Compreendido bem este conceito do retorno dos ciclos e sua razão, por meio dessa exemplificação, que vos desmonstra como a realidade corresponde ao princípio que vos expus, podemos agora levantar o olhar para um horizonte ainda mais amplo. Antes de proceder a essa exemplificação demonstrativa, já acenamos que o resultado final do abrir-se e fechar-se da espiral pode ser expresso (fig. 4) por uma espiral maior, em constante expansão. Agora pode dar-se a essa expressão sintética do fenômeno, uma expressão ainda mais resumida. Considerando o progredir dessa linha maior  ao longo da abscissa vertical, vemos que a cada quarto de giro ela cobre a altura de uma fase (fig. 4). Dessa forma, a coordenada das fases -y +x resume, em seu traçado, todo o movimento da espiral  e eleva-se com a expansão desta. Podemos, agora, construir o diagrama da fig. 5. A linha maior, em expansão constante, que exprime o progresso da evolução, está aqui traçada simplesmente, abandonando  as fases de retorno, expressas no diagrama da fig. 4. Ela é vista na pequena espiral da esquerda. A abscissa vertical não é mais uma reta, mas uma curva e parte de uma espiral  maior, ao longo de cujo traçado escalonam-se as fases sucessivas -y, -x, γ etc. A síntese de todo o movimento evolutivo da primeira espiral é dada, assim, não pelo prolongamento retilíneo da vertical, mas pelo desenvolvimento de uma espiral maior, também de abertura constante. As fases sucessivas, segundo as quais ela avança, são  de amplitude maior. Abarcarão, por exemplo, ao invés  de uma das fases α , β,  γ etc., uma criação inteira ou uma série de criações. Mas esta espiral maior ascende também segundo uma linha que, igualmente aqui, será uma curva, que faz parte do traçado de uma espiral ainda maior que progride também em abertura constante. O percurso da espiral maior resume em si todo o movimento progressivo da espiral menor que, por sua vez, é produto sintético do movimento de outra espiral menor, assim por diante. Desse modo o traçado maior se resume, e é dado por todos os desenvolvimentos menores. O pequeno organiza no grande; o grande é constituído do pequeno. A série das espirais, naturalmente, é ilimitada, cada movimento é decomponível e multiplicável ao infinito - propriedade de todos os fenômenos - mesmo permanecendo idêntico seu princípio. Eis a síntese máxima dos movimentos fenomênicos. O processo avança por um movimento interno de íntima auto-elaboração, que liga e une, num modo indissolúvel e compacto, o infinito negativo ao infinito positivo. Um mecanismo de exatidão matemática dirige, toda a criação, com a simplicidade de um princípio único e alcançando uma complicação que vos atordoa. Tudo se compenetra, coexiste; tudo, a cada instante equilibra-se; tudo, do mínimo fenômeno até a criação dos universos, encontra em cada ponto, sua justa expressão.

figura 15- a grande síntese

 

À série de unidades coletivas (pelas quais as unidades menores se organizam em unidades maiores e a tendência à diferenciação que a evolução produz, compensam-se em reorganizações mais amplas, de tal forma que a auto-elaboração não desagrega nem pulveriza, mas consolida a estrutura do cosmos), corresponde aqui a série dos ciclos múltiplos. Cada individuação é um ciclo; se tudo o que existe constitui uma individuação em seu aspecto estático, compõe um ciclo em seu aspecto dinâmico de transformação. Na infinita variedade do caso particular, tudo reencontra sua unidade, o princípio único que irmana todos os seres do universo. Assim como cada individualidade maior é o produto orgânico das individualidades menores, assim cada ciclo maior é produzido em seu desenvolvimento pelo dos ciclos menores. A evolução do conjunto só pode obter-se por meio da evolução de suas partes componentes: processo de maturação íntimo e profundo. Em cada nível, a qualquer distância, o mesmo princípio, idêntica construção orgânica, idêntico processo evolutivo, idêntica conexão funcional. Como não existe individuação máxima nem mínima, assim também não há ciclo máximo nem mínimo, sem jamais ter fim. O sistema prolonga-se, multiplicando-se, subdividindo-se ao infinito. A constituição íntima do ser, a lei de sua transformação é independente da fase de evolução, mas é idêntica no microcosmo tal como no macrocosmo.

   A lei das unidades coletivas pode, por isso, transportar-se de seu aspecto estático ao dinâmico. Diz ela: "Cada individualidade é composta de individualidades menores, que são agregados de individualidades ainda menores, até o infinito negativo; por sua vez, é elemento constitutivo de individualidades maiores, as quais são de outras ainda maiores, até o infinito positivo". Cada organismo é composto de organismos menores e é componente de maiores.  A lei, repetida em seu aspecto dinâmico na lei dos ciclos múltiplos, reza: "Cada ciclo é determinado pelo desenvolvimento de ciclos menores, que são a resultante do desenvolvimento de ciclos ainda menores, até o infinito negativo; por sua vez, é a determinante do desenvolvimento de ciclos maiores, que por sua vez o são de ciclos ainda maiores, até o infinito positivo". Cada individualidade, como cada ciclo, é produzida e definida pela unidade que a precede; forma e define a unidade superior. A organização, o desenvolvimento, o equilíbrio maior é constituído pela organização, pelo desenvolvimento, pelo equilíbrio menor. Cada movimento constrói o seguinte, da mesma forma como foi construído pelo precedente. Cada ser equilibra-se num ponto da série, na hierarquia das esferas, que não tem limites. Isto do átomo à molécula, ao cristal, à célula, à planta, ao animal, a seu instinto, ao homem, à sua consciência individual e coletiva, à sua intuição, à raça, à humanidade, ao planeta, ao sistema solar, aos sistemas estelares, aos sistemas de universos, antes e além desses elementos de vosso concebível, antes e além das fases γ, β, α. Eis a que processo de íntima auto-elaboração deve a evolução. Nenhuma força age nem intervém do exterior, mas tudo existe no fenômeno e tudo caminha por síntese progressiva. Progresso e decadência cósmica se ressentem da evolução e do esgotamento atômico. Os extremos se tocam. A grande respiração do universo é dada pela respiração do átomo.