"S. Vicente, 12 de novembro de 1954.

Nazarius,

Recebi duas cartas suas.

Você me falou que entrará de férias no dia 11 de dezembro. Por que não viaja para cá? Nós todos o esperamos. A família lhe quer bem e você traz alegria para todos. Neste ano não combinei nada para Campos do Jordão. Acho melhor aqui na praia do que a chuva, o frio e as pulgas na montanha.

Troquei o seu cheque porque fiquei com medo de caducar e depois não poder utilizá-lo mais. Mas o dinheiro está num envelope, para minha próxima viagem à sua cidade.

Durante o dia faço o trabalho prático deste mundo, à noite escrevo. Tenho um novo plano de trabalho que vou explicar-lhe, quando chegar aqui.

A grande luta que estou vivendo vai acabar com um grande exemplo de bem. Faço tudo com alegria de quem trabalha pelo bem e perto de Cristo. Você ainda é jovem e vai ver muitas coisas e compreender porque estou nesta luta. Ela faz parte da missão.

As minhas notícias são boas. A luta continuará, mas os amigos que me ajudam são muitos, sempre mais. A vida é uma coisa dura e séria, mas, também, torna-se grande quando se trabalha para Deus. Sou um soldado do mundo espiritual e devo sempre ir na frente.

Aqui, soube que foi descoberto um remédio que dizem ser milagroso para o tratamento do câncer. Acha-se neste endereço: Dr. Sebastião Coraim – Rua Anhangabaú, 814/ apto 8 – S. Paulo.

Se alguém precisar deste remédio na sua cidade, peço-lhe informá-lo, porque aqui aconteceram casos que foram curados e a dor desapareceu. Se não me engano, D. América me falou de uma amiga que estava doente de câncer. Procuremos fazer o bem que pudermos. Entregue esse endereço a ela para sua amiga.

Minha alma vai ficar sempre ao seu lado, nesta vida e também depois, porque a morte não pode dividir as amizades espirituais.

Deus o abençoe pela sua bondade e abraços a todos os amigos de Campos.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Estamos chegando ao fim de 1954. Foram dois anos de muito sofrimento para Pietro Ubaldi. Não foram dores físicas, mas provocaram grandes desgastes emocionais, por causa da luta material, que teve de enfrentar pela sobrevivência. Esse tipo de luta para o homem comum é normal, mas para o missionário de Cristo ela está fora de seus parâmetros. É um ser que em alta frequência, ondas curtas e alta tensão, enquanto os demais, que não atingiram esse nível de consciência, vibram em baixa frequência, ondas longas e baixa tensão.

Eis como ele encara a vida:

– “A vida é coisa dura e séria, torna-se grande, quando se trabalha para Deus. Eu sou um soldado do mundo espiritual e devo sempre ir na frente.”

A vida só é fácil a quem não se preocupa com ela para depois da morte, ou não vive com retidão. Isso não é viver, é vegetar. Quase toda a humanidade ainda caminha vegetando. É preciso viver e viver bem.

A vida é séria. Só não a levam com a devida seriedade os gozadores, os irresponsáveis, os malfeitores, os indiferentes, os que não gravitam em torno do Amor, da bondade, do perdão e da paz.

A vida é grande, imensa, quando “o viver é Cristo e o morrer é lucro”, como disse o Apóstolo Paulo aos Filipenses.

“Eu sou um soldado de Cristo.” Quem não deseja ser? Todos nós. Por que não somos? Ainda não tivemos a coragem de ser deste mundo sem pactuar com ele. Cristo quer aumentar o Seu exército e nos convida a todo momento. Cada um de nós pode ser mais um a cerrar fileiras em favor do bem, da verdade, da justiça divina, da obediência à Lei, da fraternidade universal e de tantas outras conquistas espirituais.

O exemplo de Ubaldi é uma mensagem e serve para todos. Estava sempre na linha de frente.