mas quando tudo isso não existe, tem-se o dever de entrar para ensinar.

É assim que a difusão das idéias deve ser praticada por dois modos diversos, segundo o nível evolutivo no qual o fenômeno ocorre. Para o primitivo uma simples oferta de uma verdade não serve para nada. Se se explica, ele não entende; se se oferece, ele não aceita, porque segue somente seus instintos. Não resta senão persuadir com os elementares argumentos utilitários da ameaça (inferno, prisão) ou prêmio (paraíso, gozos). Tal método repugna a quem tem uma consciência e é repelido. O medo obriga, o desejo seduz, mas nenhum dos dois convence  Ele é aceito porque coincide com o utilitarismo fundamental da vida, mas não convence porque seus resultados estão situados, incontroláveis, no imponderável. Explica-se assim como no passado a ignorância, prêmio ou castigo juntos, produziram uma obediência passiva, sem convicção, portanto, feita de evasões e hipocrisias.

Quem é mais evoluído deseja, pelo contrário, ver, compreender, ser convencido. A sua aceitação é condicionada diversamente. Então pode bastar o sistema de oferta, sem levar em conta o cálculo do dano ou vantagem. É assim que hoje, frente à forma mental mais adiantada, ao proselitismo substitui-se o diálogo, pelo qual uma verdade não é imposta, mas exposta, isto é, não se condena o erro, mas demonstra-se que ele é um erro. O fim a que se tende é a aceitação, não pela constrição, mas por convicção. O método é mais sutil e profundo, o resultado mais íntimo e completo.

Esta é a transformação a que assistimos em nosso tempo. E esta a razão pela qual nasceu a idéia do diálogo. Trata-se de um fenômeno universal, porque é efeito de deslocamentos evolutivos. O uso desse estilo novo é fatal hoje porque faz parte de um amadurecimento biológico. É assim que se explica o fato do aparecimento hodierno de uma nova autonomia mental, que destrói o velho sistema ético fideístico, de modo que ele é colocado sob um processo de secularização e dessacralização que o despoja de sua fisionomia tradicional. Para os conservadores, agarrados à forma, isso parece o fim e assim eles se desesperam e não vêem que se trata de uma destruição necessária para a renovação.

Desesperam-se porque cada um está convencido de possuir a verdade absoluta, de modo que a dos outros é considerada um erro. Assim é doloroso não conseguir destruí-lo como se desejaria. Nasce, deste modo, uma oposição entre termos que são apenas aspectos complementares de uma verdade única. Complementares, isto é, necessários um ao outro como o são a luz à sombra, que isoladas cada uma do seu termo oposto, não são percebidas. Assim se opõem erro e verdade, que não são senão as duas partes, positiva e negativa, da mesma unidade que permanece, ainda que em todos os lugares e vejamos cindida no dualismo universal.

O novo Evangelho dirá: “Respeita o teu próximo, como queres que teu próximo respeite a ti mesmo”. Do velho método do assalto ao novo, "método de respeito", passar-se-á por evolução. Chegaremos a isso quando a inteligência estiver tão desenvolvida que compreenda a relatividade das nossas verdades, corretas em função do ponto de referência, como do grau de desenvolvimento mental e moral alcançado pelo indivíduo que o possui. Todos estamos a caminho e em posições evolutivas diversas. É natural, portanto, que tipos com personalidade e com olhos diversos, vejam aspectos diversos da realidade. E, por isso, que cada um tem o direito de possuir a sua verdade e de exigir o respeito, como tem o dever de respeitar o dos outros.

Veremos que senso de retidão e justiça emanam das leis da vida, a ponto de reconhecer-lhes qualidades de alta moralidade. Como é isso possível no plano biológico? Que significa isso e como se explica? Moralidade significa um estado de ordem no nível espiritual. Mas este estado de ordem é o mesmo que a ciência encontra no plano da matéria e da energia, tanto que o codificou, expressando-o com leis exatas, positivamente controladas. Eis então que essa moralidade biológica que encontramos nas leis da vida não é senão uma expressão da ordem universal da Lei relativa a esse nível. Trata-se da mesma disciplina que a ciência viu no campo físico e dinâmico, e que se verifica no campo mais avançado, o da conduta do homem, o da moral que a dirige. Trata-se do mesmo princípio de ordem inserido na Lei e atuante em níveis evolutivos diversos  É assim que se explica como a conduta humana está sujeita a normas éticas.

Assim podemos dizer que a vida, ainda que em proporção e em forma adaptada a seu grau de evolução, é fundamentalmente honesta  Até ao seu nível mais alto, o da psique e da consciência, isso é dado por um estado de equilíbrio, de correspondência entre causa e efeito, entre ação e reação etc., que encontramos no mundo da matéria e energia. Trata-se do mesmo princípio de ordem que, ao nível superior da psique, a conduta toma a forma de retidão e de justiça. Essa equivalência de valores, em forma diversa nos vários planos evolutivos, é possível porque devida à unidade fundamental do Todo, regida por uma única lei  Trata-se do mesmo princípio de harmonia que rege todo o universo. É assim que tudo, porque é um movimento da Lei, no fundo moraliza-se em qualquer nível.

Desse modo então, daquilo que se verifica nos fenômenos da matéria e da energia quando violamos as leis de seu funcionamento, podemos deduzir o que sucede quando fazemos a mesma coisa no campo moral. Há uma equivalência básica entre as leis dos vários planos, devido ao fato de que elas não são senão aspectos da única Lei, vista em momentos evolutivos diversos. É assim que, aos efeitos de uma violação em um plano, correspondem aqueles que se verificam em um outro plano. É importante compreender esses conceitos pelas conseqüências práticas que daí derivam. Assim, uma violação da retidão no campo moral pode levar a conseqüências danosas, correspondentes às de uma violação de princípio paralelo de equilíbrio, presente, por exemplo, na lei de gravitação. Isso porque em ambos os casos verifica-se a mesma violação do princípio universal de ordem, do qual é feito a Lei.

Segue-se que a falta de retidão é um fenômeno analisável, como o é a falta de equilíbrio, porque, em ambos os casos, temos efeitos calculáveis, proporcionais à quantidade de afastamento da posição de equilíbrio na ordem da Lei, isto é, à quantidade de violação efetuada. Em suma, o desacordo com ordens similares, das quais é feita a Lei, paga-se com conseqüências negativas tanto no plano matéria-energia como no moral. Assim a posição certa ou errada, com referência ao primeiro dos dois planos mencionados, encontra no nível biológico do segundo deles o seu equivalente nos conceitos de moral ou imoral, honesto ou desonesto. Assim o erro de direção que, em sua conduta, o indivíduo comete perante a ética em seu campo, produz os mesmos efeitos negativos que produz o erro de direção que o motorista ou o astronauta cometem em suas funções. Tratando-se de um mesmo fenômeno de desequilíbrio, é lógico que ele deva ser estudado nos dois campos diversos segundo os mesmos princípios.

É este fato que nos permite afirmar a possibilidade da construção de uma ética de tipo positivo, baseada em princípios científicos. Isso significa que os movimentos da conduta humana deverão, no futuro, ser estudados e executados segundo as normas exatas vigentes nos outros campos já de domínio da ciência. Hoje a ética é um campo ainda inexplorado, um fenômeno que vivemos freqüentemente com resultados desastrosos, porque lhe ignoramos o funcionamento e daí cometemos erros contínuos. Mas no futuro poder-se-á planificar a viagem da vida, percorrendo-a com olhos abertos e não mais às cegas como hoje ainda se costuma fazer, num completo caos.

Mesmo nestas condições,  viver é lógico e justo segundo a Lei, porque proporcional à atual involução humana. E a vida adianta-se por tentativas, é uma série de erros e pagamentos correspondentes, de sonhos e desilusões, com dores corretivas. Isso acontece porque a direção está errada. Aponta-se para fora do centro. A vida não é feita para gozar, mas para aprender. Compreendido isto, logicamente se vê que tudo está em seu justo lugar e funciona como deve. Mas é necessário ter compreendido que a vida é urna escola, um laboratório experimental. É lógico e útil que, quando as experiências estão erradas, fique-se queimado pelas consciências do erro cometido, porque isso serve para aprender e assim a finalidade é atingida.

Eis para que serve a dor, eis quanto é útil o que parece danoso, porque não se lhe compreendeu a função. Julga-se um mal o que é necessário para eliminar o erro, o que é necessário para evoluir em direção ao melhor. Tantas coisas parecem-nos erradas porque as vemos fora de seu devido lugar, e não compreendemos, portanto, qual é sua posição e a função exercida por elas. Mas se observarmos bem, veremos que tudo, segundo sua natureza, cumpre a finalidade para a qual existe. A força do homem do futuro não consistirá em superar o próximo, subjugando-o, como a lei no nível animal, mas consistirá no mover-se, consciente da ordem, segundo a Lei de Deus.

Tratemos agora de analisar o fenômeno. Como calcular os efeitos maléficos de uma nossa ação contra a retidão, isto é, anti-Lei? É necessário primeiro definir o que entendemos por retidão. Para isto é necessário concebê-la em termos gerais, referindo-nos não só ao setor moral, mas ao dualismo universal que encontramos na Lei, isto é, o de positividade e negatividade. Esse é um princípio verdadeiro em todos os planos da existência, abraçando os valores da matéria, da energia e do espírito. No plano moral, positividade e negatividade tornam-se bem e mal, virtude e culpa, retidão e desonestidade etc.

Eis então que, por retidão entendemos a qualidade positiva que encontramos em um dado ato. Logo, positividade é o poder benéfico e negatividade o maléfico daquele ato, observados em suas conseqüências. É, portanto, a favor da moral um ato benéfico; e contra a moral um ato maléfico; em ambos os casos, tanto em relação a um indivíduo isolado, à coletividade.

O ato benéfico produz vantagem, e o maléfico desvantagem.

Mais exatamente podemos dizer que é moral o que é benéfico ou pseudo-maléfico perante a Lei, ponto de referência que estabelece os verdadeiros fins da vida; e imoral o que é maléfico ou pseudo-benéfico, porque segue fins falsos e ilusórios. Assim pode ser benéfico o que nos faz sofrer e maléfico o que nos causa prazer.

No campo moral a positividade ou negatividade toma a forma adaptada a satisfazer os fins que a vida se propõe realizar, segundo o plano de evolução, onde ela se encontra e trabalha naquele momento. Assim, no plano animal é positivo e moral o guerreiro, o conquistador que lança  o novo, vence e elimina o débil inepto, porque àquele nível o fim da vida é a seleção individual do mais forte. Mas, a um nível mais alto, tudo aquilo resulta negativo, porque a seleção toma outra forma para produzir outro tipo, intelectualmente forte segundo a retidão, dirigida à conquista da ordem, mais do que ao próprio domínio sobre os outros.

Eis então  que uma moral  justa em um nível de evolução, não o é em outro nível mais adiantado. Eis que, evoluindo, pode tornar-se imoral e desonesto o que anteriormente era lícito e julgado honesto. Acontece assim, com a moral, o mesmo que acontece com a verdade: temos morais relativas e progressivas em evolução.

Estabelecido tudo isso, pode-se proceder ao cálculo de moralidade ou imoralidade de cada ato nosso. Se ele é, por exemplo, 10% positivo e 90% negativo, isso levará a resultados com a mesma percentagem. Assim, vice-versa, em todas as condições possíveis, sempre mantendo a proporção entre a percentagem, a mais ou menos, de cada ato e a de suas conseqüências.  Eis os primeiros elementos para estabelecer um cálculo.

Quando, então, uma conduta é verdadeiramente moral? Quando ela corresponde à retidão, isto é, à positividade, e é benéfica porquanto possui 100% de valor evolutivo, seja para si ou para os outros. Pode-se assim medir o grau de moralidade ou de imoralidade de um ato, observando que percentagem ele possui desta ou daquela qualidade oposta.

Essa posição faz-nos conhecer o tipo e a quantidade das causas boas ou más postas em movimento e dá-nos, portanto, também a medida das qualidades e volume dos efeitos que, inexoravelmente, acontecerão.

Dessa forma, se pode prever os efeitos quando se conhece as causas que os determinam, das quais eles são a conseqüência. E as causas são dadas pelos elementos aqui tomados para exame. O segredo para conhecer aquilo que nos acontecerá na fase de efeito, reside em nosso conhecimento do que somos, e portanto fazemos, na fase de causa. Compreendida a técnica do fenômeno, pode-se-lhe prever o futuro desenvolvimento. E lógico que assim seja, porque o efeito está contido na causa, é a continuação de um desenvolvimento que se pode conhecer antes que aconteça, prolongando a linha por ele já traçada, isto é, continuando o caminho na direção na qual ele foi iniciado. Pode-se portanto praticar uma pequena futurologia, aplicada aos casos da própria conduta e suas conseqüências.

ORIENTAÇÃO

A finalidade deste livro é oferecer, sobretudo aos jovens, um modo de orientar-se na vida, autodirigindo-se depois de ter entendido seu funcionamento. Procuramos estabelecer um diálogo baseado na inteligência, sinceridade e boa vontade.

Usamos este método, aconselhando-o ao leitor, por que é de seu interesse usá-lo. Cremos seja vantajoso para todos eliminar o velho, fatigante e contraproducente sistema dos atritos entre contrários. Não nos fazemos de preceptor que exige obediência, nem de distribuidor de sabedoria para menores ignorantes que nada sabem fazer, senão aceitar as sugestões. Aqui não existe autoridade imposta e por isso nada a contestar.

Neste volume, procuramos apenas explicar, a quem interessa compreender, como realmente funciona a vida, a fim de que cada um, se o quiser, comporte-se de um modo mais racional, portanto mais vantajoso, menos ilógico e de menor dano. Explica-se, ainda, que ninguém pode constranger outrem a fazer isso ou aquilo, e que se deve respeitar a sua liberdade. Explica-se, também, que não se pode impedir as conseqüências das boas ou más ações praticadas por ele. Em suma, deve-se compreender que existe uma realidade inevitável, pela qual, quando não se vive em estado de ordem e disciplina, deve-se sofrer os conseqüentes danos, porque esta é a lei da vida que subsiste, mesmo depois de destruída toda autoridade humana. Explicaremos, assim, que se deve ser honesto e prudente, não pelo fato de que esta ou aquela autoridade humana o impõe e pelo medo de sanções punitivas com que ela nos ameaça.

Este é o velho sistema. O novo, que aqui seguimos, não se baseia na imposição forçada, mas na livre aceitação derivada da convicção. E esta convicção é exatamente a que nos propomos alcançar com a demonstração racional e positiva, baseada em fatos. É por isto que nos pomos em posição de diálogo, isto é, de paridade perante a leitor. Como se vê, o problema é solucionado por um princípio completamente diverso do passado, exatamente aquele que as jovens estão hoje inaugurando e que corresponde às suas condições de vida modificadas, devidas à maturidade que a homem está para atingir.

   A vida é uma série de problemas a serem resolvidos. Como resolvê-los? Antigamente vigorava o método do comando, adaptado à fase infantil da humanidade. Devia-se obedecer cegamente. Por que? Parque assim tinha Deus falado. Aqui a mente humana estacava, porque era incapaz de avançar sozinha. Hoje ela sabe andar um pouca mais à frente e pergunta: mas por que falou Deus assim? O adulto discute a autoridade, mas reconhece-lhe a valor se ela serve à vida: obedece, se está convencido de que seja útil e justa. Não basta comandar, é necessário justificar o próprio direito ao comando.

O leitor dirá: mas eu não creio em Deus! Não tem importância. Pedimos apenas observar as fatos que nos mostram como funciona a vida. É pueril pensar que o crer ou não crer em nossas filosofias ou religiões possa modificar tal realidade. Ora, esse funcionamento contínuo, concreto, experimentalmente controlável, mostra-nos de forma racional a presença de conceitos diretivas sem os quais o fato positiva de tal funcionamento não se pode realizar. Eis que cada um pode verificar essa presença de principias e que eles são antepostos à manutenção de uma ordem. Quem ama, crê, verá neles Deus; quem é ateu, deverá admitir que a presença deles, ainda que negando Deus. Diga-se que, na prática, afirmar ou negar sua presença não altera nada, porque todos obedecem àquelas leis, sejam de qualquer religião, ou não.

Não entramos na teoria geral de tal funcionamento da vida, o que nos levaria muita longe, e disso tratamos amplamente alhures. Aqui queremos ser fáceis e práticos; permanecemos, portanto, ligadas à realidade exterior, aquela que mais tocamos com as mãos. Quem quiser aprofundar o conhecimento de tais problemas, enfrentando-os em seus aspectos mais vastas e longínquas e analisando-os em seus pormenores, poderá encontrar tudo isso nas demais livras já publicados.

Entremos na matéria.

De nassa forma mental e estrutura da personalidade, de nossa escolha e conduta depende o modo pelo qual cada um constrói a própria vida e o seu própria destino. Primeira semeamos e depois colhemos. A relação causa-efeito é evidente. A vida é um laboratório onde encontramos os mais variados instrumentos e ingredientes. Nós os escolhemos e depois os manipulamos, como melhor nos parece, cada um a seu modo.

Grande parte deste trabalho é preestabelecido e automático: o nascimento, o desenvolvimento físico, a velhice, a morte, a reprodução, o funcionamento orgânico, os impulsos dos instintos e a formação de outros novos, pela assimilação no subconsciente das experiências vividas. Todos podemos verificar que nossa vida se desenvolve ao longo de uma rota estabelecida da qual ninguém pode sair.

Podemos, porém, permitir-nos oscilações, mas mesmo estas permanecem limitadas e corrigidas par uma lei sua, que tende a recanalizá-las na ordem, tão logo esta seja violada. Mesmo se, aparentemente, parece que dominam a nossa liberdade e o caos individualista, em substância, além destas aparências, todos os nossos movimentos permanecem regulados por leis cuja função é reconstruir o equilíbrio e sanar o mal que fazemos. Sem a presença dessa força íntima reguladora, o nosso mundo, abandonado a si mesma, desmoronaria dentro em pouco, enquanto, pelo contrário, vemos que ele se está construindo, porque evolui sempre para o alto.

A vida é um impulso de crescimento, é um anseio em direção à perfeição e à felicidade. A grande aspiração é subir, mesmo se cada um o faz a seu nível. Nisso manifesta-se a lei de evolução. Devemos evoluir e para isso a vida é aquele laboratório que mencionamos, isto é, uma escola de experimentação para aprender. A primeira coisa que é necessário compreender, sobretudo os jovens construtores da vida, é que este é um trabalho de construção de si mesmo através de provas variadas, cada um sujeito àquelas mais adaptadas ao seu desenvolvimento.

A vida é uma coisa séria, a ser percorrida com consciência e responsabilidade, sabendo a que dores podem levar-nos os nossas erros. É necessário então saber como é construída a Lei, para evitar tais erros e as dores que se seguem. Esta lei pode ser chamada a Lei de Deus, parque exprime o Seu pensamento, pensamento que dirige cada fenômeno, em todos os níveis de evolução e planos de existência.

É necessário ter compreendido que o homem se move dentro dessa Lei como um peixe no mar. A finalidade de nossos movimentos é a experimentação, e a finalidade da vida é aprender. Estamos cheios de desejos, sobretudo os jovens, e de impulsos que nos lançam a provar o que serve para construir-nos. Os efeitos desse trabalho ficam registrados e são acrescentados à nossa personalidade, que se enriquece de conhecimento, constituindo a nassa própria evolução. Par aí compreende-se a importância do saber viver. Assim, ao fim da vida, seremos ricos se soubermos adquirir novas e melhores qualidades; e seremos pobres se nada fizemos e, portanto, nada aprendemos de bom. Isso, independentemente de todos os triunfos, conquistas e bens terrenos, que só valem como miragens que nos induzem a fazer a trabalho de experimentação e de aquisição de qualidades.

Trata-se de um novo modo de conceber a vida, em função de outras pontos de referência, para   conquistar outros valores. Antigamente relegava-se isso ao plano espiritual em bases emotivas de fé e sentimento. Hoje, fazemo-la baseando-nos na lógica, observações dos fatos e controle experimental. Já é um progresso, parque daí nasce um tipo de moral positivamente cientifica e universal, aquela que os novos tempos de espírito crítico exigem. Progresso necessário, parque, quanto mais se avança, tanto mais os problemas a resolver, de que é feita a vida, se fazem mais numerosos e difíceis. Os instrumentos de experimentação que encontramos no seu laboratório e que devemos adotar para aprender, fazem-se sempre mais complexos e de difícil uso. Para nossos ancestrais bastava uma ética elementar para resolver os seus problemas. Faz-se necessário, agora, uma ética sempre mais complexa e exata para resolver os novos problemas que surgem, quando se sabe a um nível evolutivo mais elevado. Para dirigir uma carroça ou um automóvel  é necessário grau diverso de perícia e precisão.

A nossa sociedade atual não possui escolas que eduquem a fundo, ensinando a viver. A velha moral era exterior, baseada muito nas aparências, em velhos enganos, nos quais hoje não mais se crê. Antigamente bastava não dar escândalo e que o pecado não fosse visto. A verdadeira ciência da vida consistia em esconder os próprios defeitos, não em corrigi-los. E os adultos que possuíam aquela ciência guardavam-se bem de ensiná-la em prejuízo próprio. Usavam, em vez, a autoridade e puras noções. Tais métodos estão hoje se desmantelando. A liberdade individual cresceu e o pecado social adquiriu importância, porque prejudica o próximo. Hoje a vida faz-se sempre mais coletiva e exige um maior senso  de responsabilidade.

Ora, quem entendeu tem o dever de mostrar como tudo funciona àqueles que podem e querem compreender.  Com estes apontamentos buscamos preencher a vácuo de conhecimento que se verifica nas diretivas fundamentais de nossa vida, em nosso pensamento e nossos atos. Antigamente isso era deixado aos instintos, aos impulsos do subconsciente. E este era um terreno inexplorado e a psicanálise era inexistente. As motivações eram secretas. O indivíduo não as estudava, não as dirigia; lançava assim ao acaso a semente do futuro desenvolvimento de seu destino. Os jovens enfrentavam a vida, tomando as mais graves decisões, em estado de completa ignorância dos problemas que deviam enfrentar e das suas soluções. Procedia-se por tentativas, ao acaso, seguindo miragens. Nada de planificações racionais da vida, nenhum conhecimento das conseqüências. Disso pode-se deduzir quão despreparado estava o indivíduo para resolver as seus problemas com inteligência.

Aquilo que buscamos adquirir neste livro, é a consciência de nós mesmos, o conhecimento do significado, valor e conseqüências de cada ata nosso, de modo que tudo se desenvolva beneficamente, de maneira satisfatória para o indivíduo. Desejamos ensiná-lo a ser forte, resistente, positivo, construtivo. Chegou a hora de dar um salto à frente, em direção a um novo tipo de seleção biológica, não mais aquela feroz do passado que exaltava como campeão o vencedor violento, assaltante, hoje tornado um perigo social. Trata-se de um tipo de seleção mais aperfeiçoado, que deseja produzir o homem inteligente, trabalhador, espiritualmente forte, coletivamente organizado. Trata-se de construir o homem consciente, que sabe pensar por si, independente do juízo alheio, um responsável porque conhece a Lei de Deus e, segundo ela, sabe viver.

Tal conhecimento e o fato de saber viver de tal modo, com a consciência de encontrar-se dentro da Lei, em harmonia com ela, devem dar a esse homem resistência na adversidade, que só pode possuir quem sabe encontrar-se de acordo com a Lei, portanto em posição de justo equilíbrio na seio da ordem universal. Que podem fazer as acusações alheias, quando o indivíduo é honesto e com consciência pode  proclamar perante Deus a sua honestidade? A verdadeira força não está nos poderes humanos, mas no estado de retidão.

Quem compreendeu como tudo isso funciona, sabe que estas não são apenas palavras. Ele sabe que a Lei não é uma abstração, mas unia força viva, operante, inflexível, positiva, saneadora, honesta; sabe que a sua justiça termina por vencer todas as injustiças humanas e que portanto, o vencedor final é o justo e não o prepotente sobre a Terra. A Lei, imparcial e universal, paga a cada um o que for merecido.

Neste trabalha não apresentamos produtos emocionais ou fideísticos. Através da observação e da experimentação chegamos à conclusão que existem no campo moral e espiritual leis inderrogáveis como as existentes no campo da matéria e da energia. Todas os fenômenos, de cada tipo, são regidas por leis exatas que não são senão ramificações de uma lei central que contém os princípios que regulam o funcionamento de todo o universo.

Buscaremos, a seguir, mostrar quais metas mais altas e preciosas pode ter a vida, que lhe dão um significado novo e vão além daquelas comuns do sucesso material. Procuraremos mostrar que, para conquistar, com outros valores também se pode lutar e vencer. E o fazemos, não baseados em abstrações filosóficas ou misticismos, mas no real funcionamento da vida.

Com estes esclarecimentos, fechamos estas notas preliminares de orientação geral, com as quais quisemos definir o presente trabalho e suas bases.

Continuemos a observar. Dissemos que, dada a premissa colocada por nós, o fenômeno tende a concluir-se segundo a direção que lhe foi dada no início. Estudemos agora como prever em unidades de tempo a velocidade com que o fenômeno chega a sua conclusão na fase dos efeitos. Nem todos os casos são simples, derivados de uma conduta exclusivamente positiva ou negativa. O decurso do fenômeno é tanto mais linear e a solução tanto mais rápida e fácil, quanto mais monocromática é a sua composição, isto é, quanto mais decisivamente prevalecer uma das duas características, seja de positividade ou de negatividade. Um caso construído por um só destes elementos, isto é, com 100% de uma só destas duas qualidades, é de rápida solução. Isso acontece porque então todas as forças em ação são orientadas e dirigidas a uma mesma conclusão, indo em uma única direção, tendendo portanto todas para o único fim, a ele convergente.

As complicações e os atrasos da conclusão verificam-se quando o caso é composto de qualidades positivas e negativas ao mesmo tempo, porque então elas resultam contrastantes e divergentes, em vez de concordantes e convergentes em direção a uma única solução. Nessas condições, o desenvolvimento do fenômeno prolonga-se até quando se estabelece uma prevalência de forças e suas direções em um dado sentido. Assim é necessário esperar que se esgote o impulso das forças do tipo que está em percentagem menor, porque só então o tipo oposto pode se afirmar e vencer, prevalecendo em uma só direção. Nesse ínterim pode-se conseguir resultados temporários, com expectativa ainda não definida, porque foram determinados por impulsos positivos e negativos não delineados.

Estes são casos mais complicados, nos quais é mais difícil ver o funcionamento da Lei. Mas comecemos com a descrição de um tipo de caso simples, de modelo monocromático no negativo, com resultado rápido e evidente, pela presença exclusiva de forças de uma dada qualidade, e ausência daquelas de qualidades opostas. Em nossas experiências no laboratório da vida pudemos assistir à operação cirúrgica da punição por falta de retidão, isto é, à solução de um caso de negatividade.

A operação impressionou-nos pelas seguintes qualidades:

1) a exatidão com a qual o efeito correspondeu à causa, conservando-se do mesmo tipo de forças postas em ação, mas retornando ao emitente em vez de atingir o indivíduo ao qual elas se destinavam; 2) a exatidão com a qual foi centralizado o escopo, sem atingir quem quer que estivesse próximo do alvo; 3) a rapidez do desenvolvimento e conclusão do fenômeno; 4) a convergência dos impulsos em direção àquele resultado final; 5) a massa dos resultados obtidos, em proporção aos mínimos meios usados, isto é, o rendimento com eles obtido durante o trabalho realizado.

Perante tal espetáculo tem-se a sensação de ver a face da Lei e não se pode conter, ao fim da experiência, um grito de maravilha, quando se observa o seu perfeito funcionamento. Não se trata de sonhos. Qualquer pessoa pode verificar a existência de um caso semelhante a esse, controlando as suas conclusões. Mas, tudo isso corresponde a uma lógica, que nos autoriza a admiti-la, mesmo porque, confirmando a nossa tese, existe a visão da unidade fundamental da Lei.

Observemos agora um outro caso, que podemos chamar policromático, pelo qual fica diminuída a velocidade do fenômeno, quando chega à sua conclusão. Tratemo-lo com a precisa razão.

Tudo depende das forças existentes no campo em que o caso se desenvolve. Eis o indivíduo que age em sentido negativo para obter vantagem em prejuízo de um terceiro. Isso é contra a Lei. Esta negatividade e o dano correspondente deveriam agora recair sobre o promotor, com isso resolvendo o que é um simples caso de falta de retidão, como o precedente. Mas, ao contrario, esse homem continua sem ser perturbado em sua violação. A sanção de sua culpa permanece suspensa. Por quê? Aqui o caso se complica, porque as forças postas em movimento por ele, estão no mesmo campo e combinam-se com as forças movidas pelo ofendido, o qual se encontra em fase de pagamento de seu débito para com a Lei e, portanto, necessitado de experiência corretiva do seu erro passado.

Eis então que a ação punitiva da Lei contra o opressor por causa do mal praticado, é freada pelo bem que ele faz, tornando-se útil ao executar, segundo a Lei, a função de seu instrumento na imposição de uma lição corretiva ao oprimido. Eis aí o impulso positivo em favor do opressor, positivo momentaneamente, porque se interrompe o impulso negativo contra ele, pelo mal que fez. Combinam-se assim dois valores opostos: a injustiça por parte do opressor (negatividade — anti-Lei) e a justiça por parte do oprimido que paga seu débito (positividade segundo a Lei). É assim que o primeiro, que faz sofrer o segundo, pode continuar a fazer o mal, não obstante seja justo que ele passe dessa posição àquela do próprio pagamento, o  que de fato acontecerá mais tarde.

É assim que, apenas cumprida a função de instrumento punitivo segundo a Lei, o fenômeno chegará também para o opressor à fase de pagamento, pela qual também ele o efetuará, sofrendo a lição corretiva que o espera. É natural que, quando a opressão feita por esse homem tenha purificado e redimido o seu oprimido de toda a negatividade que o agravava, então o opressor seja abandonado a seu destino porque a sua missão foi cumprida. Naquele momento não há mais razão para que a Lei espere, passando a exigir o seu pagamento. Finda a fácil vitória do mal, cai a ilusão de ter sabido evadir-se, sem prestar contas, às sanções da Lei.

Pode-se assim encontrar muitos casos, mas sempre em função do mesmo princípio básico que se aplica em posições diversas. Assim é que, uma vez compreendida a técnica de seu funcionamento, cada um poderá traçar-lhe o esquema até a sua conclusão final.

É necessário, porém, ter em conta que na realidade não encontramos casos isolados, mas uma concatenação de casos, pelo que os efeitos de um se encravam nas causas de outro, com fios entrelaçados que afundam suas raízes no passado. Isso porque, em vez de pagar e liquidar o débito, procura-se evadir dele, criando-se assim novos débitos. Assim a semeadura de causas negativas não termina nunca e o fardo imenso que pesa sobre a humanidade não se esgota, fardo de dores, tornado seu patrimônio natural e constante.

Como esta técnica podemos conhecer qual será o nosso futuro, observando que forças pusemos em movimento, construindo o nosso destino. É necessário ter compreendido que a natureza dos efeitos é do mesmo tipo das causas que pusemos em movimento, como determinante delas.  Estas conservam suas qualidades positivas ou negativas de que foram saturadas ao nascerem. Eis então que, quando as causas que lançamos, visando ao que nos é útil, eram contra a Lei, elas se voltam contra nós em posição invertida, em prejuízo nosso. E quando elas eram segundo a Lei, se voltam a nosso favor. Existe essa lei de retorno, em forma negativa, daquilo que lançamos negativamente, e em forma positiva, daquilo que lançamos positivamente. Eis então a que resultados leva o querer ser astuto para fraudar a Lei em nossa vantagem.

A Lei é como um espelho. Ela em si mesma é invisível como este, que por si permanece vazio e nele nada se vê senão uma imagem refletida. Mas tão logo nos colocamos frente a ele, eis que nos reflete como somos, restituindo-nos a nossa figura igual ao modelo, com as suas qualidades, mas em posição invertida de retorno.

Estejamos atentos, portanto, para cada nossa ação, porque as nossas obras nos seguem e recaem sobre nós. É necessário compreender que o mundo em substância é regido por um princípio de ordem e que o segredo do verdadeiro sucesso não está em tentar modificá-lo em vantagem nossa, mas em segui-lo, enquadrando-se nele. O caos está somente no exterior, na superfície e, não obstante a nossa resistência, ele é sempre corrigido e recolocado na ordem da Lei, que é a força íntima que tudo dirige. Assim, o querer ser forte para impor-se não serve senão para lançar sobre nós a reação da Lei que não admite ser violada.

O fenômeno de retorno tem maturação mais ou menos rápida segundo o seu volume e a simplicidade de sua estrutura. Quando as causas são poucas e lineares e se trata de um só indivíduo, chega-se logo à conclusão; mas quando se trata de muitas causas conexas e complexas como de nações e de povos, a conclusão é mais laboriosa e lenta.

É necessário compreender que cada defeito é uma dissonância que se afasta da Lei, é um ponto débil perante ela, é um erro, portanto, a ser corrigido, e que por isso volta-se sobre nós em forma de débito a ser pago. A causa de tudo isso somos nós, porquanto nos colocamos em posição de desordem dentro da ordem, assim lançando-nos, em nosso prejuízo, contra ela.  Ora, se não sabemos nos enquadrar, a Lei, em vez de uma casa, será para nós uma prisão. Todavia a Lei é uma casa cômoda para se morar, mas nós não sabemos nos mover dentro dela, porque somos feitos de desordem. O sofrimento que se segue quando nos lançamos contra as paredes serve para ensinar-nos a viver na ordem e assim transformar o cárcere em uma ótima casa.

O homem invoca a liberdade. Mas qual? A liberdade da desordem, isto é, aquela que o leva a bater contra as paredes da Lei. Buscando tal liberdade, o homem lança as causas de uma autopunição corretiva que terminarão por força-lo a enquadrar-se dentro da ordem. Nas revoluções aflora sempre a escumalha, que mais deseja liberdade, com lutas e destruições  Diz-se então que as revoluções devoram seus filhos. Por quê? Porque este é o efeito que lhes recai em cima, imposto pela causa por eles mesmos posta em movimento, que é do mesmo tipo, pela qual, tendo ele matado, são agora mortos.

Trata-se de uma restituição a eles do mesmo impulso, posto em movimento por eles mesmos. Dadas estas leis, não deveriam tremer aqueles jovens que hoje vemos entregar-se aos vícios, ao ócio, aos estupefacientes etc., se compreendessem de que efeitos estão semeando as causas. É certo que nas revoluções quer-se também os destruidores. Mas que fim têm eles? Executada sua função a Lei os destrói e deixa vencer os construtores que lhe servem para avançar. O que é negativo não tem direito à vida e portanto são logo mortos.

Eis que cada um pode estabelecer uma contabilidade própria de débito e crédito em conta corrente pessoal, posta perante a justiça da Lei. Esses débitos e créditos não são constituídos de valores econômicos, mas de valores morais. Estes são superiores e de mais vasta capacidade do que os materiais, que, frente aos outros, encontram-se em posição subordinada. Pode assim ser paupérrimo o mais rico e poderoso homem da Terra que tem débitos a pagar para com a Lei. E ao contrário  Essa contabilidade é a que realmente vale, aquela que está na base da vida, a que decide por esta, porque não permanece limitada no campo dos bens e dinheiro, mas abarca todas as expressões da vida, como saúde, afetos, felicidade ou dores em cada um de seus aspectos. O bem ou mal que recai sobre nós dependem da dose de positividade ou negatividade que colocamos nas contas, com nossos atos.