Pietro Ubaldi conheceu todas as formas de sofrimento, desde os mais comuns e grosseiros, que todos sofrem, até os mais refinados, que dilaceram a alma por dentro. Entre tantas dores, conheceu a guerra. Viveu duas guerras terríveis na Itália, a de 1914-1918 e a de 1939-1945.
Na primeira participou ativamente, foi convocado pelo governo em 16 de maio de 1916. Serviu em Bolonha, até 1918, e recebeu condecoração pelos bons serviços prestados. Foi motorista, conduzindo mutilados aos hospitais, gênero alimentícios e oficiais de comando. Quantas dores, quanta tristeza. Ele, alma sensível, sofria com o sofrimento alheio. Como disse: "Tenho os meus nervos abalados por tantos choques, sustos de guerras e toda forma de padecimento". O fato de estar prestando socorro não significava que não poderia ser mais um mutilado ou morto. Amava seu próximo como poucos no mundo, tomava sobre seus ombros a dor alheia.
Na segunda, uma guerra esperado por ele, porque a 9 de maio de 1932, havia recebido uma mensagem para o ditador Benito Mussolini, para evitar a guerra a qualquer custo. Mussolini não somente desprezou o aviso que chegou às suas mãos, como se preparou para a guerra. Aliou-se a Hitler e a Itália virou um campo de batalha semeado de ruínas; por isto, ele teve um triste destino, foi executado em Dongo, a 28 de abril de 1945. Outra mensagem, com o mesmo objetivo, no mesmo dia, foi para o Papa Pio XII; este nada pôde fazer para evitar a guerra. Certamente também não acreditou.
Esta guerra atingiu Pietro Ubaldi de duas maneiras; empobreceu ainda mais sua família, que já estava perdendo tudo, porque o administrador, Sr. Etore, destruía os bens a ele entregues para administrá-los; seu filho, Franco Ubaldi, foi convocado para servir na África e lá morreu na batalha de Tobruk, ao Norte daquele país. Um pai que conheceu a guerra de perto, quando recebeu a notícia da morte do filho, tomou um susto, teve um grande choque. Embora sua crença fosse de ferro, como dizia, mas dor é dor e atinge a alma, quando é sensível até às entranhas. Só lhe estou confiar em Deus, "que está sempre perto de nós e é nosso Amigo". Mais notícias sobre Franco Ubaldi, em Pietro Ubaldi e o Terceiro Milênio, uma biografia incorporada no livro Grandes Mensagens.
O terror da segunda guerra mundial é narrado em um belíssimo capítulo, "Tempestade" de A Nova Civilização do Terceiro Milênio. Eis dois parágrafos de longa narrativa:
" Era de madrugada, esplêndida madrugada de junho. Por um atalho que subia ao longo de uma torrente apertada entre os montes, um homem fugia: do homem, da cidade, da civilização destruidora. Já no limite do esforço que suas forças de pobre sexagenário lhe permitiam, carregava o indispensável, apanhado às pressas ao deixar a casa. Seguia-o a mulher, também carregada de coisas, e a filha com a criança no colo. No encanto, da pura madrugada estival, a fuga era triste, plana de terror. Tinham sido violentamente arrancados do ninho. Sobre as casas vizinhas, na cidade, aviões haviam lançado bombas, semeando a morte e a ruína. Ribombos terríveis e abalo de terremoto, estilhaçar de vidraças e a chuva de pedras; depois, por toda parte fumaça escura e densa. A morte por esmagamento e, vizinho, seu hálito ardente; o terror. Desse modo fugiam, sem saber para onde, por instinto de animal perseguido, daqueles golpes terríveis que poderiam cair sobre suas cabeças. Não havia abrigos anti-aéreos. Fugiam desesperadamente, num paroxismo de esforço nervoso. Tudo em redor, no campo, em todas as criaturas, na erva, na água, no ar, o eterno sorriso de Deus esplendia imutável. (...)
De tarde, enquanto a infernal voz de Satanás dominava a planície, na miserável casa de colono rezavam. É sublime falar em Deus, é reconfortante senti-Lo bem perto, principalmente nas horas terríveis. Rezavam com simplicidade e fé, na velha cozinha do colono, enfumaçada, pequena, pobre. Rezavam irmanados na mesma miséria, o camponês e o intelectual, o pobre e o rico, o rústico, o morto de fadiga, e o homem fino, abatido e mal vestido. As grandes idéias da vida e da morte, do ódio e do amor, da família e dos filhos, do dever do sacrifício, estavam ao alcance da compreensão de todos e formavam essa estrutura da vida, instintiva e essencial, comum a todos. A prece sabia falar ao coração de cada um. Em sua fé milenária, a raça era longamente experimentada nas desventuras, reencontrava sua força. A visão das excelsas coisas do céu, de um mundo melhor no além, confortava a miséria do momento. Nas asas da prece aqueles desventurados se sentiam transportados da dor à paz do coração e à confiança na ajuda de Deus, e não ao brilhante e científico desespero do mundo. Em meio àquela pobreza fraterna se sentia vagar suave esplendor; era a figura de Cristo que estendia sobre todos as mãos protetoras, se inclinava sobre toda dor para aliviá-la e na soleira da porta da pobre cabana se erguia poderoso, desafiando a tempestade."