"S. Vicente, 26 de outubro de 1955.

Nazarius,

Já respondi às duas últimas cartas.

Na sua cidade, em 1951, foi-me doado um aparelho para barbear, parecido ao Gillete, mas com a lâmina grande de um lado, como a navalha de barbear, conforme figura anexa.

O aparelho tem duas ou três lâminas, talvez também ache outro aparelho para afiá-los. Peço-lhe procurá-lo para mim. Aqui não se acha.

Vejo que está estudando muito para o vestibular. Quero visitar-lhe, mas ficarei com remorso se for atrapalhar você, que pode planejar minha ida. Vamos obedecer à vontade de Deus.

Chegou a passagem para o Rio, ida e volta. Mas ainda não me avisaram o dia em que terei de embarcar. Suponho que seja na segunda semana de novembro, de modo que no fim dessa ou no começo da terceira, poderei chegar até a sua cidade, tomando a passagem, de avião, com o dinheiro que recebi de você e que deixei de lado para este objetivo.

Avisarei, passando-lhe um telegrama a tempo. Foi bom deixar para esta época. Antes tive outros compromissos! Acho que ficarei uns quinze dias. Tenho muita coisa para conversar. Levarei comigo trabalho bastante. Somente comunique ao Clóvis a respeito da minha chegada. No final da minha estadia, comunicaremos a todos a minha visita à sua cidade.

Nestes dias extraí três dentes.

Aí quero encontrar com Norival que tanto me ajudou.

Desejando-lhe todo bem, lembranças aos seus.

Pietro Ubaldi"

 

COMENTÁRIO

Pietro Ubaldi chegou de viagem no dia 30 de setembro. Outra fora programada para o mês de novembro. Com 69 anos completos, precisando de uma vida metódica para escrever seus livros, deveria atender aos muitos pedidos das diferentes cidades do Brasil. Dizia ele: “isso faz parte da missão”. Vindo ao Rio, seu desejo foi o de repousar um pouco na velha chácara do pai de Nazarius. Assim fez e permaneceu em sua companhia doze dias (11 a 22 de novembro de 1955).

Os assuntos abordados foram os de sua vida íntima, do livro que estava concluindo, Profecias, reencarnação etc.

Mais uma vez, Pietro Ubaldi comprovou seu Amor por Campos. Vindo ao Rio quis voltar à cidade que o escolheu de coração e braços abertos, descansar na casa humilde, em companhia de velhos amigos e visitar a Escola Jesus Cristo, no dia 20.

“Onde há amor não há egoísmo”. Amor e egoísmo não se combinam, quem ama verdadeiramente, não é egoísta. Quando Jesus ensinou: “Ama a teu próximo como a ti mesmo”, estava ensinando, também, o altruísmo. Pensar no próximo é colocar-se no lugar dele para qualquer atitude a seu respeito. Para amar, em espírito, é preciso desapegar-se de tudo e de todas as coisas deste mundo. Só assim estaremos ascendendo a planos mais sublimes.

Para Pietro Ubaldi habituado a viver em seu gabinete de trabalho, naquele mundo de vibrações luminosas e benéficas, voltar a Campos era um grande testemunho de Amor e de vivência evangélica, tão bem estudado por ele no capítulo “Ama a Teu Próximo” em História de Um Homem:

“O Evangelho lhe falava e nova ordem lhe vinha de Cristo: era necessário retomar a cruz e carregá-la na Terra, seguindo o seu exemplo, não por si, mas para o bem dos outros. Esse o grande e novo motivo que deveria desenvolver: o bem dos outros. Renunciar à própria fuga para deter-se, agora que havia aprendido a ensinar aos outros. Não fugir só, mas salvar também os outros; não evoluir sozinho, mas com todas as criaturas irmãs. O novo e mais profundo sentido do Evangelho estava neste recuo sobre os próprios semelhantes, não mais desprezados como inferiores, involuídos, primitivos, mas amados e ajudados como irmãos. Não é, pois, através da fuga da Terra, seja em busca de perfeição através do Amor ao próximo, que se encontra mais completamente a Deus e se realiza plenamente o Evangelho.”

Seu desejo foi sempre o de fazer o bem. Aos que lhe fizeram tão grande mal, perdoou-os, de alma e coração. Quem o conheceu mais de perto, viu nele o perdão personificado. Viver neste mundo sem amar e perdoar, para ele, não tinha sentido. O Amor, o perdão e o altruísmo são virtudes que estão interligados e formam uma unidade mais ampla, visão que sempre teve, ao longo dos seus 40 anos de experiência evangélica.