"S. Vicente, 24 de outubro de 1963.

Nazarius,

Agradeço pela sua carta de 10 de outubro e pelo costumeiro cheque.

Vejo que o Cônsul lhe manda todos os impressos de lá, de modo que não adianta enviar-lhe mais exemplares, assim me poupa este trabalho.

Obrigado por querer colecionar as impressões do Congresso Espírita Panamericano, a meu respeito. Haverá, também, os discordantes.

O trabalho da loja vai melhorando aos poucos, isto é, vai chegando um pouco mais de fregueses. No começo quase ninguém, chegamos a ficar desanimados, mas é preciso construir a própria freguesia.

Fala-me na carta, que vai iniciar os preparativos para a temporada.

Calculamos sair daqui na tarde do dia 7 de janeiro (à noite), eu e Alberto, para chegar ao Rio no dia 8, pela manhã. No Rio nos encontraremos. Os amigos de S. Paulo nos colocarão no trem de aço e você nos receberá no Rio.

Alberto terá de voltar para cá no dia 30 de janeiro. Ele poderá sair de lá no dia 25 para ficar uns 3 ou 4 dias no Rio. Conhece alguém que possa hospedá-lo, no Rio, para ele não perder-se na cidade?

Eu voltarei com você. Não sei como me sentirei na praia de Grussaí. Se precisar, voltarei no começo de fevereiro. Veremos. O que me preocupa é ficar alguns dias em Campos, na cidade, com aquele calor, de paletó e gravata, como se costuma, visitando e recebendo gente, saindo dos meus hábitos regulares.

Na volta, você poderá ficar alguns dias conosco, fazendo-nos companhia?

Esta certo este plano?

Saudades, agradecido a você e a todos.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Em outubro (5 a 12) de 1963, foi realizado o VI Congresso Espírita Panamericano (CEPA, em Buenos Aires – Argentina). Pietro Ubaldi enviou-lhe uma Mensagem, porque foram os espíritas que promoveram sua vinda em 1951. Assim estaria demonstrando sua gratidão e contribuindo com o progresso do Espiritismo que nada tem a perder por conhecer a sua Obra que proporciona uma visão ampla da moral, da filosofia, da ciência e da religião.

Os princípios que norteiam a divulgação da Obra estão expostos no terceiro capítulo de Fragmentos de Pensamento e de Paixão. São eles: “A idéia deve antepor-se a qualquer personalismo; o que importa não é a pessoa, mas a idéia; servir ao próximo e obedecer a Deus; oferecer, nunca impor a verdade; procurar o que une e evitar o que divide; sejamos sempre construtivos, isto é, operemos no sentido positivo, unitário como é o bem, e jamais sejamos destrutivos, isto é, nunca ajamos em sentido negativo, separatista, como é o mal; aos ataques, às polêmicas, às condenações, respondamos com o exemplo da compreensão. Os dois princípios fundamentais são: IMPARCIALIDADE E UNIVERSALIDADE.

A maioria não sabe pensar senão fisicamente, com movimentos do corpo e da boca. O evoluído, porém, sabe que a religião de substância, mãe de todas as religiões, está acima da forma e de toda manifestação sensória: é uma religião mais profunda, sentida e vivida, feita de alma e de ação, não de práticas materiais, na qual todas as religiões encontram lugar.”

Para apresentar a Mensagem, o Autor afirmou, perguntou, respondeu e ofereceu a sua contribuição, sem acusar, agredir ou condenar o Espiritismo.

Algumas vozes se levantaram contra a Mensagem. Foram aquelas que não penetraram em sua substância, apenas se apoiaram na forma para criticar. O comportamento do Autor, diante das acusações infundadas e sem argumentos consistentes, foi aquele anunciado por ele mesmo em 1952: “aos ataques, às polêmicas, às condenações, respondamos com o exemplo da compreensão.” Ele era um ser superior, compreendeu tudo e calou-se. Os agressores ficaram perdidos e as provocações são surtiram os efeitos desejados. Eis a diferença entre o homem do Evangelho e do mundo: o primeiro pensa com o espírito e o segundo com o cérebro. Quem é evoluído não pode deixar de sê-lo. Palavras de Emmamuel: “Pietro Ubaldi interpreta o pensamento das Altas Esferas Espirituais de onde ele provém.”

Numa carta dirigida ao signatário desta obra, em 10 de dezembro de 1963, disse o Professor Pietro Ubaldi: “No Diário de S. Paulo apareceram dois artigos na “Coluna Espírita”, do dia 27 de outubro e 3 de novembro, dizendo que a Mensagem ao Congresso de Buenos Aires foi repelida. Mas eu tenho a carta do Presidente e Vice-Presidente dizendo que eles concordam com a Mensagem. Além disso, O Diário de S. Paulo prometeu publicar a repulsa do Congresso, mas se calou e não publicou nada, porque não houve repulsa. Querem condenar-me, como se quisesse agredir e destruir o Espiritismo. Estes são os métodos limpos e fraternais!”

Ele, alma sensível, sofria com as agressões recebidas. Foi condenado e não se defendeu. Repetimos aqui as suas palavras, ditas muitas vezes: “Sofro, sobretudo, pela incompreensão humana.” Quando afirmou: “Querem condenar-me”, já o tinham crucificado através da imprensa. Curiosamente, não atacaram a Obra, mas o seu Autor que sempre a considerou inspirada por Cristo. Isto significa que ela é verdadeira. Perguntamos: que valor tem para o Espiritismo ou para qualquer outra religião condená-lo, se ele mesmo disse e viveu este princípio: “o que importa não é a pessoa, mas a idéia”? defender-se de que, se havia dito a verdade? Polemizar? Não estava mais nesse plano de consciência. Isso para ele seria retrogradar e a “evolução não retrograda”, como afirma A Grande Síntese (Cap. 74, §7).

Assim foi a vida do missionário de Cristo, do arauto da nova civilização do espírito. Sempre alguém cruzou seu caminho para condená-lo e fazê-lo sofrer. Fazia parte de seu destino: “Meus sofrimentos são necessários para o desenvolvimento da Obra” (cap.12). Por isto, a irmã dor era sua companheira inseparável.

Trinta e três anos depois, em outubro (9-13) de 1996, na mesma cidade e dirigida ao mesmo Congresso, a Mensagem voltou, sob outra forma, mas com o mesmo objetivo: oferecer a Obra de Pietro Ubaldi como fonte de consulta bibliográfica. Desta vez a oferta foi aceita, verbalmente, e distribuída aos Congressistas. A Mensagem foi conduzida por nós (Ferdinando Ruzzante Netto e o signatário desta obra). Nossos agradecimentos a Jon Aizpúrua pela acolhida que nos deu. Nada melhor que o tempo!...Tudo mudou e nenhuma voz se ergueu contra nós ou contra a proposta. Também estamos às véspera do terceiro milênio e o Espiritismo já evoluiu bastante, como todas as religiões e tudo evolui.

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Ferdinando é Engenheiro de Fundações e valoroso trabalhador na divulgação da Obra. Hoje lidera um grupo de amigos de S. Paulo e representa o Instituto Pietro Ubaldi na capital. Publica o jornal Vanguarda e incentiva todos a participarem da mesa redonda via internet. Participa de todos os eventos relativos à Obra. Tradutor, revisor, conferencista etc.