A evolução das espécies dinâmicas trouxe-nos até à forma "eletricidade", situada no mais alto nível, nas fronteiras da energia. Vimos que, substancialmente, a degradação dinâmica não é senão evolução, isto é, passagem para as formas menos poderosas e cinéticas, mas mais sutis, complexas e perfeitas. Vosso universo caminha visivelmente de um estado de caos - apenas a fase tensão da primeira explosão dinâmica - para um estágio final de ordem, ou seja, de equilíbrio e coordenação de forças. Aquela é a fase de preparação e esta o ambiente em que nasceu a vida. Em outras palavras, o fato de que a evolução dinâmica atingiu a forma eletricidade, significa formação de um ambiente mais equilibrado, onde é possível aquela nova ordem (isto é, coordenação e organização superior de forças) que a denominais vida. Essa nova ordem se aperfeiçoará cada vez mais, em prosseguimento do caminho evolutivo já percorrido, para coordenações e organizações mais complexas e completas: orgânicas, psíquicas e sociais. Pois, com a vida, inicia-se também a manifestação de suas leis e de seus equilíbrios superiores, que dirigirão, nos níveis mais altos, também vossa existência individual e coletiva.

Como ocorre a transformação da eletricidade em vida? Compreende-se essa passagem pela redução do fenômeno, como o fizemos para as formas de γ → β, à sua substância ou íntima estrutura cinética. Desde as primeiras fases da vida, o ritmo dinâmico transforma-se em outros ritmos, que se fundem em harmonias mais complexas, em verdadeira sinfonia de movimentos. A matéria vos deu o princípio estático da forma; a energia, o princípio dinâmico da trajetória e transmissão; a vida vos dará o princípio psíquico do organismo e da consciência.

Uma primeira observação fundamental: o modo pelo qual colocamos o problema do ser, com o transformismo γ →β→α - isto é, como um fisio-dínamo-psiquismo - leva-nos a uma concepção de vida diferente da vossa, muito mais substancial. Geralmente procurais a vida em seus efeitos, não em suas causas; na forma, não no princípio. Conheceis da vida as últimas consequências, e descurastes a priori e de propósito o centro gerador. Tivestes até ilusão de poder reproduzir a gênese dos processos vitais, provocando os fenômenos últimos e mais afastados da causa determinante. Ora, a verdadeira vida não é uma síntese de substâncias protéicas, mas consiste no princípio que essa síntese estabelece e dirige; a vida não reside na evolução das formas, mas na evolução do centro imaterial que as anima; a vida não está na química complexa do mundo orgânico, mas no psiquismo que a guia.

 Observai, agora, como nosso ingresso no mundo biológico ocorre precisamente por via das formas dinâmicas. Com a eletricidade, situada no vértice destas, desembocamos não na forma, mas no princípio da vida, no motor genético das formas. Isto porque caminhamos sempre aderentes à Substância e existimos no âmago em que está a essência dos fenômenos. Leva-nos este fato a uma colocação nova do problema da vida: compreendemo-lo totalmente em seu aspecto profundo e substancial (o lado psíquico e espiritual) e isto desde o primeiro aparecimento dos mais rudimentares fenômenos biológicos, em que já existe presente naquele psiquismo, embora rudimentarmente. A nossa biologia é de substância, não de forma. Alcançamos não a veste orgânica mutável, mas o princípio que não morre; não a aparência exterior dos corpos físicos, mas a realidade que os anima; não o que sai, mas o que fica; não o indivíduo nem as espécies em que se reagrupam as formas e  se encadeiam em desenvolvimentos orgânicos, mas a expansão do conceito dirigente do fenômeno do psiquismo que vos preside; não a evolução dos órgãos, mas a evolução do Eu, que vos melhora e os plasma para si, como meios para a própria ascensão. Vista assim, em sua luz interior, a biologia coincide, também na análise crua de suas forças motrizes, com o mais alto espiritualismo das religiões. Isto se dá porque as vicissitudes do princípio psíquico que evolui da ameba ao homem, são as mesmas que depois amadurecem na ascensão espiritual da consciência, que se eleva a Deus pela fé. Pois, a pequena centelha se tornará incêndio, o primeiro vagido tímido será o canto potente de todo o planeta. Aqui vedes, chegando à completa e harmônica fusão, os princípios das religiões e os métodos do materialismo; vedes reunida a aspiração, ainda que cindida, do espírito humano.

 As três fases de vosso universo são γ , β, α. A passagem ocorre da matéria (γ), para energia (β) e para o espírito (α). As formas dinâmicas abrem-se por evolução, não na vida como a entendeis, mas no psiquismo que é a causa dessa vida. Assim o fenômeno da vida assume um conteúdo totalmente novo, um significado imensamente mais alto e, ao mesmo tempo, não fica isolado, mas se concatena com os fenômenos da matéria e energia. Podemos investigar a gênese científica do princípio espiritual da vida, sem minimizar com isso, de modo algum, a grandeza e a profundidade divina do fenômeno. A energia é o sopro divino que anima a matéria, elevando-a a nível mais alto. O Pentateuco, no capítulo 2º da Gênese, diz:

 "O Senhor Deus, então, formou o homem da lama da terra, e soprou-lhe na face o sopro da vida e o homem foi feito alma vivente".

 A lama da terra é a matéria inerte, os materiais químicos do mundo inorgânico. O grande hálito que move e vivifica a matéria cósmica, isto é: figura 00figura 000, alma, espírito, paixão, turbilhão, não é apenas acrescentada a ela, mas funde-se com ela. Sabemos que Deus não é potência exterior, mas reside no íntimo das coisas, e no íntimo opera, profundamente, na essência. Não atribuais corpo e hálito à Divindade. Compreendei que naquelas palavras não pode existir mais do que uma humanização simbólica de uma realidade mais profunda.