"S. Vicente, 31 de maio de 1963.

Nazarius,

Respondo a sua carta de 23 de abril.

Agradeço-lhe pelo cheque costumeiro e pelas suas boas palavras.

Também, todos da família agradecem pela sua cartinha, a máquina, remetida a eles.

Todos nós desejamos que o querido amigo apareça aqui alguns dias.

Agradeço pela sua proposta de viajar até aí. Você mesmo viria aqui me buscar. Mas conheço como é longa a viagem e eu me canso facilmente, agora. Será um esforço inútil, quanto aqui nada me falta para descansar.

Além disso, dou trabalho, seja na viagem, ou na minha permanência, porque sou velho e não posso mais correr.

Aqui tenho, também, o meu trabalho de todo dia, da correspondência. Se eu faltar um mês, tudo ficará suspenso.

Acho melhor que você apareça no primeiro de julho, ou quando puder. Dia mais ou menos, encontrar-me-á sempre. Agora arrumamos, também, um lugar para você dormir, porque há uma pessoa a menos na família. Tomar um quarto fora da casa vai lhe custar o olho da cara. Tanto mais que é temporada, férias dos paulistas.

A respeito do falecimento de Dona Antonietta, só escrevi ao Sr. Wilson Werneck, pedindo-lhe informar a todos. O mesmo já lhe pedi, porque não posso escrever aos outros amigos.

A correspondência leva seis horas de trabalho por dia, de seis da tarde à meia noite. Ainda não comecei a escrever livros.

Todos estão esperando por você. Nestes dias estou bem gripado. Mas logo acabará.

Saudades a todos, um grande abraço agradecido.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

É natural que, depois de muitos meses de lutas e preocupações, sobretudo com doenças, o Professor só tivesse uma vontade, a de recolher-se em seu gabinete de trabalho, para responder a tantas cartas acumuladas e escrever. Além das muitas visitas, devido à desencarnação da esposa.

Uma viagem a Campos não era oportuna naquela época. Muito cansaço por tão poucos dias.

Pietro Ubaldi deixou um belo exemplo: bom chefe de família, sempre pronto a cumprir o seu dever; cuidado para com todos da casa; prudência ao reconhecer que a velhice já bateu à sua porta e não podia mais viajar sozinho; preocupação com a correspondência para que ninguém ficasse sem resposta; vontade de voltar à missão e ao trabalho de escrever seus livros; espírito de retidão em todos os atos de sua vida; o Evangelho tomado a sério e vivido dia a dia; pensar muito e falar pouco; observar os acontecimentos e compreender a Vontade de Deus; aceitar a vontade da Lei, sem reclamar; saber aproveitar bem o tempo. Poderíamos continuar analisando, descobrindo e citando tantas outras virtudes, mas as que mencionamos já nos dão uma pálida idéia de como viveu este homem fazendo o bem e servindo a Cristo.

Nazarius compreendia a vontade do mestre e de Deus, por isto concordava sempre com ele e respeitava o seu desejo. Havia total sintonia entre os dois, um compreendia o outro. Assim, o Professor não viajou a Campos e o seu aluno foi a S. Vicente, para solidarizar-se com a sua dor, visitar o túmulo e prestar homenagem àquela distinta senhora, que foi digna de todo respeito e admiração.