A Grande Síntese

Procuraremos na química orgânica algum paralelo ou correspondência ao princípio dos movimentos vorticosos. Depois de havermos observado a gênese da vida em sua íntima e profunda realidade, dispomo-nos agora a caminhar para o exterior, para aquela aparência, mais sensória, portanto, mais facilmente compreensível para vós. Vários fenômenos da química orgânica mostram-vos que a estrutura do fenômeno vital corresponde a dos movimentos vorticosos observados.

 Enquanto as principais reações da química mineral são instantâneas e totais, as da química orgânica são, geralmente, progressivas e lentas. A mecânica das reações indica-vos que só no primeiro caso o equilíbrio químico do sistema é quase imediatamente atingido, ao passo que nas reações orgânicas é necessário muito tempo antes que se chegue a esse estado. Essas reações progressivas, mesmo simples em aparência, são em realidade uma superposição de reações sucessivas, que determinam produtos intermediários muito efêmeros para serem percebidos. Essa mobilidade química, aparentemente menor, é devida, em substância, ao sistema vorticoso que resiste (inércia) contra qualquer ação que tenda a deslocar-lhe o equilíbrio; ela é mais poderosa e profunda que o sistema atômico simples, porque, também, é um sistema mais complexo. O entrelaçamento das linhas de força que devem ser diversamente dirigidas é muito mais amplo, mas em compensação, pela mesma razão, o sistema está apto a conservar por mais tempo os tipos de movimento uma vez imitidos e absorvidos (germe da hereditariedade).

Somente este dinamismo mais profundo, cuja estrutura cinética estudamos, podia produzir a síntese química da vida a partir da matéria inorgânica. A substância dos intercâmbios vitais consiste num ciclo, mediante o qual o íntimo dinamismo do sistema transporta a matéria inorgânica em combinações químicas para ela extraordinárias e complicadíssimas, que jamais teria conseguido sozinha. A característica da química da vida é a necessidade de uma contínua renovação íntima, com a qual se reconstitui de uma rápida deterioração; um desfazer-se constante de equilíbrios que, no entanto, reconstroem-se sempre, de modo que, no conjunto, o equilíbrio permanece, mas condicionado por intenso e íntimo trabalho. A estabilidade permanece através da instabilidade de todos os seus momentos, à custa de ser uma correnteza em movimento. A própria morte, que parece a destruição do edifício - porque determina o momento em que os elementos se apressam a descer os degraus dessa estrutura muito complexa, a fim de retornarem ao seu estado primitivo mais simples - não representa incapacidade de manter-se no mais alto equilíbrio da vida, mas é efeito da rápida sucessão sempre ativa, que jamais pára, do dinamismo do sistema. Morte é sinônimo de renovação. Por isso, a vida persiste perenemente no ritmo veloz de seu devenir. Fenômeno antiestático por excelência, a vida não é possível sem renovação. O processo vital é a resultante evidente do movimento contínuo de introdução e expulsão, de associação e de desassociação, de anabolismo (assimilação) e de catabolismo (desassimilação), o que leva à regeneração constante das células. A vida, desde sua primitiva fase orgânica, que só contém os primeiros rudimentos do psiquismo, é sua meta - no homem atingirá sua autonomia - é dinamismo intenso produzido por contínuo e complexo decompor-se e recompor-se da matéria em combinações químicas fugacíssimas. Dentro desse dinamismo, as substâncias são tomadas e levadas através do organismo, são absorvidas, assimiladas, fundidas na palpitação vital e, depois de haver demorado nele, são eliminadas. Sua passagem pelo ciclo orgânico é, para essas substâncias, uma espécie de febre, de corrida insólita, da qual escapam para repousar em seu equilíbrio químico inorgânico assim que se livram dessa imposição. Ora, é esse exatamente o fenômeno que ocorre num turbilhão, que prende em seu movimento rotatório sobretudo os corpos leves (peso atômico baixo, menor resistência ou inércia), arrasta-os no seu vórtice e, finalmente, abandona-os. Acontece isso enquanto, constantemente, muda o material constitutivo do turbilhão, embora conserve independente sua individualidade.

 Quem mantém intacto, num e noutro caso desses dois fenômenos afins, esse equilíbrio superior, enquanto dentro de si os edifícios atômicos passam rapidamente de um sistema de equilíbrio a outro? Quem dá a essa instabilidade o poder de manter-se indefinidamente, de retificar-se, de reconstituir-se a força de resistir contra todos os impulsos contrários, que tendem a trazer desvios? O fenômeno da vida não é fenômeno transitório nem acidental. Seus equilíbrios instáveis não são meros acasos químicos, porque eles se fixaram substancialmente no caminho da evolução. Onde se encontrará essa nova capacidade de autonomia, absolutamente desconhecida no mundo da química inorgânica, senão na estrutura especial cinética dos movimentos vorticosos? Diante do insuperável determinismo da matéria, encontramo-nos aqui nos primeiros passos daquela ascensão que levará, na fase de consciência, ao livre arbítrio, uma novíssima liberdade de movimentos que, no entanto, não destrói o equilíbrio nem a estabilidade integral do sistema. Sem dúvida o movimento vorticoso enfeixa o processo típico de isolamento, no ambiente, de um sistema de forças, portanto, princípio da individualidade. Um turbilhão de forças já é um eu distinto de tudo o que o circunda, com o qual entra em relação, mas não se funde com o devenir, que tem direção e meta própria, com uma troca e um princípio diretor de funcionamento que dá, de imediato, a imagem do organismo e da vida. Só o sistema cinético do vórtice contém as características de elasticidade, de equilíbrio móvel, tão distantes da rigidez inorgânica, que lembram tanto o estado coloidal, fundamental na vida. Este, ao mesmo tempo que assegura a estabilidade da estrutura dos protoplasmas vivos, neles favorece maravilhosamente o desenvolvimento das reações químicas. O vórtice recebe e reage; admite, em vista de sua estrutura, uma muito maior velocidade de reações do que o sistema atômico e por isso é a sede mais adequada para a evolução das reações químicas. Sistema plástico, móvel e flexível, tal como a vida; no entanto, resistente. Ele tem a faculdade de assimilar os impulsos exteriores, de torná-los próprios sem quebrá-los, de conservar-lhes traços no próprio movimento e de registrar a resultante de suas combinações (memória).  Ele rende-se e transforma-se, suporta, mas não esquece nada. Sua elasticidade significa a capacidade de retomar o equilíbrio de acordo com a lei de seu movimento. Passivo e ativo ao mesmo tempo, tangencia todas as características da vida.

Outra aproximação entre as características dos fenômenos vitais e a dos movimentos vorticosos: a admissão da matéria na circulação da vida não ocorre ao acaso. Vimos que são preferidos os pesos atômicos baixos mas não é só. O vórtice vital estabelece ligações entre átomo e átomo. Quando estes são tomados no movimento da vida, estabelecem-se entre eles vias de comunicação. Enquanto na química inorgânica só temos os movimentos planetários dos sistemas atômicos fechados, simplesmente coordenados em sistemas moleculares, em equilíbrio estável; na química orgânica temos sistemas atômicos abertos e comunicantes, em equilíbrio instável. Os átomos estão reunidos em cadeia e tornam-se solidários dentro de um mesmo fluxo dinâmico, guiados pelo mesmo impulso e pela mesma vontade. Na matéria, ficam mutuamente estranhos em sua estrutura íntima, embora vizinhos e equilibrados. Na vida, apertam-se num abraço e movimentam-se numa única direção. Esta é a base da unidade orgânica. Quando a unidade se dissolve, as passagens fecham-se, os sistemas tornam a isolar-se, reciprocamente indiferentes. Com o vórtice, terminou aquela vontade coletiva que os irmanava. Essas cadeias dinâmicas são abertas. Os átomos presos no turbilhão vital são modificados em seu movimento íntimo e arrastados num movimento diferente. Nessa viagem, são elaborados, sua constituição química é modificada. Terminado seu trajeto, são abandonados não mais vivos, mas inertes. Os átomos são, assim, alinhados em séries bipolares e a viagem da vida realiza-se entre dois extremos: nascimento e morte.

 Agora sabeis que somente as substâncias orgânicas, constituídas de cadeias abertas de átomos (ou grupo de átomos) são aceitas pelos seres no âmbito da vida, enquanto as substâncias cíclicas, os compostos de cadeia fechada, não são tolerados. Tudo isso coincide com a estrutura cinética do sistema vorticoso, aberto e pronto a admitir no próprio âmbito sempre novos impulsos. É óbvio que, num sistema cíclico, uma cadeia de átomos fechada em si mesma não pode ser admitida, porque não oferece acesso. A linha das transformações químicas é dada pelo eixo do sistema vorticoso. Vimos que esse eixo era dado pela onda degradada de β. Assim, cada indivíduo biológico, se é físico no exterior, é sempre, embora em graus diferentes, psíquico em seu centro interior, justamente porque é de origem elétrica o eixo do sistema vorticoso. Nos primeiros níveis, a eletricidade e o psiquismo, que dela nascerá nos níveis mais elevados, estão sempre no centro do fenômeno vital. Como o eixo atrai para o redor de si um sistema vorticoso, assim o princípio psíquico atrai e sustenta em torno de si uma vestimenta orgânica. Então, a linha do transformismo vital - seja cadeia de reações químicas, seja desenvolvimento individual, seja evolução biológica - já estava traçada e contida na linha da expansão dinâmica (onda). Vede como a evolução da vida, em seu impulso interior, determinante das formas, está em linha de continuidade com a difusão de β e com a evolução das espécies dinâmicas.

 

Vimos como o trem eletrônico da onda dinâmica degradada ataca o edifício atômico, penetra-o e desloca-lhe o equilíbrio íntimo, e como, por essa imissão dinâmica, o sistema planetário de forças se transforma num sistema vorticoso. Este é o germe da vida em sua estrutura cinética. Observemos-lhe a complexa constituição e sua resposta à realidade dos fenômenos daquela que, vos disse, poderia ser tomada como teoria cinética da vida, ou teoria dos movimentos vorticosos, colocando-a como base da química orgânica (química cinética).

 Antes de tudo, observai minha colocação do problema da vida, totalmente diferente da ciência. Esta procura, na evolução, a origem das formas. Eu, ao invés, exponho a origem dos princípios, a causa pelas quais as formas são modeladas como última consequência. Por aí se conclui que, enquanto a ciência se move na multiplicidade dos efeitos e fica do lado de fora dos fenômenos, eu atinjo a unidade e penetro no âmago das causas. É lógico que, alcançando a substância dos fenômenos, a química deva transformar-se até atingir a abstração filosófica. Também é lógico que, evoluindo vossa ciência de sua atual forma exterior e de superfície, até sua mais completa forma de ciência substancial e profunda, deva transformar-se em ciência abstrata, aproximando-se daquela unidade fundamental em que os conceitos da matemática, da filosofia, da química, da biologia etc., são uma só coisa. Aprofundemos, pois, o problema da gênese dos princípios da vida.

 Sabeis que os vórtices giram em torno de um eixo. Que é em redor desse centro múltiplo que se desloca a série dos equilíbrios instáveis do sistema. Esses equilíbrios, com uma diferença fundamental dos daquele do sistema atômico, renovam-se continuamente, a cada instante demolindo-se e reconstruindo-se. O Eixo é a alma do sistema atômico vital, assim como o núcleo é a alma do sistema atômico inorgânico. Quando um trem eletrônico ataca um átomo depois do outro, não altera apenas a trajetória dos satélites do sistema, mas atinge os núcleos, embora fossem estes antes centros de sistemas separados, ele os funde agora em cadeia, num sistema cinético único. Já se começam a entrever as primeiras características do novo organismo de forças, as características fundamentais da vida. A penetração eletrônica quebrou os sistemas dinâmicos fechados dos átomos, combinou-os junto num sistema dinâmico múltiplo aberto. A linha e a direção do eixo são geradas e governadas pela onda degradada que, propagando-se no espaço, encontra um aglomerado de átomos e arrasta os sistemas eletrônicos deles, equilibrando os núcleos em cadeia. Eis porque apenas a onda degradada pode gerar nos amontoados de átomos o vórtice genético da vida.

Ora, esse eixo do vórtice representará, na vida, a linha de metabolismo, função universal e fundamental do mundo orgânico. A direção do contínuo processo de assimilação e desassimilação é a própria direção da onda, provocada por aquele impulso que vimos ser irreversível. Na vida, o metabolismo é a expressão da linha irreversível da evolução. Vede como nenhuma característica, mesmo a mais embrionária e longínqua, destrói-se; ao contrário, em cada uma delas está contido o germe dos grandes desenvolvimentos. O mundo dinâmico de β contém, à maneira de semente, todo o desenvolvimento da vida, todas as notas fundamentais da grande sinfonia. Aquela simples trajetória ou direção se desenvolverá num princípio diretor, com objetivo,  numa  individualidade e personalidade, no psiquismo. Notai também como a imissão dinâmica corresponde à contínua reorganização das unidades menores em superiores unidades coletivas (lei das unidades múltiplas). Com efeito, temos aqui não mais amontoados ou aglomerações, mas organismos de átomos. Notai como nesta reorganização mais ampla, acentua-se o desenvolvimento das notáveis características embrionárias das formas inferiores. Aqui também encontrais a linha dos ciclos múltiplos (cfr. fig. 5), que vos ensina que o ciclo maior é apenas a resultante do desenvolvimento dos ciclos menores. Neste caso, a realização orgânica é somente o produto do amadurecimento atômico (estequiogenética, ou seja, desenvolvimento dos sistemas planetários nucleares ou eletrônicos). Olhando assim, em seu íntimo, o universo vos surge, a cada passo, de divina grandiosidade.

Individuado, o eixo do sistema vorticoso apresenta-se-vos com características especiais. Podeis imaginar que potência cinética ele encerra, pois, é uma cadeia de núcleos em redor dos quais continuam a gravitar e a girar os elétrons atômicos, a cujas atrações e repulsões somaram-se as dos elétrons recém-chegados da  onda degradada de β. Assim, o eixo do sistema tem duas extremidades, caracterizadas por qualidades diferentes: uma extremidade, ou pólo positivo ou de penetração ou de ataque (pelo qual propaga-se o movimento), e a outra, um pólo negativo, final ou de separação (no qual o movimento se extingue). A linha de propagação da energia, que se torna eletricidade, sinal + e -, está para tornar-se vida, o princípio do nascimento e da morte. Como vedes, sistema aberto e em contínuo movimento. Eis donde nascem a rapidez do metabolismo e a instabilidade química, que são características fundamentais dos fenômenos da vida. Somente a infusão do princípio estático de γ, do princípio dinâmico de β, podia produzir esse terceiro princípio psíquico de γ. A matéria γ apenas conquistara a dimensão espaço e β apenas a dimensão tempo, somente da fusão das duas dimensões podia nascer a terceira: a consciência. Pois este é o primeiro sistema cinético atingido pela Substância que, sendo aberto e em movimento, distingue o interno do externo, ou seja, contém o princípio da distinção entre o Eu e o ambiente, afirmando sua individualidade e projeta-se para o exterior, para fora de si, ato fundamental, base da percepção e do desenvolvimento da consciência. Nessa capacidade do sistema vorticoso de projetar-se para fora de si, portanto, de combinar os próprios movimentos com os de outros sistemas vizinhos e de sentir-lhes o influxo, nessa receptividade cinética, nessa possibilidade de assimilação de impulsos externos, existe o germe daquele contínuo registro e assimilação de impressões, que está na base do desenvolvimento da consciência. Veremos como esta se dilata continuamente. Aquilo que desce ao âmago do Eu e aí se fixa em automatismos, que mais tarde serão os instintos, é apenas o impulso de uma força que se fixa, absorvida nos equilíbrios do sistema cinético-dinâmico do vórtice vital. Este é instável e mutável, mas para que tenha uma ação constante, ele penetra e se fixa, também, nessa instabilidade, que não é caos, mas apenas um equilíbrio mais complexo, resultante de miríades de equilíbrios menores. É importante pesquisar nas formas inferiores os germes e a primeira gênese também das mais altas formas de vosso psiquismo, porque nessa base científica e racional basearei minhas conclusões nos campos que parecem estar muito longe, no entanto, estão próximos do mundo ético e social. Vede que a íntima elaboração evolutiva ou descentralização do princípio cinético da Substância, ou manifestação da Divindade, desenvolve-se de uma simples trajetória dinâmica, dirigida de um pólo + a um pólo -: a linha do metabolismo orgânico, primeiro construtor de corpos; depois a linha do metabolismo psíquico, construtor de almas. Nessa fusão de extremos, sentis a verdade de meu monismo.

 

Exposta a questão em seus termos gerais, vejamos, agora, mais particularmente, que mudanças assume o movimento no ponto de passagem de β  a α. Vimos em γ que, ao abrirem-se as órbitas dos elétrons, estes escapolem delas, gerando β. Vimos em β, a onda extinguir-se, com a progressiva extensão de seu comprimento e diminuição da frequência vibratória. Na última fase de degradação a onda se tenderia a tornar-se retilínea, se pela natureza qualquer reta não fosse uma curva, como toda trajetória circular é uma espiral que se abre ou se fecha. Vejamos agora como esta onda amortecida penetra no edifício atômico.

O princípio cinético da vida é único em vosso universo, constituído pela forma dinâmica (eletricidade), na última fase de degradação. Em virtude da natureza da energia, que está em contínua expansão no espaço, o princípio da vida difunde-se por toda a parte, tal como a luz e as outras formas dinâmicas. Ele propaga-se como forma vibratória, até que encontre uma resistência numa aglomerada massa. Assim, a energia que, por sua natureza, espalhou-se nos espaços, portanto é onipresente, atinge qualquer condensação de matéria. Então, penetra na íntima estrutura planetária, justamente porque é a direção retilínea que possui o máximo poder de penetração. As trajetórias cinéticas apresentam respostas diferentes a essa penetração eletrônica, de acordo com seu tipo de natureza. O primeiro germe da vida, por isso, é universal e idêntico, sempre aguardando o desenvolvimento; um desenvolvimento que só chegará a realizar-se quando se verificarem circunstâncias favoráveis; um desenvolvimento que, embora partindo do mesmo princípio, manifestar-se-á diferentemente, de acordo com as diferentes condições do ambiente. Onde β toca em γ, esta exulta num novo girar íntimo; onde β une-se a γ, nasce α, a vida (princípio de dualidade e trindade). Conforme a natureza e reações da matéria, varia o fenômeno, e aparecem, enfim, as diferentes manifestações do mesmo princípio, único e universal.

Que perturbação ocorre, então, no edifício atômico? Vimos que, na desagregação da matéria existe um trem de elétrons, sucessivamente lançado fora do sistema planetário atômico em demolição, justamente isso, constitui a gênese das formas dinâmicas. Quando esse trem de unidades que se impelem mutuamente atinge, como uma flecha, o equilíbrio normal atômico, produzido pelo girar das órbitas eletrônicas em redor do núcleo, o edifício atômico fica profundamente perturbado. Esse fenômeno só pode verificar-se quando β tenha atingido seu grau máximo de evolução, isto é, de degradação dinâmica (mínima frequência vibratória e máximo comprimento de onda), porque até que os tipos dinâmicos assumam a forma vibratória ondulatória, não têm suficiente potência de penetração e deles pode nascer a vida. Então, o momento da gênese é dado por um equilíbrio exato de forças. Pelas resultantes desse equilíbrio é dado o desenvolvimento da vida e de suas formas. Como vimos ser a química inorgânica reduzível a um cálculo matemático de mecânica astronômica, assim é a constituição íntima da vida, embora resultante de sistemas de forças extremamente mais complexos. Então, somente um trem de elétrons que constituem energia elétrica extremamente degradada - isto é, somente BETA quando chegou ao último limite evolutivo de suas espécies dinâmicas - pode trazer mudanças radicais à íntima estrutura do átomo; mudanças não casuais, desordenadas, caóticas, mas produzidas por nova ordem de movimentos, mais complexa e profunda. Os deslocamentos cinéticos da Substância obedecem constantemente a uma lei de equilíbrio e são resultantes de impulsos precedentes; constituem sempre uma ordem perfeita, em que estão equilibradas ação e reação, causa e efeito. Isto se verificou na projeção dos elétrons da desintegração atômica radioativa (gênese da energia); isto se verifica agora nos deslocamentos interatômicos devidos à ação dos novos elétrons que chegaram.

 Detenhamo-nos um momento nesta reaproximação entre eletricidade e vida, para compreender porque, exatamente, essa força está colocada no início da nova manifestação. Sabeis que o equilíbrio interno do átomo e as órbitas de seu sistema planetário são regidas por atrações e repulsões de caráter elétrico; é o balanceamento entre esses impulsos e contra-impulsos que lhe mantém a estrutura numa condição de estase exterior. Por si nada se presta tanto a deslocar o equilíbrio do sistema e a penetrar nesse movimento, quanto a intervenção de novo impulso ou ação da natureza elétrica. Assim, a eletricidade enxerta-se na vida e a encontrareis sempre presente, especialmente se a considerais, como vos disse, em seu íntimo dinamismo motor. Embora aperfeiçoando-se, como tudo se aperfeiçoa por evolução, isto é, adquirindo em qualidade o que perde em quantidade - por uma degradação paralela à dinâmica, que vimos - também na vida subsiste sempre a fonte original de natureza elétrica. Ela origina todos os fenômenos nervosos que guiam e sustentam o funcionamento orgânico. Na base da vida existe integralmente um sistema elétrico de fundamental importância, que preside a tudo. A eletricidade permanece sempre como centro animador e substância interior da vida, da qual ela assume sempre a função central diretora, a mais importante. Essa sobrevivência, em posição tão conspícua, bastaria para demonstrar a parte substancial que a eletricidade deve ter tido na gênese e no desenvolvimento da vida. E ainda quando atinge as formas de magnetismo, vontade, pensamento e consciência, permanece o mesmo princípio, embora alçado às fases de máxima complexidade. Trata-se, verdadeiramente, da continuação do mesmo processo de degradação, que se estende das formas dinâmicas até às formas psíquicas.

 Quando, num sistema rotatório, sobrevém nova força, esta se introduz no sistema e tende a somar-se e a fundir-se no tipo de movimento circular preexistente. Podeis imaginar que complicações profundas ocorrem no entrelaçamento já complexo das forças atrativo-repulsivas. O simples movimento circular agiganta-se num movimento vorticoso mais complexo. Pela emissão de novos elétrons, o movimento não apenas complica sua estrutura, mas se reforça, alimentado por novos impulsos. Ao invés de um sistema planetário, tereis nova unidade, que vos recorda os redemoinhos de água, as trombas marinhas, os turbilhões e ciclones. O princípio cinético de γ é retomado, assim, por β, numa forma vorticosa muito mais complexa e poderosa. Nasce, dessa forma, nova individuação da substância, desta vez verdadeiro organismo cinético, em que todas as criações, conquistas, ou seja, trajetórias e equilíbrios precedentemente constituídos, subsistem, mas coordenando-se. Veremos como o tipo dinâmico do vórtice contém, em embrião, todas as características fundamentais da individuação orgânica e do Eu pessoal. Nesta nova forma de movimento, organização de sistemas planetários, coordenação complexa de forças, na própria instabilidade da nova construção e na rapidez das contínuas trocas com o ambiente, em seu mais intenso devenir de equilíbrio que, mesmo mudando, sempre reencontram seu fio condutor, revela-se aquele psiquismo, o mais requintado dinamismo com que a energia surge na vida. Princípio novo, mas filho dos precedentes; simples expansão de potências concentradas no estado de latência; novo modo de existir da Substância, que atingiu a periferia das manifestações.

 A primeira expressão de γ assume, então, a forma do vórtice. O tipo do movimento do átomo físico combina-se consigo mesmo em movimentos mais complexos por obra da nova imissão dinâmica. O termo sânscrito "Vivartha" significa exatamente esse processo, que desde a concepção hindu até as mais modernas hipóteses científicas, exprime a substância dos fenômenos do universo12. Mas a essência de a não é o vórtice. Este é apenas sua manifestação, a forma exterior de que se reveste aquele princípio imaterial. O espírito, γ, está na Substância, esta é  movimento (velocidade), é aquilo que movimenta, guia, anima e dirige o vórtice, sem o qual este perderia seu tipo, sua resistência e se extinguiria, reabsorvido no indiferenciado. Não o encontrais e, portanto, não podeis observar senão fenômenos, isto é, efeitos, manifestações. Somente podeis tocar a exteriorização do princípio e, apenas a partir dela, podeis penetrar o centro e encontrar a causa. Digo isto a fim de evitar dúvidas e mal-entendidos. Se β já o era, γ é muito mais um princípio absolutamente imaterial, que permanece sempre distinto da matéria, embora a anime e a mova de seu centro. Aliás, já vos disse que a matéria é velocidade e que o átomo, como o elétron, é um sistema de forças; então não se pode entender por vórtice, mesmo no sentido mais material, senão um movimento que arrasta consigo outros movimentos. Vosso separatismo, que divide corpo e espírito, portanto, não tem sentido, especialmente como antagonismo. Trata-se apenas de dois pólos do ser, de dois extremos, que se comunicam por constantes trocas e contatos, de uma zona de trajetória em caminho. Vossos conceitos habituais não têm mais nenhum significado, quando se olha no âmago das coisas. Se me perguntais: por que γ, o espírito, manifesta-se nesse momento do transformismo evolutivo e que relações possa ter a origem dos movimentos vorticosos com o surgimento da consciência? Eu vos direi: se a fase β conquistou a dimensão tempo, agora a imersão do movimento de β no movimento de  γ   representa a construção de edifícios, verdadeiros organismos dinâmicos, que constituem as manifestações de novo princípio de coordenação e direção de movimentos. Isso significa a gênese da nova dimensão consciência. A consciência, que hoje é de superfíce e analítica, transformar-se-á num organismo ainda mais complexo de movimentos vorticosos, numa animadora de nova potência, a dimensão superconsciência sintética de intuição, a dimensão volumétrica, máxima de vosso sistema. Então a matéria se desmaterializará de sua forma atômica e o ser sobreviverá além do fim de vosso universo físico e de suas dimensões.

 

Procuremos pesquisar na realidade dos fenômenos alguns efeitos desta íntima transformação de movimento, da qual nasce a vida e se manifesta seu psiquismo: transformação da química inorgânica em química orgânica. Neste campo, existem fatos que podem demonstrar-vos a realidade daquela que podeis tomar como teoria cinética da gênese da vida, compreendida como manifestação devida a uma imissão de radiações dinâmicas de composição eletrônica no sistema planetário atômico. Nem todos os átomos reagem igualmente ao mesmo impulso; nem todos estão igualmente prontos para serem arrastados no ciclo da vida. A resistência à penetração eletrônica não é constante para os vários corpos simples, mas muda exatamente de acordo com o seu peso atômico. Este fato tem um significado importante. A radiação eletrônica pode atacar todos os átomos, mas os mais leves são mais rápidos a obedecer, essa capacidade receptiva vigora em razão inversa de seu peso atômico. Escalonando os corpos simples, de acordo com o peso atômico progressivo, como na série estequiogenética, verificais que é máxima para os pesos atômicos mínimos, e mínima para os pesos atômicos máximos, a capacidade desses corpos simples de ficarem ligados em círculo. Ou seja, de serem transportados, através do turbilhão vital, numa vida breve, imensamente mais rápida e intensa do que sua própria vida, o que significa receber no próprio âmbito cinético a radiação eletrônica que lhe intensifica o ritmo.

 Por que, então, o peso atômico é base da escolha dos materiais de sustentação da vida? Porque o trem eletrônico encontrará menor resistência para penetrar nos sistemas atômicos mais simples, com uns poucos elétrons, do que naqueles mais complexos, com muitíssimas órbitas eletrônicas. Vimos que, do H ao U, o aumento de peso atômico significa progressiva saída do núcleo e estabilização das órbitas de sempre novos elétrons, até o máximo de 92, além do qual o sistema atômico se desagrega. É óbvio que as radiações de um sistema cinético mais rudimentar sejam mais fracas do que a dos mais complexos; e que seja mais fácil transformar o equilíbrio dos movimentos no primeiro caso do que do segundo. Os sistemas planetários mais simples, menos numerosos de satélites, deixar-se-ão plasmar mais facilmente em novas trajetórias, do que os sistemas densos de elétrons, turbilhonando em movimentos mais intensos. Quanto maior o número de elétrons, maiores serão a massa e a inércia, isto é, a resistência a absorverem impulsos externos. Esses íntimos deslocamentos cinéticos constituem a substância do fenômeno da transmutação da matéria inorgânica em orgânica, reduzível em sua essência, como já dissemos, a um cálculo de forças. Essas concordâncias são uma prova de que o fenômeno “vida” é, substancialmente, a resultante de uma assimilação pelo sistema atômico de um movimento eletrônico, justamente porque os elétrons do átomo oferecem uma resistência proporcional a seu número. Aí está uma confirmação da teoria cinética da gênese da vida.

Se observarmos os corpos simples, não mais, como vimos, na química inorgânica, mas como eles se comportam na química orgânica, ou seja, a maneira como eles são admitidos e tolerados no organismo vivo, vemos que H, C, N, O (a que correspondem os pesos atômicos 1, 12, 14 e 16, os mais baixos da escala) são os corpos fundamentais da vida, como também são os mais largamente difusos na atmosfera, onde nasce a vida em vosso planeta no período da gênese vital: Hidrogênio, Carbono, Nitrogênio e Oxigênio, no estado de vapor d’água, H2O; de gás carbônico, CO2; e no estado livre, N e O1.

 Vêm depois os corpos sucedâneos dos fundamentais, que podem substituí-los parcialmente e são aceitos em doses moderadas. Seu peso atômico não ultrapassa 60, e temos em ordem de peso atômico: Lítio2 (Li=7); Boro5 (Bo=11); Flúor (Fl=19); Sódio (Na=23); Magnésio (Mg=24); Silício (Si=28);Fósforo (P=31); Enxofre (S=32); Cloro (Cl=35,5); Potássio (K=39); Cálcio (Ca=40); Alumínio3 (Al2=27,1); Manganês4 (Mn=55); Ferro4 (Fe=56); Níquel5 (58,5); Cobalto5 (Co=58,7).

 Seguem-se os corpos que, mesmo entrando para fazer parte da vida orgânica, não são aceitos senão em doses pequeníssimas. Seu peso atômico não ultrapassa 137 e, de acordo com seu peso, estão na seguinte ordem:

 Cobre7 (Cu=63,5); Zinco7 (Zn=65,4); Arsênico10 (AS=75); Bromo6 (Br=80); Rubídio8 (Ru=85,5); Estrôncio9 (Sr=87,6); Iodo6 (I=127); Bário9 (Ba=137,4).

Se continuarmos ainda a subir até os mais altos graus na escala dos pesos atômicos, verificaremos que os corpos que aí encontramos normalmente não se encontram nos organismos e, se têm ingresso no ciclo vital, só são tolerados em doses mínimas (isto é fundamental também em seu uso terapêutico). Temos:

 Selênio (Se=79); Prata (Ag=108); Estanho (Sn=118); Antimônio (Sb=122); Telúrio (Te=127); Platina (Pt=195); Ouro (Au=197); Mercúrio (Hg=200); Chumbo (Pb=207).

Chegamos, enfim, aos pesos atômicos máximos dos corpos radioativos, utilizáveis terapeuticamente pelo dinamismo de suas radiações, mas sem propriedades biológicas intrínsecas. A instabilidade de seu equilíbrio interior representa um sistema atômico em desfazimento, que foge para as formas dinâmicas e é o menos apto para ser retomado nas coordenações cinéticas de ordem mais complexa. A emanação eletrônica desses corpos, embora possa excitar, no átomo, a aptidão para entrar no ciclo vital, fica sempre por fora dele. Para poder penetrá-lo, tem que primeiro atravessar toda a maturação das formas dinâmicas, até o máximo de degradação. Temos, pois:

 Polônio (Po=210); Rádio (Ra=226); Tório (Th=232,4); Urânio (U=238), ou seja, os corpos de sistema atômico mais complexo com órbitas mais numerosas, os mais resistentes a qualquer penetração cinética; justamente porque essas órbitas são lançadas e abrem-se na periferia, em direção exatamente contrária ao trem superveniente de radiações elétricas de onda degradada.

 

"...e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas".

(Gênese, cap. I)

 Nova luz maravilhosa alvorece no horizonte do mundo fenomênico. No tépido regaço das águas, prepara-se o planeta para acolher o primeiro germe, princípio de novo modo de existir. O momento é solene. O universo assiste à gênese da suprema maravilha, amadurecida em seu seio, através de períodos incomensuráveis de lenta preparação, quase consciente do esforço titânico da Substância nascente, da qual brotará, no ponto culminante, a síntese máxima: a vida. Nasce a flor mais complexa e mais bela, em que mais límpido transparece o conceito da Lei e o pensamento de Deus. Deus, sempre presente no âmago das coisas, aparece sempre mais evidente à proporção que se ascende, em sua progressiva manifestação, Deus aproxima-se de Sua criatura.

 Ao detonar da primeira centelha nos confins extremos do mundo dinâmico, saturado de passado e totalmente amadurecido, o universo tremeu evocador e clarividente. A matéria existira, movimentara-se a energia, mas somente a vida saberia chorar ou alegrar-se, odiar ou amar, escolher e compreender; compreender o universo e a Lei e pronunciar o nome  de seu Pai: Deus. Nasce a vida; não a forma que vedes, mas o princípio que por si criará aquela forma para si mesma, como veículo e meio de ascensão. Naquele princípio que animará a primeira massa protoplasmática, existe o germe de todas as sucessivas e ilimitadas realizações da nova forma da Substância; para cima, subindo sempre, até às emoções e às paixões, permanece o germe do bem e do mal, de todo o vosso mundo ético e intelectual. A fuga eletrônica de um raio de sol transformar-se-á em beleza e alegria, sensação e consciência.

 Nosso caminho, alcançando a vida, atinge regiões cada vez mais altas. Desta exposição irrompe um hino de louvor ao Criador. Minha voz funde-se no canto imenso de toda a criação. Diante do mistério que se realiza, no momento supremo da gênese, a ciência torna-se mística expansão, a exposição árida incendeia-se permeada pelo hálito do sublime; através da crua fenomenologia científica sopra o senso do divino. Diante das coisas supremas, dos fenômenos decisivos que somente aparecem nas grandes curvas da evolução, os princípios racionais da ciência e os princípios éticos das religiões fundem-se no mesmo lampejo de luz, numa única verdade. Por que a verdade descoberta por vós, racionalmente, deveria ser diferente da verdade que vos foi revelada? Diante da última síntese, caem os antagonismos inúteis do momento e de vosso espírito unilateral e cego. Cada verdade e concepção parcial tem que reentrar no Todo: a ciência tanto quanto a fé, o que nasce do coração e da mente, a matemática mais avançada e a mais alta aspiração mística, a matéria e o espírito, nenhuma realidade, por mais relativa que seja, pode ser excluída. Se a ciência é realidade substancial, como pode permanecer fora da síntese? Se o aspecto ético da vida é também realidade substancial, como pode ser descuidado? Essas novas concepções podem chocar vosso misoneísmo; tão grande salto à frente talvez vos cause medo; esse conceito de Divindade pode encher-vos de desânimo, mais que de amor. Mas também tendes que admitir e, com isso, torna-se pequeno apenas o conceito do homem, em relação ao conceito de Deus, que se agiganta além da medida. Isso poderá desagradar aos egoístas e aos soberbos, jamais às almas puras.

   No momento solene volita nos espaços um hálito divino. O pensamento, permeado pelo grande mistério, olha e recolhe-se em oração.

   Orai assim:

   "Adoro-te, recôndito Eu do universo, alma do Todo, Meu Pai e Pai de todas as coisas, minha respiração e respiração de todas as coisas.

   Adoro-te, indestrutível essência, sempre presente no espaço, no tempo e além, no infinito.

   Pai, amo-te, mesmo quando Tua respiração é dor, porque Tua dor é amor; mesmo quando Tua Lei é esforço, porque o esforço que tua Lei impõe é o caminho das ascensões humanas.

   Pai, mergulho em Tua potência, nela repouso e me abandono, peço à fonte o alimento que me sustente.

  Procuro-te no âmago onde Tu estás, de onde me atrais. Sinto-Te no infinito que não atinjo e donde me chamas. Não Te vejo e, no entanto, ofuscas-me com Tua luz; não Te ouço, mas sinto o tom de Tua Voz; não sei onde estás, mas encontro-Te a cada passo, esqueço-Te e Te ignoro, no entanto, ouço-Te em toda a minha palpitação. Não sei individuar-Te, mas gravito em torno de Ti, como gravitam todas as coisas, em busca de Ti, centro do universo.

 Potência invisível que diriges os mundos e as vidas, Tu estás em Tua essência acima de toda a minha concepção. Que serás Tu, que não sei descrever nem definir, se apenas o reflexo de Tuas obras me enceguece? Que serás Tu, se já me assombra a incomensurável complexidade desta Tua emanação, pequena centelha espiritual que me anima integralmente? O homem Te busca na Ciência, invoca-Te na dor, Te bendiz na alegria. Mas na grandiosidade de Tua potência, como na bondade de Teu amor, estás sempre além, além de todo o pensamento humano, acima das formas e do devenir, um lampejo do infinito.

 No ribombar da tempestade está Deus; na carícia do humilde está Deus; na evolução do turbilhão atômico, na arrancada das formas dinâmicas, na vitória da vida e do espírito, está Deus. Na alegria e na dor, na vida e na morte, no bem e no mal, está Deus; um Deus sem limites, que tudo abarca, estreita e domina, até mesmo as aparências dos contrários, que guia para seus fins supremos.

 E o ser sobe, de forma em forma, ansioso por conhecer-Te, buscando uma realização cada vez mais completa de Teu pensamento, tradução em ato de Tua essência.

 Adoro-Te, supremo princípio do Todo, em Teu revestimento de matéria, em Tua manifestação de energia; no inexaurível renovar-se de formas sempre novas e sempre belas; eu Te adoro, conceito sempre novo, bom e belo, inesgotável Lei animadora do universo. Adoro-Te grande Todo, ilimitado além de todos os limites de meu ser.

 Nesta adoração, aniquilo-me e me alimento, humilho-me e me incendeio; fundo-me na Grande Unidade, coordeno-me na grande Lei, a fim de que minha ação seja sempre harmonia, ascensão, oração, amor.

 Orai assim, no silêncio das coisas, olhando sobretudo para o âmago que está dentro de vós. Orai com espírito puro, com intenso arrebatamento, com poderosa fé, e a radiação anímica, harmoniosamente sintonizada com grande vibração, invadirá os espaços. E ouvireis uma voz de conforto, que vos chegará do infinito.