Comentários

Do opúsculo Comentários da Imprensa às obras de Pietro Ubaldi da Sociedade Tipográfica Oderiso — Gúbio, 1940.

Pode parecer anacronismo piegas falar de misticismo em pleno século vinte e mais particularmente nesta nossa perturbada e atormentada época, tão ávida de gozos fáceis, tão claramente orientada para um materialismo utilitário e mais ainda tão saturada de ódios e egoísmos. No entanto, nada de mais natural, nada de mais perfeitamente coerente e harmônico. Os períodos de decadência espiritual, de crise social, de crasso materialismo, são os que preparam melhor o aparecimento de aspirações místicas, que criam aquelas poderosas ondas de renascimento espiritual, que devem depois salvar da inevitável ruína de civilizações apodrecidas os mais altos valores que essas civilizações produziram. Nenhuma surpresa, pois, que a Casa Editora Hoepli publique a Ascese Mística de Pietro Ubaldi, a quem devemos o livro mais orgânico, mais completo e substancioso de nossos tempos: A Grande Síntese.

Já Ubaldi nos dera As Noúres, explicação da técnica intuitiva e inspirativa que originara e produzira A Grande Síntese. Em Ascese Mística, Ubaldi estuda a evolução progressiva do fenômeno inspirativo até a fase mística, que ele viveu plenamente. O livro está dividido em duas partes distintas: uma de caráter teórico, em que o autor analisa a si mesmo em função da grande corrente evolutiva em que se sente enquadrado, esquematizando com muita clareza o fenômeno místico no mundo conceitual moderno, e expondo, com apoio de uma representação diagramática das várias fases da ascensão espiritual, o seu aspecto técnico-científico e a técnica profissional. Na segunda parte, mediante um trabalho de introspecção, o autor descreve sua experiência pessoal, ou seja, aquele processo que o levou do íntimo e lancinante tormento da carne, à mais alta felicidade espiritual.

É preciso dizer que Ubaldi, mesmo enquadrando-se na longa teoria dos místicos cristãos, que a Igreja oficial elevou às honras do altar, se destaca nitidamente daquele misticismo estático, passivo, deprimente, dissolvente, com cilícios, numa palavra, negativo, que caracteriza os místicos medievais. Espírito profundamente latino e homem de seu século, Ubaldi foge de tudo o que é negativo, porque percebe com sensibilidade finamente cristã que o "isolamento do mundo e de seus semelhantes é sempre um pouco de isolamento de Deus". Segue-se daí que seu misticismo não é uma estéril concentração mental, que rouba à sociedade uma alma e uma atividade, mas uma fecundação operada pelo Divino no homem, para que se expanda o que é humano e se multiplique por sua ascensão. Trata-se, pois, de um misticismo ativo, vibrante, dinâmico, tal como convém a um homem do século vinte, que age, portanto, não como uma agressão à vida, mas como um auxílio à mesma.

À primeira vista, parece que deva haver nítida e radical incompatibilidade entre misticismo e dinamismo. É que não sabemos imaginar hoje, após séculos de deformado e absurdo ensinamento católico, um misticismo que não ache seu alimento na solidão e no mais mortificante auto-martírio, tanto estamos nós longe e esquecidos do ensino de Cristo, que jamais disse a seus discípulos: "abandonai o mundo, e vossos irmãos, e sede eremitas em tétrica furna por amor ao meu nome". Não. Disse exatamente o contrário. A seus discípulos deu um grande mandamento: "ide e pregai". Portanto, o verdadeiro discípulo de Cristo, o que tem intenção de segui-Lo em sua senda, e realizar totalmente a ordem soberana de amar o próximo como a si mesmo, deve viver no mundo. Mas, vivendo no mundo, não precisa ser do mundo. Esta é a clara e severa ordem que o Divino Mestre Galileu deixou a seus sequazes e nisto reside o segredo da verdadeira vida mística. Portanto, traem clara e conscientemente esta ordem aqueles que, na intenção de seguir o ensinamento Crístico, abandonam o mundo e se isolam de toda atividade humana. Longe de seus próprios semelhantes, como podem amá-los? O amor não é simpatia estéril, mas ação incessante. Eram místicos, e verdadeiros místicos cristãos, ou seja, ativos, vibrantes e dinâmicos, cada um em seu próprio caminho e sua missão a cumprir, Francisco de Assis e Joana D’Arc.

Sem dúvida, lendo este livro, pode medir-se o caminho percorrido por Ubaldi desde as primeiras "Mensagens Espirituais" e da própria A Grande Síntese. Com a Ascese Mística Ubaldi se transfere para uma zona de espiritualidade ardente que escapa, até como fenômeno, a demonstrações científicas e a especulações conceituais. Para poder entendê-lo e compreendê-lo completamente, precisaria estar sintonizado com suas mesmas vibrações, ter chegado a seu plano de evolução. Quando, ao seguir Ubaldi em sua subida espiritual, passando de esplendor, em esplendor, de fervor em fervor, chegamos com ele ao círculo abrasado do amor e avistamos o medonho desmoronamento de tudo o que é humano, e à unificação da alma com Deus, que o torna uno com o Todo, onipresente no espaço e coexistente no tempo, que funde sua vida na vida de todas as criaturas, nos pobres homens "naturais" ansiosos, mas incapazes de atingir esferas tão adoráveis, só podemos admirar em silêncio reverente ou sorrir de compaixão. Porque, de acordo com o nosso modo de sentir, temos que definir Ubaldi como um santo ou como um louco.

Ora, dada a mentalidade imperante positivista e racionalista, compreendo perfeitamente como é dificílimo a muitos homens de nosso tempo — mesmo se acreditando sinceramente — admitir que um seu semelhante, que toma parte em sua vida mesma turbilhonante e atormentada, que tem uma família para manter e uma profissão para exercitar, possa ter sido verdadeiramente "arrastado na esteira luminosa de Cristo", possa "ter visto o rosto divino do Mestre" e ter ouvido, como já Moisés no Horebe, a voz doce e terrível do Eterno. Na melhor das hipóteses, dá-se-lhe uma piedosa comiseração. Pessoalmente, mesmo se não estivera intimamente convencido de que um homem como nós, de nosso tempo, pode perfeitamente chegar à plena unificação com o Eterno, devo confessar lealmente que não me sinto com o direito de dizer a um meu semelhante, que com simplicidade e sinceridade me dissesse "eu vi" ou eu ouvi": não é verdade! E só porque eu não estou em grau de ver e de ouvir o que ele afirma ter visto e ouvido. Nem se pode duvidar de sua sinceridade e perfeita boa fé. Senão era preciso admitir-se que este homem mentiu durante dez anos seguidos, e continua mentindo com muita perseverança, com inteligência retilínea e com muita sabedoria, produzindo obras que sua cultura empírica não conseguiria justificar sozinha, mas todas trazendo a marca inequívoca de uma espiritualidade viva e profunda.

E qual é dos leitores das Mensagens Espirituais, de A Grande Síntese, de As Noúres e de Ascese Mística, que sinta poder afirmá-lo? E então, vem espontânea a pergunta: é possível que um ser humano possa atingir alturas espirituais tão inefáveis, ou talvez tenhamos de considerar esses místicos como fatos patológicos, como iludidos, que pensam ter alcançado certos níveis espirituais, que são apenas produto de sua emotividade? Para mim a resposta é clara e nítida: sim, é possível. Nossa incredulidade é função de nossa ignorância das leis que governam a vida e que um ensinamento filosófico religioso, falseado desde as raízes, não nos permite penetrar. Se todos os homens nascem em condições de perfeita igualdade moral, intelectual e espiritual, como explicar que em idênticas condições de tempo, de lugar e de ambiente, se desenvolvam de modo tão desigual que produzam o culto e o ignorante, o forte e o fraco, o ladrão e o filantropo, o violento e o santo? Isto deve levar-nos à reflexão. E os que creem num Ente Supremo que é Justiça, Harmonia, Amor, como podem admitir que a justiça, a harmonia e o amor possam gerar ódio, desarmonia, injustiça? Aqui está o ponto. Se a árvore boa dá bom fruto, e não pode dar mau fruto, quer dizer que nossos conhecimentos na matéria estão errados.  E o estão mesmo. A antiga sabedoria, à qual viramos as costas com muita desenvoltura, ao afirmar a preexistência das almas e a pluralidade das existências, esclarecia luminosamente o mistério da vida humana e seu desenvolvimento natural.

Diz-se que nosso mundo é grande e severa escola para os homens. E é verdade. E como em nossa organização escolar, assim também na escola da vida há vários graus de instrução, e em cada grau, diversas séries, que vão desde o jardim de infância, dos povos primitivos e selvagens, até as faculdades universitárias dos povos de alta civilização. Cada regresso nosso, regulado pela Lei, traz-nos à Terra com a nossa bagagem de experiências adquiridas anteriormente, a qual nos permite ingressar numa classe superior àquela em que antes exercitamos nossa capacidade, tentando conseguir adiantamento e promoção. E será assim até chegarmos a um alto grau de civilização, não só — evidentemente — industrial, mecânica e intelectual, mas também e mais particularmente, moral e espiritual. Assim compreendido, o fenômeno Ubaldi não nos parecerá nem impossível, nem digno de uma clínica neurológica. Muito provavelmente Ubaldi tem longo passado de profundas experiências religiosas; por isso, retomando em nosso plano, com uma consciência mais ampla e com forças mais substanciais, o seu caminho, ele se destacou da massa, não pelo fato de receber divinas graças extraordinárias, mas por íntima capacidade evolutiva, a fim de servir a nós, à massa, de exemplo, de incitamento e de aviso. Assim explico o fenômeno Ubaldi e não creio possa ser diversamente explicado.

Tendo dado minha plena adesão a Pietro Ubaldi, e testemunhando-lhe mais uma vez minha simpatia fraterna, tenho de lealmente fazer algumas observações a respeito deste último livro. Cada homem tem os defeitos de suas virtudes. Ubaldi, que evidentemente não vive, e logicamente não pode viver em estado de perene inspiração, cometeu alguns erros, de caráter especificamente humano, que, embora não atinjam a substância do livro, serão lealmente anotados.

Para narrar a sublimidade de suas visões, Ubaldi julgou não houvesse na linguagem e na mente humana palavra bastante bela e imagem suficientemente luminosa e escreveu com uma harmonia pictórica, de exuberante riqueza, a qual, a meu ver, prejudica um pouco a narração de sua experiência, que talvez lucraria mais se houvera sido exposta em estilo mais simples, mais grave, portanto. Doutro lado, obrigado forçosamente a falar de si mesmo em quase trezentas páginas do volume, Ubaldi dá a impressão não só de querer impor sua doutrina como único e geral meio de ascese, mas também assume — no fervor de sua exaltação, — o ar de novo messias, de novo salvador da humanidade. Sei bem que não é este o pensamento de Ubaldi, cuja natural modéstia e simplicidade são garantia da pureza de suas intenções. Aliás, ele mesmo, ao verificar esse perigo, procura humilhar-se profundamente a cada passo. Mas quem lê tem infelizmente essa impressão e isso tem o efeito de nuvens num céu sereno.

Mas, há algo de mais substancial, em que não concordo absolutamente com Ubaldi, e é a oportunidade e conveniência discutidíssima de revelar ao mundo o terrível segredo. Que ele tenha feito um voto solene e supremo na tumba de Francisco de Assis; que tenha oferecido sua vida ao Eterno, pela salvação da humanidade, é coisa tão sagrada, que ele não pode mais dispor dela. Toda oferta feita ao Eterno, ao Eterno pertence, não mais aos homens. Também aqui Ubaldi deve ter-se equivocado quanto aos seus contemporâneos, pensando que eles podiam compreendê-lo e receber seu dilacerante grito de alma! Se anoto estas faltas, não é, evidentemente, para pôr a cruz sobre os ombros de Ubaldi. Ele pressentiu, para si, um destino trágico; e ao ler certas páginas comovidas de Ascese Mística, tem-se a exata impressão de que para isso ele se preparou com firmeza de coração. Talvez seja mesmo chamado a dar um grande testemunho, não de palavras apenas, mas de ação. É indispensável, por isso, sustentá-lo com o nosso respeito e a nossa simpatia.

Tudo o que até agora ele escreveu para o nosso aprendizado e nossa elevação é supremamente belo, mas permanece no campo teórico.

Faço votos de que bem rapidamente possa documentar aos incrédulos, mas não apenas aos incrédulos, com obras de vida, a genuína pureza de sua espiritualidade e a altura de sua missão.

(a)    G. V.

*   *  *

Publicamos, com prazer, o artigo junto, mas fazemos algumas reservas quanto às conclusões a que chegou seu autor. Parece-nos, de fato, que a esplêndida e real contribuição que Pietro Ubaldi dá ao mundo com suas obras não pode ser considerada apenas testemunho de palavras e não de ação, e, portanto, que a elas devem seguir-se "obras de vida", como documentação.  A nosso ver, parece que foi esquecido ou ficou ignorado o enorme esforço interior, moral e espiritual, vivido por Ubaldi, do qual as próprias obras são justamente a manifestação e expressão exterior; parece-nos que isso é não sentir o poderoso hálito da vida que promana de suas próprias obras, como magnetismo sutil, provocando exatamente a ressonância nas almas alheias! Que sejam ainda poucos, e muito poucos, infelizmente, os que podem vibrar em uníssono com a poderosa vibração que permeia e se exala das páginas de A Grande Síntese e das de Ascese Mística, isso é dolorosamente compreensível; se assim não fora, não se acharia o mundo no estado em que se encontra; mas não considerar essas obras como reais "obras da vida", por parte daqueles que sentem e lhes apreciam o poderoso influxo espiritual, parece-nos diminuir e desconhecer a importância e o valor da real contribuição trazida por Ubaldi. Não podem escrever-se páginas daquelas, descrever semelhantes experiências interiores, se elas realmente não foram vividas — e ainda mais, se a vida comum cotidiana não estiver em perfeita harmonia com o espírito, no qual se realiza semelhantes experiências — e é justamente esse elemento de vida vivida o espírito real e profundo, que permeia as obras de Ubaldi, e por isso tem o poder de agir em profundidade sobre as consciências alheias. E uma "ação" semelhante, no mais alto plano do pensamento e do espírito, não é talvez a coisa essencial aos fins da evolução espiritual humana, e digna, portanto, de ser considerada como verdadeira "obra de vida"?

A REDAÇÃO

Do Jornal Fronte Unico, Roma —30 de Junho de 1939. E da revista Il Loto - Florença, nº 4 julho-agosto 1939.

Já lera A Grande Síntese quando ditada por "sua Voz" aparecera em série na revista Ali dei Pensiero de Milão. Reli-a com novo júbilo interior quando apareceu pela primeira vez em volume, publicada pela benemérita Casa Hoepli; tornei a lê-la pela terceira vez, nesta segunda edição, saída a pequeno intervalo da primeira, totalmente esgotada. E de cada vez pareceu-me ler um livro novo, ofuscante de esplendor, livro harmonioso, que tem o poder de unir as profundidades abismais da Terra com as insondáveis alturas dos céus, que é como a demonstração prática e científica do trimegistiano: “o que está em baixo é como o que está em cima”. Ler este livro é como fazer uma viagem fantástica do mundo atômico ao mundo galáctico, do microcosmo ao macrocosmo, depois repousarmos, alegres e gratos, nos paternais braços divinos. Surge então a convicção no leitor atento e livre de preconceitos doutrinais, de que este livro representa para nós uma nova Revelação. Não porque diga coisas novas em si, mas porque revela à nossa humanidade contemporânea um novo mistério do ser. Porque "Revelação" não é apenas aquela que lança as bases de uma religião e que constitui infelizmente o rosto imutável diante da perene mutação das coisas; mas revelação é todo contato da alma humana com o íntimo pensamento que existe no criado e que revela ao homem aspectos novos e mais íntimos da Verdade única. Nesta acepção, A Grande Síntese que Pietro Ubaldi, de Gúbio, escreveu por mediunidade inspirativa é, incontestavelmente, uma nova Revelação.

Muitas críticas foram feitas à obra e ao autor — que antes deveríamos chamar seu fiel e entusiasta amanuense — não tanto pelo conteúdo, que encontrou, na Itália e no exterior, geral aprovação e admiração, como pelo método de compilação; porque até homens de reconhecida elevação intelectual, enregelados nos velhos sistemas conceituais, não admitem que A Grande Síntese seja um livro escrito por "mediunidade inspirativa", como o esclarece o próprio autor.

Não é num artigo de apreciação que convém demonstrar o engano de certas proposições. Parece-me, porém, que assim se faz a política do avestruz: cobrem-se os olhos para não ver a luz. Em sua simplicidade mais simples, a situação é esta: Pietro Ubaldi é um professor de língua inglesa num Real Ginásio de província. Com a láurea em jurisprudência, não possui nenhuma competência específica de problemas científicos, políticos, artísticos, sociais, religiosos, e eis que ele escreve de jato, sem consultar textos, um livro que tende a dar objetivos a tudo o que contém nossa vida empírica: arte, direito, ética, luta, conhecimento, dor etc. Tudo fundindo-se e canalizando-se no mesmo caminho das ascensões humanas! Além disso, o que deveria aparecer como valor comprobatório a quem não conheça por longa experiência esse fenômeno inspirativo de que Ubaldi é um testemunho magnífico, é a sua sinceridade e modéstia. Numa época em que é moda revestir-se com as penas do pavão e cobrir-se a própria nulidade com cínica desenvoltura do saber alheio, Ubaldi tem a humildade de declarar que A Grande Síntese não é propriedade sua, mas que ele foi um instrumento inteligente e consciente nas mãos de forças que o sobrepujaram. Ora, se apreciamos e admiramos o conteúdo do livro, pela altura e nobreza dos conceitos de que trata, pela profundidade dos raciocínios e a genialidade das soluções, além do que pela elegância segura do estilo, e se o autor confessa e demonstra em outro livro seu (As Noúres) que foi apenas uma antena que recebeu correntes de pensamento, temos o dever de reconhecer que esse livro apresenta uma mensagem que nos vem de fonte misteriosa e invisível, como um ensinamento e um aviso.

Que nos diz essa nossa mensagem? Não é possível dar o resumo, nem mesmo esquemático dele, porque A Grande Síntese é um livro que se lê, mas não se resume nem mesmo se critica. A matéria tratada é tão vasta e profunda, representa tão imponente massa de pensamento e de fé, tão rico e grandioso equacionamento e solução de problemas, que o trabalho de quem faz a apreciação é deveras difícil. O que se pode e se deve dizer é que A Grande Síntese nos liga intimamente à tradição mil vezes milenária do ocultismo, entendido não como um empirismo em que se retemperam tantos desocupados maníacos de aparecer aureolados de mistério, mas como uma concepção eminentemente aristocrática do saber e do poder humanos, reservados a poucos seres de exceção, capazes de penetrar além dos limites das realidades sensíveis e chegar ao conhecimento integral das leis e ao domínio inteligente e benéfico das forças que regem a vida universal.

Isto justifica ainda mais o que antes disse, isto é, que A Grande Síntese é uma revelação, no sentido de que nos dá uma parcial "desocultação" de certos conceitos e de certas leis que eram, há tempo, o apanágio cioso das assim chamadas ciências ocultas; e isto é um sinal manifesto de que efetivamente a vida é una, como é una a Verdade, a qual é já toda contida na sabedoria antiga, vem aos poucos revelando todo o seu esplendor, proporcionando-o a inteligência dos povos, cada vez mais aberta e receptiva. Da teoria atômica à doutrina da preexistência das almas e à pluralidade das existências terrenas; da teoria da evolução cíclica do universo à conciliação entre ciência e fé, entendidas como dois aspectos de uma mesma verdade, como duas forças invencíveis da evolução. A Grande Síntese desenvolve uma série de conceitos e de doutrinas que todos os ocultistas conhecem muito melhor que Ubaldi, mas que jamais tinham sido "desocultadas" e apresentadas ao público com a palavra convincente e simples e a fina genialidade de demonstração, com as quais Ubaldi as apresenta neste valiosíssimo livro. Mas, poderão objetar-me: que a organização da matéria era conforme à disposição planetária de nosso sistema solar; que a evolução humana se desenvolvia segundo uma lei cíclica que comporta fases alternadas de involução e evolução cada vez mais amplas, determinando de um lado a progressiva ascese dos indivíduos e as fases de decadência e de ascensão dos povos; que todas as formas da vida eram irmãs da nossa, lutando como nós para ascender à mesma meta espiritual que é o objetivo da vida humana, tudo isso já fora intuído pelos filósofos da idade clássica, desde Tales de Mileto a Zenon de Elea, desde Leucipo de Abdera a Platão de Egina, que antecipam de 2.500 anos, mais ou menos, as conquistas da ciência moderna. Isto é verdade. Mas o valor de A Grande Síntese reside justamente nisto, que ela endossa a hodierna psicologia científica como a única expressão susceptível de fazer compreender aos homens deste século a beleza inefável, e a resplendente realidade dos mistérios que foram intuídos pelos filósofos da época clássica, que a ciência oficial só agora começa a revelar e que A Grande Síntese esclarece e desenvolve.

Falei de mistérios. Evidentemente, entrando nesta atmosfera. A Grande Síntese não pode deixar de tocar num problema de importância primordial e fundamental, que é o problema e até o mistério por excelência: Deus. Em todo o desenvolvimento de A Grande Síntese, Deus está sempre presente. E é a meta luminosa para a qual conduz. Mais até, é ao mesmo tempo a vida e a meta. Mas aqui, Deus perde aquelas características antropomórficas tão queridas às religiões tradicionais, e, não sendo absolutamente algo de externo, de distinto, de estranho à sua criação, Ele se torna a grande alma que está no centro do universo, uma potência íntima a nós e a todas as coisas criadas onde opera profundamente, expandindo-se até dominar, soberana e sem contraste.

Para Ubaldi, ou melhor, para "sua Voz", a alma do homem e a alma das coisas, estão em planos diversos de evolução, expressões diversas de Deus, pois ambas tendem igualmente a Deus, obedecendo a uma única Lei, essa Lei que é a ideia central do universo, o sopro divino que o anima, o dirige, o move. Essa Lei — que é Deus — mesmo manifestando-se em mil aspectos diferentes, permanece sempre uma Lei de bondade e de justiça, que, em nosso concebível, acha sua mais digna e genuína expressão no Evangelho de Jesus Cristo, cuja substancial compreensão por parte da humanidade significará a realização do Reino de Deus.

Assim colocado o problema humano, cósmico e divino, é fácil imaginar as orientações e desenvolvimento que A Grande Síntese dá ao problema artístico e ao ético, ao social e ao da autoridade a ele ligado, e ao problema econômico. Seria interessantíssimo examiná-los um a um, mas isto excederia os limites de uma crítica. Limito-me a dizer — e é intuitivo pelo que até agora escrevi — que todos os problemas que interessam à vida associativa, desde o altíssimo e nobre da arte ao mais humano e atormentado como o econômico, desenrolam-se e se resolvem num desenvolvimento harmônico com o problema espiritual, à sombra de uma lei benéfica, única em sua essência e multíplice em suas manifestações, não estranhos, mas intimamente ligados a toda a complexa vida fenomênica; pelo que transparece evidente que toda atividade, desde a do homem a dos astros, através de mudanças alternadas de derrotas e vitórias, de quedas e ascensões, de involuções e evoluções, converge para o mesmo alvo: unificação com o primeiro princípio, o Eterno. Falou-se de profetismo. E por que não? Se não estivermos cristalizados na ideia de que também no século XX um profeta tenha de ser necessariamente um homem que se veste com pelos de cabra e se nutre de mel silvestre e gafanhotos, como o Precursor, nada impede de considerar Ubaldi como um profeta deste atormentadíssimo nosso século, se por profeta entendemos aquele que, em tempo de crise moral e espiritual, fazendo-se eco do pensamento do Eterno, leva aos homens nova mensagem, revela aos corações ansiosos um novo mistério do Ser.

O que dá eficácia e valor a um livro é sempre a nobreza de seu ensinamento e a altura dos objetivos que se propõe atingir. Pessoalmente julgo A Grande Síntese como um livro que deve ser lido e meditado com pureza de coração e de inteligência. Sem dúvida muitas coisas são por ele demolidas; mas são demolições impostas pela necessária e urgente cura de nossa consciência moral e espiritual. São demolições que alargam o horizonte de nossa concepção e permitem que nossa alma sedenta se inebrie de uma luz mais pura e mais vivida.

 

(a) G.V.

Da revista La Verità - de Roma, Agosto, 1939.

A Grande Síntese, obra filosófica de nosso culto colaborador, Pietro Ubaldi, publicada em língua italiana pelo editor Hoepli, foi recentemente traduzida em língua espanhola e publicada pelo Editorial Constancia — Buenos Aires (Argentina), com o título de Síntesis Cósmica.

Do prefácio da editora extraímos, com alegria os seguintes trechos:

"O interesse despertado por esta obra transcendental, do ilustre pensador italiano, tanto nesta parte do Continente americano como nos países europeus, foi enorme. Hoje o nome de Ubaldi é tão amplamente conhecido nos ambientes intelectuais, científicos e espiritualistas, que seria supérflua uma apresentação de sua personalidade. Obra destinada a revolucionar o pensamento moderno, sob os múltiplos aspectos de filosofia, ciência e ética, a Síntesis Cósmica se reveste de capital importância, por causa de sua gênese".

Do livro de Ubaldi, apareceu também a tradução em português, A Grande Síntese, num belo volume encadernado em preto e dourado (5.000 cópias), publicado pela Federação Espírita Brasileira — Rio de Janeiro.

Os leitores que de perto conhecem o pensamento do autor, através de apreciados artigos por ele publicados nesta revista — e estamos certos de que, conosco, compreenderam de imediato achar-se diante de um pensador original, de um italiano que honra seu país, e de um escritor militante e combatente, para afirmar-se vitorioso com os valores do espírito — poderão apreciar ainda mais completamente o valor de sua concepção da vida, aproveitando-se da procuradíssima edição italiana.

(a)    A. S.

Das revistas: Ricerche Filosofiche e Palmi (Reggio Calabria) — Outubro-Dezembro de 1937.

Pietro Ubaldi - As Noúres, Editor Hoepli - Milão, 1937. Neste livro, além de serem encontrados pensamentos já conhecidos no campo filosófico e científico, e aqui bem acolhidos — valor da consciência intuitiva, purificação ética e arrebatamento simpático por um mais profundo, objetivo e amplo conhecimento, princípio animador de todas as coisas, sugestão do ambiente —, e também páginas literariamente vivas e vibrantes, como aquelas sobre a história espiritual de Joana D’Arc, acha-se sobretudo um importante testemunho psicológico. A originalidade da ultrafania do autor consistiria:

a) No fato de que ele determina ativamente, por si, as condições (ascensão) para encontrar as correntes de emanação espiritual (Noúres), as quais tendem a manifestar-se e exprimir-se na dimensão humana do inteligível, mediante um processo de transformação de dimensões;

b) Em que, durante a recepção, ele se mantém consciente, e portanto capaz de passar continuamente do estado supernormal ao normal, e vice-versa. Durante essa passagem, pode "registrar" as mensagens; que lhe permite, outrossim, dar-se conta plenamente do fenômeno, e, portanto, descrevê-lo.

Se no entanto, fossem pedidas provas do autor, mesmo lógicas (seu próprio testemunho é apenas uma prova subjetiva e psicológica), que sua mediunidade seja verdadeiramente inspirativa, isto é, provas de que ele recebe de correntes estranhas a ele e sobretudo — como afirma — impessoais, mesmo que elas emanem como todas as outras que percorrem o cosmos do único centro que é Deus, não se acharia a resposta.

Estando no terreno da recepção, poder-se-ia admitir que, num estado  de hipersensibilidade, podem captar-se irradiações de outros seres vivos pensantes, talvez mesmo habitantes de outros planetas, num estágio evolutivo muito superior ao nosso, para explicar que o produto é superior — como o afirma o autor — às suas capacidades intelectuais e culturais (as quais, não obstante, neste livro se mostram bastante amplas), quando não se queira pensar em elaborações que afloram de uma herança culta ou — o que é mais conveniente — a uma inspiração subjetiva proveniente das próprias condições de pureza e de sugestão em que o autor consegue colocar-se; mas a impersonalidade só pode ser uma ilusão subjetiva, também devida, talvez à falta de aprofundamento do processo despersonalizador, universalizador e objetivante do pensamento teorético (com efeito, o autor refere-se ao modo como escreveu A Grande Síntese).

Quanto ao fato de a tradução das correntes noúricas, na estorvante e inadequada linguagem humana, ser difícil e o autor sair da consciência normal à supernormal — trata-se apenas de um resumo — na minha opinião é um processo típico de criação espiritual, quando se verifica não ser fácil exprimir o que se intuiu e pensou numa tensão ardente de consciência, e se procura voltar ao ponto focal da inspiração, ou seja, tornar-se a colocar naquela tensão e intensidade de consciência, da qual se passa e repassa num contínuo esforço, sobre o qual Bergson escreveu páginas admiráveis, em Deux Sources.

(a)    D. A. CARDONE

Da revista La Ricerca Psichica, ano 39, n9 9, setembro de 1939.

Pietro Ubaldi, Ascese Mística, Editor Hoepli - Milão, 1939.

Não é fácil, sem dúvida, apreciar as obras dos místicos, porque se sabe que o místico não "demonstra", mas "afirma", baseado em luzes que, segundo ele, lhe chegam de um plano superior ao humano. Por isso, muitos dos que foram chamados para manifestar seu juízo a respeito desta obra, verdadeiramente interessante e merecedora do prêmio que lhe foi adjudicado, recusaram-se a fazê-lo, concluindo que "há obras, como estas, que são recebidas como se apresentam; indiferentes à crítica e invulneráveis, porque ou se acredita nelas, ou não se acredita"

Este é um conceito geral, aplicável a todas as categorias e formas de misticismo, mas, no caso presente, a questão da "invulnerabilidade" se torna ainda mais séria, quando se pensa que Ubaldi apenas descreve suas próprias experiências psíquicas e dá razão pública de seus estados de alma.

Nós, que até agora não tivemos a sorte de elevar-nos às sublimes alturas a que parece ter chegado o autor, não estamos, para falar francamente, autorizados a analisar e criticar o que por sua natureza transcende a lógica ordinária e a crítica. De qualquer forma, procuraremos pôr em relevo rapidamente o que nos parece mais utilizável, neste volume, para os fins da educação espiritual e da investigação psíquica.

Apresenta-nos o autor a inspiração como o resultado da evolução da mediunidade, que, de passiva e incipiente, sobe à maior altura espiritual ao se tornar ativa e consciente. Tem importância muito particular o que escreve a respeito da técnica da inspiração. Esta ocorreria mediante o contato entre os dois termos: o centro emanante (onda-pensamento) e a consciência do médium. Quanto mais perfeito for este trabalho de sintonização e harmonização, tanto maior é a eficiência da emanação dos centros noúricos (das noúres), em relação às consciências individuais

Notemos, a este propósito, que a ideia do sujeito, que sobe com poderoso esforço volitivo até o objeto de sua contemplação, e do objeto que responde a esse contato com análoga descida, constitui o núcleo do ensinamento místico. A teologia cristã canonizou esse estado com a teoria bastante conhecida da graça eficaz. Deus faz descer os raios vivificantes de Sua bondade, particularmente nas almas que não só põem em funcionamento todas as suas energias espirituais, para tornar-se dignos de sua origem divina, mas também que se enchem de amor e o expandem.

Belíssimas palavras nos dá a ler o autor, quando exalta o altruísmo e condena o egoísmo, pois o altruísmo se acha em constante comunicação com o todo, ao passo que o egoísta vive a expensas do todo. O primeiro identifica o próprio bem com o de seus semelhantes e revive nestes; o segundo opera uma contração das forças espirituais, tira a respiração da psique e a sufoca.

Digna de especial consideração parece-nos a teorização, quase geométrico-matemática, dos planos de consciência. Afirma o autor, de fato, que sentiu e viveu os estados místicos que o conduziram à aquisição de uma noção adequada do mecanismo e da evolução, o que ele julga poder fixar em diagramas, para maior evidência. Com estas projeções diagramáticas de sua intuição, Ubaldi quer colocar-nos nas mãos a chave, para compreender as grandes linhas da evolução espiritual: ascensão do ser a planos superiores de vida, em consequência do que, verifica-se uma dilatação correspondente da consciência; progressiva superposição de individuações e fusão de consciências, em forma de existência coletiva.

A doutrina das “consciências coletivas,” é sem dúvida outro dos traços mais importantes da intuição do autor, mas acreditamos que ela necessite ulterior explicação, pois parece-nos que a harmonização a que devem as consciências constantemente tender, não seja muito compatível com a "fusão" de que ele fala. Com efeito, dois ou mais campos de força e de consciência que se fundem, perdem, ou pelo menos enfraquecem, os traços característicos pelos quais se distinguem, de tal forma que o campo A seja algo diverso do campo B, e, sendo diverso, possa harmonizar-se com ele. Está bem que, apesar desta, a individualidade se conservará, pelo fato de que a zona de não-coincidência (1/2 - 1/4 - 1/8 - 1/16 etc.) jamais se anula; mas parece-nos que a lei de atenuação do separatismo entre unidades de consciência e a correspondente lei de fusão de individuações, seja desvantajosa ao verdadeiro e próprio princípio da individuação, que pode ser considerado como o pressuposto da harmonia e do amor, aos quais Ubaldi levanta hinos em termos tão profundamente apaixonados. Numa palavra, o caminho do espírito não pode ficar assinalado por um enfraquecimento da individualidade, embora com aplicação mais vasta da boa vontade por parte de cada ser consciente.

É fácil perceber — ficando no domínio do racional — que os termos: "amor, altruísmo, sacrifício" e também "coletividade" implicam a aseidade e a pluralidade das consciências, e são representantes apenas dos vínculos morais que ligam umas às outras. É verdade, também, que quando duas ou mais pessoas se amam desesperadamente, costuma dizer-se que "suas almas se fundem", mas aqui trata-se de figura retórica e expressão poética.

No entanto, merecem louvor incondicional os propósitos do autor, de guiar a humanidade aos planos espirituais mais elevados, de ajudá-la a penetrar no domínio do "superconsciente". Ele exalta o amor e as mais altas virtudes, e o faz com linguagem tal que produz certamente impressão bem profunda, especialmente naqueles que sentem a sugestão da "florescência" mística.

É preciso sobretudo apreciar estes trabalhos em vista do bem e do conforto que trazem a uma parte da humanidade, e de particular modo quando ameaças graves pesam sobre ela. E se nos colocamos deste ponto de vista, temos de constatar que a expressão favoreceu otimamente a intenção do escritor.

Às vezes Ubaldi cede de maneira excessiva ao próprio entusiasmo, e, por assim dizer, carrega um pouco as tintas, a esse "heroico furor" místico-pedagógico nem sempre é simpático. Mas esta é uma simples observação, que não diminui o valor da obra de que tratamos.

 

(a) R. FEDI

Da revista La Veritá - Roma, ano 39 nº 9, setembro de 1938.

Para compreender A Grande Síntese de Pietro Ubaldi, não bastam os argumentos ordinários de uma crítica benévola; é mister alargar-se, com elementos científicos, dentro e fora da Vida que vivemos neste microscópico ponto do Universo, que chamamos Terra. É necessário elevar-se e manter-se em contato imediato com a Natureza e com todas as suas leis férreas.

Já o insigne Heráclito, cinco ou quatro séculos antes de Cristo, intuiu que na Natureza tudo se desenvolve segundo leis taxativas, e concebeu as Coisas e os Seres, como um jogo de forças da própria Natureza, jogo que compreenderia também o Espírito e a Alma, só existindo, entre mundo inorgânico e orgânico, uma diferença de estrutura, e não de essência. Hipócrates também viu que a Natureza é de tal forma, que basta por si mesma aos animais, e que sabe tudo o que lhes é necessário, sem necessidade de ninguém para ensinar-lhe, tanto que a pôde chamar de justa, como se fora provida de razão e de senso moral. Para Aristóteles, nada é produzido contra a Natureza, eterna e necessária; e para seu contemporâneo Mêncio, a Lei moral é paralela à Lei Universal, que governa todas as coisas; donde, viver segundo a virtude, significa viver conforme a Natureza. A Plínio, o velho, tampouco escapou para a Natureza que nada produz e nada faz sem grandes motivos. Para Leonardo da Vinci, também, a Natureza jamais rompe sua Lei, e toda ação natural é feita pela Natureza do modo mais breve e no menor tempo possível, sem prolongamentos, nem abreviaturas, contrários às suas Leis. Segundo Galileu, enfim, para pararmos neste grande italiano, a Natureza é a única Mestra, necessária, imutável, eterna, inexorável, não ligando a mínima importância que suas recônditas razões e suas manifestações sejam expostas ou não à capacidade dos homens.

A Natureza, pois, é realmente tudo. É tal, que as descobertas científicas mais recentes nos demonstram e confirmam que nada há na Natureza que não seja Matéria, que Matéria e Energia são sinônimos. E a matéria tem uma alma, um coração, uma sensibilidade, vivendo, vibrando e palpitando sempre, desde suas maiores concentrações até o Átomo, até aos Prótons, aos Nêutrons e aos Elétrons, positivos e negativos, que acabam dissipando em todo o Elemento cósmico primordial: no Éter difuso que enche todo o Espaço, na Energia em sua forma originária, finalmente, na Essência de todas as coisas. Dissipando-se e não Morrendo, porque no Universo, a Vida jamais morre, nada morre nunca, e tudo é Matéria em incessante movimento e transformação contínua, ora agregando-se ora desintegrando-se, para depois agregar-se de novo, e assim sempre, eternamente, com uma concatenação que não tem lacunas, nem paradas, nem descontinuidade, nem princípio, nem fim, nem tempo.

Sendo esta a Natureza, ignara de repouso, de mentiras, de subterfúgios, e sempre, como diz Bruno, essencialmente igual a si mesma, deduz-se que ouvi-la, senti-la e uniformar-se às suas Leis, jamais violando-as, nem violentando-as, é o único meio possível de vida, para a Humanidade. E o autor desse volume não só o sente, mas também é constrangido a ouvi-lo.

Ubaldi, em sua A Grande Síntese, aparece-nos como um Ser que permanece continuamente aderente à Natureza, e ao qual a Natureza manda suas ondas eletromagnéticas, suas Mensagens, para serem captadas pelo organismo ultra-sensível que possui, e para serem depois comunicadas a nós, por meio de suas publicações.

A origem destas Mensagens, porém, pode ser consideradas dúplices ou diretamente do Elemento cósmico primordial, ou de outros Organismos humanos, mesmo se colocados a milhares de quilômetros de distância. Dúplice origem que nos leva à concepção única do Universo.

Se as Mensagens chegam a Ubaldi diretamente do Elemento cósmico primordial, ele é sem dúvida um dos mais singulares intérpretes da Natureza, que o escolheu para dizer-lhe suas Leis, seus Axiomas, suas Máximas, e para obrigá-lo a receber a vontade dela e os pensamentos, como poderia e deveria fazê-lo um dependente ou um escravo, do seu patrão ou déspota, e portanto, às vezes com calma e sem esforço, às vezes com sobressaltos e esgotamento de todo seu organismo.

Se as Mensagens chegam a Ubaldi de outros organismos humanos, sempre através do Éter cósmico, achamo-nos igualmente diante de um Ser dotado de um sistema nervoso excepcional, comparável a uma verdadeira central radioelétrica, que recebe e transmite ondas eletromagnéticas, com a mesma frequência e comprimento.    

É sabido, com efeito, que o homem, por meio do Sistema nervoso, recolhe os estímulos que lhe chegam do ambiente externo e a eles responde de modo adequado com os músculos e todos os órgãos.

É sabido ainda que o Cérebro, que é a parte mais importante no sistema nervoso, está provido de bilhões de Células, constituídas por uma floresta de filamentos, que se comportam como antenas da Telegrafia Marconi.

Os fios nervosos, condutores de rádio-ondas nos dois sentidos, estendem-se e se alongam, quase, com papilas microscópicas, além da superfície do corpo, para captar as sensações externas e canalizá-las ao cérebro ou para lançar as sensações e vibrações do cérebro fora dele. O sincronismo entre dois cérebros e organismo humanos é fulmíneo, tal como acontece para as radiações do gênero e da velocidade das ondas eletromagnéticas e da luz, iguais a 300.000 Km por segundo ou a sete vezes a volta a Terra, na mesma fração de tempo.

Tudo o que o cérebro recebe, sente, vê, irradia, é, pois, o resultado das vibrações das pequenas antenas cervicais. E como sabemos que as vibrações se propagam ao infinito, no Universo, assim elas, logo que saem de nosso cérebro, formam um complexo de irradiações que continuam a vibrar no tempo e no espaço; e de tal maneira que podem perfeitamente ser recolhidas por outro cérebro, que tenha o mesmo comprimento de onda, e com o qual se ache em perfeita sintonia e ressonância.

Ora, quer Ubaldi receba as Mensagens diretamente do Éter cósmico primordial, quer as receba de poucos ou de uma multidão de cientistas e de especialistas, o fato é que ele não sabe o que a Natureza quer precisamente dele, mas sabe que lhe não pode escapar e que a deve ouvir, como a ouve, escrevendo e fazendo-se ler na Europa e nas Américas.

Diz justamente o autor desse volume, que o homem crê governar, e ao invés obedece sempre, constrangido pelo instinto à vontade da Natureza.

O instinto, com efeito, não é, como no-lo dizem todos os filósofos que não sabem fazer entender-se, o sentimento interior, o movente interno, o impulso natural que dirige os animais em sua conduta, a fazer as coisas sem que haja intervenção da reflexão etc. (o que seria muito pouco e muito vago), mas o instinto é a própria Natureza, que se revela nos animais e especialmente nos indivíduos e nas Sociedades humanas, em sua nua virgindade e realidade. O instinto é a Energia cósmica, a qual, como está presente e opera em toda a parte, no Universo, com precisão matemática, assim está presente e opera, sem errar, nas células vivas dos organismos humanos. O instinto é sintonia psico-física universal que se torna força positiva criadora no homem, diante da razão, que seria uma força discriminadora.

E graças a esse instinto e é com ele, que Ubaldi pode tratar os mais variados argumentos e fenômenos do Universo, sem perturbar-se, sem confundir-se, ao mesmo tempo em que, de sua ermida de Gúbio em que é professor, tudo quanto ele sente e diz, é quase sempre cientificamente exato.

O valor e a importância de A Grande Síntese de Ubaldi — à parte as evidentes erudições do autor do volume — está justamente na estreita correlação e harmonia entre a Natureza e seu instinto, ou entre a Natureza e sua constituição ou individualidade psico-física, a tal ponto que nos faz desejar (para que nos dê novas provas dessa harmonia) que perdurem nele o maior tempo possível, as condições favoráveis, que essa harmonia determinou.

Nesse ínterim, mostramo-nos gratos a Ubaldi pelo que oferece aos leitores dos Dois Mundos, mesmo que por vezes pareça que a Natureza não se lhe tenha bastante revelado ou que ele não tenha podido captar bem as ondas eletromagnéticas e o pensamento dela.

A Grande Síntese deve pois penetrar o espírito e a alma de quem a ler, mesmo nas traduções, tanto quanto penetrou nossa alma e nosso espírito, que várias vezes relemos aquela Síntese, não tanto para estudos de caráter retórico ou filosófico, mas de absoluto Neopositivismo, mesmo político.

Roma, setembro de 1938

(a)    ANTONIO D‘ALIA

Ministro Plenipotenciário da Itália

O autor deste artigo, Antônio D‘Alia, Ministro Plenipotenciário da Itália, é conhecido no mundo cultural por suas múltiplas obras, poderosas por seus pensamentos profundos e originais. Sua competência reconhecida em ciência política torna autorizadas estas impressões e julgamentos, nascidos de uma afinidade de seu pensamento com o de Ubaldi, especialmente no campo político, histórico, econômico e social, por uma orientação comum filosófica, que ascende às mais profundas raízes biológicas e cósmicas daqueles fenômenos.

Por isso D‘Alia quis citar Ubaldi, bem umas cem vezes, em seu alentado volume "máximas de Arte e de Ciência Política", publicado em Roma.

       

A REDAÇÃO