Chegados a este ponto do curso, os assistentes pediram outras provas e explicações da teoria da queda. Embora repetindo os mesmos conceitos já desenvolvidos, fá-lo-emos com palavras e aspectos diferentes, para elucidar os problemas sob outros prismas, a fim de ficar bem esclarecidos o pormenores, podendo-se chegar a reconhecer o fenômeno cada vez mais exatamente. Demonstraram, com esse pedido, que haviam compreendido o quadro geral e manifestaram a vontade de aproximar-se um pouco mais, a fim de observá-lo e compreendê-lo melhor em seus vários aspectos. Supondo que o leitor se ache provavelmente, no mesmo estado de espírito e que poderão interessar-lhe novos esclarecimentos, continuaremos a expor as perguntas feitas no curso e as nossas respostas.

PERGUNTA:

Para nós, situados em nosso mundo, ou seja, na posição de Anti-Sistema, é possível fazer uma idéia do sistema só com os meios comuns das vias racionais, sem ter de recorrer à inspiração?

RESPOSTA:

Sem ter que recorrer à visão, o observador normal pode encontrar em nosso universo os elementos para reconstruir por via racional, a estrutura do Sistema, chegando a poder obter por si provas e confirmações da visão. Neste caso, o estudioso poderá tomá-la, de início, apenas como hipótese de trabalho, para depois, num segundo tempo, verificar que conseguindo explicar a razão pela qual o nosso universo está construído assim, pode ser aceita como teoria. Essa teoria é justamente a da visão.

Isto é possível por não estarmos fora do Sistema, mas apenas numa sua posição invertida. O nosso universo decaído continua a existir em função do Sistema não-decaído do mesmo centro de tudo, Deus. O nosso Anti-Sistema não representa um modo independente, separado. No todo só é possível a existência de um modelo único: o Sistema de Deus. Não pode haver outros modelos e sistemas, porque não há outros criadores. Se existem outras formas, estas só podem ser derivadas do primeiro modelo, Deus. Isto significa ser o Sistema o único ponto de referência e ponto final da evolução, sendo o caminho desta preestabelecido e não pode ser outro. Se então o Anti-Sistema é uma reprodução invertida do Sistema, não será difícil reconstruir-nos a sua imagem, endireitando essa reprodução invertida. A relação de filiação permite ver através dos traços do filho, os do pai. Se a derivação foi em descida, em sentido destrucionista, pode-se regressar à fonte subindo em sentido construcionista. Representamos um estado patológico. A doença pode permitir-nos estabelecer o estado de saúde, porque a doença existe em função desta. O negativo indica-nos o positivo, o mal revela-nos o bem, a dor mostra-nos a alegria, o erro prova a verdade. Luz e sombra são conexos e a sombra serve para compreender e procurar a luz. Onde tudo é luz sem sombra, num todo homogêneo, não é possível nenhuma distinção.

Então, para conseguir ver a posição correta do Sistema, basta endireitar a posição invertida do Anti-Sistema, existente sob nossos olhos, contrapondo, ao processo de decomposição ocorrido na queda, o processo de recomposição que agora ocorre na evolução, unindo o ponto de partida da descida com o ponto de chegada da subida. Um pólo fala-nos do pólo oposto, inverso e complementar. Assim, o Anti-Sistema nos mostra o Sistema. Podemos ver o segundo espelhado no primeiro, que é o nosso mundo, às avessas, da mesma forma como se vê um edifício espelhado num lago. Na imagem refletida, os primeiros planos aparecem como últimos e vice-versa. Em nosso mundo os valores mais apreciados são os menos valiosos, os fictícios da matéria, e não os reais e eternos do espírito; quem é premiado na luta pela vida é o mais forte, que vence submetendo o próximo, e não o mais honesto, que trabalha a favor do próximo. Assim, os valores do Sistema aparecem na Terra, mas freqüentemente invertidos, na forma de ficção, para enganar melhor; exalta-se a bondade, mas de fato os bons são considerados como simplórios a serem explorados; faz-se muita questão de todas as virtudes, mas para os outros; defende-se o amor ao bem reparando os efeitos e o mal, mas no próximo, porque custa muito menos corrigir os outros do que a si mesmo. Louva-se a honestidade, mas, na verdade, a sociedade castiga severamente os honestos. O móvel de toda essa humanidade é o egoísmo separatista, principal qualidade do Anti-Sistema, que nos indica a oposta, o altruísmo unificador, qualidade principal do Sistema. A primeira coisa que fazem os involuídos, como todos os seres inferiores do Anti-Sistema, é agredir, para impedir a expansão vital e a própria vida. Para estes, como  para todos, a vida é o máximo dom e, por sua posição de egoísmo separatista, procuram agredi-la para infligir o máximo prejuízo. Para os que vivem só no plano físico, esse é o maior prejuízo, mas para o evoluído que vive no plano espiritual, a perda da vida física pode ser, ao invés, uma libertação, para entrar numa forma de vida muito maior.

Assim, não só nosso mundo revela a natureza de outro mundo perfeito, oposto a ele, como este mesmo nosso mundo humano, não é compreensível senão em função de outro mundo mais perfeito. Então, Sistema e Anti-Sistema, pelo fato de se condicionarem, justificam-se e se explicam reciprocamente. Se bem observarmos, veremos que, apesar da queda, eles permanecem indissoluvelmente ligados. Coloquemos no positivo tudo o que há de negativo em nosso mundo, e teremos o Sistema. Como poderia além do mal, ter o homem consciência do bem e compreender o conceito de perfeição, se não existissem essas qualidades no estado puro e completo em outro lugar? O nosso Anti-Sistema demonstrando o Sistema, constitui uma prova de sua existência, mostrando as qualidades que deve ter. Os dois permaneceram tão ligados que a maior estrada da vida, representada pela evolução, os liga, desembocando no Sistema, sua meta final que orienta e justifica, pois se destina a transportar todo o Anti-Sistema, depois de verticalizá-lo na posição do Sistema, para o seio deste, ou seja, para Deus. Aí se torna realidade o que em nosso mundo aparece apenas sob a forma de ideal, e os homens “práticos” julgam ser sonho. Aí tem existência real o que em nosso mundo é apenas aspiração, por pertencer ao futuro da evolução. Aí se acham realizados os valores do Sistema, opostos ao do Anti-Sistema. Aí se realiza a reinversão do invertido, ou seja, o seu endireitamento; são revalorizados os verdadeiros valores, agora desvalorizados. Aí, finalmente, o altruísmo, motor de tudo, funde todos num estado orgânico unitário.

Continuemos a desenvolver este assunto, embora ele exorbite dos limites da pergunta. Em nosso Anti-Sistema, o Sistema não foi absolutamente destruído; aí existe em estado de germe. Outrossim em vista de, com a evolução, um pouco do caminho da subida já ter sido realizado, alguns elementos do Sistema já apareceram por aqui. Com isto, pois, o Sistema dá provas de sua existência, tanto os dois, como pai e filho, estão conexos e interpenetrados. Portanto, há o fato positivo de o Sistema existir em nosso mundo, embora em estado de ideal. Algumas características do sistema já se vislumbram aqui em baixo, embora como exceção. Se é difícil conseguir concretizar-se na realidade, não há dúvida de que existem como anseio instintivo de nossa alma, porque a todos agradaria ser bons e perfeitos, se a evolução não requeresse tanto esforço. Donde vem esse anseio? Como é possível desejar algo que não se conhece? E como é possível conhecê-lo sem havê-lo possuído? Nada disso pode explicar-se senão como lembrança de um paraíso perdido, para o qual torna a impelir-nos uma infinita nostalgia, que vive a cada momento, em nosso insaciável anseio de felicidade.

Em última análise, o que impulsiona para a frente no caminho da evolução, é justamente esse anseio. Subir é árduo e o ser gostaria de furtar-se a esse esforço. Seu primeiro instinto é esse, que lhe vem do Anti-Sistema. Mas o ser é dominado, também, por outro instinto, que é o de subir, custe o custar. O nosso mundo vive da luta entre esses dois instintos. São muitas as resistências contra o progresso, embora não consigam detê-lo. Não resta dúvida de que a evolução é realizada por obra deste impulso interior, sendo tão forte que chega à realização progressiva do Sistema até mesmo no seio do Anti-Sistema rebelde.

Podemos encontrar nisso, nova prova em favor da teoria da queda. A evolução surge de dentro e não de fora. Trata-se de um impulso espiritual, ignorado pelo ambiente externo, material. Esse impulso funciona como uma semente depositada no ser ainda involuído, nele permanecendo latente com vontade de nascer e desenvolver-se, como um íntimo impulso contido, com tendência a explodir para expandir-se. Essa causa é interna e dela produz efeitos externos. A existência consiste num caminhar do interior para o exterior, da substância para a forma. Donde provém então esta causa imponderável, de cuja latência derivam tantos efeitos atuais? Como se acha no seio do Anti-Sistema? A esta pergunta só pode dar-se uma resposta: essa causa é dada pela presença do Sistema que, com a queda, não foi destruído, mas sobreviveu no estado latente dentro do Anti-Sistema. Há necessidade, então, de antepor-se a toda fenomenologia de nosso universo, a existência causal de outro universo espiritual, sem o qual não é possível de maneira nenhuma explicar a imensa floração realizada pela evolução, não podendo esta ter provindo do nada. A evolução não é criação do nada, mas é um progresso; é o desenvolvimento de um germe, que é o Sistema e conduz tudo – como é lógico – à causa primeira de tudo, Sistema e Anti-Sistema, a Deus. Se hoje com a evolução vemos da matéria desenvolver-se o espírito, isto é, a consciência provir da vida, isto significa ter caído o mesmo nas profundidades da matéria, aí permanecendo envolto, o princípio que agora, com a evolução, se está desenvolvendo. As raízes e a explicação da evolução só podem ser achadas na involução e na queda, não apenas para satisfazer à exigência lógica de dois períodos opostos que se equilibram, mas sobretudo para encontrar-se a causa de efeitos inexplicáveis de outro modo.

Neste ponto foi pedido um outro esclarecimento.

PERGUNTA:

Na passagem, por evolução, do Sistema ao Anti-Sistema e, por evolução do Anti-Sistema ao Sistema, quais, mais exatamente, as transformações que ocorrem com respeito a cada individuação do ser e às relações existentes entre elas? Deseja-se colocar mais exatamente em foco as mudanças que acontecem no processo da queda e da subida, quanto ao estado orgânico e à unidade do todo. Qual foi a posição e o valor de cada individuação dentro desse estado orgânico e sua relação com ele? Diante de tudo isso, que é a personalidade humana e quais serão seus futuros destinos?

RESPOSTA:

O primeiro dos dez mandamentos que Moisés recebeu de Deus no Monte Sinai, o mandamento fundamental que estabelece a posição de Deus, diz: “EU SOU o Senhor teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim”.

A primeira palavra é “EU”. A primeira coisa a afirmar-se é o egocentrismo.

A segunda palavra é “SOU”. Logo após afirmar-se a vida, porque “ser” é a qualidade de Deus e de tudo o que Dele derivou.

A existência, pois, antes de tudo de Deus, e depois de todos os seres, fica estabelecida, pelo primeiro modelo do “EU SOU”. A primeira criação dos puros espíritos gerou, então, as criaturas estritamente individualizadas por suas características pessoais, como Deus. Só assim torna-se possível admitir terem tantas qualidades que temos de reconhecer como necessidade lógica, a obrigação de admitir também a da individuação. Essas qualidades eram: liberdade, conhecimento, posição hierárquica bem definida, função individual no estado orgânico do Sistema etc.

Desse modo, todos os elementos, tanto no Sistema quanto depois, já decaídos no Anti-Sistema, permaneceram sempre individuados. Que diferença se verificou, então, entre seu estado de origem e o estado após a queda? Esta não representou uma destruição de cada uma das individuações, mas a destruição de seu estado orgânico de Sistema em seu estado desorganizado de Anti-Sistema. Já explicamos ter sido o resultado da primeira criação, o estado orgânico do Sistema, e foi esse estado orgânico e a ordem por ele representada que se desfizeram com a queda. (Veja capítulo XI, “A Visão Diante da Biologia”). Portanto, as individuações permaneceram, mas mudaram as relações entre elas; estas, ao invés de colaborar com funções coordenadas no mesmo organismo, isolaram os seus egocentrismos, antes fundidos numa só ordem, em tantos egoísmos separados e rivais, buscando destruir-se mutuamente ao invés de ajudar-se, e desfazendo assim em caos toda a organicidade do Sistema. A queda produziu essa posição das individuações em estado de antagonismos contrastantes, que é o estado de animalidade e da humanidade atual, explicando-nos, dessa forma, porque em nosso mundo ainda esteja em vigor a lei da luta pela vida e da seleção do mais forte. A biologia comprova a presença dessa lei, mas só a teoria da queda nos explica a sua causa primeira e as razões profundas.

O resultado da revolta foi desagregar e pulverizar a compacta estrutura orgânica do Sistema, ao menos na parte que dele se quis destacar, permanecendo íntegro o resto, não rebelde. Então, o novo estado caótico destacou-se do estado orgânico; o estado de separatismo afastou-se do estado de fusão. A partir desse momento, a atividade de cada elemento não se somou à de outro, tendendo ao mesmo fim, mas procurou anular a atividade do outro, subtraindo ao invés de somar. Podemos compreender, dessa forma, porque o conceito da individuação assumiu, no Anti-Sistema, um valor completamente diferente. Ao invés de dizer: todos unidos, cada um por todos; foi dito: todos divididos, cada um por si. Eis o nosso mundo. Então, Sistema e Anti-Sistema, colocados diante do problema da individuação, significam: o primeiro, a fusão dos egocentrismos numa mesma unidade orgânica e o segundo, o fragmentar-se através da queda, dessa união, até um estado de inimizade dos egocentrismos, na mesma desordem caótica. Conclui-se daí que, em sua essência, o verdadeiro significado da queda consistiu no desmoronamento das qualidades orgânicas e unitárias do Sistema.

O nosso eu, em sua forma atual, como egoísta e dividido do próximo, é apenas um fragmento isolado daquela unidade orgânica, pulverizada com a queda. Como altruísta e colaborador de seu próximo, faz parte das primeiras reunificações  coletivas que, por meio da evolução, conduzem à reconstrução do Sistema. Por isso, se a involução foi um processo de destruição da organicidade, a evolução apresenta-se-nos em novo e mais profundo significado, que é o de construir um processo de reconstrução da organicidade. O primeiro movimento, na descida, representa uma demolição da unidade no separatismo, da organicidade no caos; o segundo movimento, na subida, representa o contrário. Não foi a queda, pois, que criou os egocentrismos: criou apenas o egoísmo, que os afastou, uns dos outros, como inimigos. A queda substituiu o egocentrismo unitário de Deus, em torno do qual se haviam coordenado todos os outros egocentrismos em Sistema, em uma pulverização de egocentrismos separados, cada um tornando-se centro de si mesmo. Assim, a direção passa do único centro, Deus, a uma multidão anônima e desorganizada. Só o primeiro método pode ser apto a dirigir um organismo. O segundo só pode gerar a própria desordem. Mostra-nos isto qual seria o método perfeito de governo, ou seja, o de Deus no Sistema. Mas na Terra não existem chefes políticos que possam ter as qualidades de Deus, nem súditos com as qualidades dos espíritos perfeitos. O valor de um governo depende, antes da forma e do Sistema de escolha, do valor pessoal dos chefes tanto quanto dos súditos.

Dessa maneira, podemos agora conceber a queda como um processo de desorganização, e a evolução como um processo de organização. Trata-se verdadeiramente do desmoronamento de um edifício, do qual só resta um montão de destroços: os elementos componentes. Trata-se, mais exatamente, do desmoronamento de uma parte do edifício, tendo permanecido intato o resto. A parte que permaneceu inata representa o modelo, de acordo com o qual deve ser reconstruída a parte desmoronada; representa o projeto feito por Deus na Sua primeira construção, ao qual agora os operários da reconstrução devem obedecer. Esse projeto se vai aos poucos, lentamente, realizando com a evolução, do qual representa o quadro final. Ela é um tornar-se, porque deve caminhar para atingir esse ponto. Os dois edifícios estão lado a lado, e o novo deve reunir-se ao velho, para no fim ser um edifício apenas. Dos dois, um está de pé, o outro está desmoronado, mas unidos pelo mesmo plano construtivo, repousam sobre os mesmos alicerces, sendo regidos pela mesma lei. Na parte remanescente, íntegra, há a mesma febre de trabalho de reconstrução que na parte dos escombros e dos operários afadigados. Estes, pobres ignorantes decaídos, são guiados e ajudados no duro caminho da evolução. Os irmãos que permaneceram puros e sábios ajudam os irmãos sujos e cegos: irmãos porque todos são filhos do mesmo Pai, nascidos juntos no terceiro momento da Trindade, na primeira criação.

O que mais interessa a nós, humanos, habitantes do Anti-Sistema, empenhados no trabalho de reconstrução do Sistema, é examinar esse processo evolutivo dentro do qual estamos. Observamos o desmoronamento em relação ao estado orgânico original, para ver o que ocorreu a cada uma das individuações. Ainda em relação a tudo isso, observamos agora o processo inverso da reconstrução. Poderemos responder, assim, à última parte da pergunta, que diz respeito ao futuro da personalidade humana.

Como o universo vai sendo reconstruído? A queda produziu uma separação entre os elementos componentes. Os tijolos que compunham o edifício estão todos espalhados pelo chão. A reconstrução é feita recolocando-os juntos e em seus lugares. É este precisamente o fato que está ocorrendo. Pela lei das unidades coletivas, o nosso universo se está recompondo em agregações cada vez mais vastas e complexas, cada vez mais próximas ao modelo do Sistema. A evolução manifesta uma tendência à unificação. Da sua posição na evolução, o homem pode ver, ao olhar para trás, um trecho do caminho já percorrido.

Dos elementos ainda não descobertos que compõem o núcleo do átomo, o ser já reconstruiu esta primeira unidade. Unindo o núcleo com outros elementos, construiu o átomo, o qual já é um pequeno sistema. A evolução chegou assim ao estado de matéria como a conhecemos. Depois, com os átomos, construiu as moléculas, com as moléculas as células, com estas os tecidos e órgãos, e, aperfeiçoando-os, chegou a produzir as células nervosas e cerebrais, já próximas ao espírito, aptas a dirigir os mais complexos organismos da vida. Com isto, foi passando do estado inorgânico à vida, do monocelular, a organismos cada vez mais complexos, do vegetal ao animal, subindo sempre até o homem, enriquecendo-se sempre com funções mais complicadas, até chegar às espirituais. E o caminho não terminou. Os vários indivíduos humanos, constituídos de organismos tão complexos não vivem sós. Unem-se em grupos cada vez mais vastos: primeiro a família, depois as castas, as cidades, os partidos políticos, as religiões, depois as nações ou povos, a sociedade, a humanidade, e enfim a humanidade de humanidades.

Dessa forma a reconstrução se opera por graus, através da unificação. E tanto mais adiantada será a evolução, quanto mais tiver conseguido unificar princípios elementares, coordenando-os organicamente. O homem chegou hoje, socialmente, até certo grau de reunificação e não mais, mas, prosseguindo na estrada, podemos ver os futuros aspectos da personalidade humana. Estão todos contidos neste processo de contínua reunificação. Os povos reunir-se-ão política e economicamente, as religiões espiritualmente, pouco a pouco desaparecendo tudo o que divide, para ceder lugar a tudo o que unifica. Quando todo o universo estiver reunificado num só organismo, e todos os seres colaborarem, por livre adesão, em função de um centro único, Deus; então o Sistema estará todo reconstruído e estará definitivamente concluída a grande aventura da queda.

Que transformações sofrerá então, no futuro, com a evolução, a personalidade humana? Como já dissemos, no capítulo XI. “A Visão Diante da Biologia”, esse processo de reunificação não é estéril. A cada unificação se acrescenta um valor, maior do que a soma de todos os componentes. Mas há mais. O estado orgânico, como tal, não só valoriza, por sua organicidade, a unificação além do seu peso real, como também valoriza cada um dos elementos componentes além de seu peso natural. Outrossim, cada um deles se acha potencializado pelo fato de fazer parte de um grupo muito mais poderoso, do que quando estava só. Um homem é mais forte e seguro quando em seu grupo ou exército, ou nação. Explica-se dessa maneira o espírito gregário, comum também nos animais.

Agora podemos compreender que o tipo de personalidade humana, qual existe em nosso plano atual de evolução, deve considerar-se não só em relação ao grau de desenvolvimento alcançado, mas também em relação ao grau de organicidade da unidade coletiva da qual faz parte. Conclui-se daí que, nos estados de unificações maiores, nos quais se fundirão as personalidades humanas no futuro, estas aí não chegarão em sua forma atual, mas serão completamente diferentes do que são hoje; serão algo inimagináveis, sobretudo, quando nossa personalidade finalmente chegar à conclusão de sua longa viagem de volta a Deus. Entretanto, podemos bem compreender como o tipo atual, tão imerso ainda no Anti-Sistema por seu egoísmo, não possa em absoluto reentrar a fazer parte do Sistema, enquanto ficar como está.

Mas, quando todas as criaturas do universo se houverem irmanado novamente num todo orgânico, como eram no Sistema, cada vez mais irá emergindo das profundidades da matéria o “eu” espiritual, que representa a criatura da primeira criação. Ao subir, a personalidade se transforma, porque a evolução vai da matéria ao espírito. Este é um organismo constituído de forças individualizadas por vibração, comprimento de onda e freqüência; organismo atualmente revestido de matéria, mais tarde apenas de energia, até abandonar também esta sua forma e permanecer em sua nudez de pensamento puro.

Trata-se de transformações profundas que mudarão totalmente o nosso atual modo de conceber. No estado atual, por exemplo, a proximidade de dois seres, quando revestidos de um corpo na matéria, é dada pela dimensão desta, ou seja, pela dimensão espacial. Mas, para os espíritos revestidos apenas de energia, não é a proximidade espacial que os aproxima, mas a afinidade de vibrações, tipo de forças, comprimento de onda e freqüência. Então, pode acontecer que, no plano da matéria, se achem aproximadíssimos, no sentido espacial, seres que, por sua natureza, estão afastadíssimos uns dos outros, e vice-versa. E pode acontecer que, dois ou mais espíritos situados fora da matéria, ao atingirem uma identidade de vibração e de tipos, consigam também a fusão numa única personalidade. Diga-se o mesmo, e mais ainda, quando se trata de personalidades individualizadas apenas pelo pensamento.

Ora, a evolução leva à harmonização entre os vários elementos, em vista de sua tendência à fusão em unidades coletivas cada vez mais vastas e orgânicas. Por isso, quanto mais se sobe, tanto mais os espíritos tendem a fundir-se numa vibração em uníssono, na qual passam a existir como se fossem uma só coisa. E isto até ao ponto máximo, no qual todos os espíritos criados por Deus se hajam reunificado num só modo de existir, feito de pensamento puro, que é o pensamento de Deus. Podemos assim imaginar o Sistema. Nele, todos os seres sentem, pensam e existem perfeitamente em uníssono, formando uma união como se fora somente um ser. É assim o Sistema. Essa unidade constitui o terceiro aspecto ou momento do Tudo-Uno-Deus, que chamamos de Filho, e que, após a Sua multiplicação interior num ilimitado número de seres, continuou dessa forma perfeitamente uno. Podemos, por isso, compreender o que significa a expressão, Deus reabsorverá em Si todas as criaturas, e como seja isso possível, quando todas as criaturas tenham regressado sintonizando-se com Ele.

No plano espiritual a unificação é alcançada por esse estado de sintonia ou harmonização completa. Exprime a identificação da própria vontade com a Lei e a vontade de Deus, significando viver a vida de Deus, pensar com o pensamento de Deus. Este é o estado originário de perfeição do Sistema e será o estado final de regresso a ele. Nesse estado, o separatismo é totalmente destruído e se finaliza a unificação, pois o ser atingiu a perfeita identidade com o pensamento e a vontade de Deus. Nisso consiste a primeira unidade do todo e sua última reunificação, bem como consistia o estado orgânico do Sistema, de suprema sintonia, no qual todos os seres viviam abraçados, harmonizados na mesma vibração e orientados para Deus pelo mesmo amor. Esta é a suprema orquestração musical do Sistema.

Eis os futuros destinos da personalidade humana. Grande destino, que se realizará através de profundas transformações, devidas a um processo duplo: o da reunificação (lei das unidades coletivas) e o da espiritualização (evolução da matéria ao espírito).

Mas podemos observar os destinos da personalidade também em relação a um futuro mais próximo e imediato. Deduzir do estudo destas páginas, a respeito dos problemas máximos, conseqüências práticas, morais e sociais, aplicáveis ao nosso mundo. Para tanto também se refere a Lei das Unidades coletivas. Neste caso mais próximo e particular, aplica-se, também, o princípio de a evolução se realizar através da fusão orgânica. Por isso, o Evangelho, ao nos querer irmanar com sua máxima fundamental “ama a teu próximo como a ti mesmo”, demonstra ter um significado muito mais profundo e vital, não apenas religioso, filosófico ou sentimental. O Evangelho tem um sentido biológico, representando o caminho que a evolução deve seguir na humanidade; tem um valor universal, porque dá uma direção ao desenvolvimento da vida. O Evangelho é uma norma prática guiando o homem em sua ascensão para a reconstrução do sistema. Este fato o torna atual para nós, humanos, como uma norma de evolução em todos os campos, em todo o planeta; explica-nos racionalmente as razões profundas daquela sua linguagem de amor, que não exprime apenas sentimentalismo, mas se justifica com a lógica férrea, imposta por um plano exato, segundo o qual a reconstrução deve ser realizada.

As conseqüências de tudo isso são importantes. Renunciar ao próprio egoísmo para colaborar com o seu semelhante, não é, apenas, uma regra evangélica, mas também de progresso social: é uma lei de evolução da vida para todos, sejam de qualquer religião o filosofia. Outra conseqüência é a seguinte: o homem que não colabora fraternalmente, mas agride para explorar, é um involuído, um atraso na evolução, mais próximo do animal. As leis biológicas dão a vitória, tanto em nosso mundo social como no mundo animal, ao mais forte. Esses métodos de seleção, ainda em vigor também em nosso ambiente humano, demonstram o estado ainda involuído, animalesco, do homem. Quem esmaga e explora o próximo acreditando com isso vencer e ter valor, é um selvagem a ser expulso de uma sociedade civilizada. No futuro o será, porque representará o que representa, na atual, o criminoso. Serão assim consideradas todas as organizações baseadas na força, pois este é o método do Anti-Sistema e não do Sistema, para o qual devemos caminhar.

O futuro da evolução reside na compreensão recíproca, na reconstrução da unidade quebrada, na reabsorção e anulação do separatismo, primeiras qualidades do Anti-Sistema, substituindo-as pela compreensão e a colaboração, primeiras qualidades do Sistema. É preciso substituir o caos pela ordem, a revolta pela disciplina, a prepotência pela bondade e justiça, a guerra pela colaboração. O progresso consiste em suprimir tudo o que divide, em harmonizar-se até a unificação. A maior parte das dores que afligem a humanidade depende desse estado de inimizade de todos contra todos, e as dores não poderão cessar enquanto não terminar essa inimizade. Não se pode reconstruir o edifício desmoronado senão reunificando o separatismo no qual ruiu. É indispensável corrigir todas as qualidades do Anti-Sistema, adquiridas com a queda, mediante as qualidades do Sistema, estado perdido, que precisa ser reconquistado. É necessário subir do inferno, onde a discórdia cria a infelicidade, ao paraíso, onde a concórdia cria a felicidade.

Essa concordância dos princípios expostos neste volume, com a realidade dos fatos de nossa vida, oferece-nos mais uma prova, confirmando a teoria da queda. A cada momento o homem está repetindo os motivos da revolta. Por causa da sua vontade de continuar a errar, continua semeando dores, tanto mais quanto mais quisermos viver embaixo, próximos do Anti-Sistema. A evolução é, substancialmente, um problema de felicidade. Esta só poderá chegar se nos aproximarmos cada vez mais da ordem do Sistema. Harmonizar-se, como aconselha o Evangelho, não é apenas problema de bondade ou de renúncia, mas também problema de inteligência e de utilidade. O homem não quer viver o evangelho, porque ainda é um selvagem, tremendamente ignorante das leis da vida e do modo de atingir a felicidade. Nossa sociedade humana é um corpo onde cada célula é inimiga da outra, com prejuízo para todas. Essa sociedade não se mantém com o princípio da colaboração celular que vigora no corpo humano em estado de saúde, mas com o princípio anárquico que vigora no câncer. Por isso, os nossos males são até poucos, em relação ao que merecemos, e teremos de sofrer tanto até aprendermos. Para que serviria a dor, se não fosse útil para ensinar?

Trata-se de leis férreas, das quais não podemos escapar. Rebelar-se ainda mais, piora a situação. Prova-nos isto a lógica de todo o processo. A estupidez humana é grande, mas é produzida pela ignorância, resultado merecido da rebelião e da queda. E nada melhor para despertar a inteligência do que o sofrimento merecido, como efeito daquela ignorância também merecida. E como se pode obrigar um ser, que deve ficar livre, a compreender em seu próprio benefício; como se pode obrigá-lo a recompor-se, livremente, no caminho certo, senão fazendo-o reencontrar-se pelo caminho errado, atravancado de dores, fazendo-lhe compreender seu erro e as suas tristes conseqüências? Para o homem atual, pois, só existe um remédio que possa curá-lo: sofrer. Ele é livre de sofrer quanto queira. Mas esse mal é um remédio salutar. Tanto sofrerá que acabará aprendendo: não se pode subir descendo, não se pode melhorar piorando, nem se pode escapar à Lei forçando-lhe a porta.

O homem tem de compreender que é errado o sentido de crescimento como “eu” isolado. Este seria um crescimento invertido, o da revolta e do Anti-Sistema, que só pode trazer separação e destruição. Este crescimento não sobe, mas desce. Agindo assim o ser pensando ganhar, perde. Tudo está construído de modo que o crescimento não pode fazer-se isoladamente. O egoísmo pode conseguir, como débito, resultados imediatos à mão, e por isso os míopes creêm neles. Mas depois tudo se paga e a vantagem do momento é muito cara porque não se conseguem os resultados longíquos e maiores que chegam fatalmente, porque calculados pela sabedoria da Lei. Consiste o problema em ter consciência do funcionamento inviolável da Lei e portanto em saber confiar nela, e não nas próprias forças fracas e enganosas. O egoísmo é um impulso isolado do Anti-Sistema, com raio de ação limitado, além do qual se torna anti-vital. O homem existe e só pode existir dentro da Lei, e se quiser existir, mesmo se rebelde, só tem o caminho da evolução para regressar ao Sistema. O ser pode continuar rebelando-se quanto queira. Com isso só conseguirá o próprio prejuízo. A revolta contra Deus jamais poderá ser vitoriosa, mas só produzirá erros, que depois é preciso pagar.

*****

Antes de concluir este capítulo, respondamos a outras perguntas, corolários da precedente.

PERGUNTA:

A queda foi rápida ou lenta?

RESPOSTA:

O fenômeno da queda não pode ser medido com o nosso tempo. Foi também um desmoronamento de dimensões e o tempo foi apenas uma das dimensões atravessadas na queda, como, no oposto da evolução, esta dimensão desaparece, após ter sido atravessada a fase de energia, da qual é própria. Mas, entendendo o tempo em sentido mais vasto, ou seja, como ritmo do tornar-se ou velocidade de transformismo, poderemos dizer que, mesmo atravessando em sentido inverso os estágios a serem mais tarde percorridos na evolução, a queda foi rápida; da mesma forma como se desmorona uma casa sem alicerces. A lógica nos mostra isso. Os estágios da subida foram certamente atravessados na descida, porque se eles ligam o Sistema ao Anti-Sistema na direção de ida, devem também ligar o Anti-Sistema ao Sistema na direção de regresso. Foram atravessados, não na forma lenta em que os vivemos, mas certamente em sua substância, porque a ponte de passagem entre os dois pólos, de ida ou de volta, só pode ser uma. Não na forma lenta, em que o ser viveria mais tarde, porque se tratava de uma fulminante desintegração atômica em cadeia, onde não há como despertar, aprender, reconstruir. O processo lento atual de experimentação e assimilação não tinha razão de existir. A queda foi como uma explosão em que a unidade se pulverizou. Também em nosso mundo, tudo o que é recomposição e conquista é lento e árduo, trabalhoso como toda reconstrução confiada às forças do operário.

Concluindo, o fenômeno da involução apareceu-nos na visão como um acontecimento rápido. Mas nesta resposta quisemos justificar essa afirmação com argumentos lógicos e racionais.

PERGUNTA:

Qual foi o número de elementos rebeldes expulsos, e quais permaneceram obedientes no Sistema?

RESPOSTA:

O conceito de número, ligado ao de medida, e portanto de limite, não pode existir senão no relativo e no finito, ou seja, no Anti-Sistema. No Sistema, situado no pólo oposto, tudo deve ser exatamente o contrário. Tudo aí deve ser inumerável, além de toda e qualquer medida, de todo limite. Já explicamos que podemos imaginar o Sistema invertendo as qualidades de nosso Anti-Sistema. Portanto, não podemos procurar compreender o Sistema com os nossos conceitos, numeração e medida quantitativas, com as quais julgamos o nosso mundo. Vivemos fechados dentro dos limites de nosso concebível. Podemos procurar construir para nós uma imagem do absoluto. Mas, para quem está situado no relativo, será sempre substancialmente um inconcebível. Como superar de um golpe a nossa psicologia do finito, filho de nosso ambiente material, para entrar na psicologia oposta do infinito, onde desaparece completamente tudo o que para nós constitui o real e o mais certo ponto de referência? No Sistema não se pode introduzir o conceito de número, de medida, de limite. Qualquer conceito dessa natureza seria uma tentativa de redução do infinito ao finito, ou seja, do Sistema ao Anti-Sistema. Não há número para enumerar, não há medida para medir o infinito. No Sistema, a concepção deve ser toda exclusivamente em termos de infinito. Poderemos imaginá-lo como algo além de todas as nossas possibilidades de pensar e compreender. Mas podemos compreender o absurdo de querer dar uma medida ao infinito, que consiste justamente na ausência de qualquer medida.

PERGUNTA:

O Sistema sofreu prejuízo com a fuga de seus elementos? E quem desempenhou a função dos que, com a queda, vieram a faltar no Sistema? Na hierarquia das funções, essa ausência de alguns elementos devia trazer desequilíbrio, perturbando a ordem geral e as funções também de outros elementos. A ordem e a perfeição de todo o Sistema ficaram alteradas?

RESPOSTA:

Se a criatura tivesse possuído o poder de alterar, não apenas a sua própria posição, mas também o próprio Sistema, teria tido em mãos o poder de um anti-Deus, capaz de prejudicar a obra divina. É absurdo admitir que Deus houvesse introduzido no Sistema perfeito, saído de Suas mãos, uma possibilidade tão desastrosa. Logicamente, pois, admitindo a impossibilidade de o Sistema ressentir qualquer prejuízo como a queda, focalizemos a observação, para ver o que ocorreu no Sistema depois da fuga dos elementos rebeldes. Sempre nos preocupamos em ver o que ocorreu a estes, sem olhar o que deixaram atrás de si.

Utilizemos as argumentações da resposta precedente. Sendo infinito o número de elementos do Sistema, por maior que fosse o número dos rebeldes, sempre permaneceria no Sistema um número infinito. Nossas medidas, quantitativamente definidas, não podem esgotar uma entidade de natureza diferente, como é o infinito que permanece inesgotável, qualquer quantidade finita que se lhe tire. Por isso o Sistema permaneceu íntegro tal como era antes. O conceito de numerabilidade e de medida nasceu, ao invés, do lado dos rebeldes, que, pelo fato de sua divisão, tornaram-se uma parte, não podendo, portanto, existir no todo infinito. Tão logo aconteceu o afastamento, surgiram imediatamente na zona separada os conceitos próprios do Anti-Sistema, e neste caso, os de medida e numerabilidade. Neste sentido é concebível uma quantificação das criaturas rebeldes, ao menos enquanto permanecem no Anti-Sistema, onde unicamente é possível, porquanto, uma quantidade mensurável só é possível neste, e não no Sistema.

Mas aqui surge outra dificuldade. Que unidades queremos contar? Pela lei das unidades coletivas, as individuações do ser são diferentes em relação ao plano de evolução por elas atravessado. Vimos pouco acima, como se realiza subida por meio de agrupamentos progressivos, cada vez maiores, dos fragmentos da unidade, pulverizados com a queda até seus últimos elementos. Para poder se chegar a uma contagem, seria preciso fazê-la sempre em relação ao grau de evolução atingido pelos elementos enumeráveis. Só podemos dizer que seu número, por causa do processo de reunificação ao qual estão sujeitos com a subida, vai sempre diminuindo, devido a evolução os levar da multiplicidade à unidade do Sistema. Mas, quem quiser ter uma idéia do número, poderia contar a quantidade de elementos constitutivos do Anti-Sistema, por exemplo, no plano representado pela matéria, experimentando contar o número dos elementos componentes dos átomos existentes em todo o universo. Com se vê, se não encontramos o infinito, por nos acharmos no Anti-Sistema, encontramos sempre quantidades incomensuráveis, praticamente, equivalente ao infinito.

Com isto melhoramos a resposta à pergunta precedente. Voltemos a observar o Sistema. Sua estrutura era hierárquica, não de um todo homogêneo, constituído de elementos equivalentes, mas de um organismo feito de funções diferentes e especializadas. Nesse caso, a falta de alguns elementos não pode perturbar o funcionamento de todo o organismo. Tudo isso é verdade. Mas é também verdade que, qualquer nível, plano ou divisão da hierarquia era organizado, e cada função era desempenhada por elementos sintonizados, portanto, equivalentes (unificados pelo fato de possuírem o mesmo tipo de vibrações). Destes permaneceu, pois, no Sistema o quanto era suficiente para seu funcionamento, o qual continuou regular como antes. Não se corromperam classes inteiras, mas apenas alguns dos seus elementos, permanecendo íntegras as classes, o grupo ou o plano em seu conjunto. Sendo infinito o número de elementos do Sistema, a perda de alguns não pode alterar nada. A perda de uma parte pode diminuir de um número finito, mas não de um número infinito. É inútil querer subtrair do infinito. Não se podem fazer operações aritméticas entre entidades de natureza diferente. O conceito de infinito é completamente diferente do de indefinido, inumerável, incomensurável, com o qual muitas vezes se confunde. Uma quantidade finita, independente do tamanho, jamais poderá exaurir o infinito, que só poderá sentir qualquer subtração, quando dele se subtrai outro infinito. Indicando com n um número finito, poderemos dizer, em termos matemáticos:

                    ∞± n=∞

significando que,qualquer  número finito se acrescente ou subtraía, ao infinito, este  permanece infinito.

Assim, qualquer tivesse sido o número de elementos expulsos do Sistema, lá permaneceu um número infinito. O Sistema é de natureza diferente do Anti-Sistema; o absoluto incomensurável permanece invulnerável, porque está além das quantidades mensuráveis que constituem o relativo. O Sistema, apesar da subtração dos rebeldes, continuou completo, funcionando perfeitamente. Só houve prejuízo para os elementos que se afastaram acharam-se abandonados a si mesmos, à mercê da lei própria, tão inventada para substituir à Lei de Deus. A vulnerabilidade não é uma qualidade do Sistema, do absoluto, de Deus. Só apareceu quando os seres se afastaram de tudo isto, para entrar na posição oposta do Anti-Sistema; apareceu tão logo saíram da ordem, da hierarquia, do estado orgânico, que constituía sua saúde e sua força.

 

O prejuízo não foi para o Sistema, mas todo para o Anti-Sistema. Quem se achou defeituoso e fora do lugar foi este, que se inverteu em negativo e portanto, para sobreviver, foi forçado a existir apenas na forma de transformismo evolutivo. Ora, se ele quiser continuar a viver, só lhe resta subir ao estado de Sistema, tornando positivo o negativismo, ou seja, autodestruindo-se como Anti-Sistema. Só poder existir na forma de transformismo evolutivo significa só poder existir destruindo tudo o que constituiu a revolta, para reconstruir-se em tudo o que constitui a obediência. Obediência a Deus, centro permanente e chefe de tudo.